Ao pisar dentro do evento, a tensão me percorreu como uma corrente elétrica. Leonardo mantinha uma expressão controlada ao meu lado, um homem que claramente sabia lidar com o peso da expectativa. Eu, por outro lado, sentia cada olhar como uma análise intrusiva, uma investigação silenciosa. Era como se cada pessoa ali já estivesse se perguntando quem eu era e por que estava ao lado de alguém como ele. Leonardo, com seu típico ar de comando, me puxou discretamente para o lado antes de cruzarmos as portas principais.— Isabella, mantenha o sorriso. Agir com naturalidade é a chave — sussurrou, sem um pingo de suavidade. — No entanto, lembre-se de parecer... apaixonada. Para todos, somos um casal perfeitamente sintonizado.Fiquei encarando-o por um momento, processando a frieza com que ele tratava o evento como uma peça de teatro bem coreografada. Estávamos ali para interpretar papéis, e eu era uma marionete nas mãos desse homem que mal conhecia.— Entendido? — pressionou ele, arqueando as
Os dias que antecederam o casamento passaram como um borrão de decisões tomadas por outras pessoas. No dia do casamento, uma manhã fria e cinzenta cobria a cidade, como se até o céu estivesse de luto por uma ocasião que deveria ser um dos dias mais felizes da minha vida. Os preparativos haviam sido uma correria mecânica, organizados por terceiros, e nada refletia quem eu era, mas era um reflexo perfeito do que Leonardo queria: controle, perfeição, e, acima de tudo, distância emocional.Quando me vi vestida, pronta para o casamento, a ficha caiu: não havia mais volta. Eu estava prestes a me casar com um homem que mal conhecia, cercada por pessoas que mal se importavam com quem eu era de verdade.Assim que entrei na igreja, um pequeno local reservado e longe do glamour tradicional, senti um frio percorrer meu corpo. O espaço era decorado de forma elegante, mas austera, como se tentasse emular uma cerimônia luxuosa, mas sem vida. Flores brancas alinhavam os bancos, formando um caminho li
Enquanto descíamos o altar, senti-me completamente alheia àquele momento. Os poucos convidados presentes nos cumprimentaram, alguns com sorrisos forçados, outros com olhares curiosos. Eu apenas sorria e agradecia, respondendo mecanicamente, ainda absorvendo o que havia acabado de acontecer.Depois da cerimônia, fomos direcionados para uma pequena recepção para cumprimentar os convidados. Não houve festa, apenas uma reunião breve e fria, em um ambiente igualmente impessoal. As palavras de parabéns e votos de felicidade pareciam automáticas, ditas mais por obrigação que por qualquer genuíno desejo de alegria para o casal. Eu agradecia, esboçava sorrisos, mas tudo o que sentia era um vazio crescente.Observei Leonardo interagir com as pessoas ao nosso redor, sempre impecável, seguro, e com a mesma expressão séria. Ele estava completamente à vontade, como se aquilo fosse apenas mais um evento da sua rotina, enquanto eu me sentia afundando em uma realidade da qual não sabia se algum dia co
As primeiras semanas na cobertura foram uma mistura de fascínio e vazio. O apartamento era o que qualquer pessoa descreveria como o ápice do luxo: mármores reluzentes no chão, janelas amplas que iam do chão até o teto e exibiam uma vista deslumbrante da cidade, móveis sofisticados que pareciam mais adequados a um museu do que a uma casa. Eu deveria me sentir privilegiada, mas, ao contrário, sentia-me uma estranha. O silêncio ecoava mais alto do que qualquer barulho, e a grandiosidade do lugar parecia amplificar a minha solidão.Todas as manhãs, a rotina era quase mecânica. Eu acordava com a luz natural filtrada pelas cortinas translúcidas e, sem querer, buscava pelo som de outra presença. Nada. Leonardo saía cedo, sempre impecável em seus ternos, deixando apenas um leve aroma de colônia pelo ar.Eu me ocupava explorando o apartamento, como uma turista na própria casa. Havia uma biblioteca com livros que pareciam nunca ter sido abertos, uma cozinha equipada como a de um restaurante est
