Oi, meus amores! O livro Obssessão Abissal foi editado para aprofundar mais a história. Espero que vocês gostem! Votem bastante e sigam a escritora. Beijos. --- Liora nix Eu sempre me perguntei como Baltazar havia se sentido quando a onda o arrastou para o fundo do mar. Perguntei-me se ele havia sofrido em seus últimos momentos ou se finalmente conseguiu encontrar a liberdade que tanto desejava. Agora, enquanto sinto o abraço do mar, creio que só na hora da morte ele foi livre. A água salgada invadiu minha garganta. Meus pulmões imploravam por ar. Meus olhos arderam como se alguém os estivesse esfregando com vidro moído. Mas eu sorri. Sorri porque doía menos do que no convento. Porque, pelo menos, eu sabia que o mar não me batia por prazer. Eu estava afundando, os braços abertos, minha roupa se enchendo de água e me arrastando para o fundo. A dor me trouxe as lembranças que eu queria esquecer. Lembrei-me do convento, de tudo que vivi lá, de tudo que provavelmente não teria acon
Quando despertei, o padre veio até mim. Disse que as freiras haviam pago pelo meu pecado, mas que, para entrar no céu, eu também teria que pagar uma penitência. As dez chicotadas que se seguiram não doeram tanto quanto o cheiro que ficou na praça naquele dia: corda queimada, sangue velho e o perfume de lavanda que Madre Lourdes sempre usava, agora misturado ao fedor da morte. Dez chicotadas. Uma para cada ano da vida de Baltazar. A primeira arrancou minha carne. A nona me fez morder a própria língua. Na décima, já não sentia mais nada. O açougueiro sorria ao lado do padre ao me ver sem forças para levantar. Foi a última vez que chorei na frente de alguém. Nunca mais faria isso. Mas, naquele dia, aprendi algo: a dor tem limite. Se passar dele, vira apenas... silêncio. Quatro dias se passaram até que as novas freiras chegaram. Elas tinham cheiro de álcool e suor. Elas não eram como as outras. Nem pareciam freiras. Se o mundo dos mortos tiver portas, eu garanto que essas m
Como a felicidade não dura para sempre... Mãos grossas me arrancaram da água. "Que porra é essa?", um homem rosnou, cuspindo água salgada. Tinha olhos mais escuros que a meia-noite e uma cicatriz cruzando o pescoço. "Me deixe!", gritei, arranhando seu rosto. "Eu não quero viver!" Ele riu. Um som áspero, como pedras se batendo. Minha raiva não me deixou ouvir o que ele falava. Meu coração batia tão forte que eu só pensava em voltar para o mar e terminar o que comecei. Mas ele me jogou sobre o ombro como um saco de farinha e me arrastou até a praça da cidade, tornando-me a atração principal da vila outra vez. Ele parecia ter uns 22 ou 23 anos. Não importava. Eu só queria machucá-lo. Seus olhos estavam fixos em mim enquanto meu corpo congelava de frio e medo. As freiras me encontraram. Meu Deus, aquele com toda certeza seria meu fim. Mesmo ouvindo o que ele dizia, eu não prestava atenção. Não me importava. Eu não era mal-educada, só não estava mais viva, e isso significava n
LIORA NIXNão fazia ideia do porquê Tessar estava tão bravo comigo, mas também… o que eu podia fazer? Eu só tinha que continuar limpando, fazendo o que mandassem. Era isso que um escravo fazia, afinal. Só percebi que estava chorando quando senti algo quente escorrendo pelo meu rosto. Limpei rápido, desesperada, antes que alguém visse. Se me pegassem chorando, eu podia acabar sem comida. Ou pior… com o chicote cortando minhas costas de novo. O pensamento da dor me trouxe memórias ruins, e meu estômago roncou. Fazia dois dias que eu não comia nada além do pedaço de pão e queijo que Tessar me deu. Depois disso, não tive coragem de tocar na comida. Todos acreditavam que, se eu comesse, a comida ficaria amaldiçoada. Que ninguém mais conseguiria comer. Que adoeceriam, morreriam de fome, e o navio se tornaria um navio fantasma… tudo por minha causa. Meus olhos começaram a arder, e o mar… o mar começou a se agitar. Eu pisquei, e no reflexo da água percebi que meus olhos, antes verdes, agor
