Capítulo 2

A luz fria e intensa do hospital iluminava o quarto onde minha mãe estava internada. O cheiro de desinfetante e a batida distante de equipamentos médicos criavam uma atmosfera pesada. Eu me aproximei da cama, e um nó se formou na minha garganta ao vê-la deitada ali, tão vulnerável. As cobertas brancas contrastavam com sua pele pálida, quase translúcida. Um ventilador girava lentamente no canto, mas sua presença não trazia alívio ao calor que queimava dentro de mim.

— Oi, minha linda, — ela disse com um sorriso cansado, mas cheio de amor. Era um sorriso que sempre me fez sentir que tudo ficaria bem, mesmo em meio a tempestades.

— Oi, mamãe. — Sentei-me na beira da cama, segurando sua mão. Ela estava tão leve, como se a vida estivesse lentamente esvaindo-se dela. O toque de sua pele ressecada e quente era um lembrete cruel da fragilidade que agora dominava nossa realidade.

— Como você está se sentindo hoje? — perguntei, tentando esconder a preocupação em minha voz.

— Ah, você sabe, um dia de cada vez. — Sua voz era suave, como se quisesse me proteger das preocupações que a rodeavam. — Mas não se preocupe comigo. Eu só quero que você pense em seu futuro, Isabella. Não se sacrifique tanto por minha causa.

As palavras dela ecoaram em minha mente, e imediatamente um flashback tomou conta dos meus pensamentos. Eu era uma criança, correndo ao redor do quintal em um dia ensolarado. A brisa leve balançava meu cabelo, e o sol aquecia meu rosto. Minha mãe estava lá, de pé, com os braços abertos, pronta para me receber em um abraço caloroso.

Sempre foi ela quem me deu apoio, quem me ensinou a ser forte. A lembrança da sua risada, clara e vibrante, era um bálsamo para minha alma.

— Mamãe, você sempre foi meu pilar. Eu não consigo imaginar minha vida sem você. — A emoção transbordou, e minhas palavras saíram quase em um sussurro.

Ela apertou minha mão, seus olhos brilhando com lágrimas contidas.

— Você é mais forte do que imagina. Tem um futuro incrível pela frente, e não quero que você coloque sua vida em espera por mim. — Ela estava tentando ser forte, mesmo quando a fraqueza a dominava. Mas a força dela me fazia sentir ainda mais impotente. Como eu poderia deixar de lutar por ela?

Eu olhei para os monitores que apitavam ritmadamente, cada bip uma lembrança de que o tempo estava passando, e que eu não podia perder um único momento.

— Eu não sei como fazer isso, mamãe. — Minha voz tremeu. — Você é tudo o que eu tenho.

A porta se abriu e o médico entrou, trazendo uma gravidade que fez meu coração afundar. Ele olhou para nós com uma expressão que não prometia boas notícias.

— Isabella, precisamos conversar. O estado da sua mãe está se deteriorando. O tratamento que estamos recomendando é eficaz, mas é caro.

As palavras dele ecoaram em minha cabeça como um sino alarmante. Eu sabia que, além da dor emocional, havia uma pressão financeira esmagadora pairando sobre mim.

— Quanto custa? — Perguntei, tentando manter a voz firme, mas uma onda de desespero estava se formando dentro de mim.

— Cerca de... — Ele hesitou, olhando para a tela do computador, como se estivesse pesando suas palavras. — Cerca de trezentos mil reais.

A realidade da situação me atingiu com a força de um soco no estômago. Eu não tinha esse dinheiro. O que eu poderia fazer? O que eu estava disposta a fazer? Uma mistura de raiva e impotência tomou conta de mim.

— Eu farei o que for preciso, — murmurei, mais para mim do que para ele. O olhar de minha mãe, suave e amoroso, se manteve firme em mim, como se ela pudesse sentir a tempestade que se formava em meu coração.

