Capítulo 4

Agora, olhando para ele, hipnotizada. Seus traços são perfeitos de um jeito quase bruto, como algo que só a terra poderia moldar. A pele morena dele reluzia de forma sutil sob o sol que se infiltrava pelas frestas da janela. Havia algo quase mágico no jeito que a luz o tocava, destacando seus músculos firmes, bem definidos, mas sem exagero, esculpidos pelo trabalho árduo no campo. Ele não era feito de academias ou aparências. Ele era feito de terra, suor, sol, e isso o tornava ainda mais bonito.

"Por que você não é rico, seu bobo? pensei — Você poderia ser o homem ideal... Se não fosse tão insignificante."

Um sorriso amargo se espalhou em meu rosto.

Ele jamais saberia que, por mais que eu desejasse estar com ele, a realidade das nossas classes nos separava, (A dor de desejar o impossível era mais cruel do que qualquer outra coisa.) Eu não estava disposta a me afundar por alguém que não entendia as regras . No final das contas, eu sempre colocaria minha felicidade em primeiro lugar — Antes de qualquer coisa, ou de qualquer um.

"Meus pensamentos estavam vagando, mas não fazia diferença. Era como se eu vivesse em um pesadelo, e eu só queria que ele sentisse um pouco do que eu sentia. Não me importava, de qualquer jeito."

— Olha só, não se ache tão importante. — Declarei, tentando manter a firmeza na voz. — Eu me afastei porque estou começando uma nova vida e... Você não faz parte dela Hector. Nunca fez.

— Você realmente acha que eu sou idiota, Ayla? — A voz dele saiu baixa, quase ameaçadora, mas a tensão na sua mandíbula deixava claro o quanto ele estava controlando a raiva — Você pensa que pode me usar e me jogar fora como se fosse fácil assim?

Engoli em seco, sentindo a pressão aumentar.

Sem me dar tempo para reagir, ele socou a madeira ao lado do meu corpo, o som do impacto fazendo meu corpo todo tremer de susto.

— Não, você não vai me descartar assim.

Dei uma risada debochada, sentindo as lágrimas ameaçando escapar dos meus olhos.

— Hector, você realmente se acha o centro do mundo, né? — Eu quase não acreditei nas próprias palavras, mas elas saíram frias.

"Como ele podia ser tão ingênuo? Eu realmente estava começando a me perguntar o que passou pela cabeça dele. Achou mesmo que eu ficaria com ele? A minha família jamais aceitaria, e minha mãe... essa era a última pessoa que ele poderia esperar que aceitasse algo assim.

— Oh, por favor! — retruquei, o sarcasmo escapando, mesmo que meu coração estivesse despedaçado. — Você não tem nada a ver com a minha vida. E, pra ser bem clara, olha pra você e olha pra mim. Eu sou algo muito além de você. Um lixo como você não chega nem perto do que eu sou. Achou que eu ia perder meu tempo com um pobre coitado igual a você? Você não é nada, e nunca foi.

As palavras saíam como veneno dos meus lábios. Senti um gosto agridoce de satisfação ao vê-lo sofrer. Ele era um lixo que não tinha nada a oferecer, e eu... eu simplesmente não conseguia parar de destruir tudo o que ele ainda pensava que fosse.

A expressão de Héctor se transformou em uma mistura de raiva e desespero, seus olhos se encheram de lágrimas, e pude ver o peso das minhas palavras afundando em seu coração. Ele estava perdendo a luta, e eu sabia disso.

— Ayla! Por favor... — ele começou, mas não dei a ele a chance de terminar.

— Não se preocupe, vou cuidar da minha vida, — afirmei. — Vou para a capital, me tornar uma das melhores estilistas do mundo... — olhei para ele de cima a baixo, sentindo o nojo invadir meu olhar — Vai continuar sendo esse peão miserável que não vale nem o chão que pisa. E não há nada, absolutamente nada, que você possa fazer sobre isso.

Ele soluçou…

Eu magoei ele. Sei disso. Sinto isso.

E o pior? Ele ali, completamente destruído. Mas por que isso machuca tanto? Por que essa dor aperta no meu peito e não me deixa respirar? Não deveria doer assim. Não deveria. Eu não sou a culpada, não sou. Eu fiz o que tinha que fazer. Mas estou sentindo, e é como se a dor de ver ele naquele estado fosse uma punição que eu mesma estou me dando.

— Ayla, eu pedi um tempo. Eu sei que não posso te dar o luxo que você está acostumada mas te prometi que faria acontecer. Nem que eu precisasse arrancar o chão com as mãos. Lembra? Eu te prometi naquele dia queríamos ir embora daqui, e vou cumprir. Não importa o que eu tenha que fazer.

Eu nem precisava fechar os olhos para lembrar aquele dia que me marcou para sempre.

Eu estava sozinha. Tão sozinha.

No fundo, eu sabia que ele não teria feito nada. Promessas bonitas não salvam ninguém, e ele era mestre em prometer. E ainda assim, uma parte de mim queria que ele soubesse, que ele estivesse lá, que ele me impedisse de entrar naquela sala, mesmo sem saber. Mas ele não estava. Nunca está.

— Eu não queria que fosse assim! — Forcei as palavras a saírem, a voz quebrando como se fosse a última coisa que eu pudesse dizer. — Mas você merecia a verdade. Não posso mais ficar...

— Você se despediu de mim antes de eu ter a chance de te dizer que ainda te amo, Ayla. Você não tem ideia do que isso significa. — Sua voz embargada.

Sem saber como reagir, me virei para ir embora, enquanto passava por ele, senti uma mão firme a agarrar meu pulso. Antes que eu pudesse protestar, Seus lábios colidindo com os meus em um beijo intenso e desesperado.

O mundo ao nosso redor desapareceu, e por um momento, correspondi ao beijo, cedendo àquele desejo reprimido. Mesmo sabendo que era errado.

Mas logo a realidade me atingiu como um balde de água fria. Afastei-me dele, a raiva misturada à confusão queimando dentro de mim. Sem pensar, levantei a mão e dei um tapa forte em seu rosto, o som ecoando no ar como um golpe final.

— Nunca mais faça isso! — gritei, meu coração acelerado, enquanto a raiva e a dor se misturavam em meu peito.

Eu passei por ele, os olhos ardendo, molhados por lágrimas que deslizavam pelo meu rosto.

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