O dia estava muito quente, apesar de ser cedo pela manhã, o calor sufocava a doutora Débora Nascimento, no fim do plantão, nem o banho frio foi capaz de amenizar o calor que ela estava sentindo. Além do calor sufocante que fazia na cidade esse dia, a TPM estava em seu ciclo mais alto. Tudo de verdade que ela queria era chegar em casa, tomar um novo banho, trocar de roupa e dormir.
Quando Débora pegou o carro no estacionamento do hospital seu corpo transpirava todo. Logo entrou no veículo e ligou o ar-condicionado. Aos poucos o desconforto provocado pelo calor foi diminuindo, apesar da irritação por começar o dia desse jeito não passar.
Um plantão de doze horas, com atendimentos intermináveis e a constante dor de cabeça, causada pelos hormônios do período pré-menstrual foi a combinação perfeita para fazer um começo de dia difícil para a médica.
Ligou uma música no som ambiente do carro, olhou para uma foto de sua filha balançando no espelho retrovisor da frente do carro. Respirou fundos algumas vezes tudo para tentar controlar o nível de estresse que o dia estava demandando. Como pegava aquela hora o contrafluxo, a sua estrada estava bastante tranquila e logo chegou ao bairro em que mora. Quando passou pela guarita de segurança do condomínio de luxo onde sua casa estava, seu humor estava um pouco melhor.
Precisava descansar algumas horas, porque a tarde ainda tinha que voltar ao hospital para uma importante reunião, além de resolver diferentes questões burocráticas antes de voltar para casa e descansar de verdade.
Quando ela estacionou o seu carro logo percebeu algo diferente, na vaga de estacionamento reservada aos carros da família dois carros estavam estacionados. Um dos automóveis. Débora reconheceu. O carro de seu marido, quem não via em casa a seis meses. Estava sumido desde quando encontrou uma nova namorada. O outro não conhecia.
Ao entrar chamou a governanta:
“Mara, Mara.”
“Senhora, que bom que chegou.”
“Como está Ângela? Foi para a escola? Ela se alimentou direito? Se comportou bem?
Foram tantas perguntas, que a empregada, mesmo acostumada com a maneira de chegar em casa de Débora ficou atordoada. Ela não sabia se respondia as perguntas ou dava a má notícia a dona da casa.
“A menina tem estado muito bem. Se comporta como sempre, calma e obediente. Foi para a escola no horário de sempre e disse que quando chegasse gostaria de lhe acordar com um grande beijo.”
A empregada pensou que a melhor escolha era começar dando as respostas para as inquietações cotidianas da patroa. Afinal, a menina era quem mais amava naquela casa.
“Obrigada, Mara. Mas, sinto uma vibração ruim, Tem algo acontecendo fora do comum na casa.”
A empregada se surpreendeu com a sensibilidade da mulher mais jovem. Débora era uma garota de pouco mais de vinte e cinco anos. Mesmo assim, já comandava um importante hospital particular da cidade. Além de ser uma médica generalista bastante conceituada. Responsável, cuidadosa, ela sempre tinha em mente as necessidades de todos.
A sua casa era bastante grande e confortável, presente de casamento do avô, ficava em uma parte bastante privilegiada da cidade, sendo decorada em um estilo clássico, como móveis e decoração clara, entre tons pastéis e neutras. A mulher de verdade se sentia muito relaxada quando chegava na sua própria casa. Era assim que ela estava se sentindo agora. Depois de ouvir o relato da governanta sobre as atividades de sua garotinha. Ela deu um leve sorriso e estava se preparando para subir as escadas quando a outra mulher a fez parar.
“Senhora...”
“Sim.”
"O senhor está em casa.”
“Eu sei. Vi o carro dele na garagem.”
“Mas... e que ele não está sozinho.”
"Está me procurando?”
“Não. Ele disse que queria falar com o senhor Paulo. ”
O rosto de Débora se contorceu de preocupação com a resposta da empregada.
“Obrigada, pode voltar aos seus afazeres. Ao meio-dia preciso que o almoço esteja pronto. Porque quero almoçar com Ângela às doze e vinte. Pois, a tarde tem uma reunião importante no hospital.”
“Sim, senhora.”
A empregada virou as costas e se dirigiu a cozinha, para avisar a cozinheira que adiantasse o almoço, porque a patroa iria sair logo após a refeição. Enquanto isso, Débora subia as escadas para o segundo andar da casa, pensando em que assunto Carlos e Paulo tinham em comum. Tinha apenas posto os pés no segundo pavimento, quando ouviu um barulho de coisas caindo, vindo do quarto reservado a Paulo. A doutora que estava arrastando os pés de cansaço, logo recebeu um impulso de Adrenalina, quando ouviu o barulho e logo depois gritos vindos da mesma direção.
