Capítulo Três

P.O.V. Angel

Pego alguns livros e coloco nos meus braços. Uma das poucas coisas que posso fazer nesse lugar é ler.

Apesar de tudo, hoje eu estou feliz. É meu aniversário e estou completando meus 18 anos.

Fico me perguntando se alguém virá me buscar. Finalmente vou conhecer a minha família?

Solto um suspiro e me sento em uma poltrona. O calor que emana da lareira é reconfortante.

O lugar em que estamos é muito frio. Não me lembro de ter sentido o sol alguma vez na minha vida.

Os livros daqui não são tão interessantes, mas é o que eu tenho para ler.

__ Feliz aniversário! - me assusto com a aparição repentina da minha professora.

__ Obrigada, Cecília - dou um sorriso e a abraço.

Cecília está com um cupcake na mão e uma vela em cima. Fechos meus olhos e faço um silencioso pedido.

"Só quero poder sair daqui"

Assopro a vela e dou um sorriso. Mordo um pedaço e me delicio ao sentir o doce sabor do chocolate.

__ Quer um pedaço?

__ Não, meu amor. É todo para você - mordo mais um pedaço e passo a língua pelo meus lábios, para retirar o chantilly.

Como em silêncio enquanto minha professora me observa. Eu gosto tanto dela, a única que realmente se preocupa comigo aqui.

Agora eu tenho a Stefane, mas ela não conversa tanto comigo como no primeiro dia. Ela também vive de castigo, então quase não a vejo.

__ Muito obrigada por sempre se lembrar - ela assente com a cabeça.

Mordo meu lábio e olho através do portão. A única coisa que eu vejo é a neve caindo, não tem mais nada.

Minhas esperanças estão cada vez mais distantes. Tento de todas as formas não chorar, mas acho um pouco difícil.

Daqui a 3 semanas iremos nos formar. Para onde eu vou depois disso? Não tenho a mínima noção de como é o mundo através desse portão.

Mas eu já conheci a maldade do ser humano, e posso dizer que alguns deles podem ser cruéis.

Se existir pessoas igual a Vanessa, então eu preciso tomar muito cuidado. Ela consegue fazer eu me sentir mal apenas com algumas palavras.

Cecília volta as atividades que lhe foram dadas. Eu continuo a ler meus livros até chegar a hora do jantar.

Subo para o quarto e tomo um banho. Me sento na cama e começo a pentear os meus cabelo. Eles são bem grandes, não gosto muito queria poder cortar.

__ Não é hoje que você faz 18? - Vanessa sorri de uma forma estranha.

Eu sei que não vem coisa boa disso. Toda vez que ela sorri assim, eu sempre choro depois.

__ Sim - abaixo minha cabeça.

__ O que isso tem haver com você, fofa? - Stefanie arqueia uma sombrancelha.

__ Não me lembro de ter falado nada com você.

__ Mas está falando com minha amiga. Se está falando com ela, está falando comigo! - um tapa é dado na penteadeira, fazendo eu me assustar.

Stefane ficou no nosso quarto. Depois disso, Vanessa nem me dirige o olhar, mas hoje ela não poderia deixar isso passar.

__ Eu só queria dar feliz aniversário. E dizer que espero que seus pais apareçam.

Algumas meninas que estão no quarto com ela começam a rir.

__ Do que estão rindo? - Stefane grita fazendo todas se calarem - vocês não estão em uma situação diferente. Todas aqui foram jogadas, porque seus pais não querem saber de vocês. Só porque eles levam vocês para passearem nas férias, não quer dizer que se importam.

Movimento meus pés me sentindo incomodada.

__ Cala a boca! Você não sabe de nada.

__ Aposto que eles nem se importam com vocês. Por favor, estamos no meio do nada. Quem deixa os filhos nessas condições? A única coisa que eu vejo é gelo, e gelo!

__ I-isso não é verdade - Geórgia coloca a mão na boca, para tentar abafar o choro.

Muitas dessas meninas são sensíveis. Vivemos muito tempo aqui dentro, e as professoras nunca nos mostra o que realmente é ruim.

Matemática, física, Literatura e etc, não nos faz sobreviver em meio a sociedade em que vivemos.

Acho que deveria ter mais ensinamentos, assim não ficaríamos tão no escuro sobre tudo que acontece.

__ É a verdade garotinha.

Em um acesso de raiva, Vanessa pula em cima dela. As duas caem no chão brigando e se batendo.

Meu corpo inteiro treme de pavor ao ver o que está acontecendo. As meninas gritam e pedem para elas pararem.

