Enquanto observava minha mãe deitada na cama do hospital, as máquinas ao redor dela monitorando cada respiração, uma série de pensamentos começaram a se formar na minha mente. As luzes fluorescentes do quarto criavam um ambiente opressivo, e cada batida do meu coração parecia ecoar a realidade sombria que enfrentávamos. Eu não conseguia me afastar da proposta que Leonardo Ferraz havia me feito. A ideia de aceitar um casamento sem amor me deixava enjoada, mas a necessidade de segurança financeira me deixava dividida.
Pensei em minha mãe. Ela sempre foi o pilar da minha vida, a mulher que me ensinou a valorizar a dignidade acima de tudo. Lembro-me das longas conversas que tivemos, quando ela me dizia que amor e respeito deveriam ser os alicerces de qualquer relacionamento. Como eu poderia olhar para ela nos olhos e dizer que estava considerando uma transação tão fria e sem alma? Mas, por outro lado, como eu poderia ignorar a gravidade da situação que estávamos vivendo?
O tratamento dela era exorbitante e, mesmo com todas as economias que eu havia reunido, a verdade era que estava chegando ao fim. O peso das dívidas estava se acumulando, e cada chamada do hospital me lembrava da fragilidade da nossa situação. Era como se eu estivesse em uma prisão, e a única saída fosse a proposta de casamento que me repugnava. Mas a ideia de perder minha mãe, de vê-la sofrer por minha incapacidade de cuidar dela, era um fardo que eu não podia suportar.
Uma parte de mim queria gritar, se rebelar contra essa situação, e prometer que não me deixaria ser comprada. No entanto, outra parte, a parte mais sombria e desesperada, começava a ponderar as implicações práticas dessa proposta. Se eu aceitasse, poderia garantir um futuro mais estável para nós duas. Poderia dar a ela o tratamento necessário, a atenção médica que ela tanto precisava, e talvez, por fim, um pouco de paz em nossas vidas turbulentas.
Olhei para minha mãe, seu rosto sereno, apesar das circunstâncias. Ela estava tão frágil, e a ideia de vê-la feliz novamente me motivava a considerar todas as opções disponíveis. Eu me lembrava de como ela sempre se sacrificou por mim, como trabalhava longas horas para garantir que eu tivesse as melhores oportunidades. Ela sempre sonhou que eu me tornaria alguém bem-sucedido, e agora parecia que eu estava prestes a desapontá-la.
A imagem de Leonardo Ferraz não saía da minha cabeça. A forma como ele falava sobre casamento como uma simples transação, como se fosse algo que pudesse ser vendido ou comprado, me deixava enojada. Ele não via valor no amor, na conexão emocional. Para ele, eu era apenas uma peça de um jogo muito maior. E essa era a parte que mais me revoltou. Aceitar sua proposta seria me tornar uma mercadoria, um símbolo de conveniência.
— Isabella, você está aqui, e isso é o que importa. — A voz da minha mãe me trouxe de volta à realidade. Eu precisava ser forte. Eu não podia deixar que ela visse minha angústia. — Não se preocupe com nada além de nós duas.
Aquelas palavras eram um balde de água fria. Ela estava certa. No final das contas, o que importava era a conexão que tínhamos, o amor que sempre compartilhamos. Mas também era inegável que a pressão financeira estava nos sufocando. A luta estava se tornando insuportável, e eu me sentia como se estivesse em um beco sem saída.
Um casamento sem amor não era apenas uma questão de dignidade; era também uma questão de sobrevivência. Ao longo de toda a minha vida, sempre fiz o que era certo, mas agora essa moralidade estava em conflito com a necessidade urgente de cuidar da minha mãe. Como eu poderia justificar qualquer escolha que fizesse? E, se eu recusasse a proposta, o que aconteceria com nós duas? Poderíamos perder tudo, incluindo a chance de permanecer juntas.
A ideia de Leonardo me ofereceu uma solução que, embora cruel e distorcida, parecia a única porta de saída. Eu não queria me submeter a isso. Eu não queria ser parte de um acordo que transformasse minha vida em uma farsa. Mas a possibilidade de perder minha mãe me deixou em um estado de constante ansiedade. E se aceitar a proposta fosse a única maneira de salvá-la?
