LAURAAmava de verdade estar à espera de um filho, mas nem tudo estava sendo às mil maravilhas como sempre li e ouvi as mulheres descreverem. Acho que na hora de falar sobre maternidade, elas se empolgam e esquecem-se de relatar as partes terríveis. Estar no final de uma gestação não era nada agradável.Maldita aquela que disse que estar grávida era o paraíso ou a oitava maravilha do mundo. Se você ouviu uma gestante dizer isso a você, referindo-se à gestação inteira, cuidado! Ela está mentindo. Esta mulher apenas quer que você pense que tudo é incrível para engravidar e viva a tortura de uma reta final que ela viveu, assim, não se sentirá sozinha no universo da maternidade.Desde o final do oitavo mês, eu não sabia o que era dormir, transar, ou vestir uma roupa e me achar bonita. E nem vamos falar dos pés e rosto inchados. Mas querem saber de uma coisa? Independente de tudo isso, eu mal podia esperar para estar com a minha filha nos meus braços e sentir o seu cheirinho único pela pri
ENZOTrês meses depois...Nada me fazia mais inteiro e feliz do que Laura e os nossos filhos. Ter Alícia pela primeira vez nos meus braços foi um sentimento tão pleno e repleto, assim como quando peguei Lorenzo pela primeira vez. Era indescritível a felicidade que morava dentro de mim. Ainda mais indescritível era o amor que sentia pelas minhas três joias mais raras e preciosas. Eu os amava e protegeria com a minha vida.— Um minuto da atenção de todos, por favor — pediu Caio, batendo sutilmente com um talher na sua taça de champanhe, após a sobremesa. — Em primeiro lugar quero agradecer a presença de cada um de vocês, aqui, esta noite. É muito importante para mim e Angelita, ter cada rosto amigo e familiar no nosso casamento. Obrigado de coração. Espero que todos estejam se divertindo.Depois de mais algumas pessoas oferecerem brindes aos recém-casados, era hora de dançar e beber. Bom... A parte do beber ficou para aqueles que não tinham duas crianças para ficarem de olho.— Mamãe! —
LORENZOOs almoços de domingo em família eram os melhores. Eu e vovô tínhamos um plano em ação. Ele iria finalmente pedir Steffania em casamento e eu fiquei muito feliz por isso. Antes a minha família era só eu e o papai, mas agora tínhamos a mamãe, Alícia, tio Caio e tia Angelita e não vamos nos esquecer do Jhonan, o meu priminho que estava a caminho crescendo na sua barriga.— Não pode colocar isso na boca, Alícia — disse para minha irmãzinha, tirando um guardanapo de papel da sua mão.Desde que ela aprendeu a andar, há alguns meses, tudo queria pegar e comer. Eu já havia dito que não podia, mas ela continuava a fazer e dizia-me coisas que só ela entendia.— Alícia, minha filha... Comendo guardanapo de novo? — perguntou a mamãe a ela, mesmo sabendo que não teria uma resposta. — Abra a boquinha, filha. Deixe-me ver se tem mais alguma coisa aí — falou inspecionando a sua boca.— Ela comeu guardanapo de novo ou foram flores dessa vez? — perguntou papai ao passar por nós com bebidas nas
LAURAChegar a terras estrangeiras sem muito dinheiro no bolso e com poucas peças de roupas em uma mochila, não foi nada fácil. Por sorte, eu tinha o Caio – meu meio-irmão “postiço” – que jamais me deixou desamparada e sozinha. Quando fugimos de uma vida abusiva no Brasil, viemos para Boston, Massachusetts, em busca de vivermos livres pela primeira vez e conhecer o significado da palavra felicidade.Apesar de não termos o mesmo sangue correndo nas veias, o nosso amor um pelo outro era incondicional. Ele era filho somente da minha madrasta. Roberta é uma mulher repugnante, que foi amante do meu pai por anos antes dele finalmente assumi-la como a sua mulher depois que a minha mãe morreu há seis anos.O meu pai era um dos maiores traficantes procurados do Rio de Janeiro. O BOPE tinha uma sede infinita por sua cabeça, desde que me entendia por gente. Marcos Figueiredo comandava há quase trinta anos o tráfico de armas e drogas pela cidade e, principalmente, pelo morro da Rocinha. Um bandido
