Mordi os lábios
Eu só senti o amargo na garganta, misturado com o ódio que só crescia a cada segundo. Eu só precisava dali. — E aí minha gente! — Aquela voz eu conheci perfeitamente. Minha expressão se transformou assim que vi Davi atravessar a porta, seu olhar varrendo o ambiente até pousar em nós. Meu coração deu um salto involuntário — Ali estava ele, depois de tanto tempo. Senti falta dele. — Olha só quem apareceu! — Rafa se levantou, o sorriso crescendo enquanto puxava Davi para um abraço caloroso. — Vem cá, brother! Senta com a gente. Davi retribuiu o abraço com o mesmo entusiasmo, os dois se cumprimentando. Ele riu ao se acomodar ao nosso lado e olhou para nós com um brilho nostálgico. — É muito bom ver gente da minha cidade. — disse Davi, de tom leve, mas cheio de significado. Sem pensar duas vezes, me levantei com um sorriso e estendi os braços. — Vem cá, Davi! — murmurei, puxando-o o loiro para um abraço apertado. — Meu Deus, que saudade! — To muito feliz de te ver de novo! E, olha, parabéns, futuro veterinário. — Acrescentei, meu tom meio brincalhão, meio orgulhosa Lembrei de tantas memórias… Ele deu um sorriso tímido, mas orgulhoso. E ali, naquele instante, senti como se estivéssemos todos em casa, como se o tempo não tivesse passado. A atenção dele desviou-se rapidamente para minha mãe, que eu tinha tentado esconder com guardanapos, mas o sangue ali ainda teimava em aparecer. — O que é isso? — perguntou Davi, com o olhar preocupado. — Você se machucou? — Quer que eu veja? Ele aproximou a mão, quase tocando a minha, e seus olhos fixaram-se nos meus. Suspirei, tentando aliviar a tensão do momento. — Olha, Davi — comecei, levantando a mão ferida de um jeito meio dramático. — Pelo que eu sei, você escolheu cuidar de bichos, não de gente. Ou vai me dizer que sou sua primeira “paciente” de duas pernas Ao redor, algumas risadas escaparm, ele suspirou, balançando a cabeça com um sorriso divertido — Muito engraçado — ele respondeu, cruzando os braços, mas os olhos ainda fixos no machucado. — Mas só não reclama depois se precisar de uns pontos de verdade. — É só um corte bobo. E aliás Hoje é dia de festa, não de consulta. Ele balançou a cabeça, ainda com o sorriso no rosto, mas desistiu de insistir. — Isso mesmo, hoje é dia de festa com os amigos, né, Davi? — Rafa lançou o olhar para ele, que concordou com um sorriso cúmplice. Antes que pudéssemos responder, Isabel interrompeu, com um ar de quem sabia exatamente como as coisas funcionam dali para frente. — Podem comemorar o quanto quiserem — disse ela, com os olhos levemente divertidos. — Porque quando as aulas começarem, o tempo vai ser bem escasso. Aproveitem enquanto podem, crianças! Rafa riu, pegando as chaves no bolso e acenando para mim e para Davi. — Então, vamos nessa, brother? — disse ele, empolgado. — A gente vai para um dos esquenta com os amigos Estava empolgada e mal podia esperar para conhecer todos. — Eu não gosto disso, filha — disse meu pai, firme. — Esses esquentas... você sabe o tipo de coisa que acontece lá dentro. É droga, é gente perdida... Não posso permitir que você esteja nesse tipo de lugares. — Papai, por favor! Fiquei ali, em silêncio, processando as palavras dele. A mesma ladainha de sempre. Ele não entendia, nunca entendia, que eu sabia muito bem me cuidar. — Relaxa, German, a gente vai ficar junto o tempo todo. Estamos aqui para se divertir, nada mais. Eu cuido dela. — Rafael tentando suavizar o clima. — Cuidar? — Meu pai lançou um olhar afiado para ele. — Não sei se você entende o que significa realmente cuidar. Com festas, bebida e música alta? Eu espero outra coisa de vocês. — Germann! — Rafa — So pra deixar claro: Eu sou o motorista da noite. Prometo que não vai passar uma gota de álcool por aqui, e quando você ligar, eu vou estar mais sóbrio que uma feira. Todo mundo riu, mas era aquele tipo de risada que escondia um certo nervosismo, porque a expressão do meu pai não suavizou nem um pouco. Ele ainda o olhava de cima a baixo, como se estivesse tentando ver algo além das palavras de Damião. Ele forçou mais um sorriso e estendeu a mão, num gesto de “confia em mim. — Olha, eu prometo — reforçou ele, fazendo questão de manter o tom sério. Meu pai cruzou os braços, a sobrancelha arqueada, sem se deixar convencer tão facilmente. — Tio! — Davi se aproximou — É só um encontro de amigos. Nada de mais. A gente promete que vamos ficar de olho. Papai suspirou, mas um leve aceno de cabeça entregava que, pelo menos por agora, ele aceitava. — Sei — ele disse, mas sem tirar os olhos de nós três. Aquele "sei" carregava mais peso do que qualquer discurso longo. Era um “sei” de quem ficaria de olho, custasse o que custasse. — Pai, com todo o respeito, eu sei o que eu tô fazendo. — Minhas palavras saíram firmes, quase desafiadoras. — E, sinceramente, eu sei muito bem me cuidar. Houve um silêncio tenso, meu pai me observando com olhos avaliadores. E naquele instante, talvez ele tenha visto que eu não era mais a garotinha que ele tanto queria proteger. Ele respirou fundo e deu um breve aceno. — Tá bom, tá bom. — Ele me apontou o dedo, o olhar afiado. — E você... nem pense em beber nada. Entendeu? Balancei a cabeça, com um sorriso inocente, como quem promete que vai se comportar. Mentira pura. Eu ia beber, sim. e aproveitar muito, cada segundo. Afinal, era a primeira noite em tanto tempo que eu podia me soltar de verdade. (•••)FUNK CLUB Condesa {AYLA TORRES} Caminhando pelos corredores do clube, senti o calor da mão de Damião segurando a minha, firme e segura, enquanto ele me guiava pela multidão. À medida que avançávamos, ele me apresentava a algumas pessoas, trocando cumprimentos rápidos, mas meu foco estava no ambiente ao redor, naquela energia contagiante. No meio dos dois, com Davi ao meu outro lado, eu me sentia envolvida, como se fôssemos fossemos ainda crianças correndo pela fazenda. O brilho das luzes do bar reluzia sobre nós quando finalmente alcançamos o balcão, onde a noite só estava começando. Davi pediu algumas bebidas — Confesso que estou adorando esse lugar, murmurei, encarando ao redor Rafael sorriu... — Cadê seus amigos? — perguntou Rafa, olhando ao Davi — Eles mandaram mensagem dizendo que já estão chegando. Rafa deu um breve aceno de cabeça concordando. — Nossa, que sorte a nossa — comentei, deslizando para o assento de couro macio na mesa principal. O tipo de lug
— Quem me dera. — Sua voz era firme. — Foram os pais do Gael que me criaram. Eles não são ninguém "Importante" para o mundo, mas para nós, são tudo. Graças a eles, consegui terminar os estudos e tenho uma vida confortável. Gael a encarou com um olhar firme e orgulhoso, como se entendesse cada palavra. Era como se eles compartilhassem o mesmo pensamento. Eu assenti, oferecendo um sorriso que, para todos ali, parecia empático. — Nossa! — disse comovida com a historinha.— Ah, entendo perfeitamente. — Inclinei a cabeça, como quem compartilha de um sentimento profundo. Mas, internamente... chato, chato,chato.... Depois de um bom tempo conversando sobre a faculdade e os desafios da vida na capital, Davi se virou para mim, o olhar curioso. — Então, é... você já conseguiu se instalar bem aqui na cidade? — perguntou, amistoso. Engoli um pouco da bebida. — Não, Eu ainda estou no hotel com os meus pais. Mas prometo que amanhã vou procurar com mais afinco. — respondi, tentando soar conf
Ele deu de ombros, como se não fosse grande coisa. — Agradeça ao Davi. Ele tem um bom gosto. Soltei uma risada suave, concordando. — É, parece que ele sabe o que faz. — E aí, quer uma cerveja? — ele perguntou, indo para cozinha, todo sorridente. — Não... — disse, balançando a cabeça. — Para mim já deu bebi demais por hoje. Chega... — Então, quer pelo menos uma água? — ele insistiu, ainda com aquele sorriso. — Quero sim, obrigada— respondi, aliviada. Depois de um tempo, ele me entregou um copo de água, e eu bebi um grande gole, tentando ignorar o olhar dele enquanto me analisava em silêncio. Mas quando meus olhos recaíram sobre Rafael, algo me fez hesitar. Ele estava sentado à minha frente, com a camisa social preta de mangas dobradas até os cotovelos, revelando os antebraços fortes, onde as veias pareciam desenhar um mapa que dava ainda mais destaque à sua pele branca. Seu cabelo louro escuro estava ligeiramente bagunçado, caindo de um jeito que parecia perfeitamente planej
Revirei os olhos, sentindo o peito subir e descer rápido. Eu só queria sair dali, acabar com aquela conversa. Virei de costas, decidida a ignorar. — Ayla, me fala a verdade... E algo sobre o seu futuro? Fechei os olhos, engolindo a enxurrada de pensamentos de merda que queria cuspir. A minha mãe não tinha culpa de nada disso, eu sabia. Então virei de frente para ela. Ela só estava ali, esperando que eu dissesse algo, qualquer coisa, e eu precisava me recompor antes de explodir. — Não, mãe! — Respirei fundo, sentindo o peso da culpa, antes mesmo de soltá-las, a frustração queimando em meu peito. Então, solto devagar, tentando domar o tom de voz. — Desculpa por ter sido rude, mãe — falei mais baixo, tentando suavizar, mas sabendo que o estrago já estava feito, enquanto meu coração acelerava. — É só que... — As meninas do interior não param de me mandar mensagens… — Fiz uma pausa — Toda essa coisa de mudança... me deixou exausta. Tava até pensando em trocar o numero do meu celul