Uma mistura de raiva e tristeza borbulhava dentro de mim. Eu me sentia aprisionada entre o que sabia ser certo e a dura realidade que enfrentava. A escolha estava me esmagando, e a pressão aumentava a cada segundo. O que aconteceria com a dignidade que sempre valorizei? Eu estava prestes a abrir mão de tudo por segurança, por estabilidade financeira. Como eu poderia olhar para o espelho depois disso?
Decidi que precisava conversar com Pedro novamente. Ele sempre tinha uma visão clara das coisas, e, mesmo que eu estivesse cheia de dúvidas, ele poderia me ajudar a encontrar um caminho. Ele tinha sido uma fonte de apoio incondicional em momentos difíceis, e agora eu precisava da sua sabedoria mais do que nunca. A batalha estava se intensificando, e eu não podia enfrentar isso sozinha.
Assim que consegui um momento de silêncio no hospital, liguei para ele.
— Pedro, eu... preciso de você. — A voz saiu trêmula, e eu percebi que a ansiedade que eu tentava reprimir estava voltando.
— O que houve? Você está bem? — Ele perguntou, a preocupação clara na sua voz.
— Não, não estou. É mais sério do que pensei. A situação da minha mãe... — pausei, lutando contra as emoções. — Eu realmente preciso considerar a proposta de Leonardo.
— Isabella, não faça isso. Você não pode se submeter a algo tão humilhante. Ele está te manipulando. — A indignação na voz de Pedro era evidente, mas ele não entendia a profundidade da minha angústia.
— E se for a única maneira de garantir a saúde dela? Não consigo pensar em outra solução.
Ele suspirou.
— Eu entendo que você está desesperada, mas isso não pode ser a sua única opção. Pense em todas as consequências.
As palavras dele ressoaram em minha mente. Consequências. Eu não estava apenas considerando o que poderia acontecer agora; eu estava pensando no futuro, no que significaria viver com essa decisão. Como eu poderia olhar nos olhos da minha mãe e dizer que tinha escolhido um caminho que a desonraria, que me desonraria?
— Eu só queria uma saída, Pedro. E essa é a única proposta que tenho no momento. — A frustração transparecia na minha voz.
— Olha, eu não vou te dizer o que fazer. Mas você é mais forte do que pensa. Se precisar, eu posso te ajudar a encontrar outras formas de conseguir o dinheiro. Não faça uma escolha que possa se arrepender para o resto da sua vida.
Desliguei o telefone, o peso das suas palavras me atingindo. Ele tinha razão. A decisão não era apenas sobre mim; era sobre o que eu queria para o nosso futuro. Eu não poderia me deixar ser levada pelo desespero. Precisava encontrar uma forma de lutar que não comprometesse minha essência, minha dignidade.
Enquanto olhava para minha mãe, percebi que ela sempre havia me ensinado a ser forte. Essa força não era apenas sobre resistir, mas também sobre encontrar o caminho certo, mesmo em meio à escuridão. E, naquele momento, decidi que não ia me render. Não deixaria que as circunstâncias decidissem meu destino.
Mas o dilema permanecia. A luta contra o que era certo e o que precisava ser feito estava longe de ser resolvida. Eu estava presa em um labirinto moral, e a saída parecia mais distante a cada dia. A única coisa que eu sabia era que precisava continuar lutando, por mim e pela minha mãe, mesmo que isso significasse encarar um futuro incerto. O amor e a dignidade que compartilhamos eram o que realmente importava, e eu não estava disposta a deixar que fossem corroídos por um sistema cruel e sem compaixão.
Eu precisava de mais tempo para pensar, para refletir sobre o que realmente significava aceitar a proposta de Leonardo. E, enquanto permanecia ao lado da minha mãe, percebi que a luta estava longe de terminar.