LAURAO caminho até o trabalho a pé levava cerca de trinta minutos. Eu amava trabalhar naquele lugar. Os meus colegas estavam sempre de bom humor e entendia o que era ser um estrangeiro, já que cada um deles vinha de um canto do mundo. Acho que era isso que nos tornava tão unidos.— Bom dia! — cumprimentei a todos ao entrar atrás do balcão.— Bom dia, chica — retribuiu Angelita.— Aí... Laura — chamou Salim. — Será que você pode atender aquele cara, ali? — pediu apontando discretamente com a cabeça, para o homem que vestia um terno azul-marinho caro, de três peças, e gravata vermelha de seda com finas listras prateadas. Ele estava de cabeça baixa com a sua mão direita guardada no bolso da frente, na calça, e segurando o celular com a esquerda, observando atentamente algo na tela fina e larga.— Por quê? O que tem ele? — questionei curiosa e confusa.Salim era sírio, um rapaz comunicativo e não rejeitava clientes. Ao contrário, adorava tanto quanto eu estar ali todos os dias. Era um car
LAURATerminei o meu pote de sorvete e levantei indo ao banheiro. Após tomar banho, lavar os cabelos e depilar as pernas, saí enrolada na toalha e entrei no quarto.Abri o armário e encarei a coleção de peças escuras nos cabides. Acho que devo ter ficado ali de pé por uns dez ou quinze minutos. Vesti uma saia curta de couro preto com zíper na lateral e um body de renda na cor marsala. Calcei as minhas adoráveis botas pretas de camurça que iam até acima dos joelhos. Após secar os meus cabelos, fiz uma maquiagem caprichada no delineador e no batom vermelho, que sempre adorei.A campainha tocou e fui até a porta.— Olha só para ela! — gritou Angelita quando me viu.— Você disse trinta minutos. Tem mais de uma hora e meia, que nos falamos.— Olha só... Ninguém nasce assim, toda perfeita como você, Laurinha. — Fingiu irritação, colocando as mãos na cintura e revirando os olhos.— Para onde você vai me levar? — perguntei cruzando os meus braços à frente.— Para uma boate recém-inaugurada no
LAURACaminhei para uma beirada mais afastada e encarei a bela vista noturna da cidade. Encostei-me à mureta de proteção e fechei os meus olhos sentindo o vento forte contra o meu rosto bagunçando um pouco os meus cabelos de comprimento médio. Ao abrir os meus olhos, pensei na minha mãe. Como sentia a sua falta. Gostaria de ter tido tempo suficiente para levá-la conosco. Era muito triste ela não ter tido a chance de estar ali e lembrar-me do inferno que viveu até o seu último dia. Uma lágrima solitária e atrevida desceu por meu rosto. Será que esta dor e angústia nunca irá passar, ou ao menos diminuir?— Não soube ler o aviso de: "não se aproxime da mureta de proteção"? — perguntou uma voz masculina e rude atrás de mim, com um sotaque italiano.Aquele sotaque não me era estranho, eu reconhecia. Não fazia nem uma semana que queria mandar o dono daquela voz para o inferno. Sequei a minha bochecha esquerda e virei-me para trás encarando o homem estúpido que me destratou na cafeteria.— Nã
ENZOEntrei e observei o lugar lotado de gente bêbada e drogada. Andei em meio àquelas pessoas até chegar à escada que levava a área VIP elevada. Assim que me viu aproximar, o segurança retirou o cordão de veludo azul para eu passar. Lá em cima, caminhei até o homem que me devia milhões e fugia de mim há meses, gerando sérios problemas com o meu pai e o Conselho.— Salazar — chamei-o parando à sua frente.— A-Albertinni — gaguejou quando me viu.O seu rosto ficou pálido e os seus olhos arregalaram-se. Ele retirou apressado as mulheres que estavam sentadas no seu colo, jogando-as para os lados como sacos de batatas.— Sente-se, por favor — convidou-me com um sorriso forçado, indicando com a mão a poltrona à sua frente.— Obrigado. — Sentei-me. — Soube que está pagando bebida para todo mundo. Não vai pagar uma para mim também? — Sorri com sarcasmo.— Mas é claro! — respondeu-me e chamou uma garçonete. — O que vai beber? — A sua hospitalidade forçada me deixou irritado.— O seu sangue em