A mudança para a cobertura foi tão rápida que, em alguns momentos, pareceu irreal. O motorista abriu a porta do carro, e eu saí, ainda um pouco atordoado, para ver o prédio luxuoso que agora, aparentemente, seria meu novo lar. A entrada tinha mármore por todos os lados, arranjos de flores frescas, e segurança impecavelmente vestidos. Tudo tão distante da minha realidade anterior que era difícil me ver pertencendo àquele espaço. Subi em silêncio pelo elevador privativo, e, quando as portas se abriam, o ambiente que me aguardava era ao mesmo tempo impressionante e intimidador.A cobertura era enorme, e o design era exatamente como eu imaginava para alguém como Leonardo: tudo minimalista, impecável, cada detalhe escolhido para exalar sofisticação. Toneladas neutras, linhas modernas, nenhuma decoração pessoal que conte uma história — apenas um espaço bonito, funcional, e sem vida. No entanto, ao contrário do meu antigo lar, onde cada objeto tinha uma história e um significado pessoal, est
Era quase fim de tarde quando recebi a mensagem de Leonardo. Ela era direta e sem rodeios, como tudo que vinha dele:"Evento importante amanhã. Esteja preparada. O motorista passará para buscá-la às oito. Vamos participar do evento de gala anual da Ferraz Corp. É essencial que você compreenda como se portar."A tela do celular apagou, deixando um vazio incômodo no quarto, preenchido apenas pela luz morna do entardecer. Seria o primeiro evento público em que estaríamos juntos, cercados por pessoas que conheciam Leonardo há anos e que, sem dúvida, estariam prontas para analisar cada detalhe. Senti um peso no peito, uma pressão que só aumentava conforme as expectativas dele se mostravam mais e mais definidas.No dia do evento, ao abrir a porta do quarto, parei, surpresa. No centro da cama estava uma caixa nova, envolta em um papel de seda perfeitamente dobrado, finalizado com um laço azul-escuro. O tecido suave deslizava sob meus dedos, e ao abrir a caixa, deparei-me com um vestido de se
Enquanto o motorista dirigia em direção ao evento, a pressão sobre mim foi quase insuportável. Quando saímos do carro e chegamos ao salão, o peso do que estava prestes a acontecer caiu sobre meus ombros. Aquelas pessoas — as que não me conheciam, as que me viam pela primeira vez como futura esposa de Leonardo Ferraz — estavam prontas para me julgar, para tirar conclusões apressadas sobre quem eu era e o que nosso casamento representava. E eu sabia, com certeza, que todo o circo social de Leonardo seria minuciosamente observado.Os flashes das câmeras eram tão intensos que quase podiam ser sentidos na pele. Eu estava lá, parada ao lado de Leonardo, forçando um sorriso que parecia se desintegrar a cada clique. Ele, impecável como sempre, com seu terno sob medida, fazia todo o trabalho de posar para os fotógrafos. Eu era apenas uma figura ao seu lado, uma peça no grande espetáculo de sua vida. As lentes estavam sobre nós, os jornalistas ao fundo prontos para fazer suas perguntas. A cada
Ao pisar dentro do evento, a tensão me percorreu como uma corrente elétrica. Leonardo mantinha uma expressão controlada ao meu lado, um homem que claramente sabia lidar com o peso da expectativa. Eu, por outro lado, sentia cada olhar como uma análise intrusiva, uma investigação silenciosa. Era como se cada pessoa ali já estivesse se perguntando quem eu era e por que estava ao lado de alguém como ele. Leonardo, com seu típico ar de comando, me puxou discretamente para o lado antes de cruzarmos as portas principais.— Isabella, mantenha o sorriso. Agir com naturalidade é a chave — sussurrou, sem um pingo de suavidade. — No entanto, lembre-se de parecer... apaixonada. Para todos, somos um casal perfeitamente sintonizado.Fiquei encarando-o por um momento, processando a frieza com que ele tratava o evento como uma peça de teatro bem coreografada. Estávamos ali para interpretar papéis, e eu era uma marionete nas mãos desse homem que mal conhecia.— Entendido? — pressionou ele, arqueando as
