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capítulo 5: Meu primeiro beijo

Liora Nix

Acordei depois do desastre dos peixes. O mar estava calmo, e o céu, mais estrelado do que nunca. Uma visão linda, quase irreal. O convés estava silencioso, apenas o marujo no topo do mastro montava guarda. Observei quando ele desceu devagar e, estranhamente, me desejou boa noite antes de seguir em direção à cozinha.

Apesar do frio, não me cobri. Só queria sentir aquele momento, respirar a brisa salgada. A sensação de querer ir embora havia sumido, e isso era estranho. Ele fez isso comigo. De alguma forma, parecia ter arrancado a dor de dentro de mim com as próprias mãos. Me chamavam de bruxa, mas quem teve o poder de me acalmar foi ele.

Ouvi passos lentos atrás de mim. Era ele. Por um momento, achei que fosse me abraçar por trás, mas ele respeitou meu espaço e sentou-se ao meu lado.

— Se sente melhor? — Sua voz era baixa, quase um sussurro.

Assenti sem encará-lo.

— A tripulação pediu para que eu lhe agradecesse. Os peixes vão evitar que passemos a semana inteira comendo só batatas. Vem, vou levar você para comer.

Ele segurou minha mão com urgência, e meu coração disparou. Quando levantei o olhar, seus olhos me prenderam. Não havia hesitação neles. Nenhuma preocupação.

Me perdi.

Fechei os olhos e o beijei, torcendo para não ser cedo demais. Mas, quando pensei em me afastar, ele me segurou pela cintura e me puxou de volta. Suas mãos ásperas me apertaram com posse. Senti o calor de seus dedos na minha nuca, a força sutil com que me mantinha ali, sua língua explorando a minha com fome. Meu corpo reagiu antes da minha mente, rendido ao toque, à urgência silenciosa daquele momento.

Quando nos separamos, ainda estava entorpecida. Demorei a abrir os olhos. E, quando finalmente o fiz, ele sorria. Um sorriso enorme, como o de uma criança que acabou de ganhar um doce.

TESSAR VRYNN

Fiquei perdido naquele beijo.

Já tive outras mulheres, mas nenhuma como ela. Nenhuma que eu amasse. Nenhuma que me fizesse querer ser cuidadoso, temer errar, machucá-la. Eu só queria ficar ali, preso naquele momento, num looping eterno e cheio de sentido.

As mãos dela repousavam sobre meu peito, enquanto seus lábios me davam passagem para explorá-la, para me perder em sua boca quente e faminta. Sua língua se movia contra a minha com urgência, como se aquele beijo fosse tudo o que importava, tudo o que ela queria.

Quando nos afastamos, ela ainda estava dentro do momento. Respirava rápido, os olhos verdes arregalados, assustados e, ao mesmo tempo, cheios de desejo.

Eu queria continuar.

Queria pegá-la no colo, levá-la para o meu camarote e mostrar a ela, de uma vez por todas, que era minha. Que sempre foi.

Mas eu não faria isso.

Não agora.

Não enquanto seus olhos ainda carregassem aquele vestígio de dúvida.

Eu queria que ela me pedisse.

Que me desse abertura.

Que aceitasse, que entendesse por si mesma.

Que soubesse que era só minha.

E que todos nesse maldito mundo soubessem disso também.

Ainda estava olhando para Liora, que parecia claramente tímida depois do beijo. Senti um impulso de protegê-la, de cuidar dela. Abracei-a suavemente e disse:

— Está frio, vamos pra dentro primeiro. Você come um pouco e descansa.

Ela suspirou, como se quisesse sentir meu cheiro, mas acabou assentindo com a cabeça, obediente. Dentro, ela devorou o cozido de peixe que Bjorn preparou. O velho sorriu, orgulhoso. Ele cozinhava bem, mas não estava acostumado a ver alguém comer sua comida com tanta vontade. Aquilo claramente o animou. Liora olhou para a tripulação, que desviou o olhar assim que ela os encarou.

— Me desculpem pela falta de educação — ela disse, calma e envergonhada. — Faz muito tempo que não como algo tão bom.

O elogio fez Bjorn sorrir ainda mais. E, para terminar de conquistá-lo, ela acrescentou:

— Obrigado pela comida, estava muito bom mesmo.

Pela forma como o velho cantarolava enquanto limpava a cozinha, era nítido que ele já estava aos pés dela. E eu entendia perfeitamente o que ele estava sentindo.

Acompanhei Liora até o camarote. Eu provavelmente passaria a noite acordado, lidando com as cartas náuticas. Algumas do nosso último saque estavam em outro idioma, e eu tinha um dicionário que roubamos junto, além de algumas notas de rodapé. Garrick me disse que talvez fosse espanhol, o que não mudava muita coisa. Precisava traduzir aquilo. Nunca havíamos passado pela Ilha das Sereias, e se não decifrássemos essas cartas, eu nunca seria o rei dos sete mares.

— Está tudo bem? — ela perguntou, notando minha expressão preocupada.

— Sim, bem... não. Esses textos são difíceis de traduzir, e chegaremos à Ilha Lhamar daqui a três dias, dois se o vento estiver bom e...

— É espanhol — ela interrompeu, encarando os papéis na mesa com um olhar interessado. — Diz que nossos olhos nos enganam, a tentação e o desejo são a ruína do homem.

Ela me olhou como se tivesse feito a coisa mais normal do mundo.

—sabe falar nesse idioma ? – perguntei atônito

— Sí, a la madre superiora le gustaba mucho leer, y algunos libros estaban en ese idioma y ella me enseñó a leerle cuando ella no podía.

Fiquei intrigado. Não fazia ideia do que ela tinha dito, mas a maneira como ela falou aquelas palavras, com aquela voz suave e envolvente, me deixou com pensamentos que não eram exatamente sobre traduções. Vou pedir para ela falar assim toda vez que eu foder ela.

— Entendeu? — aquela vozinha angelical me tirou dos meus pensamentos sujos.

— Não — respondi rápido, tentando disfarçar. Mas meu pau estava duro demais para eu fingir qualquer coisa.

— Eu disse que Sim, a madre superiora gostava muito de ler, e alguns livros eram nessa língua. Ela me ensinou a ler para ela quando não podia.

Sorri com uma linha fina, e ela me olhou, indecisa.

— Eu não escrevo bem, mas se quiser, posso ler, e o senhor Garrick escreve.

Garrick? Por que o Garrick? Por que não eu?

— Por que não eu? — perguntei, um tanto irritado.

— Porque o senhor precisa descansar. Eu fico acordada à noite com Garrick, e dormimos pela manhã. Assim, você não fica cansado.

Sorri. Ela queria cuidar de mim. Não tem mais espaço para eu me apaixonar, mas estou cada vez mais louco por ela.

— Não, eu fico com você — insisti.

— Tudo bem — ela assentiu, puxando a cadeira para se sentar.

E assim, começamos a trabalhar.

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