Fechando os olhos novamente, ele se concentrou. Seu poder demoníaco se espalhou pelo ambiente, captando resquícios de energia mágica ao redor. Precisavam de cura, e qualquer vestígio de magia restauradora poderia ser sua única esperança. — Há um traço… — Kael franziu a testa. — Não é forte, mas é recente. E está… na montanha. — Claro, porque as coisas nunca podem ser fáceis. — Yoran bufou, ajustando Boldar em seus braços. O guerreiro estava desacordado, mas sua respiração ainda era firme. — Se você morrer, eu mato você. — Boldar murmurou com um sorriso fraco. — E a Águi? Ela ainda está inconsciente. Se a movermos, podemos piorar a situação. — Então eu fico com ela. — Eu não esperava menos. Trocaram um olhar breve antes de se separarem. — Vamos. Kael e Yoran começaram a subir a montanha, os passos apressados pela urgência da situação. Mas, antes que pudessem alcançar o topo, um movimento na vegetação os fez parar. Folhas se agitaram, gravetos estalaram, e, de
Quando abriu os olhos, Kaito já não estava mais no quarto. O cheiro doce de jasmim chegou primeiro. O brilho dourado da cozinha realçava as flores sobre a mesa. Risadas infantis ecoavam Ele seguiu o som. Na cozinha, uma garotinha brincava ao lado de uma mulher de beleza exuberante. O sorriso dela era tão iluminado que chegava a incomodar. Próximo a elas, um homem as observava com uma felicidade genuína. Kaito franziu o cenho. Por um instante, pensou que a mulher fosse Ágata… Mas não era. Era a mãe dela. Kaito franziu o cenho. Algo estava errado. Um segundo atrás, a cozinha era um refúgio tranquilo; agora, o cheiro doce de jasmim se dissipava. O ar esquentava, e uma fina névoa subia do chão. Então veio o cheiro de fumaça. Gritos ecoaram. O mundo ao redor desmoronava." Kaito ouviu os gritos. A cena desmoronou, rápida e brutal, como se o próprio mundo tentasse engoli-lo. Agora, ele estava em um lugar escuro. No centro, uma garota de 13 ou 14 anos estava presa a
Mas sua inquietação persistia. Boldar e Yoran não saíam de seus pensamentos. Ela sabia que precisava descansar, que seu corpo ainda se recuperava, mas a preocupação falava mais alto. Esperou Kaito voltar a dormir e decidiu sair em silêncio. Se Kael percebesse, tentaria impedi-la, e ela não tinha energia para discutir. Os corredores estavam vazios, iluminados apenas pela luz suave da manhã. No entanto, a tranquilidade foi quebrada por gritos aflitos. — Agui, me solta! Ela vai machucá-lo! A demônio-tigre vai machucar o Boldar! — a voz desesperada de Yoran ecoou, e Ágata acelerou o passo. Ao empurrar a porta, encontrou Yoran amarrado a uma cadeira, debatendo-se furiosamente. Boldar jazia sobre a cama, um pano úmido sobre a testa, a respiração irregular. Perto dele, uma mulher alta e séria amassava folhas em um pilão. Ela ergueu os olhos para Ágata, mas não demonstrou surpresa com a entrada abrupta. — Ele está se curando. Demônios não podem ser costurados como humanos — explicou, s
Sem tempo para excitação, Kael seguiu o que Yoran disse: uma mente cheia não tem espaço para manipulação. Para sua sorte ou azar, na sua mente só havia Andrômeda, e eles nunca poderiam usá-la para manipulá-lo. Enquanto entrava no covil, Kael percebeu que o silêncio ecoava por todos os lados e sentiu algo estranho, como se algo estivesse errado. O cheiro de sangue impregnava o ar, misturando-se à umidade das paredes de pedra. Tochas fracas iluminavam o longo corredor, lançando sombras distorcidas que pareciam ganhar vida. Kael inspirou profundamente, o odor metálico e denso lhe trazendo uma sensação estranha. Ele caminhava à frente, seus passos ecoando no silêncio perturbador daquele covil imundo. Atrás dele, Yoran segurava a lâmina com força, seus olhos atentos. Boldar caminhava calmo e seguro de que nada aconteceria. Ordan protegia Alinna, que batia as asas devagar, como se elas acompanhassem os batimentos cardíacos dele. Kaito mantinha-se em silêncio, concentrado, os músculo
