Minha mente estava atordoada desde a noite passada. Como se já não fosse difícil de lidar depois daquela conversa. As palavras ainda ecoavam em minha mente. Quando deitei em minha cama, demorei perto no sono. Fiquei encarando o teto, esperando o sono me vencer. Mas ele demorou.
Demorou bastante. E quando chegou, me levou para um mundo no qual eu não queria estar. Era sombrio, frio e assustador. Parecia que eu sentia tudo aquilo. Parecia que era real. E isso me assustava muito. Eu estava em uma floresta escura, densa, com árvores enormes, com galhos e arbustos. Ao longe, algo estava me observando, na noite escura. Eu não conseguia ver o que era. Mas não parecia ser uma pessoa. E sim, uma criatura. Uma criatura que eu não conhecia. Eu não fazia ideia do que estava encoberto nas sombras. Eu só conseguia ver seus olhos. Um intenso vermelho que me encarava. Cheguei até a ouvir a sua respiração. O urrasnado, como se fosse um cão. Muito maior do que um cão. Naquele momento, eu só pensei em correr para bem longe dali. E foi o que eu fiz. Corri por tanto tempo que minhas pernas começaram a doer. E cada vez que eu achava estar segura, ele se aproximava novamente. Quando olhei para trás, aquela vista estava bem ao meu lado, ainda nas sombras. Eu não conseguia ver seu rosto, mas sentia sua presença tão próxima do meu corpo, que pude escutar e sentir a sua respiração quente em minha pele. O ar faltou em meus pulmões. Eu caí e o engarei, apavorada. Então, algo diferente aconteceu. Uma paz repentina apareceu em meu coração. Algo que me acalmou. E acalmou aquela vista também. Eu o engarei, dessa vez sem medo. Tentando enxergá-lo ou entrar em sua mente. Pedi, apenas com o meu olhar, que ele me deixasse em paz. Que se afastasse. E foi exatamente o que ele fez. Senti como se as folhas secas estivessem me engolindo. Então, eu caí de volta, bem no meu colchão. No meu quarto. Acordando, com os cabelos todos bagunçados. Assustada. Aquilo foi tão real que eu achei que realmente estava acontecendo. Foi aí que realmente levantei. Não tinha como dormir. Resolvi, então, vestir uma roupa, colocar os sapatos e correr. Era bom para aliviar a mente. E foi o que eu fiz. Meus pais ainda dormiam. O sol estava aiando. Era um pouco frio. Aquela cidade era bem fria. Quando o sol se abria, mesmo assim, sentíamos a temperatura diminuindo. Acho que passei uma hora correndo em uma trilha. E quando me deparei com as árvores, eu as olhei como se estivessem novamente naquele pesadelo. Então , resolvi voltar para casa. E o mais interessante. Correndo, olhei para a propriedade ao lado, do vizinho, depois da cerca, vi um rosto familiar. Eu não sabia quem eram os meus vizinhos. Mas, eles tinham um grande poder aquisitivo. E um grande lote de terras. Foi lá que eu vi Adrian. Com outros dois. Ele parecia estar lutando contra eles. Parei naquele instante e pensei. Será que ele está sendo atacado? Ou... Eu os vi sorrindo. Pareciam caçoar do homens, que no colégio era tão fechado. E bruto. Ele, então, revidou, e dessa vez derrubou os dois homens. Nervosa e esperando que ele não me visse. Voltei a correr. Em direção a minha casa. Assim que entrei pela porta. Ouvi as vozes dos empregados, e do meu pai. Cheguei na sala e logo ele se virou. Me encarando. — Onde você estava? — Meu pai parecia apavorado. Franzi o cenho e me aproximei. — Nos preocupou. Levantei uma das sobrancelhas, achando interessante. Ele nunca demonstrou tanta proteção. — Pai, eu fui correr. — Expliquei, dando um sorriso. — Sempre fiz isso... — Aqui, não. — E novamente fiquei confusa. Isso me lembrou da conversa da noite passada e o