LAURAJá fazia uma semana desde o episódio épico na cafeteria com o italiano e a modelo loira. Eu estava trabalhando mais do que nunca, fazendo todas as horas extras possíveis para não atrasar o aluguel, já que Caio ainda não havia conseguido um emprego.— Vamos almoçar? — convidou Angelita.— Vamos. Estou morrendo de fome.— Aquele food truck árabe que você gosta está estacionado a uma quadra daqui.— Maravilha. Vamos logo, então.Fomos até lá caminhando e fizemos os nossos pedidos após enfrentar uma pequena fila com oito pessoas à nossa frente. Enquanto aguardávamos o nosso almoço, nos sentamos na praça sob o sol do meio-dia para nos esquentar, estava fazendo bastante frio com a chegada do inverno em Boston.— Caio já conseguiu um emprego?— Ainda não. Ele colocou o currículo em alguns sites, fez algumas entrevistas, mas até agora nada. Coitado, anda tão preocupado.— Eu imagino. Mas relaxe, ele vai conseguir alguma coisa. Tenha fé.Almoçamos e voltamos logo para o trabalho. A tarde
LAURARodrigo estava parado sobre a calçada no outro lado da rua com as mãos dentro dos bolsos do seu casaco preto. Ele me observava com atenção e, quando viu o meu espanto em vê-lo ali, curvou os seus lábios em um sorriso sombrio e tenebroso, aquele que ainda assombrava os meus piores pesadelos.— Você está bem? — perguntou a voz grave de sotaque italiano. — Laura? — chamou-me colocando-se de pé e tocando a minha mão, atraindo o meu olhar para ele.— O quê?— Perguntei se você está bem?— Desculpe. Vou pedir para alguém vir atendê-lo.Antes de me afastar, olhei novamente para o outro lado da rua e Rodrigo não estava mais lá. Eu estava me sentindo à beira de um ataque de pânico. Saí apressada e fui para o fundo da cafeteria quase atropelando Salim pelo caminho, fazendo-o deixar a sua bandeja cair no chão. Precisava contar ao Caio o que havia acabado de ver. Tinha certeza de que não era minha imaginação, aquilo foi real! Rodrigo havia nos achado e estava em Boston.Entrei no banheiro do
LAURAO motorista abriu a porta e ele saiu primeiro, ajudando-me a descer de dentro do carro em seguida. Parei por um instante diante dos degraus que levavam à entrada e virei-me para ele, encarando-o confusa. Somente naquele momento a minha ficha havia caído.— Como sabe onde eu moro? — perguntei dando-me conta de que em momento algum passei para ele ou ao seu motorista meu endereço.— É uma longa história, Laura — disse dando um passo na minha direção.— Afinal... Como você sabe o meu nome? — questionei, começando a me sentir ainda mais assustada.— Meu nome é Enzo...— Não estou nem aí para o seu nome, não te perguntei! — gritei. — Quero saber como sabe onde moro? Como pode saber tanto, se nunca nem mesmo disse o meu nome a você?— Fique calma. Não precisa se exaltar. Por que a gente não entra para conversar?— Nem morta vou convidar um estranho para dentro do meu apartamento — interrompi-o. — Obrigada pela gentileza, mas acaba por aqui a sua boa ação do dia. — Dei-lhe as costas e s
LAURAÀs vezes, sair de casa era inevitável. Precisava sair às ruas, buscar emprego, comprar comida e pagar as contas. Mas a cada passo que dava pela cidade, sentia-me observada. Eu tentava dizer para mim mesma que era coisa da minha cabeça e que já estava ficando louca, mas sentia e podia jurar isso.Ainda me perguntava quem era Enzo e como ele sabia tanto sobre mim. Ele chamar-me pelo meu verdadeiro nome e saber onde morava, além de deixar-me apavorada, provou que não estávamos tão escondidos em Boston como pensávamos. Eu temia por minha vida e muito mais pela do Caio. Tinha medo de que o monstro fizesse algo com ele para me atingir. O meu coração se acalmava somente quando ele voltava para casa pela manhã. Esperava-o acordada diariamente andando de um lado para o outro no apartamento, com o coração apertado de preocupação. O meu sono só vinha quando o via passar inteiro pela porta.Estava sentada no balcão de uma cafeteria, folheando o jornal do dia em busca de alguma vaga de empreg
