“Que falou sobre isso com você?”
A garotinha ficou um pouco assustada, o que Débora estranhou, mas, tentou uma explicação que ela pudesse entender.
“Você lembra que disse que queria um cachorrinho no seu aniversário?”
“Sim, mamãe. E você disse que se eu ganhasse um animalzinho de estimação teria que amar ‘ele’, e cuidar.”
“Aprendeu bem direitinho. É isso mesmo! Quando uma pessoa adota ela tem que amar e cuidar."
“Então quando a senhora foi na maternidade me pegar foi como se tivesse um cachorrinho.”
Débora ficou chocada com a lógica de Ângela. Mas, tentou explicar melhor.
Não é a mesma coisa, de forma alguma. Você se lembra que eu disse que você nasceu no meu coração?”
“Quando uma mãe adota um bebê, ele primeiro nasce no seu coração. Não pode ser outro. É um filho mesmo. Vamos fazer assim, no fim de semana nós vamos visitar a mamãe e eu te conto como você nasceu no meu coração, sua bebê maluquinha.”
“Está bem. Eu quero uma trança de Elsa.”
Mais uma vez, chocada, Débora ouviu a menina trocar de tema tão rápido.
“Anjinho veja, a mamãe está atrasada para fazer as coisas do trabalho, se você for fazer uma trança de Elsa não vai dar tempo de ir ao cinema.”
“Naninha, você faz uma trança igual a da mamãe? Eu queria fazer uma trança da Elsa, mas, a mamãe disse que demora muito e hoje ela está com pressa.”
“Claro, gatinha Venha aqui!”
A babá começou a trocar a menina enquanto Débora saia para o seu quarto. Lá ela pegou sua bolsa. E desceu, para tirar o carro, usado normalmente para transportar a garotinha. Ela aproveitou para falar com o motorista, que tinha parentes na mesma cidade da família de Fernanda, a babá.
Depois de arrumar a criança, a babá desceu até onde a patroa estava com uma linda menininha de trança.
“Vá arrumar as suas coisas e depois pegue com Manuela o remédio da minha madrinha. Não esqueça de forma alguma, o que ela tem logo acabará.
“Certo, obrigada.
“Já falei com o Fred, ele irá te levar e trazer. Ok?”
“Ok.”
Débora pegou a criança nos braços, colocou-a na cadeirinha especial do carro, amarrou o cinto de segurança e foi até o banco do motorista.
Quando chegou ao hospital a assistente já havia colocado em sua mesa todos os documentos impressos para ela assinar. As enfermeiras assim que ela chegou abraçaram a pequena, elogiando e brincando com ela. Desta forma, Debora teria mais de uma hora para fazer o trabalho burocrático. Ela conferia apenas os números, já que os documentos mandados por e-mail, haviam sido revisados pela própria Débora e depois conferidos pela assistente, que os imprimiu e organizou para a assinatura da responsável.
Deu conta do trabalho burocrático em menos de quinze minutos, então lembrou que queria fazer um reparo em casa. Ligou para o responsável pela segurança da casa e pediu para ele instalar câmeras de vigilância em toda a casa. Dentro e fora. Com boa resolução e com som também. Não gostaria de ficar à mercê do acaso, em outra situação como a de hoje de manhã.
Em pouco tempo já estava no auditório do hospital, um espaço reservado para o aprendizado, no momento que chegou o espaço externo estava repleto de pessoas interessadas no tema do seminário. Que se dirigia a dois principais grupos, profissionais de saúde e educação. Metade das vagas era reservada para a parceria entre o hospital e o governo do estado, a outra era composta de estudantes universitários das duas áreas.
Débora entrou no auditório e uma grande faixa em frente a mesa de debate, tinha as seguintes palavras:
‘I Seminário de combate ao abuso na família.’
O segundo palestrante da tarde era o responsável pela comunicação da polícia federal, após ele o promotor da infância. No dia seguinte representantes de diversos conselhos dariam sua contribuição para a formação dos profissionais que atuavam no momento e outros que em breve iriam atuar nas áreas de saúde e educação. Em pouco tempo a sala ficou lotada e a palestra começou.
Débora abriu a mesa, teria cerca de trinta minutos para expor seus argumentos e depois sairia imediatamente:
“Bom dia, caros, colegas da saúde, profissionais de educação e estudantes universitário. Hoje com a nossa fala, abriremos o, ‘I Seminário de combate ao abuso na família.’ Olhos atentos podem diagnosticar vítimas e abusadores”
“Hoje, neste seminário, estamos chamando de abuso familiar qualquer tipo de violência, física, mental ou sexual, ocorridas no espaço restrito da casa, ou do ambiente familiar. Quem são as vítimas? Serão sempre os mais fracos, na hierarquia, velhos, mulheres, crianças e adolescentes. Os causadores, aqueles que detêm um determinado poder sobre a vítima. Pais e responsáveis, maridos, irmãos ou agregados, empregados responsáveis por cuidar das vítimas. Como reconhecer as vítimas de tal abuso? Geralmente a vítima aparece com machucados recorrentes, sempre justificados com pequenos acidentes. Geralmente a vítima apresenta medo do abusador, que em muitos casos são os responsáveis por socorrê-las.”
Nesse ponto, Débora passou a mostrar diferentes ferimentos reais de vítimas no projetor. Mostrando na prática as diferentes formas que os hematomas poderiam ter.
“Viu alguns desses sinais em pessoas classificadas como possível vítima, procurar imediatamente um profissional da psicologia para fazer determinados exames e comprovar ou não o abuso.”
“Nas próximas palestras receberam orientação de como denunciar, e em quais crimes cada caso se enquadra.”
Terminando a apresentação de fotos Débora encerrou sua participação e deu lugar ao representante da Polícia Federal.
Enquanto Débora palestrava, em outro canto da cidade, uma mente doentia se preparava para mais uma vez, fazer um garoto cair na armadilha.
Inocentemente Débora levou sua garotinha para o shopping, pegara a pipoca e o refrigerante e entraram no cinema a poucos segundos de começar o filme que as duas foram ver. Ângela estava muito feliz, porque iria ver com a sua amada mãe o filme.
Depois que a projeção terminou, mãe e filha foram para a praça de alimentação do centro de compras, era por volta das seis horas quando a mãe pegou os lanches e se sentou para comer com a filha. As duas estavam comendo sanduíches, batata frita e refrigerante, em uma mesa bem no centro da praça, quando o telefone de Débora tocou.
Olhando para a carinha fofinha de sua pequena , Débora atendeu o telefone sem prestar muita atenção. Mas logo ficou alerta quando ouviu a voz aflita de Paulo. “Irmã, onde você está?” “No cinema com Ângela! Por que? Estava na aula de anatomia quando recebi um telefonema estranho de alguém dizendo que você sofreu um acidente perto de casa. Sai correndo, mas, percebi que um dos colegas que me convidou para a boate estava vindo atrás de mim, então entrei na sala de um professor que está lotada e resolvi telefonar para você.” “Fez bem! e o outro rapaz.” “Quando me viu entrar na sala desviou o caminho e entrou no banheiro. de lá dá para ver se além saí da sala do professor.” “Você é muito inteligente. Já identificou quem está armando para você. Volte para sala de aula, que irei resolver o caso. mande a localização do suposto acidente. E mais tarde um segurança irá escoltar você para casa.” Depois de falar isso, desligou o telefone, ligou para o chefe da segurança em casa. “Senhora?
O segurança continuou.Já providenciei as recomendações da senhora hoje cedo. e quando peguei o relatório percebi que precisaremos de um plano de contenção, já que parece nos, o Senhor Paulo é o alvo da mulher.”“Faça isso o mais rápido possível. Não quero que Paulo seja pego pela briga entre amantes.”Débora falou essas palavras sem alterar em nada sua expressão de tédio. "Irmã, desculpe. Eu não sabia que iria trazer problemas para você.”“Você não trouxe. Foram os outros.”Débora se levantou da cadeira em que estava sentada fazendo seu trabalho burocrático, tocou na cabeça do rapaz, para animá-lo. Poucas pessoas eram capazes de despertar o calor no seu coração. Paulo, a médica havia segurado em seus braços quando ele era um bebê. Além do mais, ele era filho de sua madrinha, alguém que cuidou dela e de sua mãe nos momentos mais difíceis.“Vá dormir!”Débora falou olhando para o rosto triste do rapaz.“Boa noite, Irmã.”“Boa noite, querido.”Depois que o rapaz saiu, Débora e o Chefe
Depois de sair da casa de Débora, Izabel estava fervendo de raiva. Ela nunca imaginou que seu plano acabaria assim, com Carlos com raiva dela, também. Quando instigou os colegas de Paulo para o deixar na boate, pensou que iria fazer ciúmes a Carlos e de tabela incomodar a sua esposa. Mesmo todo mundo dizendo que a esposa dele era uma criatura fria e sem emoção. Nos seis meses em que esteve no relacionamento com ele, nunca encontrou a mulher. Sempre teve curiosidade de conhecer pessoalmente essa mulher. Mas, detestou o ar imponente da outra, principalmente quando ela a chamou de velha. Ficou ainda mais disposta em armar contro o rapaz. Ele parecia meio bobinho, perfeito para cair em sua rede. Mas, sentiu um grande golpe em sua confiança quando a tarde o garoto não apareceu no local, em que havia organizado uma outra armadilha. Ao longo do dia sua raiva só foi aumentando mais. Principalmente a noite quando o Carlos não voltou para a casa em que eles viviam. Durante a tarde ela lev
