A tarde estava particularmente silenciosa, o tipo de silêncio que parecia amplificar o som de cada pensamento que passava pela minha mente. Eu estava na sala de estar da cobertura, sentada no sofá impecável que, como tudo ali, parecia mais uma peça de exibição do que algo para se usar. Leonardo estava de pé, próximo à janela, olhando para fora, mas claramente concentrado em algo mais do que a vista da cidade. Ele se virou para mim, seu rosto sem nenhuma emoção discernível, e eu soube que ele estava prestes a falar sobre algo importante. Ele tinha aquele tom característico de quem estava prestes a dar instruções, não de alguém prestes a ter uma conversa. — Isabella, amanhã teremos um jantar importante — começou ele, sua voz firme, mas controlada, como sempre. — Será uma reunião de alguns dos principais empresários do setor. E, como minha esposa, você terá um papel a desempenhar. Minha esposa. As palavras ainda soavam estranhas para mim, mesmo depois de semanas casada com ele. Era di
A rotina com Leonardo começava a se estabelecer, mas não era o tipo de convivência que eu esperava de um casamento — nem mesmo de um casamento de fachada. Ele era cortês, sempre educado, mas havia algo que me incomodava na sua postura. Talvez fosse a maneira como ele parecia se esforçar para manter uma distância segura, como se qualquer proximidade fosse uma ameaça. No entanto, nos últimos dias, pequenos momentos quebraram essa barreira, criando uma confusão dentro de mim que eu não sabia como lidar. Foi numa manhã, quando descíamos juntos para um evento, que aconteceu pela primeira vez. Enquanto ajustava a manga do meu vestido, ainda tentando me acostumar à ideia de ser observada o tempo inteiro, senti a mão de Leonardo pousar levemente na base das minhas costas, guiando-me em direção ao elevador. Não era invasivo, nem forçado. Apenas... firme. O toque enviou um arrepio pela minha espinha, e meu corpo reagiu de uma maneira que me fez querer me afastar e me aproximar ao mesmo tempo
O silêncio que preenchia o apartamento parecia mais pesado naquela noite. A luz dourada das luminárias criava sombras dançantes nas paredes, enquanto eu terminava de arrumar a mesa do jantar. Tudo estava impecável, como Leonardo preferia: pratos alinhados, talheres polidos e o vinho que ele escolheu descansando na temperatura perfeita. Era o tipo de perfeição que parecia mecanizada, mas que eu começava a entender como uma extensão de quem ele era. Leonardo estava na sala, revisando algo no laptop, como sempre. Seu semblante era impenetrável, mas eu me peguei observando mais do que deveria. Ele nunca parecia relaxar de verdade, nem mesmo na segurança de sua própria casa. Havia algo em seus ombros tensos, na forma como sua mão às vezes hesitava antes de digitar, que sugeria um cansaço que ele nunca admitiria. Eu me aproximei, hesitante. — O jantar está pronto. — Minha voz soou mais calma do que eu me sentia. Ele ergueu o olhar, os olhos azuis penetrantes analisando-me por um breve s
A manhã começou com uma mensagem breve de Leonardo, informando-me sobre um almoço familiar na mansão. Não havia pedido, apenas a expectativa silenciosa de que eu comparecesse. Enquanto me preparava, cada detalhe parecia carregar um peso: a escolha do vestido, a maquiagem, o penteado. Tudo precisava ser impecável, um reflexo da perfeição que ele exigia de nós como casal. No caminho, Leonardo parecia mais introspectivo do que o habitual. O silêncio entre nós era quase palpável, mas sua expressão inabalável sugeria que ele já antecipava o que estava por vir. Quando a mansão surgiu à nossa frente, grandiosa e imponente, senti o ar se tornar mais denso. Eu sabia que aquele não seria apenas um simples almoço; seria um teste. E todos ali estariam prontos para avaliar cada palavra, cada gesto meu. A mansão parecia ainda maior e mais imponente à luz do dia. Cada detalhe exalava riqueza, desde o portão de ferro forjado até os jardins impecavelmente cuidados que pareciam ter sido tirados de u