ENZODeixei o quarto fechando a porta atrás de mim e desci a escada indo em direção à cozinha. Encontrei a Sra. Poulinsk sentada à mesa tomando uma xícara de chá. Sentei-me na cadeira do outro lado e sem eu precisar pedir, ela levantou-se e me serviu de uma xícara do chá de camomila, adicionando uma dose especial de um conhaque inglês.— Precisamos arrumar outra babá — falou ela ao se sentar novamente.— Eu sei. Mas não posso pôr qualquer mulher aqui para cuidar do meu filho.— Concordo com o senhor. Mas estou velha para correr atrás de um menino agitado e levado. A minha cota de descabelamentos se esgotou com você quando era criança. — Sorriu fazendo-me rir.— Eu sei. Peço desculpas pelo Lorenzo. Não sei mais o que fazer com ele.— Acho que ele destrata as babás, porque acredita que a mãe só irá voltar quando elas se forem. Afinal, é o senhor quem diz sempre ao menino que elas cuidam dele somente até Monalisa voltar para casa.Olhei-a sentindo-me desconfortável, julgado e culpado.— E
ENZOOs dias foram passando e eu evitando a minha mãe a todo custo. Sempre saindo muito cedo de casa e voltando muito tarde para nos encontrarmos o mínimo de tempo possível. Ela parecia não entender que não estava a fim de casamento algum, ainda mais com Melissa. Às vezes, chegava a perder a paciência e gritava com ela. Passava por pouco de mandá-la embora, mas não podia, eu precisava dela. Não podia mais abusar da boa vontade da Sra. Poulinsk. Ela era uma mulher que já devia estar aposentada, mas se recusa a me deixar e a deixar o meu filho. Por mais complicada que a Sra. Albertinni fosse, ela era necessária até que eu encontrasse alguém para cuidar do meu filho.Já passava da meia-noite quando entrei em casa. Subi a escada a passos silenciosos para não acordar ninguém. Parei diante do quarto do Lorenzo e girei a maçaneta vagarosamente abrindo a porta. Ele dormia embolado debaixo do seu cobertor na sua cama pequena, agarrado ao seu ursinho. Caminhei até ele e sentei-me na beirada do c
LAURA— O quê? — perguntou Biancca, surpresa.— Desculpe-me — pedi mais uma vez e lhes dei as costas, saindo dali rapidamente, deixando a mansão às pressas.— Espere! — escutei-o gritar e vir atrás de mim. — Por favor, Laura!— O que você quer? — perguntei alto, virando-me para trás.— Que você fique e faça o teste. E para pedir desculpa pela última vez que nos vimos.Uma paralisia nervosa travou-me no lugar. Então o grosseirão sabia pedir desculpas?— Como? Como você sabia? — perguntei aos sussurros.— Eu... — interrompeu-se e respirou fundo. — É complicado de explicar e também não foi difícil de achar tudo o que eu queria saber de você.— Por que procurou sobre mim? — perguntei exaltada e confusa. — Você é algum tipo de pervertido? — Dei um passo para trás.— O quê? Não! Só queria saber quem se acha corajosa o bastante para me enfrentar como você faz! — respondeu-me alto, dando um passo na minha direção.— Fica parado aí! — mandei estendendo o meu braço entre nós, mantendo uma distân
LAURANa volta para casa, vi como ele ficou dependurado na janela observando as crianças sentadas às mesas da calçada na sorveteria grega do outro lado da rua. Senti pena dele outra vez. Isso devia ser proibido para ele também, assim como cereal matinal, doces, refrigerantes ou biscoito recheado. O garoto comia frutas no desjejum e tomava suco natural.Quando chegamos em casa, ele me disse estar com fome. Levei-o até a cozinha e a empregada já havia preparado o seu prato. Ervilhas, purê de batatas, couve de Bruxelas e peixe. Ele fez uma carinha de desapontamento que cortou o meu coração. Nem mesmo eu gostava de couve de Bruxelas. Depois de demorar quase uma hora para comer, ele trocou de roupa e seguiu para sua rotina da tarde. Eu o acompanhei e pude ver o quanto odiava fazer aquelas aulas chatas com uma professora ainda mais tediosa.Após fazermos o dever de casa, levei-o para seu quarto e deixei-o sentado na cama enquanto preparava o seu banho quente na banheira. Chamei-o do banheiro