Capítulo 06

CLARA

Aquela noite eu mal dormi. Não por causa do que aconteceu com Lucas ou da traição de Aline, mas por causa de Henrique. Eu sabia que era ridículo — mal conhecia o homem! —, mas, mesmo assim, algo nele mexeu comigo de uma forma que eu não conseguia entender.

No dia seguinte, acordei com a sensação de que estava prestes a fazer algo importante, mas sem ter a mínima ideia do que era. E isso me deixava ainda mais nervosa. Tomei meu café da manhã em silêncio, enquanto Ana folheava uma revista na mesa ao lado. Ela percebeu meu nervosismo, mas sabiamente não comentou nada.

Fui para o trabalho como se estivesse em piloto automático. Tudo parecia fora do lugar, como se o mundo ao meu redor estivesse em câmera lenta, enquanto minha mente corria a mil por hora. Quando cheguei ao escritório, a primeira coisa que fiz foi checar meus e-mails, torcendo para encontrar alguma mensagem importante que me distraísse dos pensamentos sobre Henrique.

Para minha surpresa, havia uma mensagem dele na minha caixa de entrada.

Assunto: Reunião de ontem

Clara,

Gostaria de agradecer pela sua dedicação na reunião de ontem. Sua apresentação foi excelente, e estou ansioso para ver como a campanha se desenvolverá. Tenho certeza de que será um sucesso.

Além disso, se você tiver algum tempo livre esta semana, gostaria de discutir algumas ideias que tive. Acredito que sua perspectiva poderia ser valiosa.

Atenciosamente,

Henrique Vasconcelos

Ao ler o e-mail, senti meu coração acelerar. Era uma mensagem simples, profissional, mas o fato de que ele estava pedindo minha opinião me fez sentir... especial. Eu sabia que era só trabalho, mas, mesmo assim, não pude evitar o sorriso que se formou nos meus lábios.

Respondi rapidamente, tentando parecer calma e centrada.

Assunto: Re: Reunião de ontem

Henrique,

Obrigada pelo feedback. Fico feliz que tenha gostado da apresentação. Estarei disponível na sexta-feira à tarde, se isso for conveniente para você. Será um prazer discutir as ideias e contribuir com o que for possível.

Atenciosamente,

Clara

Enviei a mensagem e tentei me concentrar em outras tarefas, mas minha mente continuava voltando à ideia de passar mais tempo com Henrique. Eu sabia que não deveria me deixar levar por esses pensamentos, especialmente depois do desastre emocional que estava vivendo, mas a verdade é que, de alguma forma, ele era uma distração bem-vinda.

A semana passou devagar. Cada dia parecia arrastar-se até sexta-feira finalmente chegar. Eu tentei ocupar meu tempo com trabalho, mas o pensamento de encontrar Henrique novamente ficava martelando no fundo da minha mente. Quando a tarde de sexta-feira chegou, minha ansiedade estava no auge.

Marcamos de nos encontrar em um café perto do escritório. Henrique sugeriu o lugar, e eu concordei sem pensar duas vezes. Quando cheguei, ele já estava lá, sentado em uma mesa no canto, com uma expressão calma e focada enquanto mexia no celular. Assim que me viu, levantou-se e sorriu, aquele sorriso que me fez perder o fôlego por um instante.

— Clara, que bom que veio — ele disse, puxando a cadeira para mim.

— Claro, não perderia a oportunidade de discutir mais sobre a campanha — respondi, tentando manter a compostura.

Nos sentamos, e eu me forcei a respirar fundo e relaxar. Ele estava sendo completamente profissional, e eu precisava ser também. Pedi um café, e Henrique fez o mesmo. Depois de um pequeno momento de silêncio, ele começou a falar sobre as ideias que tinha tido para a campanha.

Enquanto ele falava, percebi que estava completamente absorvida por suas palavras. Não era apenas o que ele dizia, mas como ele dizia. Henrique tinha uma maneira de falar que me deixava à vontade, mesmo em uma situação que deveria ser estritamente profissional. Ele me fazia sentir como se minha opinião realmente importasse, e isso era uma sensação nova para mim.

À medida que a conversa avançava, percebi que Henrique não era apenas um cliente importante. Ele era alguém que tinha uma visão clara, mas que também estava aberto a novas ideias. A cada sugestão que eu fazia, ele ouvia atentamente e respondia com consideração, como se estivesse realmente interessado no que eu tinha a dizer.

— Você tem uma mente criativa, Clara. Isso é raro — ele disse, depois que eu sugeri uma nova abordagem para a campanha.

Eu não sabia o que responder. Ninguém nunca tinha falado comigo daquele jeito, como se minha criatividade fosse algo valioso. Era diferente de tudo que eu já tinha experimentado no trabalho.

— Obrigada, Henrique. Eu realmente acredito que essa campanha pode ser especial, algo que as pessoas vão lembrar — respondi, tentando não deixar transparecer o quanto seu elogio me afetou.

Ele sorriu novamente, aquele sorriso que parecia derrubar todas as minhas defesas. E, por um breve momento, senti uma conexão entre nós, algo que ia além do profissional. Mas, antes que eu pudesse entender o que estava acontecendo, Henrique mudou de assunto, voltando a falar sobre a estratégia da campanha.

Terminamos a reunião com uma sensação de realização mútua. Henrique parecia satisfeito com as ideias que discutimos, e eu, apesar de ainda estar confusa sobre o que sentia, me sentia mais confiante em relação ao meu trabalho.

Quando estávamos prestes a nos despedir, Henrique me olhou de um jeito que fez meu coração disparar novamente.

— Clara, sei que estamos mantendo as coisas profissionais, mas queria dizer que admiro sua dedicação. E, se precisar de algo, estou à disposição.

Eu sabia que ele estava sendo gentil, mas havia algo em suas palavras que me fez sentir uma faísca de esperança. Talvez fosse apenas a minha mente querendo ver algo que não existia, mas, mesmo assim, aquele pequeno gesto significou muito para mim.

— Obrigada, Henrique. Vou lembrar disso — respondi, tentando não deixar minha voz tremer.

Ele se despediu com um último sorriso, e eu fiquei ali, olhando enquanto ele saía do café. Minha cabeça estava uma bagunça, mas meu coração estava mais leve do que antes. Pela primeira vez em dias, senti que talvez as coisas pudessem melhorar.

Voltei para o escritório com uma nova energia. O encontro com Henrique tinha me dado um impulso que eu não sabia que precisava. Era como se ele tivesse acendido algo dentro de mim, uma vontade de seguir em frente, de superar o que aconteceu com Lucas e Aline.

Eu sabia que ainda era cedo demais para pensar em qualquer coisa além do profissional, mas não podia negar que havia algo em Henrique que me fazia sentir... diferente. E isso era ao mesmo tempo excitante e assustador.

Quando cheguei em casa naquela noite, Ana percebeu na hora que algo tinha mudado.

— E aí? Como foi a reunião com o cliente misterioso? — ela perguntou, com aquele tom de quem já sabe a resposta.

Eu sorri, tentando esconder a emoção, mas falhando miseravelmente.

— Foi boa. Ele é... um cliente muito bom. Acho que vamos conseguir fazer um ótimo trabalho juntos.

Ana me olhou com aquela expressão de quem não acredita em uma palavra que eu disse.

— Só um cliente muito bom, hein? Sei. E você vai negar que ficou toda animada só de falar sobre ele?

Eu ri, tentando desviar do assunto.

— Ana, não tem nada de mais. É só trabalho.

Ela deu de ombros, mas seu sorriso malicioso não desapareceu.

— Claro, claro. Só trabalho. Vamos ver quanto tempo essa desculpa dura.

Eu sabia que ela estava certa. Eu estava tentando convencer a mim mesma de que não havia nada além do profissional entre mim e Henrique, mas no fundo, sabia que estava enganando a mim mesma. Algo estava acontecendo, algo que eu ainda não compreendia completamente, mas que não podia ignorar.

Naquela noite, antes de dormir, pensei em tudo o que havia acontecido desde que conheci Henrique. Era estranho, mas, de alguma forma, ele me fazia sentir viva de novo, algo que eu não sentia há muito tempo. E, apesar de todas as complicações que isso poderia trazer, não conseguia evitar o sorriso que se formou no meu rosto.

Pela primeira vez em muito tempo, eu estava começando a me sentir bem novamente.

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