Sem tempo para excitação, Kael seguiu o que Yoran disse: uma mente cheia não tem espaço para manipulação. Para sua sorte ou azar, na sua mente só havia Andrômeda, e eles nunca poderiam usá-la para manipulá-lo. Enquanto entrava no covil, Kael percebeu que o silêncio ecoava por todos os lados e sentiu algo estranho, como se algo estivesse errado. O cheiro de sangue impregnava o ar, misturando-se à umidade das paredes de pedra. Tochas fracas iluminavam o longo corredor, lançando sombras distorcidas que pareciam ganhar vida. Kael inspirou profundamente, o odor metálico e denso lhe trazendo uma sensação estranha. Ele caminhava à frente, seus passos ecoando no silêncio perturbador daquele covil imundo. Atrás dele, Yoran segurava a lâmina com força, seus olhos atentos. Boldar caminhava calmo e seguro de que nada aconteceria. Ordan protegia Alinna, que batia as asas devagar, como se elas acompanhassem os batimentos cardíacos dele. Kaito mantinha-se em silêncio, concentrado, os músculo
Kael esperou a chegada da guarda real e escoltou pessoalmente alguns dos escravos mais feridos até eles — talvez fugindo de si mesmo. — Capitão, devemos voltar agora. Não é seguro deixar Ágata e Boldar sozinhos, e Yoran precisa de cuidados — disse Ordan, observando a carruagem de escravos se afastar. — Sim, vamos — respondeu Kael, sem olhar para ele. Kael entrou sem pressa no quarto, que, por sinal, era o único lugar disponível para tratar a garota, já que Rarim estava mais ferida e precisava de atendimento urgente no laboratório. Yoran estava em seu próprio quarto, e Boldar e Leon só queriam dormir um pouco. Nada além. Se o rei ordenasse, ele mesmo se mataria, afinal, não via sentido em sua vida. Então, acomodou-se no que antes era seu quarto e agora voltara a ser a varanda. Kael olhou para Andrômeda com um misto de emoções: felicidade por tê-la perto, medo de que, ao acordar, ela não fosse a mesma, e desespero por vê-la ali, intocável. Seus olhos encheram-se de água. Ele
E agora, ela estava ali, diante dele, como se nada tivesse acontecido. — Bom dia — disse Alinna, sua voz suave, mas carregada de uma força que fez Ordan estremecer. — Procuro por Ágata, o Pecado da Gula. Pode me levar até ela? Aquela voz arrancou Ordan do turbilhão de lembranças, puxando-o de volta ao presente. Ele engoliu seco, tentando encontrar palavras, mas nada saiu. Apenas assentiu e indicou com um gesto para que ela o seguisse. Alinna entrou no quarto, seus passos quase inaudíveis. Seu olhar pousou sobre Boldar, deitado na cama, e a preocupação se refletiu em seus olhos. — Ele vai ficar bem? — perguntou ela, sem desviar os olhos de Ordan. — Vai sobreviver — respondeu ele, a voz rouca. — Demônios se curam de formas diferentes, mas ele é forte. Alinna assentiu em silêncio e seguiu Ordan até a sala onde Ágata estava, sentada à mesa, conversando com Kael e Yoran. Ao ver Alinna, o rosto de Ágata se iluminou. — Alinna! — exclamou, levantando-se para abraçar a fada
O sol já se escondia no horizonte, pintando o céu com tons de laranja e roxo. O grupo seguia determinado a encontrar Leon, o Pecado do Orgulho. Como ainda não tinham informações sobre Ordan, ele seria o próximo alvo. — Tá, mas se o Ordinário não vai e a espadachim muito menos... então não estão faltando só três? — questionou Kael, semicerrando os olhos. — Bem… é… — Yoran hesitou. — ACORDA, PORRA! — berrou de repente, jogando o que restava do pão na cara de Kael. Kael desviou a tempo, e o pão voou direto para a parede antes de deslizar dramaticamente até o chão. — Não j**a comida fora, demônio — repreendeu Kaito, balançando a cabeça. — Ei, isso foi um insulto? — protestou Kael, cruzando os braços. — Não leva pro coração, capitão — Yoran piscou. Ambos riram, mas Kaito olhava para o pão caído como se cogitasse um crime. No canto da cozinha, Ágata e Alinna observavam o diálogo sem se meter. — Então… — começou Ágata, cruzando os braços. — Não, mel, não me lembro. E não quero ter e
O dia passou, pessoas entraram e saíram do quarto, mas ele, não. E agora Boldar já não sentia mais dor. Seu corpo estava curado, renovado. — Regeneração de demônio... Só assim pra ter um rostinho lindo nesse lugar — murmurou, sorrindo sozinho. Ele se deitou, tentando dormir. Permaneceu imóvel quando Yoran entrou. Ele entrou em silêncio e depositou um beijo na testa de Boldar, a respiração baixa e o sussurro quase inaudível: — Boa noite, meu demônio. O sangue de Boldar ferveu, mas ele conteve até a respiração. Yoran tinha uma audição excelente, uma percepção aguçada. Qualquer palpitação e Yoran saberia que ele estava acordado. De qualquer forma, tê-lo ali era o suficiente. Mesmo que no outro dia ele sumisse de novo. — Ele tem um cheiro tão bom... — o pensamento surgiu e fez seu coração disparar. Mas se acalmou ao perceber que Yoran não parecia ouvir. Suspirou, aliviado. — Pare de pensar besteira e durma — a voz rouca de Yoran cortou o silêncio. — Quero comer bem amanhã, e pra isso você
Horas depois, ambos saíram do quarto para beber água. Caminhavam pelo corredor, os corpos ainda sensíveis, quando avistaram Alinna sentada no meio da cozinha. Ela estava imóvel, os olhos abertos, mas marejados. Lágrimas escorriam silenciosamente pelo rosto. — Alinna? — Yoran chamou, franzindo a testa. Ela não respondeu. — Mas que diabos…? — Yoran se aproximou, mas hesitou ao perceber que ela nem sequer piscava. Eles trocaram um olhar, e, sem perder tempo, Boldar correu para chamar Ágata. Quando ela chegou, olhou para Alinna e suspirou. — Ela está dormindo — disse simplesmente. — Isso parece qualquer coisa, menos sono — resmungou Yoran. — Confia em mim. Ágata se ajoelhou ao lado da fada e murmurou: — Adductus somno. Poucos segundos depois, Alinna desabou no chão, agora dormindo de verdade. Yoran passou a mão pelo rosto, exausto. — Se isso é o que nos espera no futuro, prefiro me aposentar. — Vai sonhando — retrucou Boldar. Na manhã seguinte, Alinna ainda
Kael foi o primeiro a voltar para casa. Ordam carregava Alinna nos braços com tanto cuidado que parecia temer que ela se quebrasse a qualquer instante. O silêncio só foi rompido quando ele a deitou na cama da varanda.— E então? Vai contar por que mentiu? — perguntou Kaito, escorado no batente da porta.— Eu não menti. Meu nome é Ordam de Mortraz. — Seu olhar encontrou o de Kaito, ambos sustentando uma expressão séria.— Então, a fada é sua amiga? — Kaito gesticulou na direção de Alinna, que dormia com um semblante tranquilo.Ordam a observou por um momento antes de responder.— Para mim, ela é muito mais que isso.A porta se abriu de repente, e Ágata entrou acompanhada por Boldar e Yoran, carregando suprimentos.— Vai ter que explicar direitinho por que fez a minha Nina chorar — disse Ágata, a expressão carregada de crítica e desconfiança.— Achei que fossem demorar — comentou Kael, lançando um olhar aos recém-chegados.— Ah, a gente ia, mas o Yoran usou a supervelocidade pr
Vinte e três longos dias se passaram até que chegaram a Moltrap, a aldeia onde os vampiros mantinham sua "fábrica".— E aí, capitão, qual é o plano? — perguntou Kaito, girando uma adaga entre os dedos.— Amigos, não sei vocês, mas eu quero tomar uma cerveja — disse Yoran.— Eu também — completou Kaito.— Segura a onda aí, senão você não vai a lugar nenhum — resmungou Boldar, lançando um olhar severo por cima do ombro.— Ih, capitão, tu vai sozinho, então — Yoran sacudiu a cabeça, em negação.— Pau-mandado — sussurraram Kael, Kaito e Ordan em uníssono.— Em minha defesa, não estou indo me embebedar. Vou buscar informações. Embebedar é só um brinde — retrucou o capitão, com um sorriso travesso.— Bem, ele está certo — disse Ágata, entrando na cozinha e se jogando em uma cadeira. — Vocês três vão ao bordel. Precisamos de informações.— Nós três? Eu não posso, Agui... — Yoran olhou para Boldar, hesitante.— Pode sim. Boldar também vai. Tenho um trabalho extra para ele.— Ah, qu