— Eita, já beirando a aposentadoria e ainda tá querendo mostrar serviço? — debochou Rafa, rindo enquanto se contorcia para se soltar, tropeçando alguns passos para trás. Germain deu um sorriso de canto e apertou o mata-leão com mais força, seus braços firmes como uma corda de laço. — Garoto, eu já derrubei boi maior que você com uma mão só — retrucou, enquanto ele ficava vermelho, tentando puxar o ar. — Cuidado aí, coroa! — Rafael arfou, com uma risada forçada. — Não vai querer provocar o reumatismo. A cena era hilária. Eu não consegui segurar o riso, assistindo aqueles dois se engalfinhando feito idiotas. Era exatamente como dizem por aí sobre os homens: quando acham que estão sendo espertos, na verdade tão só bancando os idiotas. Assim que eles desapareceram pela porta, Angela se aproximou, segurando delicadamente minha mão. O toque era inesperado, e eu a olhei com surpresa, um calor subindo pelo meu rosto. Seus olhos, brilhantes e cheios de alegria, me deixaram sem palav
— Talvez ele esteja apenas preocupado com sua segurança — sugeriu, o que me fez sentir segura. — ele colocou o copo na bancada e se aproximou de mim, seus olhos fixos nos meus, o sorriso desaparecendo gradualmente para dar lugar a um olhar mais sério e intenso. — Você sabe o por quê? — ele acariciou meu rosto com a ponta dos dedos, a suavidade do toque enviando ondas de eletricidade pela minha pele, fazendo meu coração acelerar. Um riso suave escapou de meus lábios, enquanto negava com a cabeça. A tensão no ar era quase ensurdecedor, e um impulso incontrolável me fez me inclinar em sua direção. — Você se tornou uma mulher irresistível, Ayla — continuou, seus olhos brilhando com desejo — e seu pai quer mantê-la longe de homens terríveis como eu. — É mesmo? — a minha voz soou baixa, mas provocativa. Com uma ousadia que eu não sabia que possuía, coloquei a mão em volta do seu pescoço, puxando-o para perto, nossos narizes quase se tocando podia sentir o calor de sua pele, sua resp
Estou há um tempo mandando mensagens sem resposta... parecia até que ela tinha trocado de número ou que estava me evitando, como se... como se eu não existisse mais para ela. sei que a gente terminou, mas eu só queria saber como é que ela está lá? Na cidade grande depois daquela dia que ela fez questão de me humilhar uma sensação estranha apertou meu peito. Ela tinha realmente ido embora, sem se preocupar como que eu sentia, sem deixar uma palavra sequer. A dor tomou conta de mim, como se ela tivesse arrancado algo que eu nem sabia que estava ali. Passei noites e dias assim, perdido em pensamentos e sem nenhuma resposta. — Francisca, por acaso você sabe alguma coisa sobre a Ayla? Como tá indo lá na capital? — perguntei, tentando soar casual. Ela soltou uma risada baixa e seca, que fez cada pêlo no meu braço se arrepiar. — Ayla..? — repetiu, o tom carregado de algo que eu não consegui decifrar. — E o que te interessa, hein? — Me encarou sério. — E nada de "Ayla", é a senhorit
Ela me observava, sem piscar. — Engraçado... sabe que pra mim, ele ainda é o mesmo de antes? — respondeu Maria, levantando uma sobrancelha. — Pode ter mudado de lugar, de roupa, até de jeito de falar, mas no fundo ele ainda é só o Rafa. — O mesmo garoto. — Dei uma risada curta, mas o peso da memória me atingiu em cheio. — Lembra, Hector? — MARIA — Quando a gente fugia pra jogar bola no campo? Você, eu, a Ayla, o Davi? — Suspirei, sentindo o calor da nostalgia. — São momentos que, sinceramente, nunca vou esquecer. Como passa rápido, né? Parece que foi ontem... e, ao mesmo tempo, parece uma vida inteira atrás. — Pois é... — Enquanto ele mudou de lugar, eu continuei no mesmo, Maria. E agora parece que... não tem mais espaço. Como se a distância tivesse arrancado uma parte do que a gente era. Ela apenas concordou compreensivamente, como quem entende. Afinal de contas, até a vida teve o prazer cruel de me tirar a única mulher que eu amei de verdade.APdo Damião…{AYLA TORRES} Rafa