capítulo 2

 E eu paro, estendendo a minha mão, e digo:

- Mary Ann, muito obrigada, mas o bom de ser uma novata é descobrir as coisas sozinha, ainda mais, eu nunca venho a um lugar sem ao menos fazer umas pesquisas, então, acho que posso me virar.

A garota novamente se viu decepcionada, ela deu de ombros e baixou os olhos, tristonha, falou:

- Tudo bem, seria uma grande oportunidade de fazer uma amizade, pelo menos. - Ela falou essas palavras quase sussurrando, e levantou o olhar, notando o que eu havia ouvido e entendido suas palavras, ela deu um sorriso nervoso e falou. - Mas isso não significa que não podemos ser amigas, não é mesmo?

Por dentro, eu desejava revirar os olhos, amizade não era uma coisa que eu gostava muito de ter, era bem isolada, não sei, desde pequena eu sou assim, parece que quando eu olho para alguém, eu sinto que essa pessoa me julga ou ela me detesta, então, eu simplesmente prefiro ficar sozinha, mas eu não iria dizer isso na frente dessa garota, ou pelo menos em voz alta, devido que eu olhei em seus olhos e vi que ela estava desesperada, não sei, era como um sussurro, o bem no meu ouvido, dizendo: por favor, aqui dentro ninguém gosta de mim.

Eu mordi os lábios tentando entender se aquilo foi algo dito pelos seus lábios ou algo da minha mente, uma fantasia que acontece com muita frequência, na verdade, algo que eu odeio.

Não gosto de ser uma lunática, mas parece que com o tempo isso vem aumentando. Não falo isso aos meus pais, eles são ocupados, e mesmo que eu fosse, iriam achar que eu estava ficando louca, não é a primeira vez que eu acredito estar lendo a mente de alguém ou interpretando o que seus olhos querem dizer, não é a primeira vez também que eu tenho sonhos bizarramente assustadores, no qual a realidade se distorce.

É como se eu tivesse vivendo aquilo, pois sinto o cheiro, o aroma das flores, o frio, o calor de coração batendo tão forte que ele quase sai do meu peito, mas naquele exato momento eu tinha que me concentrar na minha realidade, apesar de ser bastante difícil muitas vezes.

E falei:

- Tudo bem, tem algumas coisas que eu ainda não sei sobre esse colégio, então você pode me mostrar, começando com a aula de línguas.

Sendo assim, ela deu uns pulinhos de tanta alegria, e sem que eu permitisse, entrelaçou seus braços no meu, me arrastando, subindo o primeiro lance de escada, passei por três garotas que estavam encostadas à parede, elas olharam para nós duas e fuxicaram algo.

Eu queria entender, e de tanto forçar, eu até pude ouvir, ou pelo menos, era isso que eu imaginava. Olha só a novata com a estranha, ela até que é bonitinha, mas ao lado dessa outra, não vai chegar até o fim do ano, aposto.

Eu não desfacei, as encarei, no momento exato em que passei por elas, como se dissesse: sim otárias, e ouvi tudo que vocês estavam dizendo, ou pensando.

Não parei para mais nada, fui arrastada pela garota que eu acabei de conhecer, e que estava desesperadamente querendo ser a minha melhor amiga, era irritante, mas eu não iria fazer inimizade no primeiro dia.

Ainda mais, eu sinto aquela sensação de que sempre que estou fazendo algo, ou sendo indelicada com alguém, me sinto como essas outras garotas, sinto que eu não sou nem um pouco como elas.

Na verdade, eu me sinto meio reclusa, uma pessoa que gosta de ficar sozinha, e que muitas vezes é crítica com tudo, inclusive comigo mesma, então eu quero mudar, um pouco, já que vim parar em uma nova cidade.

Enquanto subíamos, mais adolescentes de diversas turmas surgiam. A maioria deles me ignorava, assim como me ignoravam a minha nova colega, que insistentemente tagarelava muitas coisas.

Éramos como dois extremos, e olha que eu não a conheço muito bem para dizer isso. Mas a primeira impressão é a que fica no início, e era o que estava aparecendo.

Ela era totalmente diferente de mim. Enquanto eu odiava falar por muito tempo, ela adorava. Além do mais, adorava contato, algo que eu odiava. Mas me permiti naquele momento.

Ao chegar no segundo andar, ela mostrou os armários, as salas, e em determinado momento vi um grupo de garotos. Acho que da minha idade, um pouco mais velho que eu.

Eles eram altos. Bonitos, eu diria. Estavam com suas jaquetas, com o logotipo da escola, um terno bem elegante, no qual eu invejava. O das meninas era predominantemente rosa ou lilás.

Já dois homens eram escuros, tanto verde quanto azul. Um deles se destacava. Ele era o mais forte, o mais interessante, que tinha cabelos pretos como a noite. Longos, ondulados, que caíam sobre seu rosto pálido.

Seus olhos eram pretos. Isso só deu para perceber porque ele me encarou de volta. E, por incrível que pareça, eu não desviei o meu olhar dele. Era como se ele me puxasse de alguma forma. Uma atenção que fez o tempo diminuir, como se ficasse em câmera lenta.

Nós passamos um pelo outro. E, assim que isso aconteceu, eu senti um arrepio estranho. Foi a primeira vez que eu me senti tão vulnerável e com medo.

Não um medo ruim, mas um medo que me levava à insegurança e àqueles sonhos estranhos que eu estava tendo ultimamente. Balancei a cabeça, rindo de mim mesma, porque isso era bobagem, é óbvio.

Ele era apenas um garoto qualquer. E, de acordo com o que eu ouvi, pela pouca conversa dos amigos que tagarelavam tanto quanto essa garota que me puxava pelo braço.

Eu diria que eram jogadores. Bem, eu não sei qual o estilo de jogo que tem neste colégio. Essa não era uma parte que me deixava bem curiosa. Mas, com certeza, era o do time principal.

Só voltei a mim quando, finalmente, paramos. Ela estendeu a mão para uma sala que não estava totalmente vazia. O professor ainda não estava lá. E ela sorriu ao me olhar e disse:

- Estamos no mesmo horário, na mesma turma, e há uma cadeira do meu lado, vazia, pronta para você.

Dessa vez, eu não consegui me segurar. Eu revirei os olhos com uma sensação de: meu Deus, eu vou ter que suportar essa garota por mais tempo.

Então, eu fechei os olhos e forcei um sorriso, dizendo:

- Que coisa, não.

Foi a única coisa que eu falei. Então, entramos. Outros alunos que estavam ali se viraram contra nós, me encarando. É óbvio que, por algumas semanas, a novata teria a atenção de todos.

Uma coisa que eu odeio. Por isso, odiei me mudar. Apesar do bom currículo dessa escola ser o centro das atenções, não eram meus pontos fortes.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo