Luna
Não foi do meu agrado, vir para essa cidade. Não sou muito de reclamar por bobagens, como as outras garotas da minha idade. Na verdade, muitos diriam que não tenho a idade que tenho, pois sou bem mais avançada em muitos aspectos, contudo, meus 17 anos me prendem aos meus pais, o que me traz a North Walland. A cidade não é tão pacata quanto imaginava, contudo, tem alguma coisa aqui que me faz sentir-me mal. Não sei como explicar. É como se uma energia saísse de mim e atravessasse meu corpo. Um sussurro em meu ouvido que causa calafrios. Contudo, meus gostos estão fora do roteiro que meus pais montaram, sem me avisar. Chegamos há algumas semanas e hoje é meu primeiro dia de aula em uma das escolas mais bem-conceituadas no país. Pelo menos isso é uma coisa boa. O problema é... bem... como posso dizer... só tem gente babaca. New West é, sim, renomada, contudo, é a escola dos ricaços. É onde os filhos dos grã-finos estudam, e como todo filho mimado, são cheios de arrogância. Claro, não sou boa peça. Também tenho um pouco de cada coisa, mas, pelo menos, não saio por aí pisando em todos para conseguir o que quero, ou manter uma aparência de superior. Nesse exato momento, encaro o prédio enorme, clássico, parecendo um castelo antigo, com todas as suas características, só que muito bem cuidado e caro. É uma bela imagem. Transborda elegância, contudo, as pessoas que conversam, passam e, alguns, me encaram, não me agradam em nada. Obvio que eles se conhecem uns aos outros, sou a única estranha aqui, então, serei o alvo de atenção por um bom tempo, contudo, graças a Deus, não faço o tipo tímida. Agarrada aos meus cadernos de desenho, com minha bolsa nas costas, e um uniforme, no qual escolhi vestir a calça, ao invés da saia sugestiva, avanço entre eles. Devo confessar que estou um pouco ansiosa. Ser novata é um saco, mas vou fazer isso de cabeça erguida e sem vergonha. Mesmo que muitas das meninas, da minha idade, me olhem com desdém, ou inveja. Antes mesmo de colocar meu pé no primeiro degrau, minha trilha sonora, em meu fone de ouvido, toca algo que me deixa mais relaxada, mesmo que meu estilo musical não seja o costumeiro dessa gente. Gosto de algo mais dark, melancólico e algumas vezes, mais festivo, que transita em uma sonoridade calma, no meio dela. Respiro fundo e passo pela entrada, observando a parte de dentro da enorme escola, que já na entrada se revela não muito diferente do lado de fora. Escadas enormes nos levam para os andares de cima, e calculo que tem uns cinco andares, que distribui as salas, deixando o térreo com o salão de festa. Eu poderia dizer que essa seria a pior experiência de toda a minha vida. Vim para uma nova cidade, com pessoas estranhas, uma sensação estranha. Ainda mais dentro de uma escola com tantas pessoas no qual se importam mais com a quantia que têm em suas contas, com a moral e os bons costumes. Bem, bons costumes para eles é aparentar ter uma vida feliz, correta, sendo que na realidade eles não suportam uns aos outros. Eu deveria ter pena? Talvez. Mas, ao notar os olhares dos meus novos colegas de escola, logo esse pensamento se esvazia da minha cabeça. Eu não me importo com nenhum deles. Posso parecer arrogante? Sim, prepotente, talvez. Mas, não posso me julgar, ainda mais agora e aqui. Se eles podem ser, porque eu não? Afinal, diferente deles, eu não os olho dos pés à cabeça e os julgo por uma roupa que usa, pela fofoca alheia sobre a vida dos seus outros colegas. Eu não me importo com nada disso, a não ser com os meus estudos. Quero ingressar em Oxford e cursar letras. É algo que veio de berço, eu diria. Bem, da parte da minha mãe, já do meu pai, um grande empresário, ele deseja que eu faça administração, para tomar a liderança da empresa quando for maior e quando ele decidir se aposentar finalmente. Eu não me vejo nesta posição, acho que nunca vou me ver. Odeio ser a líder de algo no qual eu não tenho paixão alguma, negócios, isso não faz muito a minha praia. Gosto mais do meu canto, no fundo da biblioteca, lendo um livro clássico ou um mistério, no qual fico engajada até o último capítulo, para descobrir se tudo aquilo que eu imaginei realmente vai acontecer. Respiro fundo, ao finalmente voltar à minha realidade. Eu não queria fazer isso, mas uma garota, de cabelos curtos, óculos, fundo de garrafa, vestindo o terninho, que é o slogan desta enorme escola, aparece em minha frente, balbuciando alguma coisa, no qual eu tento ler pelos seus