TESSAR VRYNN Eu não sabia o que estava acontecendo.Estava no meu camarote, concentrado nas cartas náuticas, traçando uma rota que nos mantivesse longe da enseada de Lhamar, a ilha das sereias. Se fossemos pegos pelo seu canto, o navio inteiro poderia se perder. Era um risco que eu não estava disposto a correr.Então começaram os golpes no casco.Não parecia um canhão. O barulho era diferente, mais seco, como se algo estivesse se chocando contra a madeira repetidamente.Saí do camarote em passos rápidos, o cenho franzido, já preparado para qualquer ataque, mas o que vi no convés me deixou surpreso. Meus homens estavam parados, olhando maravilhados para o mar. Alguns pareciam encantados, outros assustados. E quando segui seus olhares, entendi o motivo.Peixes-espada se jogavam contra o navio. Um após o outro, como se tivessem enlouquecido. Alguns não sobreviveram ao impacto, caindo mortos na água ou deslizando pelo convés encharcado.— Bem, não precisaremos de suprimentos essa
Liora Nix Acordei depois do desastre dos peixes. O mar estava calmo, e o céu, mais estrelado do que nunca. Uma visão linda, quase irreal. O convés estava silencioso, apenas o marujo no topo do mastro montava guarda. Observei quando ele desceu devagar e, estranhamente, me desejou boa noite antes de seguir em direção à cozinha. Apesar do frio, não me cobri. Só queria sentir aquele momento, respirar a brisa salgada. A sensação de querer ir embora havia sumido, e isso era estranho. Ele fez isso comigo. De alguma forma, parecia ter arrancado a dor de dentro de mim com as próprias mãos. Me chamavam de bruxa, mas quem teve o poder de me acalmar foi ele. Ouvi passos lentos atrás de mim. Era ele. Por um momento, achei que fosse me abraçar por trás, mas ele respeitou meu espaço e sentou-se ao meu lado. — Se sente melhor? — Sua voz era baixa, quase um sussurro. Assenti sem encará-lo. — A tripulação pediu para que eu lhe agradecesse. Os peixes vão evitar que passemos a semana inteira comend
Acordei com uma dor de cabeça latejante. A noite passou rápido demais, e meu corpo parecia pesado, como se não fosse realmente meu. Nunca tinha bebido rum antes; ontem foi a primeira vez. Espero, de verdade, que tenhamos terminado a tradução das cartas. — Boa tarde, moça — Bjorn disse, entrando no camarote com um sorriso animado. — Tarde? — perguntei, confusa, enquanto me sentava na cama. — Você nunca bebeu, né? — ele riu, colocando uma tigela de caldo de peixe na mesa ao lado da cama. — Não, em 27 anos. — Isso se vê — ele respondeu, rindo baixinho. — Trouxe caldo de peixe pra você. Vai ficar enjoada, mas vai melhorar, tá? — Obrigada, Bjorn. Você é um amor. Ele sorriu, como se eu tivesse feito a melhor coisa do mundo. Quando ele saiu do camarote, sua alegria pareceu me contagiar, mesmo com a cabeça latejando. A porta se abriu devagar novamente, e ele entrou. O cheiro dele invadiu minhas narinas, e tudo ficou lento. Vi ele andando em minha direção, devagar, como
Tessar Vrynn Duas noites. Malditas duas noites com ela naquele estado, e ainda nem chegamos à enseada de Lhamar. Se eu ficar, Liora não vai passar por tudo isso, mas se não ultrapassar a ilha, nunca serei, de fato, o rei dos Sete Mares. Que pirata maldito eu seria se temesse mulheres-peixe? — Capitão, estamos a todo pano, como o senhor mandou, mas... O senhor tem certeza? A senhorita Nix não parece nada bem. Olhei por cima do ombro para Garrick, meus olhos cheios d’água. A cena dela amarrada veio outra vez à minha mente, e eu levei a mão ao rosto. — Senhor, talvez, se dissesse a ela... talvez… Toquei o ombro de Garrick e desci as escadas do camarote. Havia pouco que eu não faria se Garrick me aconselhasse. Ele era um demônio do mar quando o conheci, tinha perdido esposa e filhos para uma doença e se embebedava todas as noites até ficar sem dinheiro para pagar. Quase morreu depois de ser espancado pelo dono da taverna. Eu saldei sua dívida e o convidei para navegar comigo