Os dias que antecederam o casamento passaram como um borrão de decisões tomadas por outras pessoas. No dia do casamento, uma manhã fria e cinzenta cobria a cidade, como se até o céu estivesse de luto por uma ocasião que deveria ser um dos dias mais felizes da minha vida. Os preparativos haviam sido uma correria mecânica, organizados por terceiros, e nada refletia quem eu era, mas era um reflexo perfeito do que Leonardo queria: controle, perfeição, e, acima de tudo, distância emocional.Quando me vi vestida, pronta para o casamento, a ficha caiu: não havia mais volta. Eu estava prestes a me casar com um homem que mal conhecia, cercada por pessoas que mal se importavam com quem eu era de verdade.Assim que entrei na igreja, um pequeno local reservado e longe do glamour tradicional, senti um frio percorrer meu corpo. O espaço era decorado de forma elegante, mas austera, como se tentasse emular uma cerimônia luxuosa, mas sem vida. Flores brancas alinhavam os bancos, formando um caminho li
Enquanto descíamos o altar, senti-me completamente alheia àquele momento. Os poucos convidados presentes nos cumprimentaram, alguns com sorrisos forçados, outros com olhares curiosos. Eu apenas sorria e agradecia, respondendo mecanicamente, ainda absorvendo o que havia acabado de acontecer.Depois da cerimônia, fomos direcionados para uma pequena recepção para cumprimentar os convidados. Não houve festa, apenas uma reunião breve e fria, em um ambiente igualmente impessoal. As palavras de parabéns e votos de felicidade pareciam automáticas, ditas mais por obrigação que por qualquer genuíno desejo de alegria para o casal. Eu agradecia, esboçava sorrisos, mas tudo o que sentia era um vazio crescente.Observei Leonardo interagir com as pessoas ao nosso redor, sempre impecável, seguro, e com a mesma expressão séria. Ele estava completamente à vontade, como se aquilo fosse apenas mais um evento da sua rotina, enquanto eu me sentia afundando em uma realidade da qual não sabia se algum dia co
As primeiras semanas na cobertura foram uma mistura de fascínio e vazio. O apartamento era o que qualquer pessoa descreveria como o ápice do luxo: mármores reluzentes no chão, janelas amplas que iam do chão até o teto e exibiam uma vista deslumbrante da cidade, móveis sofisticados que pareciam mais adequados a um museu do que a uma casa. Eu deveria me sentir privilegiada, mas, ao contrário, sentia-me uma estranha. O silêncio ecoava mais alto do que qualquer barulho, e a grandiosidade do lugar parecia amplificar a minha solidão.Todas as manhãs, a rotina era quase mecânica. Eu acordava com a luz natural filtrada pelas cortinas translúcidas e, sem querer, buscava pelo som de outra presença. Nada. Leonardo saía cedo, sempre impecável em seus ternos, deixando apenas um leve aroma de colônia pelo ar.Eu me ocupava explorando o apartamento, como uma turista na própria casa. Havia uma biblioteca com livros que pareciam nunca ter sido abertos, uma cozinha equipada como a de um restaurante est
A tarde estava particularmente silenciosa, o tipo de silêncio que parecia amplificar o som de cada pensamento que passava pela minha mente. Eu estava na sala de estar da cobertura, sentada no sofá impecável que, como tudo ali, parecia mais uma peça de exibição do que algo para se usar. Leonardo estava de pé, próximo à janela, olhando para fora, mas claramente concentrado em algo mais do que a vista da cidade. Ele se virou para mim, seu rosto sem nenhuma emoção discernível, e eu soube que ele estava prestes a falar sobre algo importante. Ele tinha aquele tom característico de quem estava prestes a dar instruções, não de alguém prestes a ter uma conversa. — Isabella, amanhã teremos um jantar importante — começou ele, sua voz firme, mas controlada, como sempre. — Será uma reunião de alguns dos principais empresários do setor. E, como minha esposa, você terá um papel a desempenhar. Minha esposa. As palavras ainda soavam estranhas para mim, mesmo depois de semanas casada com ele. Era di