Capítulo 07

LAURA

Domingo eu nunca sabia o que fazer. Já passavam das onze da manhã e ainda não havia saído da cama, nem mesmo para tomar o café da manhã. Uma batida soou na porta antes que fosse aberta vagarosamente.

— Você morreu? — perguntou Caio, passando a sua cabeça por uma fresta.

— Não, só estou com preguiça — respondi-o, escondendo a minha cabeça sob o edredom.

— Levanta, vai. Vamos almoçar fora, eu pago.

Permaneci em silêncio e quieta. Escutei a porta ranger ao ser mais aberta. O edredom foi puxado de mim e jogado nos pés da cama.

— Saía, Caio! Me deixa! — reclamei irritada, puxando o edredom e cobrindo-me novamente até o topo da cabeça.

— Qual é? Você está doente? Só pode estar doente, você nunca recusa comida, ainda mais quando sou eu quem vai pagar.

— Só não estou a fim!

— Okay. Vou sair para comer tacos e não vou trazer para você! — avisou antes de fechar a porta em um baque.

Permaneci quieta e fechei os meus olhos, rezando para que a segunda chegasse logo, mas, infelizmente, as minhas preces não foram atendidas. Por que domingos são tão deprimentes? A tarde demorou séculos para passar. Eu dormia e acordava várias vezes e os ponteiros do relógio não se moviam do lugar. As ocasiões em que saí do quarto, Caio olhava-me pelos cantos dos olhos de cara emburrada deitado no sofá da sala. Tive que ignorar os seus olhares irados por eu tê-lo abandonado no nosso único dia juntos, até às cinco da tarde, quando ele saiu para o trabalho. Sentia-me péssima por não poder fazer com ele as suas programações, mas não me sentia em um bom dia para nada.

Quando o despertador tocou às seis e meia, finalmente a segunda chegou. Levantei-me e após me arrumar, fui para mais um dia de trabalho. Quando saí de casa, Caio ainda não havia chegado. Fiquei um pouco preocupada, ele não tinha avisado se demoraria a voltar para casa naquela manhã. Liguei para ele a caminho da cafeteria, mas não atendeu. Era difícil saber se ainda estava com raiva de mim pelo dia anterior, ou se algo sério poderia ter acontecido.

Cheguei ao trabalho e lá estavam eles, os meus colegas que tanto gostava. Entrei atrás do balcão e comecei a atender os clientes. Estava um dia agitado, mal vi o tempo passar. Saí para o meu almoço e, quando pisei na calçada, avistei Caio escorado em um carro estacionado em frente à cafeteria. Ele estava lindo como sempre, vestindo calça jeans um pouco justa, camiseta preta de gola “V” e uma jaqueta de couro preto aberta. Os cabelos um pouco bagunçados e cara cansada denunciavam a noite não dormida.

— Quero conversar com você — disse cruzando os braços à frente.

— Tudo bem. Está com fome? Estou indo almoçar.

Ele desencostou do carro e me seguiu em silêncio até o restaurante japonês uma quadra dali. Entramos e sentamos no balcão fazendo os nossos pedidos.

— Então... O que está rolando? Por que você está tão tenso? — perguntei notando os seus ombros rígidos e as suas mãos, que se esfregavam uma na outra freneticamente com agonia.

— Me meti em uma confusão ontem à noite.

— O quê? — perguntei alto. — Que tipo de confusão, Caio? Você sabe que não podemos dar bobeira! — repreendi-o, sentindo o meu coração disparado.

— Tinha um cara no bar ontem e ele estava muito bêbado. Ele começou a gritar falando coisas emboladas e tentou agredir uma das dançarinas, e... — interrompeu abaixando a cabeça.

— Você tentou defendê-la — concluí. Ele assentiu envergonhado.

— Não podia apenas assistir um homem louco bater em uma mulher indefesa. Você sabe disso, Laura. É algo que simplesmente não posso aceitar!

— E qual foi a consequência desse ato heróico?

— Ele era um policial.

— Meu Deus, Caio!

— Fique calma. Não fui preso, mas ele é o tipo de cara problema. Foi retirado do bar pelos seguranças e saiu me ameaçando. Estou jurado de morte e não quero pagar para ver se era só papo de bêbado, ou não. Tommy, o outro barman, me mandou tomar cuidado com ele. Por isso não fui para casa hoje de manhã. Não podia correr o risco de ele estar me seguindo e descobrir onde moramos, estaria colocando você em perigo também.

— Você não pode voltar para o bar. Tem que procurar outro emprego, ele vai procurá-lo lá. É melhor pedir a conta, não podemos arriscar em nos meter em problemas, Caio.

— Eu sei. Desculpe-me.

— Você não teve culpa — disse segurando firme a sua mão. — Foi seu instinto protegê-la, nós sabemos o quanto isso é ruim. Mas não podemos nos colocar em perigo, não depois de tudo o que passamos para chegar aqui.

Depois que comemos, Caio me acompanhou de volta até a cafeteria. Nós nos despedimos e ele seguiu de táxi para casa, achei mais seguro do que ficar perambulando por aí nas calçadas. Ao entrar pela porta lateral, Salim veio apressado até mim com um jarro de café quente nas mãos.

— Ei! Cuidado! Quer queimar alguém por aí? — perguntei a ele.

— É aquele cara — disse nervoso.

— Que cara? — questionei confusa.

— Aquele italiano.

— O quê? Ele está aqui? — perguntei olhando discretamente em volta, à sua procura.

— Sim, no mezanino. E com uma garota. Estou servindo lá em cima esta tarde no lugar do Johnas. Mas... será que você pode...

— Ir servir no seu lugar? — perguntei interrompendo-o e ele assentiu.

Olhei para o mezanino e lá estava ele sentando à mesa, usando um terno cinza-chumbo e uma gravata mostarda, perfeitamente alinhada sobre a camisa branca. Uma mulher loira estava sentada à sua frente e ela não me parecia nada confortável na cafeteria, com toda certeza aquele não era seu tipo de ambiente. Por que ele a trouxe para cá? Com a grana que esse homem com certeza tem, ele pode levá-la para os melhores restaurantes da cidade.

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