— Você não precisa fazer isso sozinha, — ela disse, sua voz agora uma mistura de preocupação e amor. — Eu sempre estarei aqui, Isabella. Você não precisa carregar o mundo nos ombros.

Mas eu já sentia que estava fazendo isso.

— Eu... — As palavras falharam. Como eu poderia explicar que sua vida significava mais para mim do que qualquer outra coisa? Que eu estava disposta a sacrificar tudo, até mesmo meus sonhos, para mantê-la viva?

A pressão se acumulava em meu peito, e eu me levantei abruptamente, dando um passo para trás, sentindo a necessidade de respirar fundo. O médico continuou a explicar os detalhes do tratamento, mas sua voz soava distante. Era como se eu estivesse assistindo a um filme, incapaz de processar a realidade que se desenrolava diante de mim.

— Isabella, — ele disse, sua expressão séria, — preciso que você pense bem sobre isso. O tratamento pode trazer resultados, mas a situação é crítica. O tempo é um fator muito importante aqui.

— Eu entendi, — respondi, embora, no fundo, eu não tivesse certeza de nada. Como eu poderia decidir entre a vida da minha mãe e a minha própria sanidade? O que eu deveria fazer?

Eu olhei para minha mãe, e ela me ofereceu um sorriso encorajador, mas sua fraqueza era palpável. A luta dela para manter-se forte era visível em cada linha de seu rosto. O amor que eu sentia por ela era tão profundo que parecia atravessar a sala, preenchendo o espaço entre nós.

— Mamãe, você sabe que eu farei qualquer coisa. — Eu precisava que ela soubesse, que ela não se sentisse sozinha nessa batalha. — Eu não posso perder você.

Ela fechou os olhos por um momento, como se estivesse absorvendo o peso da minha declaração.

— Eu quero que você viva, Isabella. Prometa-me que você não vai deixar que isso a consuma. — Sua voz estava trêmula, e eu podia ver a luta interna dela. Era como se ela estivesse tentando não apenas lutar por si mesma, mas também por mim.

As palavras dela reverberaram em meu coração, criando uma tempestade de emoções. Como poderia eu pensar em mim mesma quando o futuro dela estava em jogo? Como poderia ser egoísta em um momento como esse?

— Eu não consigo prometer isso, — respondi, as lágrimas escorrendo pelo meu rosto. — Eu só quero que você fique comigo.

O médico interrompeu nosso momento, observando o peso da situação. Ele provavelmente estava acostumado a esses dramas emocionais, mas para mim, cada segundo contava como uma eternidade.

— Preciso que você considere o financiamento, Isabella. Existem opções, mas elas exigirão que você aja rápido. — Ele me entregou um folheto com informações sobre doações e fundos que poderiam ajudar.

— Obrigada, doutor, — eu disse, mas a gratidão parecia inadequada diante da gravidade da situação. Ele saiu do quarto, e o silêncio tomou conta de nós novamente.

— Eu não sei o que fazer, mamãe. — O desespero em minha voz era evidente.

— Vamos enfrentar isso juntas. — A determinação dela iluminou o quarto, e eu sentia que, mesmo em sua fragilidade, ela ainda era minha força.

— O que você quer que eu faça? — perguntei, desejando que houvesse um caminho claro à frente.

— Apenas viva, meu amor. Prometa-me que você não deixará que isso a destrua. Você tem tanto potencial. — Suas palavras eram como uma lâmina afiada, cortando a névoa de medo que me cercava.

— Eu prometo. — Essa promessa era mais do que uma palavra vazia; era um compromisso que eu faria com todas as minhas forças.

E assim, naquele quarto gelado do hospital, a conexão entre nós se fortaleceu. Mesmo em meio ao medo e à incerteza, eu sabia que não estava sozinha. Minha mãe era a luz que ainda brilhava em meio à escuridão, e eu estava disposta a lutar por ela, não importa o custo.

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