__ Não façam isso - tento impedir, mas um tapa acerta o meu rosto e eu caio de lado.

Meu rosto dói e arde pelo tapa. Me levanto novamente e elas continuam brigando.

Dessa vez eu permito a briga, não quero me envolver e acabar levando outro tapa. Stefane estava levando a melhor, já que ela sobe em cima da Vanessa e começa a acertar seu rosto com t***s e socos.

A porta é aberta e algumas professoras entram. Vejo Geórgia ao lado da diretora, ela foi quem a chamou.

__ Eu posso saber o motivo disso? - Dolores pergunta assim que conseguem separar elas - duas moças brigando, que coisa feia.

Fico em silêncio e abaixo a cabeça.

***

Continuo esfregando o chão da cozinha com a pequena escova de dentes.

Por meu rosto está machucado, a diretora acha que eu também me envolvi na briga, por isso acabei parando aqui.

Essa não é a forma que imaginei de passar o meu aniversário.

__ Feliz aniversário! - Stefane aparece do meu lado - Eu não sabia, me desculpe!

__ Não tinha como você saber mesmo - dou de ombros.

Um pouco longe da gente, Vanessa nos olha como se fosse nos matar. Eu desvio meu olhar do dela, com medo de outra briga acontecer.

__ O que aquela garota queria dizer? Você sabe... Sobre seus pais - engulo em seco.

Mordo meu lábio. É a primeira vez que alguém me pergunta sobre isso. Todas as pessoas daqui descobriram por si mesma.

__ Eu não sei nada dos meus pais. Eles nunca apareceram. Não tenho qualquer lembrança deles, ou algo do tipo.

__ Isso deve ser ruim - assinto com a cabeça.

Eu paro de falar e me levanto assim que uma professora aparece.

__ Vocês duas podem voltar para o quarto - ela olha para Vanessa e Stefane - Que essa briga não se repita.

As duas saem da cozinha só restando eu e a professora, que por acaso é a Lúcia.

Tento passar para voltar ao quarto, mas ela não permite. Eu a olho questionadora.

__ Eu sei que foi você quem começou a briga - nego rapidamente - Não minta! A Vanessa nos confessou. Por esse motivo, você vai limpar o porão.

Meu corpo inteiro teme de medo. Aquele lugar é assustador. Já ouvi algumas meninas comentando. Eu não quero ir para lá.

__ Não, por favor - Lúcia segura meu braço, cravando as unhas pintadas de vermelhos nele.

__ Fique quieta!

Assim que vejo a porta que da para o porão, me desespero ainda mais. Ela me j**a e eu desço as escadas rolando.

Quando caio no chão, sinto uma terrível dor no pé. Acabei caindo de mal jeito e machuquei o pé.

Olho para o lugar. Estou tudo escuro, tem apenas uma lâmpada que quase não clareia nada acima da minha cabeça.

__ Não me deixe aqui, por favor!

__ Só vai sair daí ao amanhecer - lágrimas rolam pelo meu rosto sem que eu tenha controle.

Consigo me levantar com muita dificuldade. Me encosto na parede e procuro alguma coisa para sentar.

Vejo algumas mesas e cadeiras antigas aqui. Algumas quebradas e outras já bem gastas.

Me sento na cadeira e olho para o meu pé. Não consigo ver muita coisa, já que está escuro, mas ele dói muito.

Olho ao redor e me abraço. Além daqui ser muito frio é assustador.

Lúcia disse que eu tenho que limpar, mas não tem como eu fazer isso, já que meu pé dói muito.

Não comecei briga nenhuma. A culpa é toda da Vanessa, ela me odeia muito e faz de tudo para me prejudicar.

Fecho meus olhos e tento de tudo para dormir, mas está muito frio.

Começo a tossir pela friagem e pelo lugar abafado e cheio de mofo. Coloco a mão no peito sentindo um pouco de falta de ar.

Fico assim por horas e horas. Quando finalmente amanhece, eu espero que alguém venha me tirar daqui, mas isso não acontece.

Começo a gritar por ajuda, mas não acho que alguém virá. Esse lugar é praticamente escondido e quase ninguém vem aqui.

Vejo um rato no chão e me encolho pelo medo. Só quero sair daqui o mais rápido possível.

__ Por favor - grito mais uma vez - Alguém?

Com aquela mulher teve coragem de me deixar aqui?

Passo horas aqui, até que anoitece novamente. Deu para ver tudo pela pequena janela que tem.

Meu pé está roxo e muito inchado, vi isso pela manhã. Estou evitando andar, não sei se irei conseguir fazer isso.

