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CAPÍTULO 4: Boldar, o demônio gato

Cambaleando pelo corredor estreito, Kael sentia o mundo girar a cada passo. O vinho pesava em seu sangue mais do que deveria, e algo lhe dizia que Agatha, apesar de ter bebido ainda mais, permanecia sóbria por um motivo que ele ainda não conseguia decifrar. Mas seus pensamentos estavam turvos demais para isso agora.

Tudo o que queria era dormir. Fechar os olhos. Esquecer. Quem sabe, se tivesse sorte, sonharia com Andrômeda.

Mas nem mesmo a embriaguez foi capaz de enganá-lo. A realidade era implacável. Andrômeda estava morta.

A dor veio como uma lâmina afiada, cravando-se fundo em seu peito. O ar fugiu de seus pulmões, os músculos travaram, e ele desabou contra a porta do quarto. O chão frio sob seu rosto não trouxe alívio algum.

Com esforço, arrastou-se até a fechadura, forçando a porta a se abrir. Assim que o fez, um perfume familiar o envolveu.

Kael parou.

O cheiro delicado pairava no ar, preenchendo cada canto do cômodo. Lírios. Andrômeda amava lírios. Dizia que eram flores fortes, capazes de florescer até nos solos mais áridos.

A lembrança foi uma lança atravessando seu peito, mas ele não teve forças para fugir dela.

Como um homem à beira da morte, alcançou a cama. Dessa vez, não houve resistência. Nenhum orgulho, nenhuma tentativa de controle. Apenas dor.

Kael chorou.

Chorou como nunca havia chorado antes, nem mesmo quando criança. A perda esmagava seus ossos, sufocava sua alma, fazia seu corpo tremer em espasmos involuntários. A risada suave de Andrômeda ecoava em sua mente, um sussurro distante tentando alcançá-lo. O calor daquela lembrança fazia seu coração acelerar e, ao mesmo tempo, se despedaçar ainda mais.

Mas ele sabia.

Sabia que nunca mais a veria.

E essa certeza doía mais do que qualquer ferida.

Exausto, rendido à própria dor, ele adormeceu.

Kael despertou com o som insistente de batidas na porta. Sua mente ainda estava turva, resquícios da bebida da noite anterior pesando em seus pensamentos. Tentou se mover e percebeu que estava seminu. Antes de responder, puxou um lençol qualquer para cobrir-se.

— Entre.

Supôs que fosse Agatha. Afinal, só os dois estavam ali.

A porta se abriu, revelando a mulher, que cruzou os braços e apoiou-se no batente, o olhar carregado de deboche.

— Precisa tomar mais cuidado. E se não fosse eu? Como pode simplesmente dar permissão para qualquer um entrar?

Kael suspirou, passando a mão pelo rosto.

— Só estamos nós dois aqui. Era óbvio que era você.

Ela inclinou a cabeça de lado, como se estudasse sua resposta.

— Capitão, sabia que vampiros e alguns demônios menores precisam de permissão para entrar na sua casa?

Ele arqueou uma sobrancelha.

— Isso me cheira a lenda.

— O príncipe do inferno também era uma lenda até alguns dias atrás… e aqui está você, seminu, na minha casa.

Kael riu sem graça e se sentou na cama, massageando as têmporas.

— Certo, certo. Algum motivo específico para essa visita?

Agatha desviou o olhar para a janela, como se procurasse algo.

— Partiremos em algumas horas. Vim avisar para que não se assuste.

Ele franziu o cenho.

— Me assustar?

— Sim. A casa está em reforma, pode ouvir alguns barulhos estranhos.

Ele não acreditou nem por um segundo.

— A casa está em reforma... enquanto viajamos?

— Sim — respondeu Agatha, ignorando a provocação. — Estamos sem suprimentos e, além disso, um dos nossos amigos está preso em Barzzard. Se não o tirarmos de lá logo, ele morre.

— Espera, como assim? – kael perguntou ainda intrigado — é magia ,encantamento ou tem um bicho gigante levando a casa nas costas?