Kael esperou a chegada da guarda real e escoltou pessoalmente alguns dos escravos mais feridos até eles — talvez fugindo de si mesmo. — Capitão, devemos voltar agora. Não é seguro deixar Ágata e Boldar sozinhos, e Yoran precisa de cuidados — disse Ordan, observando a carruagem de escravos se afastar. — Sim, vamos — respondeu Kael, sem olhar para ele. Kael entrou sem pressa no quarto, que, por sinal, era o único lugar disponível para tratar a garota, já que Rarim estava mais ferida e precisava de atendimento urgente no laboratório. Yoran estava em seu próprio quarto, e Boldar e Leon só queriam dormir um pouco. Nada além. Se o rei ordenasse, ele mesmo se mataria, afinal, não via sentido em sua vida. Então, acomodou-se no que antes era seu quarto e agora voltara a ser a varanda. Kael olhou para Andrômeda com um misto de emoções: felicidade por tê-la perto, medo de que, ao acordar, ela não fosse a mesma, e desespero por vê-la ali, intocável. Seus olhos encheram-se de água. Ele
E agora, ela estava ali, diante dele, como se nada tivesse acontecido. — Bom dia — disse Alinna, sua voz suave, mas carregada de uma força que fez Ordan estremecer. — Procuro por Ágata, o Pecado da Gula. Pode me levar até ela? Aquela voz arrancou Ordan do turbilhão de lembranças, puxando-o de volta ao presente. Ele engoliu seco, tentando encontrar palavras, mas nada saiu. Apenas assentiu e indicou com um gesto para que ela o seguisse. Alinna entrou no quarto, seus passos quase inaudíveis. Seu olhar pousou sobre Boldar, deitado na cama, e a preocupação se refletiu em seus olhos. — Ele vai ficar bem? — perguntou ela, sem desviar os olhos de Ordan. — Vai sobreviver — respondeu ele, a voz rouca. — Demônios se curam de formas diferentes, mas ele é forte. Alinna assentiu em silêncio e seguiu Ordan até a sala onde Ágata estava, sentada à mesa, conversando com Kael e Yoran. Ao ver Alinna, o rosto de Ágata se iluminou. — Alinna! — exclamou, levantando-se para abraçar a fada
O sol já se escondia no horizonte, pintando o céu com tons de laranja e roxo. O grupo seguia determinado a encontrar Leon, o Pecado do Orgulho. Como ainda não tinham informações sobre Ordan, ele seria o próximo alvo. — Tá, mas se o Ordinário não vai e a espadachim muito menos... então não estão faltando só três? — questionou Kael, semicerrando os olhos. — Bem… é… — Yoran hesitou. — ACORDA, PORRA! — berrou de repente, jogando o que restava do pão na cara de Kael. Kael desviou a tempo, e o pão voou direto para a parede antes de deslizar dramaticamente até o chão. — Não j**a comida fora, demônio — repreendeu Kaito, balançando a cabeça. — Ei, isso foi um insulto? — protestou Kael, cruzando os braços. — Não leva pro coração, capitão — Yoran piscou. Ambos riram, mas Kaito olhava para o pão caído como se cogitasse um crime. No canto da cozinha, Ágata e Alinna observavam o diálogo sem se meter. — Então… — começou Ágata, cruzando os braços. — Não, mel, não me lembro. E não quero ter e
O dia passou, pessoas entraram e saíram do quarto, mas ele, não. E agora Boldar já não sentia mais dor. Seu corpo estava curado, renovado. — Regeneração de demônio... Só assim pra ter um rostinho lindo nesse lugar — murmurou, sorrindo sozinho. Ele se deitou, tentando dormir. Permaneceu imóvel quando Yoran entrou. Ele entrou em silêncio e depositou um beijo na testa de Boldar, a respiração baixa e o sussurro quase inaudível: — Boa noite, meu demônio. O sangue de Boldar ferveu, mas ele conteve até a respiração. Yoran tinha uma audição excelente, uma percepção aguçada. Qualquer palpitação e Yoran saberia que ele estava acordado. De qualquer forma, tê-lo ali era o suficiente. Mesmo que no outro dia ele sumisse de novo. — Ele tem um cheiro tão bom... — o pensamento surgiu e fez seu coração disparar. Mas se acalmou ao perceber que Yoran não parecia ouvir. Suspirou, aliviado. — Pare de pensar besteira e durma — a voz rouca de Yoran cortou o silêncio. — Quero comer bem amanhã, e pra isso você