lábios. Porém, como não consigo compreender tudo, porque ela fala bastante rápido, acabo tendo que desligar a minha playlist e tirar o fone dos meus ouvidos. E assim que eu faço isso, sua voz estridente, bem irritante, adentra os meus ouvidos, me fazendo se arrepender com tudo. Acredito que esta garota esteja aqui para me recepcionar. Eu entrei no meio do ano, isso não é muito comum, mas como meu pai decidiu se mudar para cá de última hora, sem o meu consentimento, minha matrícula teve que vir para esta instituição, para que eu não perdesse nada em nenhum ano da minha fase de estudos. - Me desculpe, eu não ouvi e nem entendi nada do que você quis dizer. - Eu comunico, a garota que no mesmo instante deixou seus ombros caírem, me olhou incrédula, mas desfaçou, dando um sorriso tímido, e novamente começou a tagarelar. - Eu estava dizendo que me chamo Mary Ann, sou a pessoa que vai recepcionar você, te mostrar cada detalhe desse colégio... Continua...E eu paro, estendendo a minha mão, e digo:- Mary Ann, muito obrigada, mas o bom de ser uma novata é descobrir as coisas sozinha, ainda mais, eu nunca venho a um lugar sem ao menos fazer umas pesquisas, então, acho que posso me virar.A garota novamente se viu decepcionada, ela deu de ombros e baixou os olhos, tristonha, falou:- Tudo bem, seria uma grande oportunidade de fazer uma amizade, pelo menos. - Ela falou essas palavras quase sussurrando, e levantou o olhar, notando o que eu havia ouvido e entendido suas palavras, ela deu um sorriso nervoso e falou. - Mas isso não significa que não podemos ser amigas, não é mesmo?Por dentro, eu desejava revirar os olhos, amizade não era uma coisa que eu gostava muito de ter, era bem isolada, não sei, desde pequena eu sou assim, parece que quando eu olho para alguém, eu sinto que essa pessoa me julga ou ela me detesta, então, eu simplesmente prefiro ficar sozinha, mas eu não iria dizer isso na frente dessa garota, ou pelo menos em voz alta,
AdrianMinha vida estava começando a mudar. E eu não estava acostumada a nada disso. Claro, desde o terço eu entendia e sabia que isso iria acabar acontecendo em algum momento. Eu só não esperava que seria tão rápido assim. Nascer nesta família, com o DNA do meu pai, estava sendo difícil, ultimamente.Mesmo que, desde sempre, essa fosse uma questão no qual me desagradavam. Eu era diferente de todo mundo, não só pela riqueza que meu pai tinha. Não só pelo poder que ele exercia nessa cidade, principalmente neste colégio. Mas porque nossa linhagem vinha de um tempo antigo. Onde éramos forçados a crescer e ser quem não desejávamos ser. Pelo menos eu. Pois todo o resto, todos os meus amigos fora do colégio, os meus tios, tias, primos e primas, durante séculos, foram amaldiçoados a se transformarem em um ser totalmente desconhecido pela humanidade. E que, nos seus piores momentos, perdia totalmente a noção. E se ligava ao seu DNA primitivo, atacando tudo e todos que tiverem na sua frente
LunaSei que eu não deveria dar tanto na bola, como estou fazendo agora. Jamais iria encarar um desconhecido em qualquer lugar, mas aquele específico me dá muita curiosidade. E isso é um combustível para que eu nem perceba que estou simplesmente focada em seu olhar na pessoa e em tudo que ela esconde, pois ele é o único no qual eu não consigo entender, nem mesmo ler os seus pensamentos, mesmo que eu duvide que eu possa fazer isso realmente. Quando ele se levantou irritado, eu sabia que era por minha causa. Fiquei tão curiosa, pois nem sabia o nome dele. Aproveitei aquele momento em que a minha nova colega, tagarela, estava ao meu lado para perguntar pelo menos o seu nome. Eu viro para ela e pergunto.— Quem é aquele? Tento não apontar para ser tão descarada. Mary Ann arregala os olhos, baixa a cabeça e quase sussurrando, ela diz:— Esse é o Adrian, o filho do homem mais poderoso da cidade. Eu também diria do país, mas não quero exagerar. — Esse nome ficou ecoando em minha mente, Adr
Adrian voltou para casa de cabeça cheia. Aquele dia foi um saco, como se já não bastasse seu início da manhã.Quando pisou na escola, tudo parecia estar diferente, e mesmo estando tudo no seu devido lugar. A única coisa fora do comum foi a chegada da nova aluna. Aquela garota é realmente estranha, e conseguia o tirado sério diferente de qualquer outra garota ali. Muitas daquelas meninas já tentaram ficar com ele. Porém, com todas as suas questões familiares e até mesmo de si próprio, ele se limitava a escolher bem suas amantes. Não tinha uma boa fama, não por ser um galinha, mas por ser mal-humorado e furioso sempre. E essa fúria aumentava a todo momento. O jogo que ele mais amava, lagrosse, estava correndo riscos. Com a sua eminente transformação completa, aos 18 anos, na lua cheia, ele seria imbatível comparado aos seus colegas. Por sorte, ele já estaria formado. Mas, tudo o que Adrian queria era ser jogador de lacrosse, ir para a faculdade e ser como todos os outros garotos. M
