Paixão Sob Contrato
Paixão Sob Contrato
Por: Mariana Amorim
Capítulo 1

Points Of View Isabella

O relógio da parede parecia zombar de mim, os ponteiros arrastando-se como se soubessem que eu não tinha pressa de encarar o que vinha depois do expediente. As horas naquele escritório pareciam mais longas do que nunca. A cada clique do mouse, cada e-mail enviado, mais um pedaço da minha alma se desgastava. Trabalhar naquela empresa há tanto tempo me dava a sensação de estar presa em uma teia, incapaz de escapar e sem saber para onde ir. O trabalho em si nunca foi o problema, mas a falta de reconhecimento, de propósito... era sufocante. Eu me esforçava, fazia tudo certo, mas no final do dia, parecia que nada importava.

Suspirei profundamente, afastando o olhar da tela do computador. Meus olhos ardiam de cansaço, mas não era apenas isso. Era um cansaço que ia além do físico, era emocional, mental. A empresa estava em colapso, e eu, por mais dedicada que fosse, não conseguiria salvar um navio que já estava afundando. Sabia que os dias estavam contados, tanto para o negócio quanto para mim. Mas esse pensamento, embora alarmante, parecia pequeno diante dos problemas reais que me aguardavam fora dali.

O relógio finalmente marcou o fim do expediente, e eu desliguei o computador, pegando minha bolsa e saindo sem olhar para trás. Não havia nada naquele lugar que eu queria levar comigo, nem mesmo as lembranças dos dias em que eu ainda acreditava que tudo valeria a pena. Atravessar a porta da empresa deveria ser libertador, mas o peso que carregava nos ombros não diminuía. Talvez fosse o peso de decisões que eu ainda não tinha tomado. Ou o medo de enfrentar o que estava por vir.

Caminhei até o café onde eu e Pedro costumávamos nos encontrar depois do trabalho. Ele era meu ponto de equilíbrio, a pessoa que sempre me ouvia sem julgamentos, sem me dizer o que eu deveria fazer, mas ainda assim me dando a força para seguir em frente. Hoje, mais do que nunca, eu precisava dessa força.

Quando cheguei, Pedro já estava lá, com uma xícara de café à sua frente, me esperando com o olhar de sempre — atento, preocupado. Sentei-me à sua frente, soltando um longo suspiro enquanto ele me observava, como se tentasse adivinhar o que eu diria primeiro.

— Como você está, Isa? — ele perguntou, a voz calma, mas com uma ponta de preocupação.

Olhei para ele e tentei forçar um sorriso, mas tudo o que consegui foi um franzir de lábios que logo desapareceu. Eu sabia que não precisava fingir com Pedro.

— Estou... sobrevivendo — respondi, a voz mais fraca do que eu gostaria. — As coisas não estão fáceis, Pedro. As contas médicas da minha mãe continuam aumentando, e a cada dia parece que estou mais afundada em dívidas. Eu não sei mais o que fazer. Estou me afogando.

Pedro ficou em silêncio por alguns segundos, e eu sabia que ele estava escolhendo as palavras com cuidado. Ele sempre fazia isso. Não era alguém que jogava conselhos prontos no ar, sabia que a vida não era tão simples assim.

— Eu sei que parece impossível agora, Isa. E eu não vou mentir, a situação é difícil. Mas você é forte, já passou por tanta coisa. Se alguém pode dar um jeito nisso, é você.

Suas palavras eram bem-intencionadas, mas não consegui evitar a sensação de impotência que me envolvia. Minha mãe... era por ela que eu estava lutando, e a cada dia que passava, parecia que ela estava escapando de mim. O tratamento que ela precisava era caro demais, e cada visita ao hospital era um lembrete cruel de que o tempo estava se esgotando.

— Eu me sinto uma fracassada, Pedro — admiti, a voz embargada. — Eu queria ter feito mais, sabe? Ter conseguido mais. Mas parece que tudo o que eu faço é correr atrás de um sonho que nunca se concretiza. O trabalho... eu pensei que era temporário, só até eu conseguir algo melhor. E agora estou presa lá, sem perspectivas, sem nada.

Pedro inclinou-se para frente, olhando diretamente nos meus olhos, como se quisesse garantir que eu o ouvisse de verdade.

— Você fez o que podia, Isa. E continua fazendo. Isso já é mais do que muita gente faria. Eu sei que você está se sentindo impotente agora, mas não se culpe. Não é sua culpa que as coisas tenham chegado a esse ponto.

Eu queria acreditar nas palavras dele. Queria acreditar que eu estava fazendo o meu melhor, que de alguma forma, tudo daria certo no final. Mas a realidade era implacável. As contas médicas não paravam de chegar, o salário não aumentava, e o emprego estava por um fio. E a cada dia, eu via minha mãe definhar mais um pouco, seu corpo já frágil lutando contra uma doença implacável.

— E quanto ao trabalho? Alguma novidade? — Pedro perguntou, mudando de assunto na tentativa de aliviar a tensão.

— Nenhuma. Acho que não vão demorar muito para me dispensar. A empresa está caindo aos pedaços, e eu não vejo como vão conseguir segurar as pontas. Eu tenho que começar a procurar outra coisa... mas ao mesmo tempo, não posso me dar ao luxo de sair agora. Preciso do dinheiro, por pior que a situação esteja.

Pedro assentiu, compreendendo a encruzilhada em que eu estava. Ele sabia o quanto eu dependia daquele emprego, mesmo que fosse um beco sem saída. E sabia o quanto aquilo me frustrava.

— Talvez essa seja a hora de pensar em outra solução, Isa — ele sugeriu, com cautela. — Sei que não é fácil, mas quem sabe existe uma saída que você ainda não considerou.

— Que saída, Pedro? — perguntei, exasperada. — Eu já pensei em todas as alternativas possíveis. Nenhuma delas vai me tirar desse buraco. E a cada dia que passa, parece que o buraco só fica maior.

Ele não respondeu de imediato. Em vez disso, olhou para mim com aquele olhar que sempre me fazia pensar que ele sabia algo que eu não sabia.

— A vida às vezes nos surpreende, Isa. Eu sei que parece sem esperança agora, mas você nunca sabe o que pode acontecer. Talvez algo inesperado apareça... uma oportunidade.

Balancei a cabeça, soltando uma risada amarga.

— Estou esperando essa oportunidade há anos, Pedro. E olha onde isso me trouxe.

Ele deu de ombros, sem perder o otimismo.

— Talvez ela esteja mais perto do que você imagina.

Eu queria acreditar nele. Queria acreditar que, de alguma forma, algo milagroso aconteceria e tiraria esse peso dos meus ombros. Mas, naquele momento, tudo o que eu conseguia enxergar era o caos. E o tempo, implacável, continuava correndo.

Olhei pela janela do café, observando as pessoas passando apressadas, mergulhadas em suas próprias vidas e problemas. Perguntei-me se algum dia eu teria a chance de viver a vida que sempre sonhei. Porque, naquele momento, parecia que o tempo estava se esgotando para mim também.

— Vamos ver o que o futuro nos reserva, Pedro — murmurei, embora eu mesma não acreditasse nas minhas palavras.

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