Capítulo 6

Enquanto observava minha mãe deitada na cama do hospital, as máquinas ao redor dela monitorando cada respiração, uma série de pensamentos começaram a se formar na minha mente. As luzes fluorescentes do quarto criavam um ambiente opressivo, e cada batida do meu coração parecia ecoar a realidade sombria que enfrentávamos. Eu não conseguia me afastar da proposta que Leonardo Ferraz havia me feito. A ideia de aceitar um casamento sem amor me deixava enjoada, mas a necessidade de segurança financeira me deixava dividida.

Pensei em minha mãe. Ela sempre foi o pilar da minha vida, a mulher que me ensinou a valorizar a dignidade acima de tudo. Lembro-me das longas conversas que tivemos, quando ela me dizia que amor e respeito deveriam ser os alicerces de qualquer relacionamento. Como eu poderia olhar para ela nos olhos e dizer que estava considerando uma transação tão fria e sem alma? Mas, por outro lado, como eu poderia ignorar a gravidade da situação que estávamos vivendo?

O tratamento dela era exorbitante e, mesmo com todas as economias que eu havia reunido, a verdade era que estava chegando ao fim. O peso das dívidas estava se acumulando, e cada chamada do hospital me lembrava da fragilidade da nossa situação. Era como se eu estivesse em uma prisão, e a única saída fosse a proposta de casamento que me repugnava. Mas a ideia de perder minha mãe, de vê-la sofrer por minha incapacidade de cuidar dela, era um fardo que eu não podia suportar.

Uma parte de mim queria gritar, se rebelar contra essa situação, e prometer que não me deixaria ser comprada. No entanto, outra parte, a parte mais sombria e desesperada, começava a ponderar as implicações práticas dessa proposta. Se eu aceitasse, poderia garantir um futuro mais estável para nós duas. Poderia dar a ela o tratamento necessário, a atenção médica que ela tanto precisava, e talvez, por fim, um pouco de paz em nossas vidas turbulentas.

Olhei para minha mãe, seu rosto sereno, apesar das circunstâncias. Ela estava tão frágil, e a ideia de vê-la feliz novamente me motivava a considerar todas as opções disponíveis. Eu me lembrava de como ela sempre se sacrificou por mim, como trabalhava longas horas para garantir que eu tivesse as melhores oportunidades. Ela sempre sonhou que eu me tornaria alguém bem-sucedido, e agora parecia que eu estava prestes a desapontá-la.

A imagem de Leonardo Ferraz não saía da minha cabeça. A forma como ele falava sobre casamento como uma simples transação, como se fosse algo que pudesse ser vendido ou comprado, me deixava enojada. Ele não via valor no amor, na conexão emocional. Para ele, eu era apenas uma peça de um jogo muito maior. E essa era a parte que mais me revoltou. Aceitar sua proposta seria me tornar uma mercadoria, um símbolo de conveniência.

— Isabella, você está aqui, e isso é o que importa. — A voz da minha mãe me trouxe de volta à realidade. Eu precisava ser forte. Eu não podia deixar que ela visse minha angústia. — Não se preocupe com nada além de nós duas.

Aquelas palavras eram um balde de água fria. Ela estava certa. No final das contas, o que importava era a conexão que tínhamos, o amor que sempre compartilhamos. Mas também era inegável que a pressão financeira estava nos sufocando. A luta estava se tornando insuportável, e eu me sentia como se estivesse em um beco sem saída.

Um casamento sem amor não era apenas uma questão de dignidade; era também uma questão de sobrevivência. Ao longo de toda a minha vida, sempre fiz o que era certo, mas agora essa moralidade estava em conflito com a necessidade urgente de cuidar da minha mãe. Como eu poderia justificar qualquer escolha que fizesse? E, se eu recusasse a proposta, o que aconteceria com nós duas? Poderíamos perder tudo, incluindo a chance de permanecer juntas.

