Era para ser só um exercício, mas a raiva explosiva de Kaito tornou tudo um treinamento físico ofensivo. — Como vou ter coragem de falar para ela tudo isso? Como se fosse algo tão fácil... — Ele disse, atirando uma pedra na direção de Kael. — É simples, diga o que sente. — Kael respondeu, cortando a pedra ao meio com a mão, como se fosse papel. — Não é tão fácil, capitão. — É sim, você que está complicando tudo. — A voz calma de Kael deixou Kaito ainda mais bravo, fazendo-o avançar sobre ele com um golpe. — Está agindo como uma criança. — Kael disse, bloqueando o golpe e segurando o pescoço do amigo. O impacto deles no chão foi sentido até em casa. Kaito ficou no chão enquanto Kael se levantou. — Ser humano é algo difícil quando você não sabe nomear o que sente e não entende de onde esse sentimento vem. Então simplifica. Diga a ela: "Eu amo você". Se ela perguntar "o quê?" ou "desde quando?", aí você explica. Dê datas, fale do cheiro que sentiu na primeira vez que a viu,
Sem tempo para excitação, Kael seguiu o que Yoran disse: uma mente cheia não tem espaço para manipulação. Para sua sorte ou azar, na sua mente só havia Andrômeda, e eles nunca poderiam usá-la para manipulá-lo. Enquanto entrava no covil, Kael percebeu que o silêncio ecoava por todos os lados e sentiu algo estranho, como se algo estivesse errado. O cheiro de sangue impregnava o ar, misturando-se à umidade das paredes de pedra. Tochas fracas iluminavam o longo corredor, lançando sombras distorcidas que pareciam ganhar vida. Kael inspirou profundamente, o odor metálico e denso lhe trazendo uma sensação estranha. Ele caminhava à frente, seus passos ecoando no silêncio perturbador daquele covil imundo. Atrás dele, Yoran segurava a lâmina com força, seus olhos atentos. Boldar caminhava calmo e seguro de que nada aconteceria. Ordan protegia Alinna, que batia as asas devagar, como se elas acompanhassem os batimentos cardíacos dele. Kaito mantinha-se em silêncio, concentrado, os músculos
Houve um tempo em que os gigantes esculpiam montanhas com as mãos nuas, as fadas dançavam em florestas de cristal, e os demônios brindavam com vinho sob a luz de duas luas. A Terra era uma tapeçaria de raças, tecida com magia e sangue. Mas o equilíbrio é frágil, e a ganância dos deuses, ainda mais.Nas ruínas de um mundo outrora grandioso, Andrômeda observava o céu, o olhar perdido entre as estrelas. O eco da voz de Kael era longínquo, mas presente. Ela sentia o sangue escorrer entre os dedos que freneticamente pressionavam o ferimento profundo em seu ventre.— Não, não, não… mil vezes eu, mas minha Deusa, não. — A voz de Kael era um lamento desesperado. O peso da culpa apertava seu peito enquanto ele segurava Andrômeda contra si, tentando aquecer o corpo que esmorecia.— Abre os olhos, por favor… fica comigo. Não me deixa. Eu não quero… eu não consigo ficar aqui sem você.O pranto dele se misturava ao cheiro de ferro no ar.— Ela está morta, demônio. Você já destruiu a vida dela
Doze dias se passaram até que kael abrisse os olhos novamente, seu corpo ainda estava pesado e seus olhos demoravam a se acostumar com a luz que passava pela janela. “Se sente melhor ?" Disse Ágata colocando uma bandeja com frascos e remédios em cima do criado mudo. Kael se assustou mas não demonstrou. "Quem é você " "Tenho várias respostas, mas nenhuma delas convincentes o suficiente pra eu não parecer uma ameaça" ela sorriu, tentando tocar na faixa que protegia o ferimento dele "Não se preocupe, quando eu cheguei até você,você já estava morto capitão, se eu quisesse você morto eu só precisava deixar você lá" ele se recostou no travesseiro deixando que ela tocasse nele "Qual o seu nome?" "Me chamam de Agatha" "Agatha, por que fez isso? " " isso ?" "Por que me tirou de lá?" "Podia dizer que foi por empatia, mas nunca provei esse sabor de cerveja" "Cerveja ?" "É brincadeira" "É uma história bem longa,mas..." "Andrômeda..." interrompeu kael segurando o pulso dela "Antes que me conte s