mistério que nos cercava. — Não pode sair sem avisar. Interessante. Ele parecia realmente furioso com a minha caminhada matinal. Preocupado. Lorenzo Vargas sabe quem é a sua filha e acredito que agora, nesse exato momento entendeu que me deu brecha para perguntas. — Pai — Andei até onde ele estava, no centro da sala, com as mãos na cintura, e o olhei nos olhos. — Por que está tão preocupado com uma simples corrida pela nossa propriedade? Ele, então, tentou disfarçar, olhando para o alto e soltando o ar preso em seus pulmões. — Você é uma garota de 17 anos, que saiu cedo de casa, sem dizer nada e em uma cidade desconhecida. — Justificou. — O senhor sabe que sou prudente e que... Nesse lugar, não há risco de nada acontecer. — Não sabemos disso. — Voltou a me encarar, com raiva. — Está proibida de sair cedo, sozinha, para andar ou correr, sem proteção. — Você pode me dizer o porquê de tudo isso? — Franzi o cenho, revoltada. Apertei as mãos com força. Senti meu rosto arder de raiva. — É nossa casa, uma corrida matinal, como sempre fiz. O que de tão ruim tem nisso? Derrete, as luzes começaram a piscar e o vento bater, com mais força, na janela. Meu pai olhou envolta e ficou assustado, e foi aí que percebi isso também. — Não vejo mal algum. — Voltou a me dar atenção, quando tudo voltou ao normal. Eu já estava mais calma, ou iria estourar a cabeça. — Só... — Ele cerrou os olhos e me encarou. — Me preocupo. — Soltei os dedos, sentindo que, talvez, tenha exagerado. — Você pode caminhar, só... Avise. Isso é tão estranho. Me sinto assim. Balancei a cabeça, positivamente, e sai de sua frente, indo para o meu quarto, tomar um banho, eu não queria me atrasar para a escola. Não consegui, depois de chegar ao quarto, tirar da mente, aquela cena que vi, enquanto corria. Adrian e aqueles homens. Isso era normal na vida dele? Bem, o que é normal nessa cidade? Ao entrar no banheiro, tirei as roupas que estavam suadas e entrei no box. Liguei o chuveiro e senti a água me limpando, porém, os sussurros em meu ouvido me deixaram paralisada. Novamente entrei em transe e virei o corpo. O vidro estava embaçado. Limprei-o e, mesmo com dificuldade, enxerguei alguém me espreitando. O grito de susto foi alto. Me afastei no mesmo instante, e em um piscar de olhos, a figura desapareceu. Fiquei confusa, aterrorizada, e ouvi a voz da minha mãe. — Luna, você está bem? Bem eu não estava. Meus olhos estavam esbugalhados. Minhas pernas tremiam e minha mente brincava comigo. Não podia dizer nada disso a ninguém, ou achariam que estou ficando louca. — Estou bem, mãe. — A água ainda caia sobre o meu corpo, meu coração ainda batia forte. Me concentrei na respiração, esperando me acalmar. — E que eu quase caí. — Tome mais cuidado. Eu já não avisei... — Eu sei, mãe, vou terminar o banho. Não ouvi mais a sua voz, contudo, a preocupação com a minha sanidade mental, só aumentava depois disso.PovLuna não conseguia tirar da cabeça, tudo de estranho que estava acontecendo com ela, naquele momento. Era como se o mundo ao seu redor tinha parado de girar da forma correta.Ela não entendia nada do que estava acontecendo. As luzes piscando, a raiva que sentiu naquele momento e como tudo foi embora, quando ela se acalmou.Sem falar na figura que apareceu, durante o banho. O que era aquilo? Não dá para acreditar que estou alucinando. Que adquiri a esquizofrenia da minha avó.Sim, todos sempre diziam que Anastácia, avó materna de Luna, que ela era louca. Que via coisas que não existiam, para justificar as bizarrices que ela dizia, mesmo que muitos da família soubessem da habilidade de vidência da mulher.Elisa sabia da verdade, e rezou para aquele "mal" não a alcançasse, contudo, seu medo se estendia para Luna. O que a mulher não sabia era que seu medo estava se tornando real, só que Luna não fazia ideia da herança familiar, e acreditava estar louca.Quando o motorista lhe deixou
