LAURANa volta para casa, vi como ele ficou dependurado na janela observando as crianças sentadas às mesas da calçada na sorveteria grega do outro lado da rua. Senti pena dele outra vez. Isso devia ser proibido para ele também, assim como cereal matinal, doces, refrigerantes ou biscoito recheado. O garoto comia frutas no desjejum e tomava suco natural.Quando chegamos em casa, ele me disse estar com fome. Levei-o até a cozinha e a empregada já havia preparado o seu prato. Ervilhas, purê de batatas, couve de Bruxelas e peixe. Ele fez uma carinha de desapontamento que cortou o meu coração. Nem mesmo eu gostava de couve de Bruxelas. Depois de demorar quase uma hora para comer, ele trocou de roupa e seguiu para sua rotina da tarde. Eu o acompanhei e pude ver o quanto odiava fazer aquelas aulas chatas com uma professora ainda mais tediosa.Após fazermos o dever de casa, levei-o para seu quarto e deixei-o sentado na cama enquanto preparava o seu banho quente na banheira. Chamei-o do banheiro
ENZODistraí-me com a minha dose pensando na minha ida para Florença em poucas horas, quando me assustei com o barulho de vidro estilhaçando no chão. Olhei para o Caio e ele segurava apenas o pano branco na mão. O seu rosto tinha uma expressão de puro espanto e olhos arregalados. A sua face estava pálida e os lábios entreabertos. Parecia ter visto um fantasma ou coisa pior. Parecia com o espanto que Laura teve naquela manhã na cafeteria em que saiu correndo.Segui o seu olhar assustado e vi que ele encarava um homem alto do outro lado do salão, que já estava de saída. O homem lhe deu um sorriso frio e caminhou para a porta. Olhei novamente para o Caio e ele acompanhava o estranho com os olhos. Seria a mesma pessoa que fez Laura ficar em pânico naquele dia?Fiz um sinal discreto com o meu dedo para um dos meus homens e depois olhei para o estranho que passava pela porta. Ele entendeu o meu recado e assentiu discretamente indo acompanhado por outro soldado atrás do homem. Saquei o celula
LAURADeixei que Lorenzo dormisse até mais tarde na manhã de domingo, mesmo sendo contra as normas. Biancca não estava em casa, então aproveitei para burlar essa regrinha, ele merecia. Já eu, levantei cedo e fui para a cozinha preparar as coisas do nosso piquenique.— Mas que cheiro maravilhoso! — elogiou Giovanni, marido de Biancca, ao entrar na cozinha.— Bom dia, Sr. Albertinni — cumprimentei-o.— Bom dia, minha jovem. O que estão cozinhando?— Estamos preparando comidas para o piquenique que irei fazer com Lorenzo mais tarde.— Me lembro de quando fazia isso com o Enzo. Ele adorava. Acho que ele nunca fez isso com o filho. Mesmo com uma vida corrida, sempre me esforcei ao máximo para dar uma boa infância ao meu filho — falou desapontado. — Mas onde está o bolo de chocolate?— Bolo de chocolate? — perguntou Milla risonha.— Lorenzo não pode comer nada de açúcar. O glúten do seu cardápio está quase zerado — informei-o.— Meu Deus! Por isso as crianças não são como antigamente. Os pai
LAURADeixei o quarto e fui até a biblioteca, rezando no caminho para não encontrar o diabo loiro. Bati na porta e o escutei me mandar entrar.— O senhor quer falar comigo? — perguntei fechando a porta atrás de mim.— Sim. Sente-se, por favor — pediu e indicou com a mão a poltrona à frente da sua. — Quero lhe pedir desculpas pela forma como Biancca a tratou mais cedo. Foi desnecessário e nada educado.— Não é o senhor que tem que me pedir desculpas. É a sua esposa.— Eu sei, mas... me sinto no dever de pedi-la desculpas.— Essa semana em que passei com Lorenzo foi a melhor que tive desde que cheguei à Boston — confessei com sinceridade. — Eu gosto muito do menino. Ele cativou o meu coração desde o primeiro minuto em que o conheci. É uma criança extraordinária. Lamentável que não tenha mãe, eu sei a falta que uma faz. Também perdi a minha muito cedo. Mas também é lamentável que ele não possa ser uma criança de verdade. A agenda do garoto é mais cheia do que a do presidente deste país. E
