capítulo 7

Minha mente estava atordoada desde a noite passada. Como se já não fosse difícil de lidar depois daquela conversa. As palavras ainda ecoavam em minha mente. Quando deitei em minha cama, demorei perto no sono. Fiquei encarando o teto, esperando o sono me vencer. Mas ele demorou.

Demorou bastante. E quando chegou, me levou para um mundo no qual eu não queria estar. Era sombrio, frio e assustador. Parecia que eu sentia tudo aquilo.

Parecia que era real. E isso me assustava muito. Eu estava em uma floresta escura, densa, com árvores enormes, com galhos e arbustos.

Ao longe, algo estava me observando, na noite escura. Eu não conseguia ver o que era. Mas não parecia ser uma pessoa. E sim, uma criatura.

Uma criatura que eu não conhecia. Eu não fazia ideia do que estava encoberto nas sombras.

Eu só conseguia ver seus olhos. Um intenso vermelho que me encarava. Cheguei até a ouvir a sua respiração.

O urrasnado, como se fosse um cão. Muito maior do que um cão. Naquele momento, eu só pensei em correr para bem longe dali. E foi o que eu fiz.

Corri por tanto tempo que minhas pernas começaram a doer. E cada vez que eu achava estar segura, ele se aproximava novamente.

Quando olhei para trás, aquela vista estava bem ao meu lado, ainda nas sombras. Eu não conseguia ver seu rosto, mas sentia sua presença tão próxima do meu corpo, que pude escutar e sentir a sua respiração quente em minha pele.

O ar faltou em meus pulmões. Eu caí e o engarei, apavorada. Então, algo diferente aconteceu. Uma paz repentina apareceu em meu coração.

Algo que me acalmou. E acalmou aquela vista também. Eu o engarei, dessa vez sem medo.

Tentando enxergá-lo ou entrar em sua mente. Pedi, apenas com o meu olhar, que ele me deixasse em paz.

Que se afastasse. E foi exatamente o que ele fez. Senti como se as folhas secas estivessem me engolindo.

Então, eu caí de volta, bem no meu colchão. No meu quarto. Acordando, com os cabelos todos bagunçados.

Assustada. Aquilo foi tão real que eu achei que realmente estava acontecendo. Foi aí que realmente levantei. Não tinha como dormir.

Resolvi, então, vestir uma roupa, colocar os sapatos e correr. Era bom para aliviar a mente. E foi o que eu fiz. Meus pais ainda dormiam.

O sol estava aiando. Era um pouco frio. Aquela cidade era bem fria. Quando o sol se abria, mesmo assim, sentíamos a temperatura diminuindo.

Acho que passei uma hora correndo em uma trilha. E quando me deparei com as árvores, eu as olhei como se estivessem novamente naquele pesadelo.

Então , resolvi voltar para casa. E o mais interessante. Correndo, olhei para a propriedade ao lado, do vizinho, depois da cerca, vi um rosto familiar.

Eu não sabia quem eram os meus vizinhos. Mas, eles tinham um grande poder aquisitivo. E um grande lote de terras. Foi lá que eu vi Adrian. Com outros dois.

Ele parecia estar lutando contra eles. Parei naquele instante e pensei.

Será que ele está sendo atacado? Ou...

Eu os vi sorrindo. Pareciam caçoar do homens, que no colégio era tão fechado. E bruto.

Ele, então, revidou, e dessa vez derrubou os dois homens.

Nervosa e esperando que ele não me visse. Voltei a correr. Em direção a minha casa. Assim que entrei pela porta. Ouvi as vozes dos empregados, e do meu pai.

Cheguei na sala e logo ele se virou. Me encarando.

— Onde você estava? — Meu pai parecia apavorado. Franzi o cenho e me aproximei. — Nos preocupou.

Levantei uma das sobrancelhas, achando interessante. Ele nunca demonstrou tanta proteção.

— Pai, eu fui correr. — Expliquei, dando um sorriso. — Sempre fiz isso...

— Aqui, não. — E novamente fiquei confusa. Isso me lembrou da conversa da noite passada e o mistério que nos cercava. — Não pode sair sem avisar.

Interessante. Ele parecia realmente furioso com a minha caminhada matinal. Preocupado. Lorenzo Vargas sabe quem é a sua filha e acredito que agora, nesse exato momento entendeu que me deu brecha para perguntas.

— Pai — Andei até onde ele estava, no centro da sala, com as mãos na cintura, e o olhei nos olhos. — Por que está tão preocupado com uma simples corrida pela nossa propriedade?

Ele, então, tentou disfarçar, olhando para o alto e soltando o ar preso em seus pulmões.

— Você é uma garota de 17 anos, que saiu cedo de casa, sem dizer nada e em uma cidade desconhecida. — Justificou.

— O senhor sabe que sou prudente e que... Nesse lugar, não há risco de nada acontecer.

— Não sabemos disso. — Voltou a me encarar, com raiva. — Está proibida de sair cedo, sozinha, para andar ou correr, sem proteção.

— Você pode me dizer o porquê de tudo isso? — Franzi o cenho, revoltada. Apertei as mãos com força. Senti meu rosto arder de raiva. — É nossa casa, uma corrida matinal, como sempre fiz. O que de tão ruim tem nisso?

Derrete, as luzes começaram a piscar e o vento bater, com mais força, na janela. Meu pai olhou envolta e ficou assustado, e foi aí que percebi isso também.

— Não vejo mal algum. — Voltou a me dar atenção, quando tudo voltou ao normal. Eu já estava mais calma, ou iria estourar a cabeça. — Só... — Ele cerrou os olhos e me encarou. — Me preocupo. — Soltei os dedos, sentindo que, talvez, tenha exagerado. — Você pode caminhar, só... Avise.

Isso é tão estranho. Me sinto assim. Balancei a cabeça, positivamente, e sai de sua frente, indo para o meu quarto, tomar um banho, eu não queria me atrasar para a escola.

Não consegui, depois de chegar ao quarto, tirar da mente, aquela cena que vi, enquanto corria. Adrian e aqueles homens. Isso era normal na vida dele?

Bem, o que é normal nessa cidade?

Ao entrar no banheiro, tirei as roupas que estavam suadas e entrei no box. Liguei o chuveiro e senti a água me limpando, porém, os sussurros em meu ouvido me deixaram paralisada. Novamente entrei em transe e virei o corpo. O vidro estava embaçado. Limprei-o e, mesmo com dificuldade, enxerguei alguém me espreitando.

O grito de susto foi alto. Me afastei no mesmo instante, e em um piscar de olhos, a figura desapareceu.

Fiquei confusa, aterrorizada, e ouvi a voz da minha mãe.

— Luna, você está bem?

Bem eu não estava. Meus olhos estavam esbugalhados. Minhas pernas tremiam e minha mente brincava comigo. Não podia dizer nada disso a ninguém, ou achariam que estou ficando louca.

— Estou bem, mãe. — A água ainda caia sobre o meu corpo, meu coração ainda batia forte. Me concentrei na respiração, esperando me acalmar. — E que eu quase caí.

— Tome mais cuidado. Eu já não avisei...

— Eu sei, mãe, vou terminar o banho.

Não ouvi mais a sua voz, contudo, a preocupação com a minha sanidade mental, só aumentava depois disso.

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