LunaConfesso que passei muito tempo presa nas lembranças dos momentos em que adentrei este colégio, hoje pela manhã. Parece que minha vida estava virando de ponta a cabeça e eu não tinha controle nenhum sobre ela. Eu estava chateada com tudo, com os meus pais e comigo mesma. Então, do nada, Adrian esbarra em mim e eu esqueço de tudo ao nosso redor.Tive vergonha de mim mesma quando percebi que estava discutindo com o nosso garotinho preferido do colégio, na frente de todo mundo. Ainda mais daquela forma, daquele jeito e sentindo aquelas coisas que eu jamais senti. Aquela emoção. Minha vida era rodeada de coisas fúteis. De momentos nos quais eu não fazia ideia que iria guardar na memória, de tão banais que eram. Então, Adrian apareceu em minha frente e tudo simplesmente acabou como mágica. Quando pisquei os olhos, eu estava no meio do colégio, discutindo com ele. E quando fui embora, eu queria voltar para aquele momento.Era louco. Eu mal prestei atenção nas aulas de química, mesmo
AdrianLuna Vargas. Nunca a vi, nem ouvi falar, mas essa garota chegou em minha vida para mudar o rumo das coisas. Bem em um momento complicado, no qual tenho que abdicar de tudo o que mais gosto.Meu caso com a professora de química não é romântico. Nunca me envolvo com alguém, esperando despertar sentimentos. É apenas uma diversão, pois as garotas da minha idade não fazem ideia de como satisfazer um cara.Ser pego por Luna, no mesmo dia em que tivemos uma briga acalorada, na frente do colégio todo, foi uma péssima surpresa. Ela claramente me odeia, mesmo sentindo uma atração, que devo confessar que me impressiona, e se essa história chegar aos ouvidos, muito bem apurados, do meu pai, as coisas podem piorar, para o meu lado.Meu pai não é um cara ruim, ele só é muito exigente, controlador, e odeia ser contrariado. Coisa que adoro fazer. Contudo, ser o líder da alcateia significa muito, muitas responsabilidades, e se eu pisar fora da linha, ele, com certeza, irá me punir.Não já basta
A noite estava sombria, e Luna só queria respirar o ar fresco. Ela sentia que havia alguma coisa errada. Seus pensamentos estavam longe, em um garoto no qual ela dizia odiar, mas que por dentro ela sentia curiosidade e desejo. Não sabia quanto tempo ficou naquela janela, pensando em tudo o que aconteceu, na conversa que os dois tiveram em um determinado momento. Acreditou que Adrian estava ali, observando no meio dos arbustos e das árvores enormes.Com um calafrio, ela entrou, fechou a janela, sentou em sua cama e pensou no que iria fazer em seguida. Aquela cidade trouxe para ela muitas dúvidas e surpresas, na qual ela não sabia se era agradável ou não. Luna respirou fundo, decidiu que era hora de dormir. Se colocou entre as cobertas, desligou o abajur e fechou os olhos, mas o sono demorou a vir. Na verdade, quando ela finalmente conseguiu adormecer, foi sequestrada pelos seus sonhos, ou melhor dizendo, pesadelos, que a atormentavam a todo o momento. E dessa vez, parecia ainda mai