Ágata gargalhou

— é magia meu irmão

— irmão? – kael perguntou sorrindo

— é, as vezes parece que você é um irmão mais velho pra mim, mas agora precisamos ir.

Kael se espreguiçou e se levantou, enrolando melhor o lençol na cintura.

— Bem, enão me incomodaria em ser irmão de uma maga tão poderosa, e quando chegamos lá?

— Dois ou três dias, se tivermos sorte.

— Quem é ele?

Agatha cruzou as pernas e se sentou no parapeito da janela, tamborilando os dedos no joelho.

— O nome dele é Yoram.

Kael aguardou, esperando que ela continuasse.

— Ele cresceu sem nada, viu a miséria de perto e entendeu que, se não tomasse o que precisava, ninguém lhe daria. Era um ladrão, mas não por maldade. Roubava para sobreviver. Com o tempo, percebeu que não era o dinheiro que o movia… era a liberdade. Quanto mais tinha, mais livre se sentia.

Kael permaneceu em silêncio, absorvendo as palavras.

— Certa noite, se juntou a um grupo para um grande roubo. Ele não sabia todos os detalhes e, no fim, foi uma armadilha. O castelo pegou fogo, inocentes morreram... incluindo alguém que o ajudou muito no passado. Alguém que ele nunca quis machucar.

A expressão de Kael se fechou. Ele conhecia bem o peso da culpa.

— Ele fugiu e sumiu por um tempo. Mas, depois, reapareceu, ferido, do lado de fora de uma caverna ao norte do reino. Como já era procurado, foi levado de volta e condenado à morte.

— Então ele será o pecado da ganância.

— Sim, mas também pelo poder dele.

— Poder?

— Sim. Quando os guardas o interrogaram, ele disse que procurava o portão do inferno.

Os olhos de Kael brilharam com interesse.

— Por quê?

— Ele encontrou um artefato depois do incidente no castelo.

— Que tipo de artefato?

Agatha sorriu de lado.

— Um que deu a ele mais do que liberdade. Deu a ele poder. Mas nada vem sem custo, e Yoram sabe disso melhor do que ninguém.

Kael ficou pensativo por um instante.

— Se ele tem tanto poder, como foi parar em Barzzard?

— Foi pego de propósito.

Kael arqueou uma sobrancelha.

— Para quê?

— Isso, capitão, é algo que só ele pode te contar.

Kael suspirou, sentindo a ressaca se dissipar.

Agatha estalou os dedos.

— Peguei.

— O quê?

— Um ladrãozinho. Todos os dias deixo seu café aqui, mas achei estranho que você sempre descesse para tomar lá embaixo. Além disso, percebi que meus potes de mel estavam sumindo.

Kael olhou ao redor, tentando encontrar o que ela havia capturado.

— Melhor se vestir. Não quero que nossa primeira parada seja em uma vila porque você decidiu sair por aí quase nu.

Kael riu pelo nariz e balançou a cabeça.

— Dê-me um minuto.

Agatha parou na porta antes de sair.

— Ah, e uma última coisa.

— O quê?

Ela sorriu de canto.

— Não confie no que vir quando estivermos perto de Barzzard.

E sem mais explicações, fechou a porta.

Naquele instante, o chão tremeu. O coração de Kael disparou. Pensando que estavam sob ataque, pegou a espada e correu escada abaixo. Mas o que encontrou no sótão o fez parar de súpetão.

Agatha flutuava no centro do cômodo, completamente tranquila, um livro antigo girando no ar diante dela.

— Temos companhia — disse ela.

A porta arrebentou. Kael ergueu a espada, pronto para o combate. Mas o que surgiu foi uma criatura minúscula, de olhos vermelhos e uma mecha branca no cabelo negro.

— Boldar, eu presumo? — Agatha cruzou os braços.

O que parecer real, pode nao ser. sem mais explicações, ela fechou a porta, deixando Kael sozinho com suas dúvidas e um leve arrepio na espinha."

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