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CAPÍTULO 6: A ilusão de Lake, o chefe da guarda real

O cheiro forte e envolvente do café recém passado dominava o ambiente, despertando lentamente os sentidos de quem ainda repousava. O sol da manhã filtrava-se pelas janelas da cozinha, projetando sombras suaves sobre a madeira envelhecida da casa. As paredes de pedra e a mesa rústica de carvalho compunham o cenário onde Boldar estava, encostado no batente da porta, a xícara de barro repousando entre os dedos longos. Seus olhos vermelhos eram uma lâmina contra a penumbra—um brilho inquietante, quase melancólico. O cabelo negro escorria sobre os ombros, com uma única mecha branca destoando no topo da cabeça. Ele parecia uma obra-prima inacabada—força crua e beleza trágica em uma só figura.

Kael estava sentado à mesa, o corpo inclinado para trás na cadeira, como se não tivesse um único peso no mundo. Seus olhos Âmbar eram tão cortantes quanto o fio de uma lâmina, e os músculos sob a pele marcada por cicatrizes contavam histórias que ele nunca se daria ao trabalho de narrar. Seu cabelo castanho estava bagunçado, caindo de forma preguiçosa sobre a testa. Havia algo no jeito como ele se movia—letal, despreocupado, mas sempre pronto para explodir em violência.

Yohan, por outro lado, parecia se divertir com tudo aquilo. Alto, esguio, mas com músculos firmes esculpidos pelo hábito de estar sempre em movimento. Seu cabelo escuro caía em ondas suaves até os ombros, preso de qualquer jeito, como se ele nunca tivesse paciência para cuidar da própria aparência. O sorriso era sempre um convite ao perigo—preguiçoso, quase provocativo, mas com um brilho de astúcia que deixava qualquer um em alerta.

Ágata os observou de braços cruzados, franzindo o cenho.

— São três homens e eu sou uma mulher… e tá todo mundo sem camisa?

Kael ergueu uma sobrancelha, sem pressa alguma para cobrir o peito nu.

— Dormimos assim.

Yohan sorriu.

— Se quiser tirar a sua também, ninguém aqui vai reclamar.

A resposta veio na forma de um pedaço de pão arremessado em sua direção.

— Idiota.

Boldar riu baixinho.

— Vocês são impossíveis.

Eles se alimentaram sem pressa. Quando terminaram, Yohan perguntou:

— Alguma pista sobre onde encontrar o próximo Pecado?

Ágata bebeu o último gole do café antes de responder:

— A cidade de Merlin.

Kael cruzou os braços.

—Ajudaria muito, se tivesse um pouco mais que nome ou raça deles não é?

—é, mas seria muito fácil, e você odeia monotonia – Yoram sorriu com desdém.

— E onde vamos conseguir informações sobre ele?

—Não seja pessimista cara, pode ser ela –disse Yoram animado

Ágata sorriu de lado.

— Em uma taverna. Homens adoram beber e fofocar.

Yohan e Kael protestaram ao mesmo tempo:

— Ei!

— Isso não é verdade!

Mas, no final, seguiram-na de qualquer jeito.

Boldar apenas os observou, encostado no batente da porta, os olhos vermelhos brilhando.

— Eu fico. Não gosto de me molhar, nem de entrar em confusão à toa.

Yohan bufou.

— Você só não gosta de sair da sua zona de conforto.

Boldar sorriu.

— Exatamente.

O céu estava nublado e, em pouco tempo, a chuva, que antes era uma garoa fina, tornou-se forte e intimidadora. Os raios e a lama deixaram o caminho pela floresta intransitável. Por mais que tivessem uma licença do rei para tirar Kaito da prisão, temiam que a população local não ficasse contente com a decisão.

— Ágata, está tudo bem? — perguntou Kael, preocupado. Ágata estava há muito tempo com a mão protegendo a barriga.

— Olha — ela mudou de assunto — uma taverna. Vamos parar e tentar recolher informações. Sejam discretos.

Os dois assentiram com a cabeça.

