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CAPÍTULO 5: Yoran, o Pecado da ganância

Depois de algumas horas de viagem, a quietude se tornou inevitável, e o silêncio da estrada incomodava Kael. Os galhos das árvores balançavam sob o vento, criando sombras esguias pelo caminho de terra. Era

O tipo de silêncio que antecedia um problema.

Kael levou a mão ao cabo da espada.

— Você sente isso? — ele perguntou.

— Você sente coisas demais — Ágata retrucou. — Mas sim, eu sinto.

Antes que Kael pudesse responder, um estalo veio da floresta.

— Emboscada — ele murmurou.

O ataque veio rápido. Seis figuras encapuzadas emergiram das sombras, lâminas brilhando à luz do entardecer.

— Sejam bonzinhos e deixem as bolsas, e ninguém sai ferido — um dos ladrões disse.

Kael sorriu.

— Eu tenho uma proposta melhor: vocês correm, e eu não quebro seus dentes.

O líder riu.

— Engraçadinho. Pena que sua sorte acaba aqui...

O soco de Kael o atingiu antes que ele terminasse a frase. O homem caiu como um saco de batatas. O caos se instaurou.

Kael se movia como um trovão, desviando de golpes e revidando com precisão. Ele não matou ninguém, mas cada um dos ladrões terminava desacordado ou com um membro torcido em ângulos desagradáveis.

Enquanto isso, Ágata murmurava um encantamento.

— Durma, e leve consigo o peso da consciência...

Uma brisa azulada dançou no ar. Os últimos dois ladrões tentaram fugir, mas caíram como bonecos de pano antes mesmo de dar três passos.

Kael chutou um dos corpos no chão, certificando-se de que estava respirando.

— Me lembra de nunca reclamar de tédio de novo.

Ágata sorriu.

— Isso é só o começo.

Bazzard era uma cidade de pedra e ferro, suas ruas repletas de mercadores, guardas e viajantes. Kael e Ágata passaram pelos portões sem dificuldades, exibindo o selo do rei.

— Vamos direto à prisão — disse Ágata.

O prédio era sombrio e úmido, com o cheiro metálico de ferrugem e algo mais... algo que Kael reconheceu instantaneamente.

Ódio.

Quando finalmente abriram a cela de Yoram, a reação dele foi instantânea. Um soco certeiro atingiu Kael no queixo, jogando-o para trás.

— Acha que eu sou idiota?! — Yoram rosnou. — Acha que eu não ia sentir esse cheiro podre em você?!

Kael se ergueu, limpando o canto da boca. Seu olhar endureceu.

— Filho da—

Ele revidou o golpe, jogando Yoram contra a parede.

Antes que Kael pudesse avançar de novo, Ágata segurou seu braço.

— Chega.

Yoram cuspiu no chão e olhou para ela com desconfiança.

— O que vocês querem?

Ágata soltou Kael e cruzou os braços.

— Falar com você. Mas, se preferir continuar bancando o idiota, podemos deixá-lo aqui.

— Eu não me importo de estar aqui, eu est...

— Aqui por vontade própria e blá-blá-blá, por favor, podemos acabar com isso e voltar antes do jantar.

Yoram estreitou os olhos, mas ficou em silêncio.

Kael saiu da sala a pedido de Ágata. Do lado de fora, encostou-se à parede, cruzando os braços.

— Isso vai demorar...

Mas, para sua surpresa, minutos depois, Ágata saiu com um pequeno sorriso.

— E aí, Aghi? Ele vem com a gente?

Ela balançou a cabeça.

— Sim.

Kael fechou a mão. Sem aviso, girou o corpo e acertou Yoram com um soco direto no rosto.

O impacto jogou Yoram para trás, e ele caiu pesadamente no chão de pedra.

— Se quiser dizer algo ao meu pai, diga direto pra ele. Eu não sou um garoto de recados — rosnou Kael.

Yoram se ergueu devagar, limpou o sangue do lábio e então... sorriu.

— Então, esse é o nosso capitão?

Kael bufou.

Ágata suspirou, massageando as têmporas.

— Já começaram com isso... Não esqueçam, meninos, meu jantar.

A volta pra casa foi silenciosa nem mesmo o vento soprava, de vez em quando kael olhava para Ágata que não parava de namorar a lua como se tivesse uma tempestade dentro dela.

—Tudo bem Aghi?

—Sim, eu só odeio ficar com fome, fico bastante irritada e pouco tolerante. Yoram riu da situação, mas não fez nenhum comentário. Até chegarem em casa.

Ágata estava na cozinha, mexendo na panela com uma expressão de concentração. Ela se movia com a leveza de uma maga experiente, seus gestos precisos e controlados, mas havia algo de peculiar em sua atitudeO cheiro não era exatamente apetitoso, e Kael, com seu olhar atento, sabia exatamente o que estava acontecendo. O prato que Ágata tentava preparar parecia mais uma tentativa frustrada do que uma refeição de viagem. Ela mexia a mistura com um leve suspiro de desânimo, tentando disfarçar, mas seu olhar entregava o esforço em vão.

