Capítulo 2

Por anos, nossas famílias viveram em constante conflito. Era como se a rivalidade fosse gravada em nossos DNAs. Os pais de Davi sempre estiveram na linha de frente, enfrentando eleição após eleição, determinados a tirar do poder aquela m*****a família. Porém, tudo mudou quando a família Galisteu perdeu o cargo. Descobriu-se que ele estava envolvido em um caso amoroso com o padre da cidade. Esse foi o maior escândalo da década—todo mundo comentava ao mesmo tempo, e, embora a internet tentasse evitar que fosse o assunto mais falado, não teve sucesso.

Foi então que a eles começou a agir, tentando desesperadamente reverter a situação e limpar a imagem de "boas pessoas" que tanto se esforçaram para manter. Como eram próximos de várias figuras influentes, qualquer escândalo poderia manchar a reputação que construíram ao longo dos anos.

A estratégia deles se estendeu por um longo tempo, incluindo até mesmo a indicação de outras pessoas para disputar o cargo de prefeito. Mas, no final, não deu em outra: Carlos acabou vencendo, consolidando ainda mais sua posição.

(•••)

Meu celular vibrou no bolso, chamando minha atenção. Desbloqueei a tela e lá estava uma mensagem de Rafael.

RAFA:

Faço questão de amanhã pegar você no aeroporto.

Dei um sorriso discreto ao ler aquilo. Fazia tanto tempo que não o via pessoalmente que fiquei me perguntando como seria agora. Ele parecia o mesmo nas fotos que postava no I*******m, mas sabemos que nada substitui o impacto de estar frente a frente.

Respondi com um simples "ok", desliguei o celular e o guardei de volta no bolso da calça, tentando ignorar o estranho formigamento de expectativa que a mensagem deixou.

Amanhã, eu finalmente vou embora. Finalmente vou sumir desse interior de quinta que me sufoca. Não vou sentir falta do cheiro de terra, do som dos grilos à noite, ou do céu que todos acham maravilhoso, apenas lembranças que eu quero deixar para trás.

E ainda assim... havia algo dentro de mim que hesitava. Não era tristeza, mas uma pontada incômoda, como se uma parte de mim soubesse que, mesmo odiando este lugar, algumas coisas ficariam para trás — Por mais que eu quisesse me livrar disso, era impossível ignorar essa sensação estranha que apertava meu peito.

Eu sempre soube que faria isso. Sempre soube que esse fatídico dia chegaria.

Agora, eu caminhava pelo jardim imenso da fazenda, deixando que meus olhos percorrem ao meu redor, como se estivesse registrando tudo pela última vez antes de dar meu adeus definitivo. As árvores, os arbustos, até mesmo o caminho de pedras que levava ao portão.

Mas não, eu não vou olhar para trás. Amanhã, é um novo começo.

Estava perdida em meus pensamentos, olhando para o horizonte onde o céu ainda tentava resistir à noite.

De repente, algo firme pressionou contra a minha cintura, me arrancando do chão por um instante. Meu corpo reagiu antes da minha mente; a surpresa fez meu coração acelerar. Mas antes que eu pudesse sequer gritar, uma mão grande quente e áspera cobriu minha boca, abafando qualquer som que ousasse escapar.

Minha respiração ficou presa. O medo explodiu em ondas enquanto meus olhos buscavam, desesperados, alguma coisa — qualquer coisa. Mas tudo o que eu sentia era o aperto firme, quase possessivo, e o calor daquela mão que parecia me prender mais do que apenas fisicamente.

O coração batia frenético, pulsando em meu peito. Olhei rapidamente para o lado, tentando ver quem era o homem que me puxava para longe.

O que vi foi apenas uma sombra, sua face escondida sob a aba larga de um chapéu de cowboy, e uma bandana amarrada na boca que ocultava sua identidade.

O toque não era bruto, mas também não tinha delicadeza. Era autoritário, como se cada movimento fosse calculado. Meus pensamentos estavam em desordem. Quem ousava? Por quê?

Ele me arrastou para um lugar escuro, e meu pânico crescia a cada segundo. Por um instante, nosso olhar se encontrou e, quando ele me lançou para trás, perdi o equilíbrio e caí, minhas mãos apoiando-se no chão frio enquanto tentava me recuperar.

A porta atrás de nós se fechou com um estalo seco, trancando-me naquele espaço apertado, e com ele. Olhei para ele, o coração acelerado.

Ele não disse uma palavra, mas a tensão em sua postura falava por si.

Era um momento decisivo.

Meu olhar percorreu freneticamente o chão em busca de algo, qualquer coisa que pudesse usar. Meus dedos tremiam quando os encontrei: uma pedra áspera, fria, pesada o suficiente para machucar.

"Era ridículo, pensar que aquilo seria a minha salvação.

Dei um passo para trás, o coração batendo descontrolado contra as costelas, os olhos fixos na silhueta que se aproximava. O som abafado das botas dele ecoava como um martelo na minha cabeça.

Olhei para ele, para o pano cobrindo sua boca, e algo nele me pareceu... familiar.

O cheiro, o jeito como ele andava, tudo aquilo mexia comigo, mas eu não conseguia entender.

— Se você não me deixar sair agora... — minha voz saiu rouca, quase um sussurro, mas logo cresceu em volume e fúria — ...Eu juro que te quebro essa pedra na cabeça, seu desgraçado!

Eu a levantei com as duas mãos, apontando-a para ele como uma ameaça. Minha respiração era pesada.

O desgraçado parou....

Por um momento, tudo ficou em silêncio, como se o universo estivesse prendendo a respiração. Mas eu não estava blefando, e ele sabia disso.

"E se ele não recuar? E se isso só piorar as coisas? Não importa. É ele ou eu. Não vou morrer aqui.

— Ayla... sou eu — murmurou, a voz baixa, quase um sussurro, mas carregada de uma urgência que fez meu peito apertar.

Aquela voz

Foi como se um raio atravessasse meu corpo, um choque tão profundo que fez minhas pernas fraquejarem por um momento. Meu coração disparou, descompassado, batendo tão forte que parecia ecoar nos meus ouvidos.

Ele tirou o chapéu com um gesto decidido, atirando-o de qualquer jeito para um canto. Em um movimento fluido, arrancou o lenço que escondia seu rosto.

E então, lá estava ele.

Hector

A respiração ficou presa na minha garganta, meu peito subindo e descendo rapidamente enquanto tentava assimilar o que via.

Aquela presença avassaladora, o olhar intenso que eu conhecia tão bem, e o leve tremor em sua mão, que ele tentava esconder, mas eu percebia.

Eu não sabia se era raiva, alívio ou medo, mas algo dentro de mim parecia desmoronar e se reconstruir ao mesmo tempo.

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