LUCAS
Trair é uma palavra forte. Eu sei. Mas, às vezes, as coisas saem do controle antes que a gente perceba. Não estou tentando justificar o que fiz, mas, sério, a vida é complicada pra caramba.
Quando eu comecei a namorar a Clara, tudo era perfeito. Ela era incrível, ainda é, mas com o tempo, algo mudou. Não sei dizer exatamente o quê. Só sei que a gente foi se afastando aos poucos, e eu comecei a me sentir preso, como se estivesse numa rotina sem saída. As coisas que antes eram legais começaram a parecer... entediantes. Eu sei que isso parece horrível, mas é a verdade. E a verdade, às vezes, dói.
Eu nunca quis machucar a Clara. Isso eu digo de coração. Mas aí apareceu a Aline... Cara, a Aline é diferente. Ela me faz sentir vivo de novo, sabe? É como se todo aquele brilho que eu sentia no começo com a Clara tivesse voltado, só que dessa vez com a Aline. Tudo aconteceu de forma tão rápida que eu mal consegui perceber. Quando me dei conta, já estava completamente envolvido. E então percebi que precisava ser honesto com Clara. Precisava acabar com tudo antes que ficasse ainda pior.
Mas a merda é que, quando finalmente criei coragem para falar com ela, tudo o que vi foi a dor nos olhos dela. E isso me atingiu como um soco no estômago. Eu sabia que estava partindo o coração dela, e isso me fez sentir como o pior ser humano do mundo. Mas, ao mesmo tempo, eu sabia que precisava fazer isso. Não dava mais pra continuar enganando ela — e a mim mesmo.
Depois que Clara saiu correndo do café, eu fiquei lá, sentado, tentando entender como as coisas tinham chegado a esse ponto. A xícara de café ainda estava na minha frente, mas agora estava completamente fria, assim como a situação em que eu tinha me metido. Eu sempre soube que a Clara era uma boa pessoa, e vê-la daquela maneira, destruída por algo que eu causei, foi como um golpe de realidade. Eu tinha estragado tudo. Não apenas meu relacionamento com ela, mas também uma amizade que, para ela, era sagrada. Aline e Clara eram melhores amigas desde a escola. O que eu estava pensando?
As pessoas no café passavam ao meu redor, vivendo suas vidas, rindo, conversando. E ali estava eu, tentando entender como tinha me tornado "o vilão" da história. Eu não sou um cara ruim. Pelo menos, eu nunca me vi assim. Mas como eu poderia justificar para mim mesmo o que acabei de fazer?
Depois de alguns minutos, decidi ir embora. Não fazia sentido ficar ali remoendo o que já estava feito. Eu sabia que precisava falar com a Aline, contar a ela o que aconteceu. Clara agora sabia, e isso significava que Aline também precisaria saber. Se eu tinha aprendido alguma coisa nessa história toda, era que a verdade não pode ser escondida para sempre. Mais cedo ou mais tarde, ela aparece, e quando isso acontece, pode destruir tudo ao seu redor.
Caminhei até meu carro, liguei o motor, mas fiquei parado por alguns segundos, olhando para o volante. O que eu tinha feito? E, mais importante, o que eu ia fazer agora? Parte de mim queria correr atrás de Clara, tentar consertar as coisas, mas a outra parte sabia que isso não era justo. Eu não poderia voltar para ela só porque estava com medo de enfrentar as consequências dos meus atos.
Cheguei ao apartamento de Aline pouco depois. Ela morava em um pequeno estúdio no centro da cidade. Era um lugar aconchegante, cheio de livros e pequenas lembranças das viagens que ela fazia com frequência. Aline sempre foi uma aventureira. Talvez tenha sido isso que me atraiu nela. Ela era tudo o que eu sentia que tinha perdido com o tempo: a liberdade, a espontaneidade, o desejo de explorar o mundo sem medo.
Quando ela abriu a porta e me viu, sorriu daquele jeito que fazia meu coração disparar. Mas hoje, o sorriso dela me trouxe mais culpa do que felicidade.
— Ei, você tá bem? — ela perguntou, percebendo imediatamente que algo estava errado.
