Parte 1
Começo um tropeço, e não há perdão✿ Nunca me importei com ninguém, até o ver escorrer pelos meus dedos, quente e pesado, uma sensação que nunca esquecerei. É estranho, quase irônico, como tudo começou. Talvez nunca tenha sido sobre amor. Mais , olhando para trás, não consigo evitar a sensação de que fui eu quem puxou o gatilho, e a partir daquele momento minha a vida mudou drasticamente. (❛❛❛) Já passava das seis da tarde, mas o céu ainda exibia aquele tom alaranjado famoso clichê do interior, como se quisesse fingir que aquele lugar era bonito. Foi quando decidi dar uma volta pela fazenda Torres… Estava a poucos passos de deixar para trás essa cidade, minha casa. Odiava esse lugar. Tudo nele. monotonia tranquila. Desde o dia em que meu pai decidiu que comprar uma fazenda no interior seria "boa ideia. Era a terra natal dele, um lugar pequeno e abafado chamado San Ignacio, a umas 15 horas de carro da capital do México. Eu tinha sete anos quando nos mudamos, e confesso que o choque de deixar a cidade grande para trás. A cidade, para quem olha de fora, até tem seu charme. Famosa pelo seu peculiar "café vermelho", um blend que atrai turistas e é o orgulho local, parece um lugar onde a vida segue tranquila e encantadora. Mas, pra mim, isso é apenas mais uma fachada. Nunca consegui me adaptar de verdade. Perdi amigos, perdi a cidade, perdi tudo o que fazia minha infância parecer normal. O Sr: Germán costuma dizer que o amor pelo campo corre no sangue, de geração em geração. Só que, ao contrário da crença dele, eu não nasci com esse amor. Minha mãe era modelo até conhecer meu pai e, como ela mesma gosta de dizer, "cair na armadilha". Não demorou muito para que ela engravidasse. Ela abandonou as passarelas e decidiu se dedicar à família. Pelo menos, foi isso que ela disse. Mas, às vezes, quando olho para ela, percebi aquele olhar vazio, como se ela estivesse arrependida. Enquanto muitas crianças brincavam de boneca, eu gastava boas horas das minhas tardes tentando criar vestidos para mim. Às vezes, invadia o guarda-roupa da minha mãe, pegava suas maquiagens e até algumas roupas para tentar inventar algo. Com o tempo, esse hobby virou uma paixão. E foi ali que eu decidi: um dia, seria estilista. A ideia de criar algo único, algo que pudesse transformar a aparência e a confiança de alguém, me fascinava. Mas o lugar onde eu morava não podia me oferecer nada disso. Já ouviu aquele ditado que diz que, para você se dar bem na vida, precisa sair de onde está? Pois é. Esse ditado soa como um mantra na minha cabeça. E se existia algo que meu pai amava tanto quanto o campo, era a época das eleições. O meu pai fazia questão de estar presente em tudo que envolvesse política. Não importava o quão insignificante fosse o evento, lá estava ele, discursando com entusiasmo e defendendo alianças, sempre ao lado da família Arango, e os Gates que era muito próxima da minha. As três famílias. Umas das mais influentes do interior, eram uma espécie de sociedade. Então desde que me entendo por gente, conheço. Davi, Rafael e Ruby sua irmã Rafa foi meu primeiro amigo. Nunca nos separamos — até o dia em que ele decidiu cursar engenharia e se mudar para a capital. Isso já faz dois anos. Os pais dele Miguel e Cecília. Eles quase se tornaram meus padrinhos, mas minha mãe já tinha combinado com outros, então isso acabou ficando fora de questão. Atualmente, eles são conhecidos pelos seus cavalos, um dos melhores da região. Ruby e eu nunca fomos exatamente próximas. Tínhamos a mesma idade, estudamos na mesma escola, até dividimos a mesma sala de aula. Mas, fora isso, nossas conversas sempre foram limitadas ao necessário, apenas o suficiente para lidar com a convivência inevitável. Tudo mudou quando, aos 15 anos, Ruby engravidou de seu primeiro filho, Renê. Ele acabou se tornando meu afilhado, e não demorou muito para que eu me apaixonasse perdidamente por aquele pequeno milagre. Davi é filho de Carlos Gates, o prefeito mais eleito na história da nossa cidade, e de Maria, a primeira-dama. Eles são oficialmente meus padrinhos. Mais naquela época, a notícia me pegou de surpresa, e confesso que não foi fácil aceitá-los. Mas, com o tempo, acabei me acostumando à presença deles, e foi por meio dessa convivência que fiquei próximo de Davi. Ele se tornou meu segundo melhor amigo, quase tão próximo quanto Rafael. Passávamos horas juntos, dividindo segredos e sonhos. Quando ele terminou a escola e decidiu cursar veterinária na capital, assim como o Rafa. Isso