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CAPÍTULO 8: O cozinheiro gato

Kael estava quase sem fôlego com a história. A tensão aumentava a cada palavra, mas Yoram continuou, impassível:

— A voz me ofereceu algo... algo que eu nem sabia que queria. Falou de riquezas, conforto, e até me mostrou uma visão do que poderia ser meu futuro, caso aceitasse. Sei o que você está pensando: que tipo de idiota cai num poço, encontra uma vela falante e ainda escuta o que ela tem a dizer? — Ele riu, sem humor, balançando a cabeça. — Eu concordo. Mas eu estava desnorteado, sem saber o que fazer. E quando a vela me prometeu que eu poderia trazer Yure de volta, eu não hesitei. Aceitei na hora.

O silêncio pairou por um instante antes de Yoram continuar, sua voz levemente rouca.

— Assim que aceitei... a vela se apagou. E eu caí. Caí sem parar. O mundo ao meu redor desmoronava, e a cada vez que meu corpo colidia contra algo, eu amaldiçoava aquela maldita vela. Mais uma pancada, e eu teria morrido.

Kael respirou fundo, processando as informações, tentando encaixar as peças do quebra-cabeça.

— Então... o que é esse artefato? — perguntou, estreitando os olhos.

Yoram sorriu de canto e deslizou os dedos sobre a pulseira de ouro em seu pulso, uma joia simples, marcada por uma única linha preta na vertical.

— Esta pulseira... — Ele fez uma pausa, olhando Kael com um brilho travesso no olhar. — Ela não faz nada.

— Como assim, nada? — Kael franziu a testa.

— É só um lembrete físico — Yoram deu de ombros. — Mesmo sem ela, desde o momento em que despertei naquela cela do castelo, sou mais rápido, mais forte. Algumas habilidades ainda são um mistério para mim, mas outras foram fundamentais nas lutas na prisão. Consigo roubar energia vital dos meus inimigos para aumentar minha força e velocidade — velocidade essa que ultrapassa os limites humanos. Posso criar ilusões incrivelmente realistas por um curto período, o que me dá uma vantagem estratégica. E, claro, minha regeneração. Qualquer ferimento, grave ou não, se cura. A velocidade depende da gravidade do dano... mas acredito que seja um bônus da imortalidade.

Kael se inclinou para frente, os olhos carregados de curiosidade.

— Eu já sabia que havia algo de estranho em você, Yoram... — murmurou, sorrindo de leve. — Mas isso... isso ultrapassa qualquer noção de normalidade.

Yoram riu suavemente, mas se limitou a isso. O assunto ficou pendente, uma incógnita que Kael sabia que ainda precisaria desvendar.

Foi então que Ágata se levantou da mesa, recolhendo os pratos. Ela havia permanecido em silêncio durante a conversa, mas agora, observava Yoram com uma expressão desconcertada.

— Eu sei... — começou ela, forçando um sorriso. — Sou uma ótima maga, mas como cozinheira... bem, digamos que essa não é a minha especialidade. A comida... bom, não é a melhor que você já provou.

Ela riu, um toque de autodepreciação na voz. Yoram arqueou uma sobrancelha, segurando o riso.

— Não está tão ruim assim — disse, esforçando-se para parecer convincente. — Mas só por curiosidade... você estava tentando fazer feijão ou isso foi uma invenção sua?

Ágata revirou os olhos, mais relaxada agora.

— Ok, ok, admito. Sou uma péssima cozinheira. Boldar normalmente cuida disso... quando não está ocupado sendo um gatinho, claro.

Kael e Yoram trocaram um olhar confuso.

— Um gatinho? — Kael repetiu, cético.

— Sim, Boldar é um demônio menor — Ágata explicou, dando de ombros. — Ele pode se transformar em um gato fofo. Foi assim que me enganou. Achei que fosse só um bichano de rua e o convidei para entrar... só para descobrir depois que ele era um demônio. Mas, pra ser sincera, ele nunca me mostrou sua forma verdadeira. Para mim, ele sempre teve um palmo de altura... até a noite em que acordei de madrugada e o encontrei martelando panelas na cozinha. Desde então, ele é o responsável por cozinhar.

Yoram soltou uma risadinha.

— Um demônio menor... — murmurou, pensativo. — Onde ele está agora?

— Provavelmente roubando alguma coisa. Ele é bom nisso. — Ágata deu de ombros e lançou um último olhar para a cozinha, resignada com o desastre culinário.

O clima ficou mais leve depois disso, mas Kael não conseguiu evitar seu incômodo com a situação do quarto. A casa estava em reforma, o que significava que ele e Yoram teriam que dividir um espaço. Kael, obviamente, não ficou nada satisfeito com a ideia.

Após uma breve discussão (quase uma disputa de território), ficou decidido que Yoram ficaria com o quarto, enquanto Kael dormiria na varanda coberta. Ele não era do tipo que fazia drama por uma cama, mas não estava exatamente feliz com a solução.

Yoram, por outro lado, parecia indiferente, pronto para descansar enquanto o trabalho de reforma continuava. Antes de se separar dos dois, Kael lançou um olhar para Ágata e viu a preocupação em seus olhos. Ela também tinha suas batalhas internas. E, de alguma forma, Kael sabia que ela estava tentando fazer o melhor por todos ali.

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