Quando ela atravessou a porta do quarto, que estava aberta, se deparou com uma cena horripilante. Sentado em uma cadeira, Carlos olhava para um rosto coberto de sangue. Ao seu lado uma mulher vestida à última moda, com um sapato de salto bem alto e fino. E mais quatro pessoas, dessas três estavam batendo no rapaz, dono do quarto.
“O que é isso?”
A voz de Débora se elevou e ricocheteou por todo o quarto, fazendo os homens pararem de bater no rapaz momentaneamente.
“Irmão, Carlos quer me matar!”
O rosto cansado de Débora ficou imediatamente pálido. Ela correu para o local em que o garoto estava sendo surrado pelos homens e os empurrou para longe do ferido, um a um. Os homens pegos de surpresa retrocederam alguns passos. Olhando para o chefe. A acenou com a cabeça para ficarem onde estavam.
“O que significa isso, diga logo, Carlos?”
“Estou dando uma lição nesse fedelho. E é melhor você não se meter.”
“Você invade a minha casa, b**e no meu irmão e não quer que eu me meta com isso?”
As pessoas que estavam na sala se surpreenderam com a forma que a mulher falava com o todo poderoso Carlos Nascimento. Muito se falava sobre como era a personalidade da mulher que se casou, ainda aos dezoito anos, como o empresário, jovem, mais badalado do momento.
Ninguém em sã consciência poderia dizer que ela era uma leoa. Mas, era assim, que o amigo mais íntimo de Carlos, Alberto, a estava vendo agora. Ele sempre teve curiosidade de conhecer a personalidade dessa mulher. Mas, nas raras vezes em que ela apareceu em público com o marido, uma máscara de indiferença cobria seu belo rosto.Os três homens que foram contratados aleatoriamente na rua para bater no garoto, também se surpreenderam com a personalidade forte da mulher. Izabel a atual namorada de Carlos detestou o ar imponente e a figura bonita que a mulher recém-chegada tinha. Mas, de todos, o mais surpreendido foi o próprio Carlos, que sempre viu a mulher como uma garota calma e fria, sem qualquer emoção aparente. Mesmo na infância, a menina parecia sempre alguém sem qualquer emoção. Só por essa surpresa ele demorou a reagir a atitude dela.“Esse fedelho andou fazendo a minha namorada beber demasiadamente.”Só após ele dizer isso, Débora prestou atenção na mulher que estava em pé ao l
Ao meio-dia foi acordada por beijos molhados no rosto. Antes de abrir os olhos, um sorriso brilhante se abriu no rosto de Débora. Sua doce Ângela chegou da escola e estava lhe acordando com o maior carinho do mundo.“Mamãe, eu te amo. Vamos ao cinema?”“Então a mocinha só me ama, quando quer ir ao cinema?”“Não, mamãe. Eu te amo sempre. Mas, é que hoje eu quero ver Frozen dois.”Débora olhou para a garota gordinha e fofa de cinco anos, sentindo seu coração cheio de calor. Eram poucas pessoas que a faziam sentir assim. Provavelmente terminaria o dia no cinema, com aquela filha fofa.“Vou pensar. Deixe-me tomar banho e ver como fazer com o trabalho de hoje. Mas, se não puder, vamos outro dia. Certo?”“Sim, mamãe.”A garota sorriu, respondendo obediente. “Já almoçou? Fez a lição?”“Não. Eu estou aqui para chamar. O almoço está na mesa.”“Certo. Desça e me espere, vou me arrumar para sair, quando chegar veremos a história do cinema.”A garotinha de cinco anos deu pulinhos de felicidade,
“Que falou sobre isso com você?”A garotinha ficou um pouco assustada, o que Débora estranhou, mas, tentou uma explicação que ela pudesse entender.“Você lembra que disse que queria um cachorrinho no seu aniversário?”“Sim, mamãe. E você disse que se eu ganhasse um animalzinho de estimação teria que amar ‘ele’, e cuidar.”“Aprendeu bem direitinho. É isso mesmo! Quando uma pessoa adota ela tem que amar e cuidar."“Então quando a senhora foi na maternidade me pegar foi como se tivesse um cachorrinho.”Débora ficou chocada com a lógica de Ângela. Mas, tentou explicar melhor.Não é a mesma coisa, de forma alguma. Você se lembra que eu disse que você nasceu no meu coração?”“Quando uma mãe adota um bebê, ele primeiro nasce no seu coração. Não pode ser outro. É um filho mesmo. Vamos fazer assim, no fim de semana nós vamos visitar a mamãe e eu te conto como você nasceu no meu coração, sua bebê maluquinha.”“Está bem. Eu quero uma trança de Elsa.”Mais uma vez, chocada, Débora ouviu a menina
Olhando para a carinha fofinha de sua pequena , Débora atendeu o telefone sem prestar muita atenção. Mas logo ficou alerta quando ouviu a voz aflita de Paulo. “Irmã, onde você está?” “No cinema com Ângela! Por que? Estava na aula de anatomia quando recebi um telefonema estranho de alguém dizendo que você sofreu um acidente perto de casa. Sai correndo, mas, percebi que um dos colegas que me convidou para a boate estava vindo atrás de mim, então entrei na sala de um professor que está lotada e resolvi telefonar para você.” “Fez bem! e o outro rapaz.” “Quando me viu entrar na sala desviou o caminho e entrou no banheiro. de lá dá para ver se além saí da sala do professor.” “Você é muito inteligente. Já identificou quem está armando para você. Volte para sala de aula, que irei resolver o caso. mande a localização do suposto acidente. E mais tarde um segurança irá escoltar você para casa.” Depois de falar isso, desligou o telefone, ligou para o chefe da segurança em casa. “Senhora?