Yoram estava deitado em uma cadeira próxima, claramente se divertindo com a situação. Ele, que tinha um jeito descontraído e sarcástico, observava cada movimento de Ágata com um sorriso travesso.

— Então, essa é sua ideia de refeição? — Yoram perguntou, a voz cheia de humor, enquanto o cheiro da comida invadia o ar. — Você não nos prepara algo mais... apetitoso?

Ágata olhou para ele, sem se deixar abalar, e soltou uma risada nervosa.

— Não sou exatamente uma chef, Yoram. — Ela mexeu a colher novamente, mas o olhar de frustração era claro. — Acho que vou deixar a culinária para depois, ok?

Yoram se sentou com mais atenção, cruzando os braços, ainda com aquele sorriso no rosto. Não estava zombando dela, mas sabia como deixar a situação ainda mais leve. A tensão da viagem, as batalhas e os desafios, estavam todos pesando no ar, e ele sabia que um pouco de humor nunca fazia mal.

— Sabe, Ágata, não sou muito exigente com comida... — Ele fez uma pausa, observando a comida com um olhar debochado. — Mas isso aqui... Isso aqui é algo que nem meu estômago aceitava.

Ágata rolou os olhos, mas, em um gesto inesperado, riu junto com ele. O som de sua risada era leve, quase que um alívio depois de tanto tempo em um clima tenso.

— Você está certo. — Ela admitiu com um sorriso sem vergonha, sem um pingo de orgulho na comida que preparava. — Talvez a culinária não seja o meu forte.

Kael, que estava ouvindo a conversa, não pôde deixar de se divertir com a cena, mas logo sua mente se voltou para algo mais importante. Enquanto Yoram ainda ria com Ágata, ele aproveitou o momento para puxar uma conversa que estava aguardando a oportunidade certa para começar.

— Yoram, — Kael disse de maneira descontraída, tentando disfarçar o interesse. — Fiquei curioso sobre aquele artefato místico que você encontrou. O que exatamente é

Yoram sorriu, jogando uma última olhada para Ágata, que parecia já ter aceitado a crítica, e então se recostou na cadeira, começando a contar sua história.

— Ah, esse artefato... — Yoram começou com uma voz calma, mas um brilho de nostalgia e preocupação na sua expressão. — Bom, ele não foi exatamente "encontrado" de forma limpa. Na verdade, foi meio... desastroso. Eu estava em uma situação bem difícil, depois da morte de um amigo muito importante para mim. Um dos poucos que eu tinha... No momento em que ele morreu, fiquei completamente desnorteado. Passei dias andando sem rumo, sem direção. Não percebi que estava entrando no Reino das Fadas, um lugar que eu não recomendaria a ninguém.

Ele fez uma pausa, mordendo o lábio, como se ainda fosse difícil revisitar aquela memória. Kael, no entanto, estava atento, com os olhos fixos na história de Yoram.

— As fadas... — Yoram continuou, mais sério agora. — Não são exatamente fãs de humanos, e logo eu fui cercado. Eu sabia que teria que sair logo dali. Estava com sede, então fui até o rio, e foi lá que eu vi algo estranho... brilhando perto de uma nascente, onde uma pequena cachoeira desaguava. Achei curioso, tentei me aproximar, mas, bem... o chão cedeu debaixo de mim e eu caí. E, em vez de cair na água gelada, como eu esperava, encontrei uma caverna estranha. O mais estranho de tudo foi que, apesar do som da água, o ambiente estava incrivelmente quente e seco.

Ele olhou para Kael, notando que o rapaz estava mais curioso a cada palavra, ansioso por mais detalhes.

— Eu tentei voltar pelo mesmo caminho, mas o lugar parecia não ter saída. Não consegui encontrar o ponto de onde eu tinha caído, até perceber que talvez... eu tivesse entrado em um portal. Um portal que eu nunca vi antes. Eu andei até que avistei uma luz distante, uma chama pequena, quase uma vela. E então, quando cheguei perto, senti algo estranho. Era como se a vela me desviasse, como se ela me rejeitasse. E, de repente, uma voz quebrou o silêncio.

Kael estava quase fora de si com a narrativa, a tensão crescendo enquanto ele ouvia, mas Yoram prosseguiu.

— A voz me ofereceu algo... algo que eu nem sabia o que era, mas ela falou sobre riquezas, conforto, e até trouxe uma imagem do que seria meu futuro, caso aceitasse. Eu sei, você deve estar pensando, que garoto idiota, cai num poço, conhece uma vela que fala e ainda se interessa no que ele fala, isso é ridículo mesmo. Ele soriu sem humor

— Mas lembre-se eu estava desnorteado e não sabia o que pensar, e quando a vela me disse que eu poderia trazer o Yure de volta eu não pensei duas vezes e aceitei. Logo depois que fiz isso... a vela se apagou. Eu... caí. Eu caí sem parar, parecia que o mundo estava desmoronando ao meu redor, cada vez que meu corpo batia em algo eu maldizia aquela vela maldita, mais um golpe e eu teria morrido.