Era sábado, o patriarca da família Nascimento levantou muito cedo, e pediu ao motorista que o levasse do seu pequeno sítio no interior do estado para a capital. A cidade de São Caitano fica a cerca de uma hora e meia de carro do Recife. O velho voltou para sua cidade natal depois de sua aposentadoria e lá vivia em um pequeno pedaço de terra onde de tudo cultivava um pouco. Nos moldes tradicionais, sem agrotóxicos, com a água cristalina que nasce na própria terra. Hoje os empregados que viviam com ele organizaram um monte de coisas para levar para a casa da neta amada. Um dos seus seguranças dirigia o carro enquanto os outros três ficaram na propriedade cuidando da segurança e dos empregados. O velho Jorge Nascimento conhecia aquele trajeto como a palma de sua mão, quando ele saiu da cidade aos quatorze anos para trabalhar na capital, com apenas alguns trocados, ele foi pedindo carona aqui e alí. O velho voltou à realidade depois de pensar um pouco no passado."Damião, você não esqu
A sala inteira vibrou em constrangimento, até a empregada que estava servindo o café segurou a respiração. Ela vivia na casa a muito tempo, na verdade ela serviu na casa antiga e viu todas as coisas que aconteceram na família. Ontem quando Carlos trouxe para dentro de casa a amante e aqueles bandidos para bater em Paulo. A empregada se perguntou quando a situação absurda em que essa família vivia iria ter fim. Débora, paulo e carlos trocaram olhares entre si, sem saber direito o que responder para a garotinha sobre os machucados no rosto do rapaz. “Soube que ele caiu.” Era a voz do velho salvando a situação. Nem um dos três gostaria de falar à criança o real motivo do rapaz estar com o rosto machucado. E antes que ele tivesse conseguido arrumar uma desculpa o velho os tirou do problema. Mas, isso significava, também, que ele sabia do real motivo da situação do rosto do rapaz. “Que dor! Venha aqui para eu lhe dar um beijinho! depois vai sara!” A sala antes tensa, caiu num riso só c
Depois de ver o carro de Carlos na casa de Débora, Izabel voltou fervendo de raiva para casa. Pensando como deveria fazer para retaliar a outra mulher. Já havia visto pelo plano de ontem que não iria conseguir envolver Paulo de novo em suas confusões, então teria de pensar melhor antes de dar o próximo passo. Como lhe disseram, o melhor era ir trabalhar.Entrou na própria mansão e trocou novamente de roupa, desta vez vestiu um terninho para o trabalho. Pediu o táxi e foi direto para a empresa. O melhor era retomar a imagem que tinha antes de ontem.Quando Carlos chegou à sede da rede de supermercados no vigésimo sétimo andar do edifício que levava o nome de seu avô. Não se surpreendeu por encontrar Izabel trabalhando, ela era assistente de sua secretária e estava vindo da área de cópias com um monte de papel nas mãos. Ela lhe deu um sorriso discreto e voltou para o seu lugar na ante sala da presidência do grupo Mandacaru Alimentício. Carlos naquele momento riscou a impressão que teve
Depois de falar até a criança ficar satisfeita, as duas ajoelhadas começaram a rezar pela alma da de quem se foi. Passaram quinze minutos ajoelhadas sobre o chão frio da capela. Ao levantar Débora olhou em volta, a capela estava limpa e arrumada, flores frescas ornavam o altar e os pés da tumba de Maria Ângela. Elas estavam levantando quando um casal de meia idade entrou na capela. ângela com sua exuberância característica correu para os braços da mulher."Vovó, vovô que saudade de vocês.”“A vovó também tem saudade dessa neta linda.”“Bom dia, tia, tio.”Débora cumprimentou respeitosamente o casal. A menina pegou na mão da senhora alegre. A mãe de Maria Ângela ficou feliz com a visita delas ao local de descanso da filha.“Senhor Jorge, como o senhor está.”“Bem, senhora Fátima.”“Quero lhe apresentar meu marido, Joaquim.”"Prazer, senhor Joaquim.”Eles foram saindo da capela.“A senhora não vai ficar para rezar?”“Não, nós moramos perto. E eu venho todo dia para cuidar da capela, e
O final de semana passou em um piscar de olhos, apesar de toda a diversão e alegria compartilhada com seus entes queridos, o sintomas da tensão pré menstrual de Débora não passou. Na segundo além de tudo ela acordou com uma forte dor de cabeça.Mesmo assim ela se levantou cedo, tomou banho, se arrumou e desceu para tomar café com sua família. Ao passar pelo quarto de sua filha, Ângela já estava pronta para a escola. Fernanda sorrindo para a menina arrumava a bolsa com os livros e cadernos que ela teria que levar para a escola hoje.“Pode deixar Fernanda, já se organizar que eu desço com ela para o café, você deve ter chegado agora.”“Sim, cheguei agora.”“Então, vai arrumar suas coisas. Como foi o final de semana? E como está a madrinha?”“O final de semana foi muito bom e a madrinha está ótima. Mas, pode deixar eu cuido dela.”“Não, faço questão, mais tarde terei plantão. Assim, quero cuidar dela pessoalmente.”A babá desceu para arrumar suas coisas deixando a patroa cuidando da cria