— Não. A gente precisa conversar. Agora.
Aline me deixou entrar, e eu me sentei no sofá, tentando encontrar as palavras certas para explicar a situação. Como você conta para alguém que o segredo que estavam escondendo explodiu na sua cara? Como você olha nos olhos de alguém e diz que, apesar de tudo, você fez a escolha certa?
— Eu contei para a Clara — disse, sem rodeios.
O rosto dela ficou pálido. Aline sabia o que isso significava. Sabia que o que tínhamos feito era errado, mas também sabia que, em algum momento, isso viria à tona. E agora, estava acontecendo.
— E como ela reagiu? — A voz dela era um sussurro, como se ela não quisesse saber a resposta.
— Mal. Como você acha que ela reagiu? Ela está arrasada, Aline. E eu... eu não sei como lidar com isso.
Aline suspirou, sentando-se ao meu lado. Ela colocou a mão na minha, tentando me reconfortar, mas nada parecia funcionar. Eu estava preso em um turbilhão de emoções e não conseguia encontrar a saída.
— Lucas, a gente sabia que isso ia ser difícil. Sabíamos que a Clara ia se machucar, mas... não tínhamos escolha. Não podíamos continuar mentindo, nem para ela, nem para nós mesmos.
Eu sabia que ela estava certa. Sabia que, apesar de tudo, essa era a única maneira de seguir em frente. Mas ainda assim, a culpa estava lá, pesada como uma âncora no meu peito. Eu tinha traído a confiança de alguém que amava, e nada que Aline dissesse poderia mudar isso.
— E agora, o que fazemos? — perguntei, tentando ignorar o desespero na minha própria voz.
— Agora... agora a gente espera. Damos um tempo pra Clara processar tudo isso. E depois... bem, depois a gente vê o que acontece.
Ela estava tentando ser prática, mas eu via o medo nos olhos dela. A verdade é que nenhum de nós sabia o que viria a seguir. Aline estava tão perdida quanto eu, e isso só tornava tudo ainda mais complicado.
— Eu não quero que você sinta que precisa escolher entre mim e ela, Lucas — Aline disse suavemente. — Eu sei que as coisas estão confusas agora, mas eu não quero ser a razão de você se afastar de alguém que sempre foi importante na sua vida.
Eu nunca tinha pensado nisso dessa maneira. Aline estava me dando uma saída, uma maneira de talvez tentar consertar as coisas com Clara, mas eu sabia que isso era impossível. A relação que eu tinha com Clara estava quebrada além do reparo, e não era justo tentar colar os pedaços quando eu mesmo havia os destruído.
— Não se trata de escolher — respondi, tentando ser honesto. — Eu só... eu não sei o que vai acontecer agora. Só sei que não posso voltar atrás.
Aline assentiu, e naquele momento percebi o quanto ela também estava sofrendo. Traição é um veneno que contamina tudo ao redor, e nós dois estávamos imersos nisso.
Depois daquela conversa, ficamos em silêncio por um bom tempo. Aline encostou a cabeça no meu ombro, e eu fiquei ali, perdido nos meus pensamentos, tentando entender o que fazer a seguir. O fim de um relacionamento é como um luto, e eu sabia que tanto eu quanto Clara precisaríamos de tempo para superar isso. E a pior parte é que, no fundo, eu sabia que nunca seríamos os mesmos depois disso.
Por mais que eu quisesse acreditar que as coisas poderiam dar certo com Aline, uma parte de mim estava presa na culpa e no arrependimento. Eu sabia que teria que lidar com isso, mas também sabia que não seria fácil.
Naquele momento, enquanto o silêncio preenchia o pequeno estúdio, tudo o que eu podia fazer era esperar para ver o que o futuro reservava para nós três. Eu só esperava que, de alguma forma, todos conseguíssemos seguir em frente e encontrar a paz que tanto buscávamos.