Kael respirou fundo, tentando conectar as peças da história.

—Então o que é o artefato?

Yoram sorriu, tocando levemente a pulseira de ouro com uma única linha preta na vertical em seu pulso.

— Essa pulseira... — Yoram fez uma pausa, olhando para Kael com um sorriso travesso.

— A pulseira? — O que ela faz exatamente?

—Nada, ela é só um lembrete físico, mesmo sem ela, desde o dia que eu caí naquele portal e despertei na cela do castelo, eu sou mais rápido, mais forte, bem algumas habilidades eu não me habituei a usar, mas outras foram muito importantes nas lutas na prisão. Eu consigo roubar energia vital dos meus inimigos, e usá-los pra aumentar a minha própria força e velocidade, velocidade essa que é sobre humana, posso criar ilusões realistas por um curto espaço de tempo, mas me dá muita vantagem e além disso a regeneração, qualquer ferimento grave ou não se cura, claro, o quão rápido vai ser depende da gravidade do ferimento. Creio que a regeneração seja um bônus que a imortalidade me deu.

Kael se inclinou mais para frente, com os olhos curiosos, tentando entender mais sobre o que estava acontecendo com Yoram, e se perguntando como tudo isso estava relacionado à missão deles.

— Eu já sabia que havia algo peculiar sobre você, Yoram... — Kael disse, com um sorriso, tentando aliviar um pouco a tensão do momento. — Mas isso é... um pouco fora do normal.

Yoram deu uma risada suave, mas não revelou mais nada, deixando o assunto pendente, por enquanto.

Ágata, finalmente, se levantou da mesa e pegou os pratos. Ela havia ficado quieta durante o relato, mas agora se aproximou de Yoram, olhando para a comida que tinha feito e para ele, com uma expressão desconcertada.

— Eu sei... — ela começou com um sorriso forçado. — Eu sou uma ótima maga, mas cozinheira... bem, nem tanto. Não sou uma especialista, isso é claro. A comida... bem, não é exatamente a melhor que você vai comer. — Ela riu, mostrando um pouco de autocrítica.

Yoram deu um sorriso genuíno, tentando não rir mais do que o necessário.

— Não se preocupe, Ágata. Não está tão ruim assim. Mas, por acaso, você está tentando fazer um feijão ou... isso é só uma invenção sua?

Ágata revirou os olhos, agora mais descontraída, mas sentindo que a situação não tinha como melhorar.

— Ok, ok, eu admito. Eu sou uma péssima cozinheira é o Boldar que cuida disso para mim... quando ele não se transforma em um gatinho, claro. — Ela suspirou e sorriu. — Por ser um demônio menor ele consegue se transformar em um gato bonitinho, mas na verdade, ele tem a aparência de um homem... muito atraente, se é que posso dizer assim. Ele me enganou na forma animal dele, então eu o convidei pra entrar na minha casa e aí ele mostrou que era um demônio, mas ele não me mostrou a forma “real” dele, pra mim ele tinha um palmo de altura, até que eu acordei de madrugada e ele estava martelando as panelas e desde então é ele quem faz o que eu chamo de comida.

Kael, agora em silêncio, trocou olhares com Yoram, e Yoram deu uma risadinha, achando o comentário sobre Boldar ainda mais curioso.

— Um demônio menor... — Yoram repetiu, pensativo, com um olhar intrigado.

—onde ele está?

—provavelmente roubando, ele é bom nisso. Ágata apenas deu de ombros, antes de se afastar e dar uma última olhada na cozinha, decidindo que não poderia fazer nada mais por aquele jantar.

Por fim, depois da conversa, o clima ficou mais leve. Mas Kael não pôde evitar de se incomodar com a situação do quarto. A casa estava em reforma, e ele e Yoram precisariam dividir o mesmo quarto, algo que, com certeza, não agradava nem um pouco a Kael. Ágata havia tentado ser sensata, dividindo o espaço com a melhor das intenções, mas Kael não queria aceitar muito bem. Depois de uma rápida negociação (quase uma disputa por território), ficou decidido que Yoram ficaria no quarto por enquanto, e Kael, com um pouco de resignação, dormiria na varanda coberta, que por sorte estava confortável o suficiente para ele.

Kael não fez drama, não era do tipo que brigava por uma cama, mas ainda assim estava um pouco frustrado. Já Yoram, parecia indiferente, não se importando com a decisão e preferindo descansar enquanto o trabalho de reforma seguia.

Mas antes de se separarem, Kael olhou para Ágata, vendo a preocupação em seus olhos. Ela tinha suas próprias batalhas internas e, de alguma forma, Kael sabia que ela ainda tentava fazer o melhor para todos eles.

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