A tarde estava particularmente silenciosa, o tipo de silêncio que parecia amplificar o som de cada pensamento que passava pela minha mente. Eu estava na sala de estar da cobertura, sentada no sofá impecável que, como tudo ali, parecia mais uma peça de exibição do que algo para se usar. Leonardo estava de pé, próximo à janela, olhando para fora, mas claramente concentrado em algo mais do que a vista da cidade. Ele se virou para mim, seu rosto sem nenhuma emoção discernível, e eu soube que ele estava prestes a falar sobre algo importante. Ele tinha aquele tom característico de quem estava prestes a dar instruções, não de alguém prestes a ter uma conversa. — Isabella, amanhã teremos um jantar importante — começou ele, sua voz firme, mas controlada, como sempre. — Será uma reunião de alguns dos principais empresários do setor. E, como minha esposa, você terá um papel a desempenhar. Minha esposa. As palavras ainda soavam estranhas para mim, mesmo depois de semanas casada com ele. Era di
A rotina com Leonardo começava a se estabelecer, mas não era o tipo de convivência que eu esperava de um casamento — nem mesmo de um casamento de fachada. Ele era cortês, sempre educado, mas havia algo que me incomodava na sua postura. Talvez fosse a maneira como ele parecia se esforçar para manter uma distância segura, como se qualquer proximidade fosse uma ameaça. No entanto, nos últimos dias, pequenos momentos quebraram essa barreira, criando uma confusão dentro de mim que eu não sabia como lidar. Foi numa manhã, quando descíamos juntos para um evento, que aconteceu pela primeira vez. Enquanto ajustava a manga do meu vestido, ainda tentando me acostumar à ideia de ser observada o tempo inteiro, senti a mão de Leonardo pousar levemente na base das minhas costas, guiando-me em direção ao elevador. Não era invasivo, nem forçado. Apenas... firme. O toque enviou um arrepio pela minha espinha, e meu corpo reagiu de uma maneira que me fez querer me afastar e me aproximar ao mesmo tempo
O silêncio que preenchia o apartamento parecia mais pesado naquela noite. A luz dourada das luminárias criava sombras dançantes nas paredes, enquanto eu terminava de arrumar a mesa do jantar. Tudo estava impecável, como Leonardo preferia: pratos alinhados, talheres polidos e o vinho que ele escolheu descansando na temperatura perfeita. Era o tipo de perfeição que parecia mecanizada, mas que eu começava a entender como uma extensão de quem ele era. Leonardo estava na sala, revisando algo no laptop, como sempre. Seu semblante era impenetrável, mas eu me peguei observando mais do que deveria. Ele nunca parecia relaxar de verdade, nem mesmo na segurança de sua própria casa. Havia algo em seus ombros tensos, na forma como sua mão às vezes hesitava antes de digitar, que sugeria um cansaço que ele nunca admitiria. Eu me aproximei, hesitante. — O jantar está pronto. — Minha voz soou mais calma do que eu me sentia. Ele ergueu o olhar, os olhos azuis penetrantes analisando-me por um breve s
A manhã começou com uma mensagem breve de Leonardo, informando-me sobre um almoço familiar na mansão. Não havia pedido, apenas a expectativa silenciosa de que eu comparecesse. Enquanto me preparava, cada detalhe parecia carregar um peso: a escolha do vestido, a maquiagem, o penteado. Tudo precisava ser impecável, um reflexo da perfeição que ele exigia de nós como casal. No caminho, Leonardo parecia mais introspectivo do que o habitual. O silêncio entre nós era quase palpável, mas sua expressão inabalável sugeria que ele já antecipava o que estava por vir. Quando a mansão surgiu à nossa frente, grandiosa e imponente, senti o ar se tornar mais denso. Eu sabia que aquele não seria apenas um simples almoço; seria um teste. E todos ali estariam prontos para avaliar cada palavra, cada gesto meu. A mansão parecia ainda maior e mais imponente à luz do dia. Cada detalhe exalava riqueza, desde o portão de ferro forjado até os jardins impecavelmente cuidados que pareciam ter sido tirados de u