A ideia de Leonardo me ofereceu uma solução que, embora cruel e distorcida, parecia a única porta de saída. Eu não queria me submeter a isso. Eu não queria ser parte de um acordo que transformasse minha vida em uma farsa. Mas a possibilidade de perder minha mãe me deixou em um estado de constante ansiedade. E se aceitar a proposta fosse a única maneira de salvá-la?

Uma mistura de raiva e tristeza borbulhava dentro de mim. Eu me sentia aprisionada entre o que sabia ser certo e a dura realidade que enfrentava. A escolha estava me esmagando, e a pressão aumentava a cada segundo. O que aconteceria com a dignidade que sempre valorizei? Eu estava prestes a abrir mão de tudo por segurança, por estabilidade financeira. Como eu poderia olhar para o espelho depois disso?

Decidi que precisava conversar com Pedro novamente. Ele sempre tinha uma visão clara das coisas, e, mesmo que eu estivesse cheia de dúvidas, ele poderia me ajudar a encontrar um caminho. Ele tinha sido uma fonte de apoio incondicional em momentos difíceis, e agora eu precisava da sua sabedoria mais do que nunca. A batalha estava se intensificando, e eu não podia enfrentar isso sozinha.

Assim que consegui um momento de silêncio no hospital, liguei para ele.

— Pedro, eu... preciso de você. — A voz saiu trêmula, e eu percebi que a ansiedade que eu tentava reprimir estava voltando.

— O que houve? Você está bem? — Ele perguntou, a preocupação clara na sua voz.

— Não, não estou. É mais sério do que pensei. A situação da minha mãe... — pausei, lutando contra as emoções. — Eu realmente preciso considerar a proposta de Leonardo.

— Isabella, não faça isso. Você não pode se submeter a algo tão humilhante. Ele está te manipulando. — A indignação na voz de Pedro era evidente, mas ele não entendia a profundidade da minha angústia.

— E se for a única maneira de garantir a saúde dela? Não consigo pensar em outra solução.

Ele suspirou.

— Eu entendo que você está desesperada, mas isso não pode ser a sua única opção. Pense em todas as consequências.

As palavras dele ressoaram em minha mente. Consequências. Eu não estava apenas considerando o que poderia acontecer agora; eu estava pensando no futuro, no que significaria viver com essa decisão. Como eu poderia olhar nos olhos da minha mãe e dizer que tinha escolhido um caminho que a desonraria, que me desonraria?

— Eu só queria uma saída, Pedro. E essa é a única proposta que tenho no momento. — A frustração transparecia na minha voz.

— Olha, eu não vou te dizer o que fazer. Mas você é mais forte do que pensa. Se precisar, eu posso te ajudar a encontrar outras formas de conseguir o dinheiro. Não faça uma escolha que possa se arrepender para o resto da sua vida.

Desliguei o telefone, o peso das suas palavras me atingindo. Ele tinha razão. A decisão não era apenas sobre mim; era sobre o que eu queria para o nosso futuro. Eu não poderia me deixar ser levada pelo desespero. Precisava encontrar uma forma de lutar que não comprometesse minha essência, minha dignidade.

Enquanto olhava para minha mãe, percebi que ela sempre havia me ensinado a ser forte. Essa força não era apenas sobre resistir, mas também sobre encontrar o caminho certo, mesmo em meio à escuridão. E, naquele momento, decidi que não ia me render. Não deixaria que as circunstâncias decidissem meu destino.

Mas o dilema permanecia. A luta contra o que era certo e o que precisava ser feito estava longe de ser resolvida. Eu estava presa em um labirinto moral, e a saída parecia mais distante a cada dia. A única coisa que eu sabia era que precisava continuar lutando, por mim e pela minha mãe, mesmo que isso significasse encarar um futuro incerto. O amor e a dignidade que compartilhamos eram o que realmente importava, e eu não estava disposta a deixar que fossem corroídos por um sistema cruel e sem compaixão.

Eu precisava de mais tempo para pensar, para refletir sobre o que realmente significava aceitar a proposta de Leonardo. E, enquanto permanecia ao lado da minha mãe, percebi que a luta estava longe de terminar.

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