Point's Of View Isabella O repouso forçado estava me enlouquecendo. Nunca fui boa em ficar parada. Sempre precisei de movimento, de controle. Agora, limitada a um sofá com o tornozelo enfaixado e a recomendação médica de não colocar peso sobre ele, eu me sentia prisioneira do meu próprio corpo.A manhã chegou preguiçosa. Os raios de sol atravessavam as grandes janelas da sala, mas ao contrário de outras vezes, não me traziam a habitual sensação de energia renovada. Estava vulnerável, e isso me irritava.Tentei me distrair com o celular, mas as notificações diversas pareciam insignificantes. Coloquei o aparelho de lado e fechei os olhos, respirando fundo. Cada segundo que passava me lembrava que eu não tinha controle total sobre nada. Nem sobre minha vida, nem sobre este casamento que mais parecia um acordo frio e conveniente.— Trouxe café. — A voz de Leonardo me tirou do turbilhão dos meus pensamentos.Abri os olhos e o vi ali
Points Of View IsabellaO relógio da parede parecia zombar de mim, os ponteiros arrastando-se como se soubessem que eu não tinha pressa de encarar o que vinha depois do expediente. As horas naquele escritório pareciam mais longas do que nunca. A cada clique do mouse, cada e-mail enviado, mais um pedaço da minha alma se desgastava. Trabalhar naquela empresa há tanto tempo me dava a sensação de estar presa em uma teia, incapaz de escapar e sem saber para onde ir. O trabalho em si nunca foi o problema, mas a falta de reconhecimento, de propósito... era sufocante. Eu me esforçava, fazia tudo certo, mas no final do dia, parecia que nada importava.Suspirei profundamente, afastando o olhar da tela do computador. Meus olhos ardiam de cansaço, mas não era apenas isso. Era um cansaço que ia além do físico, era emocional, mental. A empresa estava em colapso, e eu, por mais dedicada que fosse, não conseguiria salvar um navio que já estava afundando. Sabia que os dias estavam contados, tanto para
A luz fria e intensa do hospital iluminava o quarto onde minha mãe estava internada. O cheiro de desinfetante e a batida distante de equipamentos médicos criavam uma atmosfera pesada. Eu me aproximei da cama, e um nó se formou na minha garganta ao vê-la deitada ali, tão vulnerável. As cobertas brancas contrastavam com sua pele pálida, quase translúcida. Um ventilador girava lentamente no canto, mas sua presença não trazia alívio ao calor que queimava dentro de mim.— Oi, minha linda, — ela disse com um sorriso cansado, mas cheio de amor. Era um sorriso que sempre me fez sentir que tudo ficaria bem, mesmo em meio a tempestades.— Oi, mamãe. — Sentei-me na beira da cama, segurando sua mão. Ela estava tão leve, como se a vida estivesse lentamente esvaindo-se dela. O toque de sua pele ressecada e quente era um lembrete cruel da fragilidade que agora dominava nossa realidade.— Como você está se sentindo hoje? — perguntei, tentando esconder a preocupação em minha voz.— Ah, você sabe, um d
Points Of View Leonardo FerrazObservei a cidade do alto do meu escritório, cercada por vidros e concreto. O sol poente refletia em meus olhos frios enquanto meus advogados se revezavam para explicar os termos do testamento de meu pai. Cada palavra parecia uma marretada em minha mente, e eu não estava preparado para isso.— Então é isso? Eu tenho que me casar para manter o controle da empresa? — perguntei, com uma pitada de cinismo. O advogado à minha frente, o velho Sr. Braga, ajeitou os óculos enquanto mexia nos papéis à sua frente.— Exatamente, senhor Leonardo. A cláusula no testamento de seu pai é bem clara. Caso não contraia matrimônio dentro de seis meses, o controle acionário da empresa passará para o seu meio-irmão Ricardo — ele explicou calmamente, como se estivesse falando de algo trivial, quando na verdade estava colocando meu futuro em xeque.Ricardo. Só de ouvir o nome dele meu estômago se revirava. O oportunista, sempre à espreita, esperando que eu cometesse um deslize.