Point’s Of View LeonardoA mansão estava quieta após o almoço, mas meu corpo permanecia em estado de alerta. Sempre era assim depois de encontros familiares. O silêncio não era um alívio; era uma preparação para o próximo golpe. Eu odiava esses almoços, mas eles eram necessários. Manter aparências era parte do jogo que todos jogávamos.Isabella tinha ido para o jardim, provavelmente tentando digerir a hostilidade velada de minha madrasta e os comentários de Ricardo. Ela era perceptiva; eu sabia que notaria a tensão que sempre rondava essas reuniões. Mas a última coisa que eu queria era envolvê-la nisso.Ricardo me esperava no escritório do meu pai, como sempre. Ele gostava de usar aquele espaço, como se quisesse marcar território em algo que nunca seria dele. Entrei sem bater, fechando a porta atrás de mim.— Não vai mudar nada, você sabe disso — falei antes que ele pudesse dizer qualquer coisa.Ricardo estava inclinado sobre a escrivaninha, folheando papéis que não tinham importância
Point's Of View IsabellaO apartamento estava mergulhado no silêncio habitual, quebrado apenas pelo som suave de meus passos enquanto terminava de organizar a sala. Era uma rotina que eu havia desenvolvido para não me perder completamente no vazio daquela vida. Algo sobre manter as coisas em ordem parecia trazer um senso mínimo de controle, mesmo que ilusório.Eu estava ajustando uma almofada no sofá quando a campainha soou, inesperada e insistente. Franzi o cenho, encarando a porta por alguns segundos antes de caminhar até ela. Quando abri, fiquei cara a cara com Ricardo, vestindo seu habitual ar de superioridade.— Espero não estar atrapalhando — ele disse, um sorriso que parecia mais uma arma estampado no rosto.— Ricardo — respondi, sem esconder minha surpresa. — Não esperava você aqui.— Achei que seria bom ver como você está se adaptando à vida de senhora Ferraz. Afinal, não é todo dia que alguém entra em um mundo como este.Apesar de seu tom leve, senti a provocação nas entreli
O aroma estéril do hospital não era mais estranho para mim. O corredor comprido e silencioso, pontuado pelo som distante de passos apressados e monitores cardíacos, havia se tornado parte da minha rotina. Durante as últimas semanas, visitar minha mãe era uma espécie de refúgio. Aqui, pelo menos, não havia olhares julgadores ou jogos de poder. Só eu, ela e uma bolha de tempo que parecia congelar os problemas do lado de fora.Abri a porta do quarto devagar, com um sorriso suave que tentava mascarar o turbilhão dentro de mim. Lá estava ela, sentada na poltrona próxima à janela, com o cabelo um pouco mais curto e mais frágil do que eu lembrava, mas com os olhos sempre brilhantes, cheios de uma luz que me fazia acreditar que tudo ainda poderia dar certo.— Isabella, meu anjo! — ela exclamou assim que me viu.O calor em sua voz me atingiu como um abraço. Entrei, segurando uma pequena sacola com flores frescas e um livro que havia comprado para ela no caminho.— Trouxe sua autora favorita —
O apartamento estava em silêncio, o tipo de silêncio que amplificava os pensamentos e tornava impossível ignorar o vazio. Sentei no sofá da sala, as luzes da cidade piscando através das enormes janelas da cobertura. A conversa com minha mãe ecoava na minha mente. Ela parecia tão feliz, tão otimista, e o peso da mentira me esmagava. Por mais que eu justificasse para mim mesma que era por ela, a culpa permanecia.Fiz uma tentativa de afastar os pensamentos, mas era inútil. A solidão da cobertura era quase palpável, como se o espaço luxuoso tivesse sua própria forma de me lembrar do que faltava. Peguei o celular, hesitei por um momento e decidi enviar uma mensagem para Leonardo.– Voltei do hospital.A resposta veio quase de imediato.– Como ela está?A simplicidade da pergunta me desarmou. Ele não era alguém que demonstrava preocupação abertamente, mas havia algo naquele gesto que me fez respirar mais fundo.– Melhor. Está reagindo bem ao tratamento.– Fico feliz por ela.Ler aquelas pa