Capítulo 5

Ao abrir a porta do meu apartamento, o cheiro familiar da madeira e do ar condicionado se misturou com a realidade sombria que havia me acompanhado desde a reunião com Leonardo Ferraz. O apartamento, embora modesto, era um refúgio. No entanto, aquela noite não seria suficiente para me afastar da tempestade emocional que se abatia sobre mim.

O som do meu celular vibrando na mesa da cozinha interrompeu meu turbilhão de pensamentos. Pedro, meu amigo e colega de trabalho, estava ligando. Sempre alguém em quem eu podia confiar, sua presença era uma âncora em tempos de incerteza.

— Oi, Pedro. — Minha voz soou mais trêmula do que eu esperava. Eu tentei disfarçar a apreensão que estava crescendo dentro de mim.

— Isabella! O que aconteceu? Você parece preocupada — ele respondeu, a preocupação evidente em seu tom.

Respirei fundo, tentando organizar as ideias antes de explicar a proposta absurda que me foi apresentada. A dor que senti ao reviver aquele momento era quase palpável, mas eu sabia que precisava compartilhar.

— Você não vai acreditar no que aconteceu hoje... — Comecei, a hesitação evidente em minha voz. — Eu tive uma reunião com Leonardo Ferraz.

— O CEO da Ferraz Corporation? — ele interrompeu, surpreso. — O que ele queria com você?

— Ele me fez uma proposta... estranha. — Minhas palavras saíram em um fio, a cada sílaba mais difícil de pronunciar. — Ele disse que precisava de uma esposa.

Pedro ficou em silêncio por um momento, provavelmente processando o que eu acabara de dizer. Então, como se estivesse tentando reunir suas próprias ideias, ele respondeu:

— Uma esposa? Para quê? Isso não faz sentido, Isabella.

— É uma cláusula no testamento do pai dele. Se ele não se casar, o controle da empresa vai para o meio-irmão dele. Ele quer alguém discreto, que não represente uma ameaça e que esteja em uma situação financeira complicada. E eu... eu me encaixo no perfil.

A indignação na voz de Pedro era palpável.

— Isso é completamente absurdo! Você não pode considerar algo assim. — Sua preocupação era genuína, mas eu podia sentir a pressão das circunstâncias pesando sobre mim.

— Eu sei que é ridículo! Mas a verdade é que estou desesperada. Com minha mãe no hospital e o tratamento dela sendo tão caro, eu... não sei o que fazer.

— Isabella, pense bem. Ele está jogando com as suas emoções. Você não é um objeto para ser usado assim. — Pedro tentava ser racional, mas a ideia de que poderia ser uma solução, ainda que absurda, parecia sedutora.

— Não estou dizendo que estou pensando em aceitar, mas... — Suspirei, sentindo as lágrimas ameaçarem escorregar. — Eu só me sinto tão perdida.

Pedro foi rápido em tentar me animar.

— Olha, não deixe a situação te consumir. Vamos pensar em alternativas. Existem outras formas de conseguir ajuda, outras oportunidades. Não fique refém desse homem.

Conversamos por mais alguns minutos, mas a angústia não saía de dentro de mim. O que Pedro disse era verdade: eu precisava encontrar uma saída. Quando desliguei, o silêncio do apartamento se tornou opressivo. O que eu mais desejava era ter uma resposta clara, mas em vez disso, só havia um dilema moral se formando.

Enquanto isso, a imagem da minha mãe em um leito de hospital invadia meus pensamentos. A luta dela contra a doença, o amor que sempre dedicou a mim e o quanto ela me incentivou a seguir meus sonhos. Era um ciclo de apoio que eu não podia quebrar, mas agora me via em uma posição de vulnerabilidade que nunca imaginei.

Deitei-me no sofá, olhando para o teto, e minha mente começou a vagar. Eu me lembrava das tardes passadas em sua companhia, quando ela me contava histórias da infância e me fazia acreditar que eu poderia conquistar o mundo. Com seu sorriso caloroso, ela sempre me lembrava de que o amor e a dignidade eram o que realmente importavam. Como eu poderia me submeter a algo tão degradante e distante do que ela sempre me ensinou?

Minhas reflexões foram interrompidas por um toque de celular, e ao olhar, vi que era uma chamada do hospital. O coração disparou. Uma onda de pânico me atingiu, e percebi que não estava preparada para mais más notícias.

— Alô? — Atendi, a voz tremendo.

— Srta. Isabella? — A voz da enfermeira soou do outro lado da linha. Havia uma calma em sua entonação que não se combinava com o que eu estava prestes a ouvir. — Precisamos informá-la que a condição da sua mãe piorou. Precisamos que venha ao hospital o mais rápido possível.

