LAURAVoltei para casa e ao entrar na propriedade, encontrei Lorenzo correndo no jardim da frente sob a guarda dos meus homens. Quando ele me viu descer do carro, veio na minha direção com o seu sorriso lindo e angelical, pulando nos meus braços.— Papai! Você chegou cedo. — Abraçou o meu pescoço.— Sim, filho.— Senhor — chamou Serra.— Sim. — Olhei para ele e vi que tinha uma pasta em mãos. — Filho... Entre e vá brincar no seu quarto. Está frio aqui fora.— Tudo bem, papai — concordou e deu-me um beijo estalado no rosto.Coloquei-o no chão e o observei correndo em direção à Sra. Poulinsk, nossa governanta.— O que tem para mim? — perguntei ao Serra.Ele não disse nada, apenas se aproximou e estendeu-me a pasta. Peguei-a da sua mão e abri. Havia fotos da Laura e, a julgar pelas roupas, eram de hoje. Ela andava pela calçada ao lado de um homem. A minha mandíbula se contraiu instintivamente e as minhas mãos apertaram com força a beirada da pasta, amassando-a.— Quem é ele? — perguntei o
LAURAJá fazia uma semana desde o episódio épico na cafeteria com o italiano e a modelo loira. Eu estava trabalhando mais do que nunca, fazendo todas as horas extras possíveis para não atrasar o aluguel, já que Caio ainda não havia conseguido um emprego.— Vamos almoçar? — convidou Angelita.— Vamos. Estou morrendo de fome.— Aquele food truck árabe que você gosta está estacionado a uma quadra daqui.— Maravilha. Vamos logo, então.Fomos até lá caminhando e fizemos os nossos pedidos após enfrentar uma pequena fila com oito pessoas à nossa frente. Enquanto aguardávamos o nosso almoço, nos sentamos na praça sob o sol do meio-dia para nos esquentar, estava fazendo bastante frio com a chegada do inverno em Boston.— Caio já conseguiu um emprego?— Ainda não. Ele colocou o currículo em alguns sites, fez algumas entrevistas, mas até agora nada. Coitado, anda tão preocupado.— Eu imagino. Mas relaxe, ele vai conseguir alguma coisa. Tenha fé.Almoçamos e voltamos logo para o trabalho. A tarde
LAURARodrigo estava parado sobre a calçada no outro lado da rua com as mãos dentro dos bolsos do seu casaco preto. Ele me observava com atenção e, quando viu o meu espanto em vê-lo ali, curvou os seus lábios em um sorriso sombrio e tenebroso, aquele que ainda assombrava os meus piores pesadelos.— Você está bem? — perguntou a voz grave de sotaque italiano. — Laura? — chamou-me colocando-se de pé e tocando a minha mão, atraindo o meu olhar para ele.— O quê?— Perguntei se você está bem?— Desculpe. Vou pedir para alguém vir atendê-lo.Antes de me afastar, olhei novamente para o outro lado da rua e Rodrigo não estava mais lá. Eu estava me sentindo à beira de um ataque de pânico. Saí apressada e fui para o fundo da cafeteria quase atropelando Salim pelo caminho, fazendo-o deixar a sua bandeja cair no chão. Precisava contar ao Caio o que havia acabado de ver. Tinha certeza de que não era minha imaginação, aquilo foi real! Rodrigo havia nos achado e estava em Boston.Entrei no banheiro do
LAURAO motorista abriu a porta e ele saiu primeiro, ajudando-me a descer de dentro do carro em seguida. Parei por um instante diante dos degraus que levavam à entrada e virei-me para ele, encarando-o confusa. Somente naquele momento a minha ficha havia caído.— Como sabe onde eu moro? — perguntei dando-me conta de que em momento algum passei para ele ou ao seu motorista meu endereço.— É uma longa história, Laura — disse dando um passo na minha direção.— Afinal... Como você sabe o meu nome? — questionei, começando a me sentir ainda mais assustada.— Meu nome é Enzo...— Não estou nem aí para o seu nome, não te perguntei! — gritei. — Quero saber como sabe onde moro? Como pode saber tanto, se nunca nem mesmo disse o meu nome a você?— Fique calma. Não precisa se exaltar. Por que a gente não entra para conversar?— Nem morta vou convidar um estranho para dentro do meu apartamento — interrompi-o. — Obrigada pela gentileza, mas acaba por aqui a sua boa ação do dia. — Dei-lhe as costas e s
