Vinte e três longos dias se passaram até que chegaram a Moltrap, a aldeia onde os vampiros mantinham sua "fábrica".— E aí, capitão, qual é o plano? — perguntou Kaito, girando uma adaga entre os dedos.— Amigos, não sei vocês, mas eu quero tomar uma cerveja — disse Yoran.— Eu também — completou Kaito.— Segura a onda aí, senão você não vai a lugar nenhum — resmungou Boldar, lançando um olhar severo por cima do ombro.— Ih, capitão, tu vai sozinho, então — Yoran sacudiu a cabeça, em negação.— Pau-mandado — sussurraram Kael, Kaito e Ordan em uníssono.— Em minha defesa, não estou indo me embebedar. Vou buscar informações. Embebedar é só um brinde — retrucou o capitão, com um sorriso travesso.— Bem, ele está certo — disse Ágata, entrando na cozinha e se jogando em uma cadeira. — Vocês três vão ao bordel. Precisamos de informações.— Nós três? Eu não posso, Agui... — Yoran olhou para Boldar, hesitante.— Pode sim. Boldar também vai. Tenho um trabalho extra para ele.— Ah, qu
Um dos vampiros percebeu que Yoran era um "exemplar raro" por causa dos olhos e insistiu que precisava avaliá-lo primeiro. Boldar, com sua lábia afiada, contornou a situação e permitiu que Yoran fosse com o vampiro. Yoran já estava se preparando para nocautear o vampiro caso ele tentasse tocá-lo, quando viu o próprio vampiro... de quatro na cama. Ele conteve a risada. Um vampiro alto, másculo, obviamente hétero, ali, se oferecendo. Isso era hilário. Antes que algo de fato acontecesse, Boldar entrou pela janela, imobilizou o vampiro e jogou o corpo debaixo da cama. — Olhou demais pra ele — disse Boldar, a expressão irritada. — Ciúmes, amor? — provocou Yoran, puxando-o para um beijo possessivo. Boldar correspondeu, mas prendeu a mão na costela de Yoran, pressionando com força, como se quisesse marcá-lo. — O que é isso? — Yoran perguntou, sentindo a dor e tocando a própria costela. — Uma marca. Mesmo no inferno, eu te acho — respondeu Boldar. Ele sorriu, indo
A tarde passou rápido em meio ao alvoroço pelo despertar de Kael. Todos na casa haviam se preparado para aquele momento, mas ver acontecer de fato algo tão improvável quanto um milagre era impressionante.— Cerveja e carne... Eu poderia viver feliz se tivesse só isso a vida inteira — disse Kaito, as bochechas avermelhadas e os olhos semicerrados. Mas, ao olhar para Ágata, pareceu reconsiderar suas palavras.Nos últimos anos, nada havia mudado entre eles. Continuavam com as mesmas provocações e brincadeiras de "amigos" de sempre. Talvez fosse o álcool, mas ele teve a estranha sensação de que nada jamais mudaria. Suspirou cansado e virou o restante da cerveja na caneca.— Nisso eu concordo — Ordan disse, um pouco atrasado na conversa.— Você concorda? — Alinna perguntou, carregando uma bandeja com carne de porco, a preferida de Ordan.— Claro que não, amor. Eu sentiria sua falta — respondeu ele, em tom bajulador.— ALGUÉM TIRA O ÁLCOOL DESSES BÊBADOS! — gritou Yoran, cambaleando e
O peso daquela simples confissão ainda pairava sobre ele, mas, pela primeira vez, Kaito se sentia pronto para enfrentá-la.Era para ser só um exercício, mas a raiva explosiva de Kaito transformou tudo em um treinamento físico ofensivo.— Como vou ter coragem de falar tudo isso para ela? Como se fosse algo tão fácil… — Ele murmurou, atirando uma pedra na direção de Kael.— É simples, diga o que sente. — Kael respondeu, cortando a pedra ao meio com a mão, como se fosse papel.— Não é tão fácil, capitão.— É sim, você que está complicando tudo. — A voz calma de Kael só fez Kaito ficar mais irritado, e ele avançou sobre o amigo com um golpe.— Está agindo como uma criança. — Kael disse, bloqueando o ataque e segurando o pescoço do amigo. O impacto deles no chão foi sentido até em casa.Kaito ficou caído, enquanto Kael se levantava.— Ser humano é difícil quando você não sabe nomear o que sente e não entende de onde esse sentimento vem. Então simplifica. Diga a ela: "Eu amo você". S
