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CAPÍTULO 7: Kaito, o Pecado da Luxúria

O cheiro de terra molhada ainda impregnava o ar quando Kael, Yoran e Ágata saíram da taverna. A chuva havia transformado a estrada em um lamaçal infernal, mas quem ali tinha tempo para reclamar? Eles tinham um objetivo: chegar a Merlin e tirar Kaito da prisão antes do almoço. Poderiam enfrentar qualquer coisa, menos a fome de Ágata ao meio-dia.

O caminho era longo, mas nada que os três já não estivessem acostumados. Kael seguia na frente, focado, calado como sempre. Yoran caminhava ao lado de Ágata, que ajeitava a capa, tentando ignorar o frio que insistia em se infiltrar em suas roupas.

— Então… Kaito, hein? — Yoran quebrou o silêncio, lançando um olhar de canto para Ágata.

Ela bufou.

— O quê? Vamos ficar calados até Merlin?

Ágata ergueu a sobrancelha.

— Sim, me agradaria, de fato, ser agraciada pelo som inebriante do seu absoluto silêncio.

Kael soltou um riso abafado, sem tirar os olhos do caminho.

— Eu, hein? Que mau humor. — Disse Yoran entre dentes, ajeitando a capa.

Depois de algumas horas de caminhada, a cidade de Merlin surgiu diante deles. Ruas estreitas de pedra, casas gastas pelo tempo — um lugar onde ninguém confiava em ninguém. Os olhares desconfiados dos moradores eram um sinal claro de que aquele lugar escondia mais segredos do que deveria.

Mas eles não estavam ali para socializar.

Seguiram direto para a Prisão do Coração de Ferro, um pedaço do inferno fincado no meio da cidade. Muitos entravam ali, poucos saíam. E os que saíam… saíam quebrados.

O selo do rei lhes garantiu passagem segura e rápida. Os guardas os levaram até a cela onde Kaito estava.

— É isso? — Disse Yoran, surpreso. — Isso parece um mendigo. — Completou com desdém.

Kaito estava sentado no chão, encostado na parede de pedra, os braços cruzados sobre o peito nu. Seus cabelos pretos desgrenhados caíam sobre os olhos amendoados, e a barba malfeita dava ao seu rosto um ar mais bruto. Mesmo preso há tanto tempo, sua presença ainda era marcante. Forte, corpulento, mas o que mais chamava atenção eram aqueles olhos astutos, sempre avaliando tudo ao redor.

Ao perceber a presença deles, Kaito ergueu o olhar e sorriu. Seus olhos deslizaram até Ágata, brilhando com interesse.

— Posso ajudar, senhorita?

Ágata cruzou os braços, sem dar muita abertura.

— A gente veio com ela, cara. — Disse Yoran.

— Foi mal, cara. Não tenho nada contra, mas não gosto de homens… só de mulheres.

Kael foi direto ao ponto.

— Viemos te tirar daqui.

Kaito inclinou a cabeça, curioso.

— E por que eu iria com vocês?

Ágata respondeu antes que Kael pudesse abrir a boca:

— Porque precisamos de um estrategista. Alguém que saiba como um inimigo pensa antes mesmo dele agir.

— Ah… então querem usar meu talento, é isso? — Ele sorriu de canto, divertido.

Kael sustentou o olhar.

— Se preferir pensar assim.

Kaito se levantou, alongando os músculos. Mesmo preso, continuava imponente, cada movimento calculado. Então, aproximou-se das grades e, sem disfarçar, fixou os olhos em Ágata.

— E você? Também precisa de mim?

Ela segurou o olhar, firme.

— Preciso de um aliado.

O sorriso de Kaito cresceu.

— Você sabe escolher as palavras… gostei disso.

Os guardas destrancaram a cela. Kaito saiu, sacudindo os ombros como se tirasse o peso dos anos de confinamento. Passou os dedos pelos cabelos negros, ajeitando-os sem pressa.

— Certo. Vamos sair daqui. Vou tomar um banho, cortar o cabelo e fazer a barba. Preciso de um trato para ficar perto de você, minha deusa. — Ele beijou a mão de Ágata quase com devoção.

— Vejo vocês daqui a algumas horas. — Disse, desaparecendo como fumaça.

Os três permaneceram perplexos, parados, sem reação.

— Ele fugiu? Vamos atrás dele?

— Sim… depois do almoço.

— Está pensando em comida agora?!

— Agora? Enfim… Vamos. Garanto que ele vai voltar. Só não sei quando.

Kael não parecia nem um pouco surpreso. Apenas suspirou, ajeitando a capa sobre os ombros.

— Se ele disse que volta, ele volta.