O segurança continuou.Já providenciei as recomendações da senhora hoje cedo. e quando peguei o relatório percebi que precisaremos de um plano de contenção, já que parece nos, o Senhor Paulo é o alvo da mulher.”“Faça isso o mais rápido possível. Não quero que Paulo seja pego pela briga entre amantes.”Débora falou essas palavras sem alterar em nada sua expressão de tédio. "Irmã, desculpe. Eu não sabia que iria trazer problemas para você.”“Você não trouxe. Foram os outros.”Débora se levantou da cadeira em que estava sentada fazendo seu trabalho burocrático, tocou na cabeça do rapaz, para animá-lo. Poucas pessoas eram capazes de despertar o calor no seu coração. Paulo, a médica havia segurado em seus braços quando ele era um bebê. Além do mais, ele era filho de sua madrinha, alguém que cuidou dela e de sua mãe nos momentos mais difíceis.“Vá dormir!”Débora falou olhando para o rosto triste do rapaz.“Boa noite, Irmã.”“Boa noite, querido.”Depois que o rapaz saiu, Débora e o Chefe
Depois de sair da casa de Débora, Izabel estava fervendo de raiva. Ela nunca imaginou que seu plano acabaria assim, com Carlos com raiva dela, também. Quando instigou os colegas de Paulo para o deixar na boate, pensou que iria fazer ciúmes a Carlos e de tabela incomodar a sua esposa. Mesmo todo mundo dizendo que a esposa dele era uma criatura fria e sem emoção. Nos seis meses em que esteve no relacionamento com ele, nunca encontrou a mulher. Sempre teve curiosidade de conhecer pessoalmente essa mulher. Mas, detestou o ar imponente da outra, principalmente quando ela a chamou de velha. Ficou ainda mais disposta em armar contro o rapaz. Ele parecia meio bobinho, perfeito para cair em sua rede. Mas, sentiu um grande golpe em sua confiança quando a tarde o garoto não apareceu no local, em que havia organizado uma outra armadilha. Ao longo do dia sua raiva só foi aumentando mais. Principalmente a noite quando o Carlos não voltou para a casa em que eles viviam. Durante a tarde ela lev
Era sábado, o patriarca da família Nascimento levantou muito cedo, e pediu ao motorista que o levasse do seu pequeno sítio no interior do estado para a capital. A cidade de São Caitano fica a cerca de uma hora e meia de carro do Recife. O velho voltou para sua cidade natal depois de sua aposentadoria e lá vivia em um pequeno pedaço de terra onde de tudo cultivava um pouco. Nos moldes tradicionais, sem agrotóxicos, com a água cristalina que nasce na própria terra. Hoje os empregados que viviam com ele organizaram um monte de coisas para levar para a casa da neta amada. Um dos seus seguranças dirigia o carro enquanto os outros três ficaram na propriedade cuidando da segurança e dos empregados. O velho Jorge Nascimento conhecia aquele trajeto como a palma de sua mão, quando ele saiu da cidade aos quatorze anos para trabalhar na capital, com apenas alguns trocados, ele foi pedindo carona aqui e alí. O velho voltou à realidade depois de pensar um pouco no passado."Damião, você não esqu
A sala inteira vibrou em constrangimento, até a empregada que estava servindo o café segurou a respiração. Ela vivia na casa a muito tempo, na verdade ela serviu na casa antiga e viu todas as coisas que aconteceram na família. Ontem quando Carlos trouxe para dentro de casa a amante e aqueles bandidos para bater em Paulo. A empregada se perguntou quando a situação absurda em que essa família vivia iria ter fim. Débora, paulo e carlos trocaram olhares entre si, sem saber direito o que responder para a garotinha sobre os machucados no rosto do rapaz. “Soube que ele caiu.” Era a voz do velho salvando a situação. Nem um dos três gostaria de falar à criança o real motivo do rapaz estar com o rosto machucado. E antes que ele tivesse conseguido arrumar uma desculpa o velho os tirou do problema. Mas, isso significava, também, que ele sabia do real motivo da situação do rosto do rapaz. “Que dor! Venha aqui para eu lhe dar um beijinho! depois vai sara!” A sala antes tensa, caiu num riso só c