CLARAVoltar pra casa depois de uma noite como essa é como ser atropelada por um caminhão e ainda ter que levantar sozinha. Não que eu saiba como é ser atropelada, mas acho que essa é a melhor comparação que consigo fazer no momento.Eu saí correndo daquele café sem nem saber para onde estava indo. Tudo que eu queria era fugir. Fugir do Lucas, da Aline, de mim mesma. A única coisa que meu cérebro conseguia processar era o som das palavras dele ecoando na minha cabeça: “Eu conheci alguém… é a Aline.”A Aline. A minha melhor amiga, a pessoa que eu confiava de olhos fechados, que esteve ao meu lado em todos os momentos importantes da minha vida. E agora, ela estava ao lado do Lucas, do meu namorado. Não, ex-namorado. O que me restava era tentar juntar os cacos de mim mesma e descobrir o que fazer com essa bagunça toda.Quando finalmente cheguei em casa, Ana estava na sala, assistindo a uma série qualquer. Ela olhou pra mim e, no mesmo instante, soube que algo estava terrivelmente errado.
CLARALevantar da cama depois de tudo o que aconteceu parecia um daqueles desafios impossíveis, tipo escalar o Everest sem oxigênio. Eu não sou exatamente uma expert em escaladas, mas se fosse apostar, diria que, emocionalmente, estava bem perto disso. Mesmo assim, o mundo não para, e eu não podia ficar parada também.Ana, sempre ela, estava ali para me dar um empurrãozinho. Literalmente.— Levanta, Clara. Você vai se atrasar, de novo. — Ela disse, puxando as cobertas de cima de mim como se estivesse tentando tirar um Band-Aid de uma ferida aberta.— Eu não quero. — Minha voz saiu abafada pela almofada que eu tinha enfiado na cara, na tentativa de escapar da realidade.— O que você quer é irrelevante agora. O que você precisa é sair dessa cama e começar a viver sua vida.— Ana, minha vida desmoronou, lembra? — retruquei, sem fazer nenhum esforço para me mexer.— Sua vida não desmoronou. Você só perdeu um peso morto, que, por acaso, vinha em forma de namorado infiel. Agora, levanta e v
CLARANa manhã seguinte, acordei com o som irritante do alarme. E, por um momento, quase voltei a dormir. Mas então me lembrei da reunião importante que Ricardo mencionou ontem. Era como se meu cérebro estivesse dividindo minha vida em duas partes: a bagunça emocional que era meu coração e a tentativa desesperada de manter minha carreira intacta.Levantei da cama e fui direto para o banho, deixando a água quente escorrer pelo meu corpo, tentando lavar toda a tensão acumulada. Vesti a melhor roupa que encontrei no armário, algo que me fazia sentir confiante, mesmo que só por fora. Por dentro, eu ainda estava quebrada.Quando cheguei ao escritório, o clima estava um pouco diferente. Ricardo parecia mais animado que o normal, e isso não era algo fácil de acontecer. Ele era conhecido por ser exigente, então, quando estava de bom humor, algo grande estava para acontecer.— Clara, preciso de você na sala de reuniões em cinco minutos. Vamos discutir a apresentação com o cliente — disse ele,
CLARAAquela noite eu mal dormi. Não por causa do que aconteceu com Lucas ou da traição de Aline, mas por causa de Henrique. Eu sabia que era ridículo — mal conhecia o homem! —, mas, mesmo assim, algo nele mexeu comigo de uma forma que eu não conseguia entender.No dia seguinte, acordei com a sensação de que estava prestes a fazer algo importante, mas sem ter a mínima ideia do que era. E isso me deixava ainda mais nervosa. Tomei meu café da manhã em silêncio, enquanto Ana folheava uma revista na mesa ao lado. Ela percebeu meu nervosismo, mas sabiamente não comentou nada.Fui para o trabalho como se estivesse em piloto automático. Tudo parecia fora do lugar, como se o mundo ao meu redor estivesse em câmera lenta, enquanto minha mente corria a mil por hora. Quando cheguei ao escritório, a primeira coisa que fiz foi checar meus e-mails, torcendo para encontrar alguma mensagem importante que me distraísse dos pensamentos sobre Henrique.Para minha surpresa, havia uma mensagem dele na minh