Kael cambaleou até o quarto, sentindo o mundo girar ao seu redor. Ele estava bêbado, muito mais do que deveria estar, e o mais estranho era que Agatha, que havia bebido ainda mais que ele, parecia perfeitamente sóbria. Algo nisso o incomodava, mas seus pensamentos estavam turvos demais para se aprofundar nisso agora. Tudo o que queria era dormir. Fechar os olhos e esquecer. Quem sabe, se tivesse sorte, sonharia com Andrômeda. Mas mesmo a embriaguez não foi capaz de enganá-lo. A realidade era cruel e implacável. Andrômeda estava morta. A dor veio como uma lâmina cravada no peito, roubando seu ar. Seu corpo ficou pesado, os músculos recusando-se a obedecer, e ele desabou na porta do quarto. O chão frio contra seu rosto não trouxe nenhum alívio. Com esforço, ele se arrastou até a fechadura, forçando a porta a se abrir. O cheiro que o atingiu fez seu coração falhar uma batida. O perfume delicado flutuava pelo quarto, preenchendo cada canto. Andrômeda amava lírios. Sempre dizia q
Kael desceu do sótão, ainda com a mente ocupada pelo encontro inesperado com o tal Boldar. Ele caminhava pelo corredor em direção ao quarto quando algo fora da casa chamou sua atenção.Ao passar por uma das janelas, parou de súbito. Lá fora, uma das árvores se moveu. Não foi um balanço de vento ou o farfalhar comum das folhas. Ela realmente se moveu, deslizando pelo solo como se estivesse viva.Franziu o cenho, inclinando-se um pouco mais para observar melhor. Outra árvore repetiu o movimento, depois outra, e mais outra, como se a floresta estivesse… caminhando.Foi então que a lembrança das palavras de Agatha lhe atingiu."A casa anda em reforma."Ele piscou. Aquilo não havia sido uma metáfora. A casa realmente andava.Kael recuou um passo, dessa vez observando melhor a estrutura ao seu redor. Por fora, a casa parecia pequena, quase insignificante, mas ali dentro… ela era imensa, confortável, aconchegante de um jeito estranho. Isso exigia um nível de magia altíssimo.Ele soltou um ri
Depois de algumas horas de viagem, a quietude se tornou inevitável, e o silêncio da estrada incomodava Kael. Os galhos das árvores balançavam sob o vento, criando sombras esguias pelo caminho de terra. EraO tipo de silêncio que antecedia um problema.Kael levou a mão ao cabo da espada.— Você sente isso? — ele perguntou.— Você sente coisas demais — Ágata retrucou. — Mas sim, eu sinto.Antes que Kael pudesse responder, um estalo veio da floresta.— Emboscada — ele murmurou.O ataque veio rápido. Seis figuras encapuzadas emergiram das sombras, lâminas brilhando à luz do entardecer.— Sejam bonzinhos e deixem as bolsas, e ninguém sai ferido — um dos ladrões disse.Kael sorriu.— Eu tenho uma proposta melhor: vocês correm, e eu não quebro seus dentes.O líder riu.— Engraçadinho. Pena que sua sorte acaba aqui...O soco de Kael o atingiu antes que ele terminasse a frase. O homem caiu como um saco de batatas. O caos se instaurou.Kael se movia como um trovão, desviando de golpes e revidan
O cheiro forte e envolvente do café recém passado dominava o ambiente, despertando lentamente os sentidos de quem ainda repousava. O sol da manhã filtrava-se pelas janelas da cozinha, projetando sombras suaves sobre a madeira envelhecida da casa. As paredes de pedra e a mesa rústica de carvalho compunham o cenário onde Boldar estava, encostado no batente da porta, a xícara de barro repousando entre os dedos longos. Seus olhos vermelhos eram uma lâmina contra a penumbra—um brilho inquietante, quase melancólico. O cabelo negro escorria sobre os ombros, com uma única mecha branca destoando no topo da cabeça. Ele parecia uma obra-prima inacabada—força crua e beleza trágica em uma só figura.Kael estava sentado à mesa, o corpo inclinado para trás na cadeira, como se não tivesse um único peso no mundo. Seus olhos Âmbar eram tão cortantes quanto o fio de uma lâmina, e os músculos sob a pele marcada por cicatrizes contavam histórias que ele nunca se daria ao trabalho de narrar. Seu cabelo ca