A Taverna do Falcão Negro era um buraco decadente. O chão de madeira rangia sob os pés dos clientes embriagados, e o ar cheirava a cerveja fermentada, suor e carne assada. Homens riam alto, engrossando suas histórias de batalha, enquanto outros apostavam em jogos de dados e cartas.

O grupo se sentou em um canto discreto, observando. Não demorou muito para que percebessem Lake, o capitão dos Fúria da Noite e um dos comandantes da guarda real.

Ele estava no centro do salão—grande, robusto, com uma barriga ligeiramente protuberante, mas ombros largos e braços fortes. Sua armadura parecia gasta, mas ainda imponente, e sua espada repousava sobre a mesa ao lado de uma caneca cheia. Falava alto, gabando-se de feitos passados, enquanto os homens ao redor riam e brindavam.

Bêbado e descuidado, em um gesto brusco, ele atirou uma garrafa na direção da porta.

Kael, que passava naquele momento, desviou habilmente, mas seu braço bateu contra a garrafa, fazendo-a estourar contra a parede.

— Ei, cuidado aí.

Lake se virou, irritado.

— Tá falando comigo?

— Só pedi para tomar cuidado — disse Kael, tranquilo.

O sujeito se levantou, exibindo um sorriso convencido.

— Você sabe com quem está falando? Eu sou um dos Cavaleiros da Guarda Real! Um dos Fúrias da Noite!

Ágata tentou intervir.

— Vamos nos acalmar, não precisa brigar…

Mas, para sua surpresa, o homem a empurrou.

Kael se moveu rápido. Antes que ele pudesse tocar em Ágata novamente, segurou seu braço com força.

— Não toque nela.

Yohan se encostou na parede, observando a cena com um sorriso divertido.

— Ah, agora ficou interessante.

O Fúria da Noite puxou sua espada.

— Você acha que pode me desafiar?

Antes que Kael pudesse responder, Yohan revirou os olhos.

— Deixa eu adivinhar… você quer lutar com alguém desarmado e acha que isso prova alguma coisa?

O homem ficou vermelho de raiva, mas Yohan apenas sorriu e se virou para Kael e Ágata.

— Vamos embora. Não vamos conseguir nada útil aqui.

Kael soltou o braço do homem e se afastou.

— ESPEREM AÍ, SEUS MALDITOS! VOCÊS VÃO PAGAR POR SUA AFRONTA! DAREI A VOCÊ O MESMO DESTINO DO DEMÔNIO DA LUXÚRIA!

Ágata trocou um olhar com Yohan, interessada no que Lake tinha a dizer.

— Sim, fui eu! — bradou ele, levantando a caneca. — Eu sou o responsável por prender Kaito, o demônio da luxúria! Aquele que dizem ser tão forte que pode manipular mentes! Acham que um homem como eu pode ser manipulado? É claro que não!

Kael permaneceu em silêncio, ouvindo.

O homem riu, virando-se para encará-lo.

— O que foi? Quer que eu repita?

Ágata, percebendo a tensão no ar, tentou intervir.

— Deixa isso pra lá, Kael — sussurrou.

Mas antes que pudesse recuar, sentiu a mão pesada do homem segurando seu braço com força.

Foi rápido demais.

Kael segurou o pulso de Lake antes que ele pudesse machucar Ágata. Num só golpe, socou seu rosto. O impacto o jogou contra a parede, e ele caiu cuspindo sangue.

— O Pecado da Luxúria não deve ser tão forte assim se até você conseguiu capturá-lo — Kael disse, com um sorriso de canto.

Lake, furioso, atacou. Mas então, sua lâmina atravessou o abdômen de Kael… e não fez nada.

O silêncio tomou conta da taverna.

Yohan sorriu.

— Informação suficiente, Ágata?

— Sim.

A ilusão se desfez.

Kael, então, desferiu um soco final, deixando Lake inconsciente.

— Você nunca negocia, né? — Yohan suspirou.

Kael virou-se.

— Vamos.

Sem olhar para trás, partiram para Merlin.

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