Aquelas palavras ecoaram na minha mente, e meu mundo pareceu parar. A respiração ficou irregular, e eu quase deixei o celular escapar das minhas mãos.

— O que aconteceu? — perguntei, tentando manter a voz firme.

— Não temos muitos detalhes no momento, mas precisamos que a senhora chegue aqui. É urgente.

Desliguei, a realidade do que estava acontecendo me atingindo como um soco no estômago. O peso da responsabilidade sobre meus ombros se tornava insuportável, e a falta de recursos para ajudá-la era uma realidade cruel. A ideia de que poderia perder minha mãe era insuportável, e eu não sabia como lidar com isso.

Arrumei-me rapidamente, o tempo passando como se estivesse em câmera lenta. Minha mente estava um turbilhão de pensamentos. Como eu poderia enfrentar mais essa? As lágrimas escorriam pelo meu rosto enquanto eu tentava me concentrar em algo além do desespero.

O caminho até o hospital foi uma corrida contra o tempo, mas também uma reflexão sombria sobre a fragilidade da vida. Os semáforos pareciam mais longos, e cada minuto que passava aumentava minha ansiedade. A imagem da minha mãe em uma cama de hospital, frágil e dependente de cuidados, me torturava. O que eu faria sem ela? O que aconteceria com nosso vínculo, com o amor que sempre compartilhamos?

Ao chegar ao hospital, a sensação de claustrofobia aumentou. O cheiro de desinfetante e o som constante de monitores ecoando pelos corredores tornaram-se um lembrete doloroso da luta que enfrentávamos. Caminhei até o balcão de atendimento, meu coração disparado.

— Estou aqui para ver minha mãe, Ana Rossi. — Eu disse, minha voz tremendo.

A recepcionista olhou para mim com uma expressão neutra e digitou algumas informações em seu computador.

— Por favor, aguarde um momento. Alguém virá te buscar.

Os minutos pareceram horas enquanto esperava, e a ansiedade tomou conta de mim novamente. A preocupação em relação ao estado da minha mãe era opressiva, e minha mente estava cheia de “e se”. E se não houvesse mais tempo? E se eu não pudesse fazer nada para ajudá-la?

Finalmente, uma enfermeira apareceu e me guiou até o quarto. O caminho parecia interminável, e a cada passo que eu dava, a ansiedade se intensificava. Quando entrei no quarto, a visão de minha mãe deitada na cama me fez perder o fôlego. Ela parecia tão frágil, tão distante da mulher forte que eu sempre conheci.

— Isabella... — ela murmurou, sua voz fraca, mas ao mesmo tempo cheia de amor.

— Mãe! — Corri até ela, segurando sua mão. — O que aconteceu?

Ela tentou sorrir, mas o esforço parecia demasiado.

— Eu estou... eu estou bem, querida. Apenas um pouco cansada.

As lágrimas escorriam pelo meu rosto enquanto tentava manter a calma.

— Não se preocupe. Vou resolver tudo, eu prometo. — Eu disse, mesmo sabendo que minha força estava se esvaindo.

O olhar dela se suavizou, e eu pude sentir a conexão entre nós. Mas por dentro, a angústia só aumentava. Como eu poderia resolver isso? Como poderia garantir que ela recebesse o tratamento que precisava?

A enfermeira entrou e começou a verificar os sinais vitais da minha mãe. A atmosfera no quarto era pesada, e eu sabia que precisava ser forte, mas a verdade era que estava lutando com um desespero crescente.

Enquanto observava minha mãe sendo cuidada, a proposta de Leonardo voltou à mente. Era como um eco incessante. A ideia de aceitar um casamento sem amor parecia um absurdo, mas e se fosse a única forma de garantir a estabilidade financeira que minha mãe tanto precisava? A luta interna se intensificava.

— Isabella, você está aqui, e isso é o que importa. — minha mãe disse, quebrando o silêncio e me tirando dos meus pensamentos. — Não se preocupe com nada além de nós duas.

Ouvindo suas palavras, um novo fardo se instalou em meu coração. Não apenas a saúde dela estava em jogo, mas também nossos sonhos e a vida que sempre construímos juntas. Eu precisava tomar uma decisão, e logo. Cada segundo contava. A pressão aumentava, e as opções que eu tinha eram limitadas.

Enquanto olhava para minha mãe, percebi que não poderia deixá-la ir sem lutar. E se aceitar a proposta de Leonardo fosse a única maneira de fazer isso? Mesmo que o preço a pagar fosse alto, o que eu estava disposta a sacrificar em nome do amor que sempre compartilhamos?

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