Luna chegou em casa exausta depois de um longo dia no novo colégio. Quando a porta do carro de luxo, que fora buscá-la no colégio, se abriu, ela saiu rapidamente, bufando. Ser a aluna nova estava sendo cansativo, e aquele era apenas seu primeiro dia. Ela olhou para a fachada elegante da mansão da família e ficou ali parada, pensando em como iria suportar viver naquela cidade nova, sem ninguém que se importasse com ela ou com o que sentia.Parede que se passou dias, mas esse é só o primeiro dia. Como vou suportar passar mais tempo nesse lugar? Nessa cidade, sentindo que alguma coisa em mim, está errada?A fachada da mansão era impressionante, com seus altos pilares de mármore branco e um jardim bem cuidado que parecia uma obra de arte. As janelas amplas e os detalhes arquitetônicos sofisticados destacavam a grandiosidade do lugar. Luna respirou fundo e, após perceber que havia passado bastante tempo ali, decidiu entrar.Ao passar pela porta de entrada, de madeira maciça com entalhes d
Minha mente estava atordoada desde a noite passada. Como se já não fosse difícil de lidar depois daquela conversa. As palavras ainda ecoavam em minha mente. Quando deitei em minha cama, demorei perto no sono. Fiquei encarando o teto, esperando o sono me vencer. Mas ele demorou.Demorou bastante. E quando chegou, me levou para um mundo no qual eu não queria estar. Era sombrio, frio e assustador. Parecia que eu sentia tudo aquilo. Parecia que era real. E isso me assustava muito. Eu estava em uma floresta escura, densa, com árvores enormes, com galhos e arbustos. Ao longe, algo estava me observando, na noite escura. Eu não conseguia ver o que era. Mas não parecia ser uma pessoa. E sim, uma criatura. Uma criatura que eu não conhecia. Eu não fazia ideia do que estava encoberto nas sombras. Eu só conseguia ver seus olhos. Um intenso vermelho que me encarava. Cheguei até a ouvir a sua respiração.O urrasnado, como se fosse um cão. Muito maior do que um cão. Naquele momento, eu só pensei
PovLuna não conseguia tirar da cabeça, tudo de estranho que estava acontecendo com ela, naquele momento. Era como se o mundo ao seu redor tinha parado de girar da forma correta.Ela não entendia nada do que estava acontecendo. As luzes piscando, a raiva que sentiu naquele momento e como tudo foi embora, quando ela se acalmou.Sem falar na figura que apareceu, durante o banho. O que era aquilo? Não dá para acreditar que estou alucinando. Que adquiri a esquizofrenia da minha avó.Sim, todos sempre diziam que Anastácia, avó materna de Luna, que ela era louca. Que via coisas que não existiam, para justificar as bizarrices que ela dizia, mesmo que muitos da família soubessem da habilidade de vidência da mulher.Elisa sabia da verdade, e rezou para aquele "mal" não a alcançasse, contudo, seu medo se estendia para Luna. O que a mulher não sabia era que seu medo estava se tornando real, só que Luna não fazia ideia da herança familiar, e acreditava estar louca.Quando o motorista lhe deixou
LunaConfesso que passei muito tempo presa nas lembranças dos momentos em que adentrei este colégio, hoje pela manhã. Parece que minha vida estava virando de ponta a cabeça e eu não tinha controle nenhum sobre ela. Eu estava chateada com tudo, com os meus pais e comigo mesma. Então, do nada, Adrian esbarra em mim e eu esqueço de tudo ao nosso redor.Tive vergonha de mim mesma quando percebi que estava discutindo com o nosso garotinho preferido do colégio, na frente de todo mundo. Ainda mais daquela forma, daquele jeito e sentindo aquelas coisas que eu jamais senti. Aquela emoção. Minha vida era rodeada de coisas fúteis. De momentos nos quais eu não fazia ideia que iria guardar na memória, de tão banais que eram. Então, Adrian apareceu em minha frente e tudo simplesmente acabou como mágica. Quando pisquei os olhos, eu estava no meio do colégio, discutindo com ele. E quando fui embora, eu queria voltar para aquele momento.Era louco. Eu mal prestei atenção nas aulas de química, mesmo