Início / Fantasia / Os Sete Pecados Capitais / Capítulo 2: Ágata, o Pecado da Gula
Capítulo 2: Ágata, o Pecado da Gula

Doze dias se passaram até que Kael finalmente abriu os olhos. Seu corpo estava pesado, e sua visão demorava a se acostumar com a luz fraca que atravessava a janela estreita. O cheiro de ervas amargas pairava no ar, misturado ao aroma de cera queimada.

— Sente-se melhor? — A voz feminina soou suave, mas carregada de intenção.

Kael virou a cabeça com dificuldade e encontrou uma mulher ao lado da cama, depositando uma bandeja com frascos e unguentos sobre o criado-mudo. Ele se sobressaltou, mas conteve a reação.

— Quem é você?

Ela sorriu, inclinando-se levemente na direção dele. Seus dedos pairaram sobre a faixa que cobria o ferimento em seu ventre.

— Tenho muitas respostas, mas nenhuma convincente o suficiente para não parecer uma ameaça. — Seu tom era divertido, mas os olhos mantinham um brilho calculista. — Mas não se preocupe. Quando o encontrei, você já estava morto, capitão. Se quisesse que morresse, bastava deixá-lo onde estava.

Kael se recostou contra os travesseiros, permitindo que ela tocasse na bandagem. Seus dedos eram frios, precisos.

— Seu nome?

— Me chamam de Ágata.

Ele permaneceu em silêncio por um instante, avaliando-a.

— Por que fez isso?

— Isso o quê?

— Por que me salvou? — perguntou, apertando de leve o curativo. A dor era suportável, mas real.

Ágata segurou um dos frascos contra a luz, observando o líquido espesso em seu interior. Não o olhou ao responder:

— Porque mortos não cumprem profecias.

Kael franziu o cenho. Ela não mencionou promessas, nem sangue derramado, nem o destino que pesava sobre ambos. Algumas verdades eram facas viradas para dentro.

— Uma longa história, mas...

— Andrômeda... — Kael interrompeu, segurando o pulso dela com firmeza, os olhos sombrios. — Antes que me conte seja lá o quê, vamos diminuir a conversa. Eu enterrei o corpo dela na margem do rio. Quando eu me recuperar, posso levá-la até lá.

O cenho de Ágata se franziu levemente, mas sua expressão logo relaxou em algo quase divertido.

— Agora, cale a boca e me deixe em paz. Eu sou maga, não médica.

Kael hesitou, então murmurou:

— Obrigado.

— Por salvar sua vida?

Ele balançou a cabeça.

— Por cuidar dela.

Ágata soltou um suspiro exagerado.

— Ela era bonita. O que passou pela cabeça dela para se apaixonar por alguém feio como você? — O tom zombeteiro aplacava o peso na sala, mas Kael apenas sorriu, sombrio.

Ele sabia exatamente por que se apaixonara por Andrômeda. O que não sabia era por que ela havia se apaixonado por ele.

— Devia ter perguntado isso a ela — murmurou, olhando para o nada.

Ágata terminou de ajeitar as bandagens e se levantou.

— Mais alguns dias e partimos.

— Partimos?

— Sim.

— Para onde?

— No jantar conversamos melhor. Agora, descanse.

Antes que ele pudesse protestar, ela já caminhava até a porta. Seus passos eram lentos, medidos, carregando uma calma enervante. Kael a observou em silêncio, tentando decifrar sua intenção. Não confiava nela, mas também não encontrava um motivo convincente para que o tivesse salvo.

A porta se fechou, e ele soltou um longo suspiro. Sentia-se exausto, como se algo dentro dele tivesse sido arrancado.

Seus olhos vagaram pelo quarto. As paredes de pedra escura, a lareira acesa num canto, os frascos de poções deixados por Ágata. Tudo parecia estranho e familiar ao mesmo tempo. Mas o desconforto não vinha do ambiente. Vinha de dentro.

Ele fechou os olhos, tentando se lembrar da última coisa antes de apagar. Sangue. Dor. Azrael caindo morto a seus pés. A fúria, queimando como uma tempestade sem fim.

E então... o toque frio de Ágata puxando algo dele.

*A alma.*

Os olhos de Kael se abriram de repente.

*Metade de sua alma.*

Era isso que faltava.

Um rugido silencioso cresceu dentro dele, mas seu corpo fraco o traiu. Ele cerrou os punhos, frustrado. Precisava se recuperar. Precisava entender o que Ágata havia feito.

Deitou-se novamente, forçando os olhos a se fecharem. O sono veio devagar, mas quando finalmente chegou, não trouxe sonhos.

Apenas o vazio.

Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App

Capítulos relacionados

Último capítulo

Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App