ENZO— Qual era a sua intenção, mãe? — perguntei alto e irado.— Ela não é apta para cuidar do meu neto! — respondeu-me alterada.— E quem é você para julgar isso? — perguntou o meu pai.— Agora vai defender a criada? — rebateu ela.— Tem noção do que estava fazendo, mãe? Eu a destratei por impulso de uma raiva causada por uma fofoca mentirosa a sua!— Se arrependeu de como tratou a criada? Você gosta dela, não é mesmo, Enzo? — questionou com desdém.A sua última pergunta pegou-me de surpresa e não consegui respondê-la. Na verdade, parei para pensar. Estava tão arrependido de ter gritado com ela, de ter sido injusto e a tratado com tamanho desrespeito, que não sabia se isso era porque gostava dela, ou somente bom senso.— Era só o que me faltava... Você está envolvido com a criadagem! — debochou.— Não se refira a ela ou a qualquer outro dos meus empregados desta forma, você me ouviu bem? Aqui todos são tratados com o devido respeito! — exaltei-me.— Escolhi aquela garota, não porque
ENZOComemos o bolo sentados no chão do seu quarto, escorados à cama. Ele pediu para que eu continuasse a história que Laura estava lendo para ele. Logo Maria apareceu avisando-nos de que o jantar já estava à mesa. Lorenzo não estava com fome, mas insisti para comer um pouco e ele aceitou porque a sua babá estaria conosco no jantar. Ele desceu correndo com a Maria e eu fui até o quarto onde Laura estava hospedada para chamá-la.Ao bater na porta, ela se abriu um pouco mostrando que não estava fechada, somente escorada. Empurrei-a e entrei encontrando o quarto vazio. Estava prestes a sair quando ouvi o barulho de água vindo do banheiro. Aproximei-me e, pela porta entreaberta, espiei-a tomar o seu banho de costas para mim, lavando os cabelos loiros que sempre pareceram ser macios. A sua cintura fina e o quadril largo deixavam o seu corpo robusto em forma de violão. A sua bunda era bela, volumosa e redonda. Laura era a perdição de qualquer homem!Já havia reparado que ela tinha várias ta
LAURAA semana começou bem. Acordei cedo, fui para o trabalho e tudo saiu conforme o planejado na parte da manhã. Quando cheguei da escola com Lorenzo, dei-lhe o almoço e pedi que subisse ao seu quarto e trocasse de roupa.— Onde está Lorenzo? — perguntou o seu Giovanni ao entrar na cozinha.— Ele subiu para trocar de roupa. Na verdade, ele está demorando. Vou ver o que está aprontando.Giovanni riu e eu subi para o segundo piso atrás do menino levado, que estava enrolando para descer e fazermos a sua lição de casa.— O que está fazendo? — perguntei ao entrar no seu quarto, pegando-o de surpresa. Ele se assustou e, rapidamente, escondeu as mãozinhas para trás nas costas. — O que você tem aí?— Nada não — respondeu com um sorriso nervoso.— Lorenzo... O que está escondendo de mim? — Aproximei-me dele, que estava sentado na sua cama.Ele fez uma carinha triste e respirou fundo, antes de tirar as mãos das costas, que escondiam uma foto pequena. Na imagem, havia uma mulher de cabelos preto
LAURAOs dias foram indo e a tão esperada festa estava sendo organizada com todo cuidado. Eu estava sentada no banco do jardim e Lorenzo deitado com a cabeça apoiada nas minhas pernas. Eu contava para ele a história de A Casa Sonolenta. Lorenzo estava adorando a história e ria alto enquanto eu acariciava os seus cabelos com uma mão e segurava o livro com a outra.— E fim — disse ao terminar a leitura.— Eu gostei dessa história.— Eu também gosto dela. Você está com fome? Quer comer alguma coisa? Tem salada de frutas lá dentro.— Uhum!Levantamos e seguimos para dentro de casa.— Tia Laura.— Sim.— Você pode me ensinar a rezar para a mamãe hoje?— Posso sim.Depois de dar o lanche ao Lorenzo e ajudá-lo no seu dever de casa na biblioteca, fui ensiná-lo o que me pediu com olhinhos tão doces.— É sempre bom ficar de joelhos para rezar e você pode fazer isso todos os dias antes de ir dormir.— Tudo bem. O que eu digo para o Papai do Céu?Colocamo-nos de joelho, um de frente para o outro.