CAPÍTULO 3: RESPOSTAS

Horas depois, o cheiro de carne assada e especiarias o despertou. O quarto estava escuro, exceto pela lareira ainda acesa. Kael se levantou devagar, sentindo as dores no corpo protestarem. Vestiu uma camisa negra dobrada ao lado da cama e seguiu pelo corredor estreito de pedra, guiado pelo aroma da comida.

A sala de jantar era menor do que esperava. Uma mesa de madeira robusta ocupava o centro, iluminada por velas suspensas por correntes no teto. Ágata estava sentada, servindo-se de um prato generoso.

— Você demorou, Capitão. Pensei que ia desmaiar de novo — ela sorriu, tomando um gole de vinho.

Kael puxou a cadeira e sentou-se sem responder de imediato. Pegou um pedaço de pão e levou à boca, mastigando lentamente.

— Agora me diga. O que realmente quer de mim?

Ágata ergueu uma sobrancelha.

— Direto ao ponto. Gosto disso — ela girou a taça de vinho entre os dedos. — Eu quero que você viva, Kael.

Ele riu, seco.

— Você roubou metade da minha alma — Kael rosnou, esmagando o copo de vinho entre os dedos.

— Roubei para evitar que você destruísse o que resta dela — Ágata apontou para a janela, onde a lua sangrenta riscava o céu. — Ela odiaria ver isso.

Kael permaneceu em silêncio.

— Mas não é só isso, claro — ela se inclinou para perto, um brilho enigmático nos olhos. — Há algo muito maior acontecendo, e você faz parte disso. A questão é... quer descobrir ou prefere passar o resto da eternidade se lamentando?

Kael apertou os dentes, sentindo a raiva subir novamente. Mas, dessa vez, não havia poder para transbordar. Ele estava quebrado. E odiava admitir que precisava de respostas.

— Fale.

Ágata sorriu.

— Sirva-se, Capitão. Você vai precisar de forças para o que vem a seguir.

O jantar continuou em silêncio até que Kael terminasse o último pedaço do porco assado. Ele ergueu a taça de vinho e bateu-a levemente na mesa, olhando para Ágata.

— Agora fale sem rodeios. O que você quer?

Ágata suspirou e deixou a taça de lado.

— É algo pessoal. Há algum tempo, vossa majestade me convocou. Sua filha mais nova, Teméria, é vidente. Há algumas luas, ela teve um sonho vívido no qual via sete pecadores lutando contra vários demônios. Pensando não ser uma visão certeira, pediu-me que trouxesse uma erva rara para clareza mental. Durante sua meditação, algo a atacou.

Kael franziu o cenho.

— Foi...?

— Sim, Arquibar. Um demônio do sexto nível do inferno. Ele queria impedir que Teméria compreendesse o significado do sonho.

— Entendi... Quer que eu descubra o que ele teme?

— Não — Ágata respondeu em tom desinteressado. — Teméria dormiu por vinte dias depois do ataque, mas sobreviveu. Quando acordou, a primeira palavra que disse foi "Kael".

Ele ficou perplexo. Mesmo sendo o futuro rei do inferno, nunca tivera contato com essa princesa humana, nem em sonhos.

— Sete pecadores salvariam o mundo... — murmurou.

— Pecadores? — Kael a interrompeu. — Não quero ser egoísta, e até agradeço por ter me salvado, mas quero que o mundo se dane! Já viu como tudo está? Eles têm a opção de fazer melhor, e a única coisa que fazem é piorar.

Kael se levantou da mesa.

— Obrigado pela comida e pelos cuidados. Retribuirei um dia, se puder. Mas agora, tenho que ir.

— Fez uma promessa a ela, lembra-se?

Kael parou, estático. Ele a olhou por cima do ombro.

— Quem são os outros?

— Vamos buscá-los. Enquanto isso, Capitão, aceita mais vinho?

Kael se recordou da promessa feita à sua amada: jamais, independente da dor, deixaria o rancor apagar sua vontade de lutar por um mundo melhor. Ele nunca quebraria uma promessa feita a ela.

— Capitão? — Ágata chamou sua atenção.

— Mais vinho?

— Sim, claro — ele respondeu, pegando a taça.

Ágata sorriu, servindo o líquido escuro que refletia a luz bruxuleante das velas. Kael observou o vínculo da promessa e a realidade cruel que o cercava. O destino parecia brincar com ele, como sempre fazia.

Ágata tomou um gole antes de continuar:

— Teméria viu sete pecadores enfrentando demônios... mas sua visão não foi clara. Não sabemos quem são os outros, nem onde estão.

Kael esfregou o rosto com as mãos.

— E você espera que eu os encontre?

— Eu espero que nós os encontremos, Capitão. Você não fará isso sozinho.

Ele soltou uma risada baixa e amarga.

— E o que te faz pensar que eu vou aceitar essa missão?

Ágata inclinou a cabeça.

— Porque você já aceitou.

Kael estreitou os olhos.

— O que quer dizer?

— A partir do momento em que perguntou quem são os outros, você aceitou, Kael.

Ele ficou em silêncio, digerindo suas palavras. No fundo, sabia que Ágata estava certa. Andrômeda acreditava em algo maior. E ele nunca quebraria uma promessa feita a ela.

Finalmente, levou a taça aos lábios e bebeu um longo gole. Quando abaixou a taça, seu olhar estava decidido.

— Por onde começamos?

Ágata sorriu.

— A primeira pista nos leva a uma prisão esquecida no norte. Se minha intuição estiver certa, o primeiro pecador está acorrentado lá.

A caça havia começado.

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