CLARANa semana seguinte, me vi pensando em Henrique mais vezes do que gostaria de admitir. Cada vez que seu nome surgia em uma conversa no escritório, sentia uma pontada de ansiedade misturada com uma excitação que eu não conseguia entender. Era como se meu corpo estivesse reagindo a ele de uma forma que minha mente não conseguia controlar.Eu sabia que estava andando em território perigoso. Depois de tudo que aconteceu com Lucas, a última coisa que eu precisava era me envolver emocionalmente com alguém, especialmente alguém tão ligado ao meu trabalho. Mas, por mais que tentasse, não conseguia evitar a atração que sentia por Henrique. Era como se algo além de mim estivesse no controle, puxando-me para ele.Na terça-feira, recebi um e-mail dele, pedindo uma reunião para discutir os próximos passos da campanha. Eu sabia que era uma simples reunião de trabalho, mas a ideia de passar mais tempo com ele me deixou nervosa. Não nervosa de um jeito ruim, mas nervosa de um jeito que fazia meu
CLARAOs dias seguintes foram uma mistura confusa de trabalho e pensamentos constantes sobre Henrique. Era como se meu cérebro tivesse decidido que ele era o novo foco central da minha vida, e não importava o quanto eu tentasse me distrair, tudo sempre voltava para ele.No escritório, as coisas continuavam normais — ou pelo menos, eu tentava agir como se estivessem. Ninguém sabia sobre o turbilhão de emoções que eu estava sentindo, nem mesmo Ana. Eu sabia que, se contasse a ela, ela iria entender, mas parte de mim ainda queria manter esses sentimentos em segredo, talvez por medo do que eles realmente significavam.Na sexta-feira à tarde, recebi outro e-mail de Henrique. Era uma mensagem curta, convidando-me para um evento de lançamento que sua empresa estava organizando na semana seguinte. Disse que seria uma boa oportunidade para discutirmos mais sobre a campanha e, claro, para eu conhecer algumas pessoas importantes do setor.Ao ler o e-mail, senti um misto de nervosismo e empolgaçã
CLARANo dia seguinte ao evento, acordei com uma sensação estranha de expectativa, como se algo estivesse prestes a acontecer. A noite anterior ainda estava fresca na minha mente, e não conseguia parar de pensar em Henrique e em tudo o que ele disse. Era como se ele tivesse plantado uma semente de esperança dentro de mim, algo que eu não sentia há muito tempo.Mas, ao mesmo tempo, havia uma nuvem de preocupação pairando sobre mim. Eu sabia que estava começando a me apaixonar por Henrique, mas também sabia que havia muitas complicações nesse caminho. A mais óbvia era o fato de que ele era tio de Lucas, o homem que havia destruído meu coração. E, mesmo que eu não tivesse contado a Henrique sobre minha relação com Lucas, sabia que esse segredo não poderia ser mantido para sempre.Passei o dia tentando me concentrar no trabalho, mas minha mente continuava voltando para Henrique. As lembranças da noite anterior se misturavam com os pensamentos do que poderia acontecer a seguir. Eu sabia qu
CLARAOs dias que seguiram ao jantar com Henrique foram uma montanha-russa emocional. Passei horas revivendo cada momento, cada palavra, cada olhar. Por um lado, me sentia incrivelmente feliz, como se finalmente estivesse começando a sair da escuridão que Lucas havia deixado em minha vida. Por outro, a culpa e o medo começaram a se instalar.Eu sabia que Henrique merecia saber a verdade sobre Lucas, mas como eu poderia contar a ele? Como eu poderia explicar que o homem que ele considerava família era o mesmo que havia partido meu coração em mil pedaços? A ideia de perder o que tínhamos, mesmo que ainda estivesse no começo, me aterrorizava. Mas, ao mesmo tempo, sabia que estava construindo algo sobre uma base de mentiras e omissões. E isso me corroía por dentro.No trabalho, tentei me concentrar, mas era difícil quando minha mente estava constantemente dividida. Henrique me enviava mensagens durante o dia, sempre simpáticas e encorajadoras, e cada uma delas fazia meu coração bater mais