Capítulo 02

LUCAS

Trair é uma palavra forte. Eu sei. Mas, às vezes, as coisas saem do controle antes que a gente perceba. Não estou tentando justificar o que fiz, mas, sério, a vida é complicada pra caramba.

Quando eu comecei a namorar a Clara, tudo era perfeito. Ela era incrível, ainda é, mas com o tempo, algo mudou. Não sei dizer exatamente o quê. Só sei que a gente foi se afastando aos poucos, e eu comecei a me sentir preso, como se estivesse numa rotina sem saída. As coisas que antes eram legais começaram a parecer... entediantes. Eu sei que isso parece horrível, mas é a verdade. E a verdade, às vezes, dói.

Eu nunca quis machucar a Clara. Isso eu digo de coração. Mas aí apareceu a Aline... Cara, a Aline é diferente. Ela me faz sentir vivo de novo, sabe? É como se todo aquele brilho que eu sentia no começo com a Clara tivesse voltado, só que dessa vez com a Aline. Tudo aconteceu de forma tão rápida que eu mal consegui perceber. Quando me dei conta, já estava completamente envolvido. E então percebi que precisava ser honesto com Clara. Precisava acabar com tudo antes que ficasse ainda pior.

Mas a merda é que, quando finalmente criei coragem para falar com ela, tudo o que vi foi a dor nos olhos dela. E isso me atingiu como um soco no estômago. Eu sabia que estava partindo o coração dela, e isso me fez sentir como o pior ser humano do mundo. Mas, ao mesmo tempo, eu sabia que precisava fazer isso. Não dava mais pra continuar enganando ela — e a mim mesmo.

Depois que Clara saiu correndo do café, eu fiquei lá, sentado, tentando entender como as coisas tinham chegado a esse ponto. A xícara de café ainda estava na minha frente, mas agora estava completamente fria, assim como a situação em que eu tinha me metido. Eu sempre soube que a Clara era uma boa pessoa, e vê-la daquela maneira, destruída por algo que eu causei, foi como um golpe de realidade. Eu tinha estragado tudo. Não apenas meu relacionamento com ela, mas também uma amizade que, para ela, era sagrada. Aline e Clara eram melhores amigas desde a escola. O que eu estava pensando?

As pessoas no café passavam ao meu redor, vivendo suas vidas, rindo, conversando. E ali estava eu, tentando entender como tinha me tornado "o vilão" da história. Eu não sou um cara ruim. Pelo menos, eu nunca me vi assim. Mas como eu poderia justificar para mim mesmo o que acabei de fazer?

Depois de alguns minutos, decidi ir embora. Não fazia sentido ficar ali remoendo o que já estava feito. Eu sabia que precisava falar com a Aline, contar a ela o que aconteceu. Clara agora sabia, e isso significava que Aline também precisaria saber. Se eu tinha aprendido alguma coisa nessa história toda, era que a verdade não pode ser escondida para sempre. Mais cedo ou mais tarde, ela aparece, e quando isso acontece, pode destruir tudo ao seu redor.

Caminhei até meu carro, liguei o motor, mas fiquei parado por alguns segundos, olhando para o volante. O que eu tinha feito? E, mais importante, o que eu ia fazer agora? Parte de mim queria correr atrás de Clara, tentar consertar as coisas, mas a outra parte sabia que isso não era justo. Eu não poderia voltar para ela só porque estava com medo de enfrentar as consequências dos meus atos.

Cheguei ao apartamento de Aline pouco depois. Ela morava em um pequeno estúdio no centro da cidade. Era um lugar aconchegante, cheio de livros e pequenas lembranças das viagens que ela fazia com frequência. Aline sempre foi uma aventureira. Talvez tenha sido isso que me atraiu nela. Ela era tudo o que eu sentia que tinha perdido com o tempo: a liberdade, a espontaneidade, o desejo de explorar o mundo sem medo.

Quando ela abriu a porta e me viu, sorriu daquele jeito que fazia meu coração disparar. Mas hoje, o sorriso dela me trouxe mais culpa do que felicidade.