foi exatamente há um ano atrás. A despedida foi rápida e sem cerimônias, como se ambos soubéssemos que aquilo seria o fim de uma era. E assim, nossos caminhos se separaram, e eu, inevitavelmente, fiquei sozinha. A política sempre foi algo sério no interior. Nossos pais eram da oposição. Estavam constantemente em confronto com outras duas famílias, mas ao contrário da nossa, elas tinham muito mais poder. A família Moore sempre ocupou o topo da pirâmide social e econômica da cidade. Sérgio Moore, era o proprietário da WM, a maior e mais influente fábrica de carne da região. A empresa era conhecida por sua capacidade de ditar as regras do mercado, controlando grande parte da distribuição e produção de carne. Logo abaixo deles, estavam os Ricci, uma família tradicionalmente dedicada à criação de gado. Eles mantinham uma relação comercial estreita com os Moore, fornecendo o melhor gado da região para abastecer a fábrica WM. Essa dependência mútua consolidava o poder econômico de ambas as famílias e fazia com que os Ricci ocupassem o segundo lugar na hierarquia local.Por anos, nossas famílias viveram em constante conflito. Era como se a rivalidade fosse gravada em nossos DNAs. Os pais de Davi sempre estiveram na linha de frente, enfrentando eleição após eleição, determinados a tirar do poder aquela maldita família. Porém, tudo mudou quando a família Galisteu perdeu o cargo. Descobriu-se que ele estava envolvido em um caso amoroso com o padre da cidade. Esse foi o maior escândalo da década—todo mundo comentava ao mesmo tempo, e, embora a internet tentasse evitar que fosse o assunto mais falado, não teve sucesso.Foi então que a eles começou a agir, tentando desesperadamente reverter a situação e limpar a imagem de "boas pessoas" que tanto se esforçaram para manter. Como eram próximos de várias figuras influentes, qualquer escândalo poderia manchar a reputação que construíram ao longo dos anos.A estratégia deles se estendeu por um longo tempo, incluindo até mesmo a indicação de outras pessoas para disputar o cargo de prefeito. Mas, no final, não d
Ele avançou, e foi como se a própria sala encolhesse à sua volta. Era impossível ignorar sua presença; com quase dois metros de altura, ele parecia dominar todo o espaço. Eu, com meu mísero metro e cinquenta e nove, me sentia ainda menor diante dele, uma presa encurralada.— Qual é o seu maldito problema?! — gritei, meus punhos cerrados, meu corpo tremendo entre o medo e a raiva. — Se o objetivo era me matar de susto, parabéns, você conseguiu, idiota!Ele parou, ficando tão perto que eu quase podia sentir o calor que emanava de seu corpo. olhos castanhos tão profundos e escuros que parecia impossível encontrar o fundo. As mãos grandes, envoltas em luvas de couro preto, estavam tensas ao lado do corpo, como se ele lutasse para se controlar. O contraste com o roupa de cowboy impecável que usava só tornava sua aparência mais intimidante.— Isso não foi minha primeira opção, Ayla — ele disse, a voz baixa e arrastada, quase hipnotizante, como um veneno que se espalhava lentamente. Seus ol
Agora, olhando para ele, hipnotizada. Seus traços são perfeitos de um jeito quase bruto, como algo que só a terra poderia moldar. A pele morena dele reluzia de forma sutil sob o sol que se infiltrava pelas frestas da janela. Havia algo quase mágico no jeito que a luz o tocava, destacando seus músculos firmes, bem definidos, mas sem exagero, esculpidos pelo trabalho árduo no campo. Ele não era feito de academias ou aparências. Ele era feito de terra, suor, sol, e isso o tornava ainda mais bonito. "Por que você não é rico, seu bobo? pensei — Você poderia ser o homem ideal... Se não fosse tão insignificante." Um sorriso amargo se espalhou em meu rosto. Ele jamais saberia que, por mais que eu desejasse estar com ele, a realidade das nossas classes nos separava, (A dor de desejar o impossível era mais cruel do que qualquer outra coisa.) Eu não estava disposta a me afundar por alguém que não entendia as regras . No final das contas, eu sempre colocaria minha felicidade em primeiro lug
— Ayla, por favor... não vai embora— A voz dele quebrou, como se cada palavra fosse uma luta contra algo muito mais forte do que ele. — Eu... faria qualquer coisa, qualquer coisa que você pedisse, Ayla. Eu me ajoelho, faço tudo. Mas por favor... — A voz dele estava rouca agora, quase inaudível. — Não me deixa. Não quero ficar sem você... não posso. Parei no meio do movimento e me virei para ele, encarando-o pela última vez, como se fosse a última coisa que eu faria naquele momento. Uma lágrima traiçoeira escorreu pelo meu rosto, mas eu não a limpei. Me recusei a mostrar qualquer fraqueza. Eu não ia ceder. — Ah, sabe como é... — minha voz saiu cortante, Um tom que eu só usava quando a paciência já tinha se esgotado. — Cada um recebe exatamente o que merece. E você... — pausei. — definitivamente, mereceu tudo isso. Patético! — Eu estou quebrado pela segunda vez, Ayla. — A voz dele vacilou por um instante, mas logo recuperou o tom firme. — E, mesmo depois de tudo que você disse,
Mordi os lábios Eu só senti o amargo na garganta, misturado com o ódio que só crescia a cada segundo. Eu só precisava dali. — E aí minha gente! — Aquela voz eu conheci perfeitamente. Minha expressão se transformou assim que vi Davi atravessar a porta, seu olhar varrendo o ambiente até pousar em nós. Meu coração deu um salto involuntário — Ali estava ele, depois de tanto tempo. Senti falta dele. — Olha só quem apareceu! — Rafa se levantou, o sorriso crescendo enquanto puxava Davi para um abraço caloroso. — Vem cá, brother! Senta com a gente. Davi retribuiu o abraço com o mesmo entusiasmo, os dois se cumprimentando. Ele riu ao se acomodar ao nosso lado e olhou para nós com um brilho nostálgico. — É muito bom ver gente da minha cidade. — disse Davi, de tom leve, mas cheio de significado. Sem pensar duas vezes, me levantei com um sorriso e estendi os braços. — Vem cá, Davi! — murmurei, puxando-o o loiro para um abraço apertado. — Meu Deus, que saudade! — To muito
FUNK CLUB Condesa {AYLA TORRES} Caminhando pelos corredores do clube, senti o calor da mão de Damião segurando a minha, firme e segura, enquanto ele me guiava pela multidão. À medida que avançávamos, ele me apresentava a algumas pessoas, trocando cumprimentos rápidos, mas meu foco estava no ambiente ao redor, naquela energia contagiante. No meio dos dois, com Davi ao meu outro lado, eu me sentia envolvida, como se fôssemos fossemos ainda crianças correndo pela fazenda. O brilho das luzes do bar reluzia sobre nós quando finalmente alcançamos o balcão, onde a noite só estava começando. Davi pediu algumas bebidas — Confesso que estou adorando esse lugar, murmurei, encarando ao redor Rafael sorriu... — Cadê seus amigos? — perguntou Rafa, olhando ao Davi — Eles mandaram mensagem dizendo que já estão chegando. Rafa deu um breve aceno de cabeça concordando. — Nossa, que sorte a nossa — comentei, deslizando para o assento de couro macio na mesa principal. O tipo de lug
— Quem me dera. — Sua voz era firme. — Foram os pais do Gael que me criaram. Eles não são ninguém "Importante" para o mundo, mas para nós, são tudo. Graças a eles, consegui terminar os estudos e tenho uma vida confortável. Gael a encarou com um olhar firme e orgulhoso, como se entendesse cada palavra. Era como se eles compartilhassem o mesmo pensamento. Eu assenti, oferecendo um sorriso que, para todos ali, parecia empático. — Nossa! — disse comovida com a historinha.— Ah, entendo perfeitamente. — Inclinei a cabeça, como quem compartilha de um sentimento profundo. Mas, internamente... chato, chato,chato.... Depois de um bom tempo conversando sobre a faculdade e os desafios da vida na capital, Davi se virou para mim, o olhar curioso. — Então, é... você já conseguiu se instalar bem aqui na cidade? — perguntou, amistoso. Engoli um pouco da bebida. — Não, Eu ainda estou no hotel com os meus pais. Mas prometo que amanhã vou procurar com mais afinco. — respondi, tentando soar conf
Ele deu de ombros, como se não fosse grande coisa. — Agradeça ao Davi. Ele tem um bom gosto. Soltei uma risada suave, concordando. — É, parece que ele sabe o que faz. — E aí, quer uma cerveja? — ele perguntou, indo para cozinha, todo sorridente. — Não... — disse, balançando a cabeça. — Para mim já deu bebi demais por hoje. Chega... — Então, quer pelo menos uma água? — ele insistiu, ainda com aquele sorriso. — Quero sim, obrigada— respondi, aliviada. Depois de um tempo, ele me entregou um copo de água, e eu bebi um grande gole, tentando ignorar o olhar dele enquanto me analisava em silêncio. Mas quando meus olhos recaíram sobre Rafael, algo me fez hesitar. Ele estava sentado à minha frente, com a camisa social preta de mangas dobradas até os cotovelos, revelando os antebraços fortes, onde as veias pareciam desenhar um mapa que dava ainda mais destaque à sua pele branca. Seu cabelo louro escuro estava ligeiramente bagunçado, caindo de um jeito que parecia perfeitamente planej