A luz da tarde entrava pela janela do meu pequeno apartamento, filtrada por cortinas desbotadas que há tempos não eram trocadas. O silêncio era quase ensurdecedor, uma constante lembrança da falta de movimento na minha vida. Ouvia apenas o som do meu próprio coração acelerado, batendo forte contra o peito, enquanto tentava processar a proposta de Leonardo Ferraz e o que isso significava para mim.A pressão emocional começou a se acumular, como se estivesse carregando o peso do mundo sobre meus ombros. A imagem da minha mãe no hospital se sobrepunha a tudo. Seu sorriso, uma luz que sempre me guiou, agora estava apagado, e a preocupação em seu olhar me atormentava. Lembrei-me de nossas conversas, de como ela sempre dizia para eu pensar no futuro, para não deixar que os problemas do presente me dominassem. Mas como eu poderia fazer isso agora? A saúde dela estava em jogo, e as minhas finanças estavam em ruínas.Pensei na proposta de Leonardo, naquele "casamento" que não passava de uma tr
Na manhã seguinte, levantei-me mais cedo do que o habitual. O sono me escapara completamente, mas minha decisão estava firme. Eu não podia mais perder tempo; a vida da minha mãe dependia de uma escolha que eu jamais imaginei ter que fazer. Olhei para o telefone em minha mão, os dedos levemente trêmulos, e decidi que Pedro precisava saber.Atravessar essa situação sozinha parecia impossível, e Pedro, com toda sua honestidade e amizade, poderia me ajudar a ter certeza de que eu estava tomando a decisão certa — ou, ao menos, me ajudar a suportá-la.Respirei fundo e disquei o número. Ele atendeu no segundo toque, como se estivesse esperando por isso.— Isa? Tudo bem? — A preocupação estava clara na voz dele, e eu podia imaginar seu rosto franzido.— Pedro, eu decidi... — minha voz saiu baixa, quase um sussurro. Respirei fundo e repeti, agora com mais firmeza. — Eu vou aceitar.Houve uma pausa do outro lado da linha, um silêncio carregado de incredulidade e desapontamento.— Isabella... vo
A caneta parecia pesar uma tonelada entre meus dedos, mesmo com minha mão já sobre o papel. Assinar aquele contrato representava muito mais do que uma simples formalidade; era um ponto de ruptura na minha vida. Eu me vi suspirando fundo e, então, numa última tentativa de bloquear toda a frustração e a revolta que surgiam em meu peito, coloquei meu nome, traçando a assinatura com uma mistura de raiva e resignação.Leonardo, por sua vez, me olhava com um controle glacial, como se estivéssemos apenas finalizando uma compra qualquer. Sua indiferença era um lembrete constante de que, para ele, eu era apenas uma peça em seu jogo. Para ele, um casamento não passava de um acordo de negócios e, se não fosse pelo último desejo do pai, ele jamais se sujeitaria a algo assim. Quando o advogado finalmente pegou o contrato, senti um misto de alívio e um peso sufocante.— Agora está feito, — disse ele, com um leve sorriso de satisfação. — A partir de amanhã, você se mudará para a cobertura que provid
A mudança para a cobertura foi tão rápida que, em alguns momentos, pareceu irreal. O motorista abriu a porta do carro, e eu saí, ainda um pouco atordoado, para ver o prédio luxuoso que agora, aparentemente, seria meu novo lar. A entrada tinha mármore por todos os lados, arranjos de flores frescas, e segurança impecavelmente vestidos. Tudo tão distante da minha realidade anterior que era difícil me ver pertencendo àquele espaço. Subi em silêncio pelo elevador privativo, e, quando as portas se abriam, o ambiente que me aguardava era ao mesmo tempo impressionante e intimidador.A cobertura era enorme, e o design era exatamente como eu imaginava para alguém como Leonardo: tudo minimalista, impecável, cada detalhe escolhido para exalar sofisticação. Toneladas neutras, linhas modernas, nenhuma decoração pessoal que conte uma história — apenas um espaço bonito, funcional, e sem vida. No entanto, ao contrário do meu antigo lar, onde cada objeto tinha uma história e um significado pessoal, est