Essa noite foi muito estranha para Luna. Parecia que ela estava em um sonho no qual nunca acordava. Ela jamais acordava. Mesmo fechando os olhos, espremendo e pensando muito, muito mesmo em acordar. Quando saiu para o colégio, ela não fazia ideia do que iria acontecer neste dia de lua cheia. Estava tão presa em seus pensamentos que ela simplesmente esqueceu de tudo. Apenas lembrando daquele sonho, ou daquele plano no qual ela transitava entre os vivos e os mortos. Assim como sua avó havia dito. Uma maldição?Ela repetiu em sua cabeça. As pessoas que aqui estão?Ela não entendeu. Não deu muito tempo. Quando achou que teria respostas, foi trazida de volta, sem saber o final da história. Ela tinha que entender melhor tudo que estava acontecendo, ou simplesmente, como sua mãe mesmo disse, sua avó era louca e Luna estava seguindo seus passos, mesmo não querendo. Notando que estava há muito tempo distraída, ela piscou os olhos, balançou a cabeça, virou o fundo e tentou prestar atenção
Adrian estava furioso por ter que ficar preso, como um cachorro feroz, mas sabia que era necessário. Ele tinha que admitir que não conseguia se controlar, ainda mais em um dia como esse.Ele passou o café todo, pensando em como fugir daquela jaula, contudo, não faria isso. Tinha medo de si mesmo.Talvez, ele pensou, todos tinham razão. Ele não conseguia se controlar. Deveria, já que muitos dos novatos, aprendem a fazer isso já nos primeiros meses, antes da transformação total.- Está com raiva, novamente. – a voz da sua mãe era como um calmante natural. Ele a encarou, com um sorriso. Se culpava por dar tanto trabalho. – Não precisa se preocupar. Vai aprender a controlar.- Acho que estou quebrado. – Comentou, encarando o chão. Adrian se martirizava. Era o único que estava dando tanto trabalho. – Eu já deveria ter aprendido a me controlar.A mulher acariciou seus cabelos, escuros como a noite, o trazendo para a realidade. Adrian amava a sua mãe. Ela era carinhosa, tinha uma paciência i
Quando Luna chegou em casa, ela subiu as escadas e tudo estava muito silencioso. Provavelmente seu pai ainda não chegou do trabalho e sua mãe estava escondida em algum lugar dentro desta enorme mansão.Ela cautelosamente subiu as escadas e ao passar no corredor, viu uma porta aberta. Ela entrou e descobriu a sua mãe sentada no chão, com algumas caixas em volta. Ela olhou tudo aquilo e não conseguiu entender a caixa específica em que ele estava mexendo. Então, se aproximou cautelosamente, no qual sua mãe levou um susto ao perceber sua presença.— Pelo amor de Deus, você quer me matar de susto? — Elisa levou as mãos ao seu peito, fazendo a garota rir. — Por que está chegando assim?— Fiquei curiosa. — Se aproximou mais, vendo o conteúdo da caixa. Tinha coisas velhas, porta retrato. Logo que viu a imagem da sua avó, Luna sentiu um arrepio. A levou, novamente, para a noite passada. O sonho sinistro. — São coisas da vovó?Elisabete fez que sim. Ela não estava em um bom dia. Havia momentos
Luna sabia que não era uma boa ideia esperar todos dormirem, apagarem as luzes para que ela se levantasse, vestisse uma roupa de frio, pegasse o celular e fugisse pela janela.Óbvio que era uma péssima ideia. Já estava tarde da noite e o vento que era trazido lhe dizia que as coisas só iam piorar. Assim que ela pôs os pés fora de casa, desceu cuidadosamente e adentrou os grandes arbustos e troncos de árvores.Sabia que não tinha uma volta e que algo muito estranho e ruim poderia acontecer com ela. Então, como não tinha como voltar, pois sua coragem e curiosidade estavam maior do que a razão pela qual deveria voltar, e se manter segura dentro de casa, ela continuou. Ligou a lanterna do celular e resolveu andar. Bem, para onde ela iria? Não conhece nada ali. Não conhece os caminhos. Poderia se perder. Mas, o instinto dentro dela começou a guiá-la. Ela não conhecia ao mesmo tempo. Conhecia cada passo, cada árvore.E foi isso que a guiou, adentrando o escuro, ouvindo os animais que ali v