Capítulo 05

ENZO

Os seus cabelos loiros com corte pouco abaixo do ombro balançavam com o vento forte que batia ao encontro do seu rosto. Droga! Como queria me lembrar da cor dos seus olhos. Será que são azuis como os meus? Ou castanhos?

— Não soube ler o aviso de: "não se aproxime da mureta de proteção"? — chamei a sua atenção.

— Não! Não sei ler! — respondeu com rispidez.

Ainda com a mesma língua afiada. Isso me deixou um tanto furioso. Qual era o problema com aquela mulher? Não teve educação?

— Além de estúpida, é analfabeta? De que parte do mundo você surgiu, criatura?

Todos me devem respeito! Eu sou o capo da máfia italiana, porra! Ela também terá de me respeitar. Se não sabe quem sou, irei mostrar!

— De um lugar onde te mandariam para o inferno com um pontapé na bunda, seu italiano arrogante! — respondeu alto e com raiva.

Dei a ela um olhar duro e ameaçador.

— O que faz aqui? Não notou que esse lugar não é para gente como você?

— Por que você não vai à merda?

Deu um passo de encontro a mim, lançando-me um olhar desafiador com o seu narizinho empinado.

— Você é muito atrevida. — Encarei os seus olhos. Eram verdes... Belos como duas esmeraldas.

Ela não iria abaixar a sua guarda. Aquela mulher não era fácil. Se fosse outra qualquer, estaria cheia de dedos para cima de mim e um sorriso sedutor.

— E você é o quê? Existe palavra melhor que imbecil para te definir?

Imbecil? Esta mulher está ultrapassando os limites.

— Você não tem noção de quem está enfrentando, garota estúpida!

— É você quem não tem noção com quem está mexendo.

Respirei fundo, olhando-a de cima. Isso foi uma ameaça? Quem é esta garota? Problemas para mim ou para a máfia? Nunca sabemos que cara tem o inimigo. Olhei minuciosamente o seu rosto descendo os meus olhos dos seus até a sua boca desenhada pintada por um batom vermelho levemente desbotado.

— Saia da minha boate!

Ela encarou-me de um jeito que eu não soube decifrar. Um sorriso debochado brotou no canto dos seus lábios. Olhei novamente para seus olhos de esmeraldas, esperando por xingamentos ou um ataque histérico que não veio.

— Com o maior prazer, Sr. Imbecil! — disse baixo antes de passar por mim e sair pela porta sem olhar para trás.

Definitivamente, ela não era como as outras. Precisava saber quem era aquela mulher. Sentia cheiro de perigo e não costumava me enganar. Se fosse outra, teria contornado a situação numa tentativa de ficar e ter uma noite comigo. Mas ela não. Ela pareceu satisfeita em ir embora e isso me deixou intrigado.

Desci novamente para a boate e saí pela porta da frente com os meus soldados. Ao pisar na calçada, a vi andar em direção ao táxi e entrar no carro.

— Descubra quem é aquela mulher — pedi para o Serra, meu braço direito na máfia, que estava parado ao meu lado. — Procure nas filmagens e descubra quem estava na portaria na hora em que ela chegou. Pergunte tudo que ele possa se lembrar. Quero saber cada detalhe sobre o seu passado e presente. Veja se chegou acompanhada e se sim, investigue também. Quero isso amanhã de manhã nas minhas mãos.

— Sim, senhor.

— Se achar algo suspeito, mande alguém ficar na cola dela.

— Como queira.

Deixei a boate e segui para casa. Ao chegar, subi a escada sentindo o meu corpo clamar por um banho quente e cama. Ao abrir a porta do meu quarto, avistei um montinho sob o cobertor. Aproximei-me a passos silenciosos e puxei-o lentamente descobrindo um pequeno corpinho. A sua cabeça estava deitada sobre o travesseiro de penas de ganso e os seus curtos bracinhos agarravam com força seu fiel companheiro há quatro anos, um urso de pelúcia marrom com gravata vermelha. Tirei o meu paletó e sentei-me na beirada da cama vagarosamente, acariciando os seus cabelos tão pretos quanto os meus. Curvei-me para frente e senti o seu cheirinho de bebê impregnado no pescoço. Depositei um beijo na sua bochecha gorducha e levantei-me indo ao banheiro.

Entrei no box ligando o chuveiro e deixando a água quente cair sobre o meu corpo, relaxando os meus músculos. Ao sair, passei direto para o closet e vesti uma calça de moletom confortável. Deitei-me com cuidado na cama para não acordar o meu pequeno anjinho que adormecia sereno. Deitado de barriga para cima e olhos fechados, sem minha permissão, minha mente levou-me até a mulher abusada de horas atrás. Por que diabos estava pensando nela? Saí dos pensamentos e concentrei-me em dormir. Já estava quase caindo no sono quando fui abraçado e ganhei um beijo no olho esquerdo.

— Eu te amo, papai — sussurrou no meu ouvido.

Abri os meus olhos e olhei para o lado, encontrando somente a sombra do sorriso mais lindo que iluminava os meus dias, curando toda a minha dor.

— Também te amo, meu filho. — Retribuí o carinho dando um beijo na sua testa, por cima dos cabelos lisos que caia sobre ela. — Agora durma, Lorenzo. Já é tarde.

Ele assentiu e deitou no meu peito, abraçando-me.

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