Yoran, por outro lado, não conseguia acreditar no que acabara de acontecer.

— Mas ele simplesmente sumiu! Sumiu! Como é que vocês estão tão tranquilos?

Ágata, que já caminhava em direção à saída da prisão, lançou um olhar entediado por cima do ombro.

— Por que a surpresa? Queria ficar com ele mais um pouquinho?

— Ele é bonitinho, mas não faz o meu tipo. Não posso falar por você, seu coração estava tão acelerado que achei que ele fosse sair daí de dentro e pular em cima do Kaito.

Ágata revirou os olhos e bufou.

— Ele é um cretino que manipula emoções, então não vale.

— Ah, com certeza — Kael murmurou, ajustando a espada na cintura. — Mas um cretino útil.

Saíram da prisão sem pressa. Kaito que se virasse para encontrá-los depois. Se fosse esperto — e ele era — sabia onde estavam hospedados.

O cheiro de carne assada e pão recém-saído do forno logo tomou conta do ar, e foi o bastante para Yoran mudar de foco.

— Certo, já que temos tempo até nosso “amigo” decidir voltar… Eu voto por comer alguma coisa.

Ágata assentiu.

— Eu também.

Kael passou a mão pelo rosto, incrédulo.

— Vocês não prestam.

Mas no fundo, ele também estava com fome.

Foram para uma taverna discreta, na parte mais afastada da cidade. Aquele tipo de lugar onde as pessoas falam baixo, trocam informações e não fazem perguntas desnecessárias. Escolheram uma mesa no fundo, longe dos olhos curiosos.

Pediram carne, pão e cerveja.

Ágata comeu calada, ainda ruminando a audácia de Kaito. Aquele homem era insuportável!

Kael percebeu.

— Não gostou dele?

Ela bufou.

— Ele flerta com qualquer coisa que respira.

Yoran riu.

— Verdade. Mas duvido que ele seja tão bom quanto acha que é.

Kael pegou um pedaço de pão, pensativo.

— Ele é um manipulador nato. Não duvide do que ele é capaz.

— Ótimo — Ágata cruzou os braços. — Acabamos de recrutar um homem que pode nos manipular sem que percebamos.

— Você percebeu, não percebeu? — Kael ergueu uma sobrancelha.

Ágata abriu a boca para responder… mas nada saiu.

Kael sorriu de canto.

— Então, você já está um passo à frente.

Ela odiava quando ele estava certo.

Horas se passaram. O sol já começava a baixar no horizonte quando uma figura apareceu na porta da taverna.

— Kaito? — disse Yoran, surpreso.

— Seu barbeiro é um mago? Não sabia que barbeiro fazia mágica.

Todos riram da piada.

Os olhos de Ágata, que ainda não tinham se voltado para Kaito, agora estavam paralisados com o que viam.

Os cabelos negros estavam mais curtos, alinhados. A barba por fazer havia sumido, revelando a pele lisa e impecável. As roupas gastas da prisão tinham sido trocadas por um traje escuro bem ajustado ao corpo. Mas o olhar… aquele continuava o mesmo.

Ele caminhou até a mesa deles, um sorriso insolente brincando nos lábios quando seus olhos encontraram os de Ágata.

— Sentiu minha falta, deusa?

Ágata se recusou a reagir.

Kael fez um gesto com a cabeça.

— Sente-se.

Kaito puxou uma cadeira e se acomodou, relaxado. O cheiro dele agora era limpo, com um leve toque amadeirado.

— Então… para onde vamos agora?

— A gente eu não sei, mas se o coração da Águi continuar acelerado assim, ele vai parar em outro continente.

Ele riu, brincalhão, mas antes que pudesse continuar se divertindo, as pontas dos dedos de Ágata brilharam em azul, movendo a cadeira e fazendo Kaito cair desajeitado no chão.

— Idiota. Devo repreender o Boldar por andar seminu pela casa, Yoran?

— A visão de um gatinho na casa é muito boa, todos nós perderíamos. — Ele respondeu, se levantando e acariciando a cabeça, onde provavelmente tinha se ferido.

— Vamos embora, está vindo uma tempestade, e eu quero estar em casa antes de ela chegar.

— Posso levar você nos braços, minha deusa? — disse Kaito prontamente.

— Eu posso levitar, mas agradeço.

Ele suspirou, frustrado.

— Quem chegou por último paga.

Não houve protestos.

— Você pagou a comida, então acho justo que decidamos pra onde vamos agora — disse Ágata, pousando a taça na mesa.

Kaito ergueu as mãos em rendição.

— Justo. Vamos pra casa, então.

Yoran suspirou.

— E lá vamos nós.

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