ENZO
Entrei e observei o lugar lotado de gente bêbada e drogada. Andei em meio àquelas pessoas até chegar à escada que levava a área VIP elevada. Assim que me viu aproximar, o segurança retirou o cordão de veludo azul para eu passar. Lá em cima, caminhei até o homem que me devia milhões e fugia de mim há meses, gerando sérios problemas com o meu pai e o Conselho.
— Salazar — chamei-o parando à sua frente.
— A-Albertinni — gaguejou quando me viu.
O seu rosto ficou pálido e os seus olhos arregalaram-se. Ele retirou apressado as mulheres que estavam sentadas no seu colo, jogando-as para os lados como sacos de batatas.
— Sente-se, por favor — convidou-me com um sorriso forçado, indicando com a mão a poltrona à sua frente.
— Obrigado. — Sentei-me. — Soube que está pagando bebida para todo mundo. Não vai pagar uma para mim também? — Sorri com sarcasmo.
— Mas é claro! — respondeu-me e chamou uma garçonete. — O que vai beber? — A sua hospitalidade forçada me deixou irritado.
— O seu sangue em uma taça — afirmei rude, desfazendo o sorriso falso.
Salazar engoliu em seco e consertou a sua postura no sofá, deixando a sua coluna reta. Ele olhou para os lados e viu os meus homens cercando-o e procurou discretamente pelos seus capangas que já não estavam mais ali dentro.
— Albertinni... E-eu...
— Cale a boca! — gritei. — Onde está a entrega que você deveria ter feito, mas que desapareceu? O que aconteceu com o meu navio?
— Eu já disse... Os russos. Eles pegaram a carga de drogas.
— Os russos me roubaram um navio com toneladas e toneladas de metanfetamina e você desaparece ao invés de ir atrás deles e recuperar o que me pertence? Que tipo de membro é você? — questionei, encarando-o com fúria.
— Enzo, eu... Po-por favor. Você sabe que faço tudo pela família, não é? — Limpou o suor das suas mãos nas pernas da calça.
— Não, você não faz. Desapareceu quando deveria ter vindo até mim e esclarecido tudo o que aconteceu! Oitavo mandamento, Salazar! Achei que tinha conhecimento disso! — esbravejei.
— E-estou dizendo a verdade, Albertinni. Estou esclarecendo agora para você.
— Depois de três meses? O que leva a crer que agora irei acreditar que me diz a verdade? Como irei confiar que não é um traidor? — gritei.
Inclinei-me, apoiando os meus cotovelos sobre os joelhos e encarei-o nos olhos. Estava escuro, mas não precisava de luz para saber que as suas pupilas estavam dilatadas, não pelo álcool que foi ingerido, mas sim pelo medo que crescia dentro dele.
— Eu já estou morto? — perguntou com a voz trêmula.
— O que aconteceu com a minha carga?
— Ela está com os russos. Foi feito um desvio e há mais quinze homens envolvidos. Eles... eles são soldados meus. Perdoe-me.
— Perdoar você? Quem perdoa é Deus. Eu faço você pagar em terra por sua traição. — A minha mandíbula contraiu dolorosamente de raiva.
— Assumo que errei, mas não tive escolha. Eles ameaçaram a minha família! Por favor, entenda!
— Levem-no daqui e arranque tudo o que puderem de informações! — ordenei aos meus soldados.
— Sim, senhor — respondeu um deles.
— Enzo... Por favor... Eu tenho uma família que precisa de mim!
Dois dos meus homens o pegaram pelos braços e o colocaram de pé.
— Família? — Levantei-me fechando o meu paletó e parando à sua frente. — Onde estão eles agora para você estar aqui com duas putas no seu colo e não em casa cuidando deles? Ficarão melhor sem você, acredite.
Levaram-no e eu respirei fundo para dissipar um pouco da tensão e ira que sentia pesar no meu corpo. Aproximei-me da grade de proteção e dei uma boa olhada para a pista de dança lotada de gente. De longe, avistei um corpo escultural e suculento no bar. Ela usava uma saia de couro curta e justa ao quadril, além de um body em renda para lá de sensual. A sua cintura fina e os seios fartos deixaram-me com tesão e desejo de tocá-la. Observei-a por mais alguns segundos e pensei em mandar um dos meus homens buscarem-na para mim. Uma rapidinha no escritório do mezanino não seria nada mau.
Ela virou-se saindo do bar com uma garrafa de água na mão e eu não pude acreditar no que estava vendo. Era ela! A garçonete arrogante da cafeteria que me fez passar raiva logo pela manhã naquela semana. Observei-a andar em direção à porta, que levava para o terraço, e desaparecer por ela. O que essa garota faz aqui? Quando dei por mim, já estava descendo a escada do camarote e subindo para o terraço.
Olhei para os lados à sua procura e encontrei-a sozinha ao canto. Ela estava de costas escorada na mureta de proteção. Será que não soube ler o aviso? Aproximei-me a passos lentos e parei atrás dela. O seu corpo era mesmo lindo, com ela teria que ser mais do que uma rapidinha. Teria que ser uma noite inteira para me deliciar de cada pedaço da sua carne e pele alva. Já fazia mais de um mês que não tocava em uma mulher e ter aquela em cima da minha cama seria bom demais. Andava cansado daquelas americanas magras e sem curvas algumas. Sou italiano! Gosto de fartura em todas as ocasiões e sentidos.
ENZOOs seus cabelos loiros com corte pouco abaixo do ombro balançavam com o vento forte que batia ao encontro do seu rosto. Droga! Como queria me lembrar da cor dos seus olhos. Será que são azuis como os meus? Ou castanhos?— Não soube ler o aviso de: "não se aproxime da mureta de proteção"? — chamei a sua atenção.— Não! Não sei ler! — respondeu com rispidez.Ainda com a mesma língua afiada. Isso me deixou um tanto furioso. Qual era o problema com aquela mulher? Não teve educação?— Além de estúpida, é analfabeta? De que parte do mundo você surgiu, criatura?Todos me devem respeito! Eu sou o capo da máfia italiana, porra! Ela também terá de me respeitar. Se não sabe quem sou, irei mostrar!— De um lugar onde te mandariam para o inferno com um pontapé na bunda, seu italiano arrogante! — respondeu alto e com raiva.Dei a ela um olhar duro e ameaçador.— O que faz aqui? Não notou que esse lugar não é para gente como você?— Por que você não vai à merda?Deu um passo de encontro a mim, l
ENZOAcordei com os raios do sol batendo no meu rosto. Abri os meus olhos vagarosamente, tentando me acostumar à claridade no quarto. Olhei para o lado procurando por meu garoto, mas não o encontrei. O relógio sobre o criado-mudo, ao lado da cama, mostrava que já passavam das sete da manhã.Depois de um banho e vestido adequadamente para mais um dia de trabalho, desci para o desjejum encontrando a mesa ainda posta e sinais de que Lorenzo havia passado por ali. As migalhas e manchas de suco de uva no guardanapo de pano, denunciaram isso. Sorri sentando-me no meu lugar à cabeceira. Ele era tão arteiro quanto já fui um dia quando criança. Há tanto de mim nele quanto existe da sua mãe.Monalisa foi a única mulher que amei na vida. Ela que foi capaz de ver coisas boas em mim quando nem mesmo eu enxergava e me amou mesmo eu sendo um homem cheio de sangue nas mãos. Ela não pertencia à máfia, não nasceu no meio de tudo isso. Era lei se casar com quem era da família, mas eu lutei contra isso. L
LAURADomingo eu nunca sabia o que fazer. Já passavam das onze da manhã e ainda não havia saído da cama, nem mesmo para tomar o café da manhã. Uma batida soou na porta antes que fosse aberta vagarosamente.— Você morreu? — perguntou Caio, passando a sua cabeça por uma fresta.— Não, só estou com preguiça — respondi-o, escondendo a minha cabeça sob o edredom.— Levanta, vai. Vamos almoçar fora, eu pago.Permaneci em silêncio e quieta. Escutei a porta ranger ao ser mais aberta. O edredom foi puxado de mim e jogado nos pés da cama.— Saía, Caio! Me deixa! — reclamei irritada, puxando o edredom e cobrindo-me novamente até o topo da cabeça.— Qual é? Você está doente? Só pode estar doente, você nunca recusa comida, ainda mais quando sou eu quem vai pagar.— Só não estou a fim!— Okay. Vou sair para comer tacos e não vou trazer para você! — avisou antes de fechar a porta em um baque.Permaneci quieta e fechei os meus olhos, rezando para que a segunda chegasse logo, mas, infelizmente, as minh
LAURA— E então? — perguntou Salim.— Posso sim — concordei, enfim, ao ver o jarro balançar levemente na sua mão trêmula.Peguei-o e fui em direção ao balcão. Amarrei o meu avental na cintura, abasteci o jarro com mais café, servi os clientes que estavam sentados no piso de baixo e depois subi para o mezanino. Ao chegar lá em cima, parecia haver um imã que puxaram os seus olhos diretamente para os meus. Ele encarou-me com frieza e arqueou a sobrancelha exalando superioridade pelos poros. Caminhei até a mesa adiante e anotei o pedido antes de seguir até a sua. Ao me aproximar, pude sentir o perfume exageradamente doce que a mulher sentada à sua frente usava. Ela encarou-me dos pés à cabeça e fez uma expressão de nojo. Olhei para ele e por fim perguntei o que desejavam. Ele pediu dois cafés sem creme e açúcar. A garota em momento algum me direcionou uma palavra nem sequer. Saí para buscar os pedidos e mesmo de costas senti que ele ainda me olhava.— Aqui está. — Coloquei as canecas sobre
