capítulo 3

Adrian

Minha vida estava começando a mudar. E eu não estava acostumada a nada disso. Claro, desde o terço eu entendia e sabia que isso iria acabar acontecendo em algum momento. Eu só não esperava que seria tão rápido assim. Nascer nesta família, com o DNA do meu pai, estava sendo difícil, ultimamente.

Mesmo que, desde sempre, essa fosse uma questão no qual me desagradavam. Eu era diferente de todo mundo, não só pela riqueza que meu pai tinha.

Não só pelo poder que ele exercia nessa cidade, principalmente neste colégio. Mas porque nossa linhagem vinha de um tempo antigo. Onde éramos forçados a crescer e ser quem não desejávamos ser.

Pelo menos eu. Pois todo o resto, todos os meus amigos fora do colégio, os meus tios, tias, primos e primas, durante séculos, foram amaldiçoados a se transformarem em um ser totalmente desconhecido pela humanidade.

E que, nos seus piores momentos, perdia totalmente a noção. E se ligava ao seu DNA primitivo, atacando tudo e todos que tiverem na sua frente.

Desde sempre eu tive problemas com uma raiva. Mas assim que completei os meus 17 anos, isso ficou ainda pior. Eu não queria ter dores de cabeça depois de acordar e me pegar sonhando com o meu futuro.

Bem, meu pai dizia que isso era apenas um medo inútil, no qual eu teria que aceitar, pois não tinha volta. Há muito tempo atrás, meus ancestrais tomaram atitudes no mínimo desprezíveis, que os levou a uma maldição.

Uma bruxa muito poderosa criou a nossa linhagem, o nosso carma, que até então, transforma cada um de nós nesta feira, no qual eu abomino.

Na noite anterior, passei por algo que nunca tinha passado antes, apesar de que meu pai sempre disse que isso estava próximo de acontecer. Perdi a noção de mim mesmo. Era como se eu não fosse mais este homem, e sim outra coisa.

E que o instinto dessa outra coisa me levou a um lugar totalmente diferente dos que eu frequentava. Quando acordei naquela floresta, eu estava tão desnorteado e confuso que cheguei a ter um pico de ansiedade.

Por sorte, sempre havia alguém atrás de mim, ainda mais agora, com as minhas transformações ocorrendo com muito mais frequência. Meu corpo doía.

Apesar de ele se curar muito rápido, eu sentia meus ossos se quebrando, se moldando aquela fera no qual não tinha controle. Tomei um remédio para dor de cabeça, acreditando que assim eu poderia finalmente ir para a escola e continuar com a minha rotina diária, de humano.

Mas, desde o momento em que completei meus 17 anos, eu não fui normal. Eu não era normal, perto dos meus colegas. Eu ouvia coisas que não deveria ouvir. Eu sentia sensações que eu não queria sentir.

Eu conseguia farejar um aroma sutil a quilômetros. E o sexto sentido ficou bem mais apurado. E justamente hoje, depois daquela transformação, onde fui parar a quilômetros da minha casa, eu vejo que na escola algo estava diferente.

Quando pus os olhos naquela garota, senti como se eu já a conhecia, como se nós dois estivéssemos ligados. Seus olhos não saíram de mim e era como se eu não conseguisse entrar na minha mente.

Mas eu não permiti. Eu não podia permitir que ninguém entrasse dentro da minha cabeça e descobrisse o quão ruim eu era por dentro.

- Adrian, você está me ouvindo? – Finalmente volto para a realidade, onde meu melhor amigo me olha, com o cenho franzido, se perguntando se eu realmente estava prestando atenção no que ele dizia. – Ultimamente você anda no mundo da lua. – Resmungou.

Lua. Não faz ideia do quanto isso me afeta. A lua cheia despertava em mim, um descontrole emocional que fica cada vez pior. Com a aproximação do meu aniversário de 18 anos, as coisas ficaram ainda piores.

A puberdade para os lobos era totalmente diferente. Primeiro, vinha a fase de semitransformarão. O tato fica apurado, assim como o olfato. A força, fica descontrolada, assim como a raiva. Você sente as vibrações, os cheios estranhos, ouve o coração e o que as pessoas dizem, e metros de você. e pouco a pouco você se transforma.

Os ossos do meu corpo ficam flexíveis, eles se quebram e se montam, todas as vezes que a fúria me leva ao estado de lobo jovem. As pesas ficam evidentes, os olhos mudam de forma, e a lua, bem, ela é uma das principais culpadas por me levar para, cada vez, mais longe de casa.

Sempre que isso acontece, esqueço de tudo o que fiz. Não tenho controle sobre minhas ações, não sei como fui parar naquele lugar, e nem o que eu fiz.

Meu pai diz que isso é comum com qualquer outro membro da alcateia. E enquanto eles esperam ansiosamente para isso, eu detesto e rezo para que nunca aconteça.

- O que você quer, Jacob? – Pergunto desmotivado.

Estávamos na cantina, um lugar que, antes eu amava, agora me deixa desagradável. Os cheiros ficam todos misturados, não posso controlar, sem falar nos múrmuros e gritos dos meus colegas de escola, que em meus ouvidos, parecem berrarem.

- O jogo dessa sexta é muito importante. – Ele disse, se encostando a mesa do refeitório. Ao levantar o meu olhar, dou de cara com a novata. Ela é estranha. Parece que a conheço de algum lugar. É estranha. Uma conexão na qual não sei explicar. O problema é que me sinto vulnerável, toda vez que ela me encara. Parece desejar entrar em minha mente, mas não deixo. – O treinador quer que a gente treine mais. sabe que temos que ir para a final, e como o capitão do time, você tem uma grande responsabilidade.

- O time está muito bem focado. – Falei, desviando a minha atenção da garota. – Conhecemos o nosso adversário. Será fácil ganhar deles.

- Gosto da positividade, porém, ainda acho que devemos nos esforçar mais.

Ela ainda está me encarando. Mesmo não olhando de volta, sei que está, e isso me deixa furioso.

- Que tal reunimos o grupo? – Falei, me levantando. Perdi a fome e desejo sair daquele lugar, o quanto antes. – Você está certo.

- Estou? – Ficou surpreso.

- Vamos treinar mais. – Irritado, encaro-a de volta, o que não a intimida. – Encontro você em 10 minutos, no campo.

Saiu dali, sem olhar para trás. Quem essa garota pensa que é, para ficar me olhando tão descaradamente?

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo