Capítulo 3

Points Of View Leonardo Ferraz

Observei a cidade do alto do meu escritório, cercada por vidros e concreto. O sol poente refletia em meus olhos frios enquanto meus advogados se revezavam para explicar os termos do testamento de meu pai. Cada palavra parecia uma marretada em minha mente, e eu não estava preparado para isso.

— Então é isso? Eu tenho que me casar para manter o controle da empresa? — perguntei, com uma pitada de cinismo. O advogado à minha frente, o velho Sr. Braga, ajeitou os óculos enquanto mexia nos papéis à sua frente.

— Exatamente, senhor Leonardo. A cláusula no testamento de seu pai é bem clara. Caso não contraia matrimônio dentro de seis meses, o controle acionário da empresa passará para o seu meio-irmão Ricardo — ele explicou calmamente, como se estivesse falando de algo trivial, quando na verdade estava colocando meu futuro em xeque.

Ricardo. Só de ouvir o nome dele meu estômago se revirava. O oportunista, sempre à espreita, esperando que eu cometesse um deslize. Agora, com essa m*****a cláusula, ele tinha a vantagem. Meu pai, mesmo depois de morto, ainda conseguia manipular minha vida.

— E que tipo de casamento ele espera? — perguntei, me esforçando para manter o controle da situação. — Posso me casar com qualquer pessoa? Isso basta para cumprir essa bendita cláusula?

Braga olhou para os documentos uma última vez, como se quisesse garantir que não houvesse margem para dúvidas.

— O testamento não especifica detalhes sobre o tipo de casamento, apenas que deve ser legítimo e registrado oficialmente dentro do prazo. Além disso, o casamento deve durar, no mínimo, um ano. Depois disso, o senhor terá o controle definitivo da empresa.

Eu sabia que meu pai sempre valorizou a família e a união, mas não esperava que fosse tão longe. Casar-se por obrigação era uma afronta a tudo o que eu acreditava. Mas a empresa... era o legado que eu havia construído ao longo dos anos. Não deixaria que Ricardo se aproveitasse disso.

— Entendi — murmurei, mais para mim mesmo do que para Braga. — Faça o que for necessário. Entrarei em contato com a equipe para resolver isso.

O advogado saiu do meu escritório me deixando com uma sensação amarga na boca. Era como se eu estivesse prestes a entrar em um jogo sujo, mas a verdade é que eu já estava habituado a isso. No mundo dos negócios, as jogadas são frias e calculadas, e esse seria apenas mais um movimento estratégico. Eu só precisava da peça certa.

Assim que ele saiu, liguei para a minha assistente, Vanessa.

— Vanessa, preciso que organize uma pesquisa para mim — comecei, com minha voz firme de sempre. — Procure mulheres que atendam a alguns requisitos específicos: discretas, sem grandes redes sociais, com dificuldades financeiras e que não representem uma ameaça emocional ou social. E mais uma coisa... elas não podem ser do nosso círculo social. Quero alguém de fora.

— Claro, senhor Leonardo — ela respondeu, sem hesitar, já acostumada às minhas demandas incomuns. — Qual é o prazo para isso?

— O mais rápido possível. E Vanessa, faça isso com total discrição. Não quero que ninguém saiba do que se trata.

Desliguei o telefone e olhei para a paisagem da cidade pela janela do meu escritório. Estava jogando uma partida de xadrez, onde eu tinha que mover as peças certas no momento certo. E a peça mais importante agora seria minha "esposa". Não uma esposa de verdade, claro. Apenas um nome no papel. Alguém que precisasse mais de mim do que eu dela, para que não houvesse complicações.

Dois dias depois, recebi um e-mail da minha equipe. Eles haviam feito uma pesquisa extensa, e algumas opções foram enviadas para a minha consideração. Não queria perder muito tempo com isso, então pedi que Vanessa me trouxesse um resumo das principais candidatas.

Ela entrou na minha sala com um iPad nas mãos, sentou-se à minha frente e começou a descrever os perfis.

— Temos aqui cinco mulheres que se encaixam nos requisitos, senhor. Todas enfrentam dificuldades financeiras significativas, mas não têm grandes dívidas públicas ou envolvimentos escandalosos. Elas também são discretas, sem muita exposição na mídia — ela me mostrou as fotos e os detalhes de cada uma, mas uma delas chamou minha atenção imediatamente.

Isabella Rossi. O nome era simples, mas sua situação era exatamente o que eu precisava. Seus registros indicavam que sua mãe estava gravemente doente, e que ela vinha acumulando contas médicas. Trabalhava em uma pequena empresa à beira da falência e, ao que tudo indicava, estava em um momento de desespero. Perfeito.

— Fale mais sobre essa Isabella — pedi, apontando para a tela.

— Ela tem 28 anos, não é uma figura pública e trabalha em uma empresa pequena. A mãe está em estado terminal, e ela está praticamente falida devido aos custos do tratamento. Parece ser uma pessoa reservada e solitária, sem grandes vínculos sociais ou familiares além da mãe. Acredito que ela poderia ser facilmente abordada, senhor, dadas as circunstâncias.

Olhei para a foto dela. Uma mulher bonita, mas com um olhar cansado. Alguém que, claramente, estava passando por um inferno. E eu seria a pessoa a tirá-la desse inferno, desde que ela cumprisse sua parte no acordo. Era isso. Isabella seria a esposa perfeita, porque, para ela, eu seria uma oportunidade, não um fardo.

— Marque um encontro com ela. Use a desculpa de que temos uma vaga de emprego aberta e que alguém a recomendou. Vamos ver até onde ela está disposta a ir para resolver seus problemas.

Vanessa anotou tudo e saiu para providenciar os detalhes.

Dois dias depois, o encontro estava marcado. Um hotel de luxo no centro da cidade, uma reunião casual para "avaliar" seu perfil para uma possível contratação. Claro, Isabella não sabia do verdadeiro motivo. A única coisa que ela precisava saber era que eu poderia ser a resposta para todos os seus problemas financeiros.

Quando entrei no saguão do hotel, vi que ela já estava lá. Sentada em uma poltrona próxima à janela, parecia nervosa. Isso era bom. A ansiedade significava que ela provavelmente aceitaria qualquer oferta que lhe fosse feita. Caminhei até ela com confiança e me apresentei.

— Isabella Rossi? Sou Leonardo Ferraz, muito prazer.

Ela se levantou rapidamente, um pouco desajeitada, e apertou minha mão.

— É um prazer conhecê-lo, senhor Ferraz. Agradeço por me receber — disse ela, com um sorriso tímido.

Mal sabia ela que aquele encontro não era uma entrevista de emprego. Não, aquilo era apenas o início de um jogo muito maior.

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