LAURAÀs vezes, sair de casa era inevitável. Precisava sair às ruas, buscar emprego, comprar comida e pagar as contas. Mas a cada passo que dava pela cidade, sentia-me observada. Eu tentava dizer para mim mesma que era coisa da minha cabeça e que já estava ficando louca, mas sentia e podia jurar isso.Ainda me perguntava quem era Enzo e como ele sabia tanto sobre mim. Ele chamar-me pelo meu verdadeiro nome e saber onde morava, além de deixar-me apavorada, provou que não estávamos tão escondidos em Boston como pensávamos. Eu temia por minha vida e muito mais pela do Caio. Tinha medo de que o monstro fizesse algo com ele para me atingir. O meu coração se acalmava somente quando ele voltava para casa pela manhã. Esperava-o acordada diariamente andando de um lado para o outro no apartamento, com o coração apertado de preocupação. O meu sono só vinha quando o via passar inteiro pela porta.Estava sentada no balcão de uma cafeteria, folheando o jornal do dia em busca de alguma vaga de empreg
ENZODeixei o quarto fechando a porta atrás de mim e desci a escada indo em direção à cozinha. Encontrei a Sra. Poulinsk sentada à mesa tomando uma xícara de chá. Sentei-me na cadeira do outro lado e sem eu precisar pedir, ela levantou-se e me serviu de uma xícara do chá de camomila, adicionando uma dose especial de um conhaque inglês.— Precisamos arrumar outra babá — falou ela ao se sentar novamente.— Eu sei. Mas não posso pôr qualquer mulher aqui para cuidar do meu filho.— Concordo com o senhor. Mas estou velha para correr atrás de um menino agitado e levado. A minha cota de descabelamentos se esgotou com você quando era criança. — Sorriu fazendo-me rir.— Eu sei. Peço desculpas pelo Lorenzo. Não sei mais o que fazer com ele.— Acho que ele destrata as babás, porque acredita que a mãe só irá voltar quando elas se forem. Afinal, é o senhor quem diz sempre ao menino que elas cuidam dele somente até Monalisa voltar para casa.Olhei-a sentindo-me desconfortável, julgado e culpado.— E
ENZOOs dias foram passando e eu evitando a minha mãe a todo custo. Sempre saindo muito cedo de casa e voltando muito tarde para nos encontrarmos o mínimo de tempo possível. Ela parecia não entender que não estava a fim de casamento algum, ainda mais com Melissa. Às vezes, chegava a perder a paciência e gritava com ela. Passava por pouco de mandá-la embora, mas não podia, eu precisava dela. Não podia mais abusar da boa vontade da Sra. Poulinsk. Ela era uma mulher que já devia estar aposentada, mas se recusa a me deixar e a deixar o meu filho. Por mais complicada que a Sra. Albertinni fosse, ela era necessária até que eu encontrasse alguém para cuidar do meu filho.Já passava da meia-noite quando entrei em casa. Subi a escada a passos silenciosos para não acordar ninguém. Parei diante do quarto do Lorenzo e girei a maçaneta vagarosamente abrindo a porta. Ele dormia embolado debaixo do seu cobertor na sua cama pequena, agarrado ao seu ursinho. Caminhei até ele e sentei-me na beirada do c
LAURA— O quê? — perguntou Biancca, surpresa.— Desculpe-me — pedi mais uma vez e lhes dei as costas, saindo dali rapidamente, deixando a mansão às pressas.— Espere! — escutei-o gritar e vir atrás de mim. — Por favor, Laura!— O que você quer? — perguntei alto, virando-me para trás.— Que você fique e faça o teste. E para pedir desculpa pela última vez que nos vimos.Uma paralisia nervosa travou-me no lugar. Então o grosseirão sabia pedir desculpas?— Como? Como você sabia? — perguntei aos sussurros.— Eu... — interrompeu-se e respirou fundo. — É complicado de explicar e também não foi difícil de achar tudo o que eu queria saber de você.— Por que procurou sobre mim? — perguntei exaltada e confusa. — Você é algum tipo de pervertido? — Dei um passo para trás.— O quê? Não! Só queria saber quem se acha corajosa o bastante para me enfrentar como você faz! — respondeu-me alto, dando um passo na minha direção.— Fica parado aí! — mandei estendendo o meu braço entre nós, mantendo uma distân