Era quase fim de tarde quando recebi a mensagem de Leonardo. Ela era direta e sem rodeios, como tudo que vinha dele:"Evento importante amanhã. Esteja preparada. O motorista passará para buscá-la às oito. Vamos participar do evento de gala anual da Ferraz Corp. É essencial que você compreenda como se portar."A tela do celular apagou, deixando um vazio incômodo no quarto, preenchido apenas pela luz morna do entardecer. Seria o primeiro evento público em que estaríamos juntos, cercados por pessoas que conheciam Leonardo há anos e que, sem dúvida, estariam prontas para analisar cada detalhe. Senti um peso no peito, uma pressão que só aumentava conforme as expectativas dele se mostravam mais e mais definidas.No dia do evento, ao abrir a porta do quarto, parei, surpresa. No centro da cama estava uma caixa nova, envolta em um papel de seda perfeitamente dobrado, finalizado com um laço azul-escuro. O tecido suave deslizava sob meus dedos, e ao abrir a caixa, deparei-me com um vestido de se
Enquanto o motorista dirigia em direção ao evento, a pressão sobre mim foi quase insuportável. Quando saímos do carro e chegamos ao salão, o peso do que estava prestes a acontecer caiu sobre meus ombros. Aquelas pessoas — as que não me conheciam, as que me viam pela primeira vez como futura esposa de Leonardo Ferraz — estavam prontas para me julgar, para tirar conclusões apressadas sobre quem eu era e o que nosso casamento representava. E eu sabia, com certeza, que todo o circo social de Leonardo seria minuciosamente observado.Os flashes das câmeras eram tão intensos que quase podiam ser sentidos na pele. Eu estava lá, parada ao lado de Leonardo, forçando um sorriso que parecia se desintegrar a cada clique. Ele, impecável como sempre, com seu terno sob medida, fazia todo o trabalho de posar para os fotógrafos. Eu era apenas uma figura ao seu lado, uma peça no grande espetáculo de sua vida. As lentes estavam sobre nós, os jornalistas ao fundo prontos para fazer suas perguntas. A cada
Ao pisar dentro do evento, a tensão me percorreu como uma corrente elétrica. Leonardo mantinha uma expressão controlada ao meu lado, um homem que claramente sabia lidar com o peso da expectativa. Eu, por outro lado, sentia cada olhar como uma análise intrusiva, uma investigação silenciosa. Era como se cada pessoa ali já estivesse se perguntando quem eu era e por que estava ao lado de alguém como ele. Leonardo, com seu típico ar de comando, me puxou discretamente para o lado antes de cruzarmos as portas principais.— Isabella, mantenha o sorriso. Agir com naturalidade é a chave — sussurrou, sem um pingo de suavidade. — No entanto, lembre-se de parecer... apaixonada. Para todos, somos um casal perfeitamente sintonizado.Fiquei encarando-o por um momento, processando a frieza com que ele tratava o evento como uma peça de teatro bem coreografada. Estávamos ali para interpretar papéis, e eu era uma marionete nas mãos desse homem que mal conhecia.— Entendido? — pressionou ele, arqueando as
Os dias que antecederam o casamento passaram como um borrão de decisões tomadas por outras pessoas. No dia do casamento, uma manhã fria e cinzenta cobria a cidade, como se até o céu estivesse de luto por uma ocasião que deveria ser um dos dias mais felizes da minha vida. Os preparativos haviam sido uma correria mecânica, organizados por terceiros, e nada refletia quem eu era, mas era um reflexo perfeito do que Leonardo queria: controle, perfeição, e, acima de tudo, distância emocional.Quando me vi vestida, pronta para o casamento, a ficha caiu: não havia mais volta. Eu estava prestes a me casar com um homem que mal conhecia, cercada por pessoas que mal se importavam com quem eu era de verdade.Assim que entrei na igreja, um pequeno local reservado e longe do glamour tradicional, senti um frio percorrer meu corpo. O espaço era decorado de forma elegante, mas austera, como se tentasse emular uma cerimônia luxuosa, mas sem vida. Flores brancas alinhavam os bancos, formando um caminho li