Kael seguiu o conselho de Yoran: uma mente cheia não tem espaço para manipulação. E, para sua sorte ou azar, sua mente estava ocupada apenas com Andrômeda. Ninguém jamais poderia usá-la contra ele. Ao entrar no covil, um silêncio opressor o envolveu. Algo estava errado. O cheiro de sangue impregnava o ar, mesclando-se à umidade das paredes de pedra. Mas além disso o que chamava atenção era o cheiro familiar mas quase imperceptível no ar, era cheiro de lírio. Tochas trêmulas lançavam sombras distorcidas pelo corredor estreito, como se figuras espectrais os observassem. Kael respirou fundo, o odor metálico e denso provocando uma tensão inquietante em seus músculos. Seus passos ecoavam pelo chão irregular, acompanhados pela presença vigilante de seus companheiros. Atrás dele, Yoran segurava firmemente sua lâmina, olhos atentos a qualquer movimento. Boldar caminhava com segurança, confiante de que poderiam lidar com qualquer coisa. Ordan protegia Alinna, que batia as asas em um
Kael apertou os braços ao redor dela e saiu do covil, sua mente fervilhando de perguntas. Ela estava viva. Mas ele a viu morrer. Como aquilo era possível?— Capitão? Está me ouvindo? — A voz de Alinna o trouxe de volta ao presente.— Sim. O que houve?— Temos um problema — ela disse, preocupada.Kael continuou carregando Andrômeda enquanto voltavam ao interior do covil. Ele a segurava como se fosse parte dele, recusando-se a soltá-la.Ao entrarem em um dos quartos, a cena diante deles foi um choque.Ágata estava ajoelhada sobre um corpo, chorando como uma criança enquanto tentava curar a pessoa.— Por favor, acorde. Abra os olhos, Rarim. Por favor... — sua voz era de puro desespero.O som do choro cortava o ar, deixando Kaito inquieto. Ele segurou as mãos de Ágata, tentando acalmá-la.— O lugar influencia. Vamos levá-la para casa. Sua irmã vai ficar bem.As palavras de Kaito deixaram Kael surpreso. Mas ele ainda era o capitão.— Boldar, leve-as de volta para casa. Kaito, vá
Kael esperou a chegada da guarda real e escoltou pessoalmente alguns dos escravos mais feridos até eles — talvez estivesse fugindo de si mesmo.— Capitão, devemos voltar agora. Não é seguro deixar Ágata e Boldar sozinhos, e Yoran precisa de cuidados — disse Ordan, observando a carruagem de escravos se afastar.— Sim, vamos — respondeu Kael, sem olhar para ele.Ele entrou sem pressa no quarto, que, por ora, era o único lugar disponível para tratar Andrômeda. Rarim estava mais ferida e precisou de atendimento urgente no laboratório, Yoran repousava em seu próprio cômodo, e Boldar e Leon apenas queriam dormir um pouco. Nada mais. Se o rei ordenasse, Kael se mataria sem hesitar. Afinal, sua vida não tinha mais sentido. Acomodou-se, então, no que antes era seu quarto, mas que agora se resumia à varanda.Ele olhou para Andrômeda com um turbilhão de emoções. Felicidade por tê-la ali, medo de que, ao acordar, ela não fosse mais a mesma, e desespero por vê-la assim, intocável. Seus olhos s
— Por favor, Kaito, traga ela de volta, como fez comigo! Por favor! — Ágata gritava, os joelhos cravados no chão, as mãos tremendo enquanto seguravam a bainha da roupa de Kaito.Ele se ajoelhou diante dela, os olhos sombrios refletindo a dor que compartilhavam.— Agui, não funciona assim. A Rarim... ela não está ferida da mesma forma. A dor dela é diferente. Eu daria minha vida para trazê-la de volta, mas agora, ela tem que querer voltar. Algo prendia você aqui, você queria se curar... Mas ela desistiu.Ágata balbuciou palavras ininteligíveis entre soluços.— Não... não... Rarim, eu voltei! Rarim, acorda, por favor!Uma voz inesperada interrompeu seu desespero.— Eu posso ajudar. — Andrômeda surgiu, caminhando com dificuldade, apoiada em Kael. Seu rosto estava pálido, e o corte profundo em sua barriga mal havia parado de sangrar.Ágata levantou a cabeça, a esperança tingindo seus olhos molhados.— Você pode trazê-la de volta?Andrômeda apoiou-se mais firmemente em Kael e sorr