LAURAVoltei para casa e ao entrar na propriedade, encontrei Lorenzo correndo no jardim da frente sob a guarda dos meus homens. Quando ele me viu descer do carro, veio na minha direção com o seu sorriso lindo e angelical, pulando nos meus braços.— Papai! Você chegou cedo. — Abraçou o meu pescoço.— Sim, filho.— Senhor — chamou Serra.— Sim. — Olhei para ele e vi que tinha uma pasta em mãos. — Filho... Entre e vá brincar no seu quarto. Está frio aqui fora.— Tudo bem, papai — concordou e deu-me um beijo estalado no rosto.Coloquei-o no chão e o observei correndo em direção à Sra. Poulinsk, nossa governanta.— O que tem para mim? — perguntei ao Serra.Ele não disse nada, apenas se aproximou e estendeu-me a pasta. Peguei-a da sua mão e abri. Havia fotos da Laura e, a julgar pelas roupas, eram de hoje. Ela andava pela calçada ao lado de um homem. A minha mandíbula se contraiu instintivamente e as minhas mãos apertaram com força a beirada da pasta, amassando-a.— Quem é ele? — perguntei o
LAURAJá fazia uma semana desde o episódio épico na cafeteria com o italiano e a modelo loira. Eu estava trabalhando mais do que nunca, fazendo todas as horas extras possíveis para não atrasar o aluguel, já que Caio ainda não havia conseguido um emprego.— Vamos almoçar? — convidou Angelita.— Vamos. Estou morrendo de fome.— Aquele food truck árabe que você gosta está estacionado a uma quadra daqui.— Maravilha. Vamos logo, então.Fomos até lá caminhando e fizemos os nossos pedidos após enfrentar uma pequena fila com oito pessoas à nossa frente. Enquanto aguardávamos o nosso almoço, nos sentamos na praça sob o sol do meio-dia para nos esquentar, estava fazendo bastante frio com a chegada do inverno em Boston.— Caio já conseguiu um emprego?— Ainda não. Ele colocou o currículo em alguns sites, fez algumas entrevistas, mas até agora nada. Coitado, anda tão preocupado.— Eu imagino. Mas relaxe, ele vai conseguir alguma coisa. Tenha fé.Almoçamos e voltamos logo para o trabalho. A tarde
LAURARodrigo estava parado sobre a calçada no outro lado da rua com as mãos dentro dos bolsos do seu casaco preto. Ele me observava com atenção e, quando viu o meu espanto em vê-lo ali, curvou os seus lábios em um sorriso sombrio e tenebroso, aquele que ainda assombrava os meus piores pesadelos.— Você está bem? — perguntou a voz grave de sotaque italiano. — Laura? — chamou-me colocando-se de pé e tocando a minha mão, atraindo o meu olhar para ele.— O quê?— Perguntei se você está bem?— Desculpe. Vou pedir para alguém vir atendê-lo.Antes de me afastar, olhei novamente para o outro lado da rua e Rodrigo não estava mais lá. Eu estava me sentindo à beira de um ataque de pânico. Saí apressada e fui para o fundo da cafeteria quase atropelando Salim pelo caminho, fazendo-o deixar a sua bandeja cair no chão. Precisava contar ao Caio o que havia acabado de ver. Tinha certeza de que não era minha imaginação, aquilo foi real! Rodrigo havia nos achado e estava em Boston.Entrei no banheiro do
LAURAO motorista abriu a porta e ele saiu primeiro, ajudando-me a descer de dentro do carro em seguida. Parei por um instante diante dos degraus que levavam à entrada e virei-me para ele, encarando-o confusa. Somente naquele momento a minha ficha havia caído.— Como sabe onde eu moro? — perguntei dando-me conta de que em momento algum passei para ele ou ao seu motorista meu endereço.— É uma longa história, Laura — disse dando um passo na minha direção.— Afinal... Como você sabe o meu nome? — questionei, começando a me sentir ainda mais assustada.— Meu nome é Enzo...— Não estou nem aí para o seu nome, não te perguntei! — gritei. — Quero saber como sabe onde moro? Como pode saber tanto, se nunca nem mesmo disse o meu nome a você?— Fique calma. Não precisa se exaltar. Por que a gente não entra para conversar?— Nem morta vou convidar um estranho para dentro do meu apartamento — interrompi-o. — Obrigada pela gentileza, mas acaba por aqui a sua boa ação do dia. — Dei-lhe as costas e s