Capítulo 03

LAURA

Caminhei para uma beirada mais afastada e encarei a bela vista noturna da cidade. Encostei-me à mureta de proteção e fechei os meus olhos sentindo o vento forte contra o meu rosto bagunçando um pouco os meus cabelos de comprimento médio. Ao abrir os meus olhos, pensei na minha mãe. Como sentia a sua falta. Gostaria de ter tido tempo suficiente para levá-la conosco. Era muito triste ela não ter tido a chance de estar ali e lembrar-me do inferno que viveu até o seu último dia. Uma lágrima solitária e atrevida desceu por meu rosto. Será que esta dor e angústia nunca irá passar, ou ao menos diminuir?

— Não soube ler o aviso de: "não se aproxime da mureta de proteção"? — perguntou uma voz masculina e rude atrás de mim, com um sotaque italiano.

Aquele sotaque não me era estranho, eu reconhecia. Não fazia nem uma semana que queria mandar o dono daquela voz para o inferno. Sequei a minha bochecha esquerda e virei-me para trás encarando o homem estúpido que me destratou na cafeteria.

— Não! Não sei ler! — respondi-o no mesmo tom rude.

— Além de estúpida, é analfabeta! — debochou. — De que parte do mundo você surgiu, criatura?

Ah... Mas este homem não sabe com quem está mexendo. Quem ele pensa que é?

— De um lugar onde te mandariam para o inferno com um pontapé na bunda, seu italiano arrogante! — rebati irada.

— O que faz aqui? Não notou que esse lugar não é para gente como você? — perguntou com arrogância, aproximando-se.

— Por que você não vai à merda? — retruquei-o, dando um passo na sua direção e fechando o pouco espaço que havia entre nós.

— Você é muito atrevida! — rosnou baixo, cerrando a sua mandíbula.

— E você é o quê? Existe palavra melhor do que imbecil para te definir? — perguntei encarando-o nos olhos.

— Você não tem noção de quem está enfrentando, garota estúpida!

— É você quem não tem noção com quem está mexendo.

Ele respirou fundo empinando um pouco o seu queixo e encarou-me de cima, deslizando o seu olhar por cada centímetro de pele do meu rosto, desde os meus olhos até a minha boca, parando ali o seu olhar por alguns segundos.

— Saia da minha boate! — ordenou em um tom baixo, firme e ameaçador.

Esse homem pensa que tenho medo dele? Dei-lhe um sorriso debochado quando os seus olhos voltaram aos meus.

— Com o maior prazer, Sr. Imbecil.

Passei por ele e deixei o terraço sem olhar para trás. Desci a escada e comecei a andar à procura de Angelita, mas não a vi em lugar algum. Tirei o meu celular do bolso da saia e mandei uma mensagem avisando que já estava indo para casa. Aquela noite já havia rendido tudo o que podia e mais um pouco para mim.

Peguei o meu casaco na portaria e saí para a calçada. Por sorte, um táxi estava sendo desocupado alguns metros mais adiante. Corri até ele e entrei. Não estava acreditando, que com tantas boates em Boston, fui parar justamente na daquele homem grosso e babaca! Quando o táxi estacionou próximo ao meio-fio, em frente ao meu prédio, saltei apressada após pagar a corrida.

Ao entrar em casa, tudo estava escuro e silencioso. Sentei-me na sala e tirei as minhas botas jogando-as de lado, enquanto me recordava do episódio de estresse no terraço com aquele homem. Pelo menos uma coisa tinha que admitir: o italiano estúpido era muito cheiroso. As minhas narinas agradeceram por respirar a sua fragrância máscula e suave após ficarem horas cercadas pelo odor do homem nojento na pista de dança.

***

ENZO

Cansaço era a palavra que me definia naquela noite. Sentado no banco traseiro do meu carro, a caminho de casa, tentei recordar-me de quando foi a última vez que tive uma mulher sob mim, servindo-me e cedendo a todos os meus prazeres e caprichos. Desde que me tornei Capo da máfia italiana nos Estados Unidos, há três anos, não tive muito mais tempo para nada na minha vida. Enquanto o meu pai continuava a cuidar da nossa terra natal atuando como Don, eu estava em Boston aguentando aquela gente estúpida e cheia de si que eram os americanos. Quanta gente petulante havia naquele país.

O meu celular vibrou no bolso interno do meu paletó, fazendo-me bufar e revirar os olhos, irritado. O que querem tanto falar comigo a uma hora da manhã?

— Seja rápido — disse ao atender a ligação do Cássio, um dos meus soldados.

Senhor... Achamos o Salazar. Ele voltou à cidade e não irá acreditar onde.

— Fale logo de uma vez! — mandei irritado.

Está na Luxes, senhor. Na sua boate, rodeado por modelos no camarote e pagando bebida para uma porção de gente.

— Desgraçado! Mande todos ficarem de olho nele, estou indo para aí. Não o percam de vista e não deixem que ele saia do camarote. Avise que chegarei pelos fundos, ainda não quero que saibam que sou o novo dono deste lugar.

Sim, senhor.

— Para a Luxes — informei ao motorista após encerrar a chamada.

Ele assentiu e deu meia-volta. Ao chegarmos, outros soldados já esperavam por mim nos fundos.

— Senhor Albertinni — cumprimentou Cássio, quando desci do carro. — Ele continua no camarote, não fizemos alarde. O pegará de surpresa.

— Ótimo! É assim que eu gosto. Desprevenido — disse enroscando o silenciador na ponta da minha pistola.

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