Minha barriga dói pela fome que estou sentindo. Minha boca está seca, estou com muita sede também.

Quando o dia amanhece novamente eu já me sinto tonta. Já faz dois dias que estou aqui. Será que ninguém deu minha falta?

Estou tendo que andar para ir ao banheiro que tem aqui. Elas colocaram apenas para as meninas que ficam de castigo.

Não tem água no banheiro, na verdade só tem um vaso.

Sede, fome, dor e frio. Estou sentindo tudo isso de uma só vez.

Acho que irei morrer aqui, dessa forma. Ninguém virá me buscar. Vou ficar aqui até que eu morra.

Quando minhas esperanças estão se indo, a porta é aberta. Me levanto com dificuldade e vou até a escada.

Não consigo ver quem está ali, minha visão está turva.

Sinto meu corpo ficar mole e apago.

Pisco meus olho sentindo uma terrível dor de cabeça. Tento puxar na memória o que aconteceu comigo.

Olho ao redor e reparo que estou na enfermaria do colégio. Tem uma acesso no meu braço, com um soro pendurado.

Me lembro de ter ficado trancada, com fome, sede, frio e dor. Alguém me salvou, mas não consegui ver.

Olho para a porta e me assusto ao ver um homem sentado perto dela. Ele está com um copo na mão e seu olhar está em mim.

Estranho isso, já que aqui não é permitido ninguém do sexo masculino.

__ Quem é você? - minha voz sai um pouco estranha.

Ele não diz nada. Parece estar com muita raiva. Será que esse raiva é direcionada a mim?

A porta é aberta e Stefane entra por ela. O homem a chama com o dedo, e ela vai. Não estou entendo nada.

Eles discutem por um tempo. Parece que o homem está dando uma bronca nela.

__ Alguém pode me dar um pouco de água?" eles param a discussão e me olham.

__ Claro, meu amor - me assusto com a forma que ele me chama.

Ele vem até a mim e coloca um canudo na minha boca. Eu sugo a água lentamente, já que minha garganta está ardendo.

Depois de terminar, o agradeço e me encosto na cama.

__ Esse é o meu irmão, Heitor. Ele veio para nos levar embora.

Tento raciocinar o que ela diz por um tempo. Stefane me incluiu nisso?

__ Desculpa... Eu não entendi - nego com a cabeça.

__ Vou levar você comigo, meu anjo - sinto meu corpo arrepiar quando meu rosto é acariciado.

Meus olhos brilham com o que ele diz. Eu finalmente vou embora desse lugar. Estou tão feliz com isso, que dou um sincero sorriso.

__ Mas... - fico confusa - Por que? Quer dizer... Eu não sou nada sua.

__ É sim, você é minha noiva!

Pisco meus olhos me sentindo muito confusa. Não entendo nada do que esse homem diz.

__ Meu... Noivo? - abro e fecho a boca, sem ter mais nada a dizer.

__ Sim, Angel. Nós somos noivos - fecho meus olhos e respiro fundo.

Está tudo muito confuso. Antes eu não tinha ideia de se alguém iria vir me buscar, agora descubro que tenho um noivo?

__ Isso é algum tipo de piada de mal gosto? Porque não tem graça - ele sorri e se senta na ponta da cama.

__ Não é brincadeira - seu polegar acaricia meu rosto.

__ Mas... Eu nem conheço você - balanço a cabeça em negação - Não podemos nos casar.

Me arrepio com o olhar que ele me dá. Meu coração palpita e eu me escolho. O olhar é muito assustador.

O homem a minha frente é bonito. Ele é alto, tem bastante músculo, barba por fazer e intensos olhos azuis, que nesse momento estão direcionados a mim, mas não de uma forma boa.

__ Você sabe sim, apenas não se lembra. E mesmo que não queira, você não tem escolha!

Eu o conhecia? Mas quando foi isso?

__ Não grite! - fecho meus olhos com força.

__Meu amor - ele segura o meu rosto - Só quero que entenda. Eu amo muito você, e estou esperando a muitos anos por você.

Aquilo não faz o menor sentido. Nunca vi esse homem em toda a minha vida. Como ele pode dizer que me ama?

__ Você nem me conhece, não pode dizer que me ama - sinto lágrimas pelo meu rosto.

Seu olhar sobre mim ainda é duro. Eu não sei o que dizer, estou muito nervosa com isso.

Ele vem até a mim e aplica alguma coisa na minha veia. Sinto meu corpo ficar leve e logo após eu apago.

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