Points Of View Isabella RossiO som dos monitores e o cheiro de desinfetante hospitalar pareciam impregnados na minha pele. Minha rotina tinha se tornado uma série de idas e vindas ao hospital, somada às preocupações financeiras que só aumentavam. Minha mãe, sempre otimista e cheia de vida, agora se recuperava lentamente em um leito hospitalar, e, a cada dia, eu sentia que estava perdendo um pouco mais dela.Olhei para o relógio: meu turno começaria em uma hora. As contas não paravam de chegar, e o tratamento dela era caro demais para o meu salário cobrir. Eu já tinha vendido praticamente tudo que possuía e não sabia mais a quem recorrer. Meu trabalho atual, embora importante, pagava pouco, e as oportunidades pareciam sempre fora do meu alcance.Meu emprego na Meridiana Consultoria já estava por um fio, assim como a própria empresa. Sabíamos que os dias estavam contados; os atrasos nos pagamentos e a falta de novos projetos eram sinais claros de que a situação era grave. A equipe já e
Ao abrir a porta do meu apartamento, o cheiro familiar da madeira e do ar condicionado se misturou com a realidade sombria que havia me acompanhado desde a reunião com Leonardo Ferraz. O apartamento, embora modesto, era um refúgio. No entanto, aquela noite não seria suficiente para me afastar da tempestade emocional que se abatia sobre mim.O som do meu celular vibrando na mesa da cozinha interrompeu meu turbilhão de pensamentos. Pedro, meu amigo e colega de trabalho, estava ligando. Sempre alguém em quem eu podia confiar, sua presença era uma âncora em tempos de incerteza.— Oi, Pedro. — Minha voz soou mais trêmula do que eu esperava. Eu tentei disfarçar a apreensão que estava crescendo dentro de mim.— Isabella! O que aconteceu? Você parece preocupada — ele respondeu, a preocupação evidente em seu tom.Respirei fundo, tentando organizar as ideias antes de explicar a proposta absurda que me foi apresentada. A dor que senti ao reviver aquele momento era quase palpável, mas eu sabia qu
Enquanto observava minha mãe deitada na cama do hospital, as máquinas ao redor dela monitorando cada respiração, uma série de pensamentos começaram a se formar na minha mente. As luzes fluorescentes do quarto criavam um ambiente opressivo, e cada batida do meu coração parecia ecoar a realidade sombria que enfrentávamos. Eu não conseguia me afastar da proposta que Leonardo Ferraz havia me feito. A ideia de aceitar um casamento sem amor me deixava enjoada, mas a necessidade de segurança financeira me deixava dividida.Pensei em minha mãe. Ela sempre foi o pilar da minha vida, a mulher que me ensinou a valorizar a dignidade acima de tudo. Lembro-me das longas conversas que tivemos, quando ela me dizia que amor e respeito deveriam ser os alicerces de qualquer relacionamento. Como eu poderia olhar para ela nos olhos e dizer que estava considerando uma transação tão fria e sem alma? Mas, por outro lado, como eu poderia ignorar a gravidade da situação que estávamos vivendo?O tratamento dela
A luz da tarde entrava pela janela do meu pequeno apartamento, filtrada por cortinas desbotadas que há tempos não eram trocadas. O silêncio era quase ensurdecedor, uma constante lembrança da falta de movimento na minha vida. Ouvia apenas o som do meu próprio coração acelerado, batendo forte contra o peito, enquanto tentava processar a proposta de Leonardo Ferraz e o que isso significava para mim.A pressão emocional começou a se acumular, como se estivesse carregando o peso do mundo sobre meus ombros. A imagem da minha mãe no hospital se sobrepunha a tudo. Seu sorriso, uma luz que sempre me guiou, agora estava apagado, e a preocupação em seu olhar me atormentava. Lembrei-me de nossas conversas, de como ela sempre dizia para eu pensar no futuro, para não deixar que os problemas do presente me dominassem. Mas como eu poderia fazer isso agora? A saúde dela estava em jogo, e as minhas finanças estavam em ruínas.Pensei na proposta de Leonardo, naquele "casamento" que não passava de uma tr