— Ei, você tá bem? — ela perguntou, percebendo imediatamente que algo estava errado.

— Não. A gente precisa conversar. Agora.

Aline me deixou entrar, e eu me sentei no sofá, tentando encontrar as palavras certas para explicar a situação. Como você conta para alguém que o segredo que estavam escondendo explodiu na sua cara? Como você olha nos olhos de alguém e diz que, apesar de tudo, você fez a escolha certa?

— Eu contei para a Clara — disse, sem rodeios.

O rosto dela ficou pálido. Aline sabia o que isso significava. Sabia que o que tínhamos feito era errado, mas também sabia que, em algum momento, isso viria à tona. E agora, estava acontecendo.

— E como ela reagiu? — A voz dela era um sussurro, como se ela não quisesse saber a resposta.

— Mal. Como você acha que ela reagiu? Ela está arrasada, Aline. E eu... eu não sei como lidar com isso.

Aline suspirou, sentando-se ao meu lado. Ela colocou a mão na minha, tentando me reconfortar, mas nada parecia funcionar. Eu estava preso em um turbilhão de emoções e não conseguia encontrar a saída.

— Lucas, a gente sabia que isso ia ser difícil. Sabíamos que a Clara ia se machucar, mas... não tínhamos escolha. Não podíamos continuar mentindo, nem para ela, nem para nós mesmos.

Eu sabia que ela estava certa. Sabia que, apesar de tudo, essa era a única maneira de seguir em frente. Mas ainda assim, a culpa estava lá, pesada como uma âncora no meu peito. Eu tinha traído a confiança de alguém que amava, e nada que Aline dissesse poderia mudar isso.

— E agora, o que fazemos? — perguntei, tentando ignorar o desespero na minha própria voz.

— Agora... agora a gente espera. Damos um tempo pra Clara processar tudo isso. E depois... bem, depois a gente vê o que acontece.

Ela estava tentando ser prática, mas eu via o medo nos olhos dela. A verdade é que nenhum de nós sabia o que viria a seguir. Aline estava tão perdida quanto eu, e isso só tornava tudo ainda mais complicado.

— Eu não quero que você sinta que precisa escolher entre mim e ela, Lucas — Aline disse suavemente. — Eu sei que as coisas estão confusas agora, mas eu não quero ser a razão de você se afastar de alguém que sempre foi importante na sua vida.

Eu nunca tinha pensado nisso dessa maneira. Aline estava me dando uma saída, uma maneira de talvez tentar consertar as coisas com Clara, mas eu sabia que isso era impossível. A relação que eu tinha com Clara estava quebrada além do reparo, e não era justo tentar colar os pedaços quando eu mesmo havia os destruído.

— Não se trata de escolher — respondi, tentando ser honesto. — Eu só... eu não sei o que vai acontecer agora. Só sei que não posso voltar atrás.

Aline assentiu, e naquele momento percebi o quanto ela também estava sofrendo. Traição é um veneno que contamina tudo ao redor, e nós dois estávamos imersos nisso.

Depois daquela conversa, ficamos em silêncio por um bom tempo. Aline encostou a cabeça no meu ombro, e eu fiquei ali, perdido nos meus pensamentos, tentando entender o que fazer a seguir. O fim de um relacionamento é como um luto, e eu sabia que tanto eu quanto Clara precisaríamos de tempo para superar isso. E a pior parte é que, no fundo, eu sabia que nunca seríamos os mesmos depois disso.

Por mais que eu quisesse acreditar que as coisas poderiam dar certo com Aline, uma parte de mim estava presa na culpa e no arrependimento. Eu sabia que teria que lidar com isso, mas também sabia que não seria fácil.

Naquele momento, enquanto o silêncio preenchia o pequeno estúdio, tudo o que eu podia fazer era esperar para ver o que o futuro reservava para nós três. Eu só esperava que, de alguma forma, todos conseguíssemos seguir em frente e encontrar a paz que tanto buscávamos.

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