CLARAOs primeiros dias na nova casa foram, de certa forma, um sonho. Sofia estava encantada com o quintal, correndo entre as árvores como se não houvesse mais preocupações no mundo. Para ela, esse novo lugar era um mundo mágico, cheio de aventuras. Para mim e Henrique, era a esperança de que essa nova vida finalmente nos traria paz.A cada manhã, quando abria as janelas e via o sol iluminando o gramado, eu tentava acreditar que o pior já tinha passado. Que agora, finalmente, poderíamos respirar e começar a construir a vida que sempre desejamos. Henrique estava mais relaxado, embora eu soubesse que ainda havia partes dele que lutavam contra os fantasmas do passado.Naquela manhã, enquanto preparava o café, senti uma paz inesperada. Era como se algo dentro de mim finalmente estivesse se assentando, como se eu pudesse começar a me permitir acreditar que essa tranquilidade era real. Sofia entrou correndo na cozinha, com os cabelos desgrenhados e o rosto radiante.— Papai disse que vamos
O sol estava começando a se pôr, e a luz dourada que atravessava as árvores pintava o campo em tons de laranja e rosa. Era uma tarde perfeita, daquelas que pareciam saídas de um sonho, mas não era um sonho. Era a nossa realidade, nossa nova vida.Henrique estava de pé ao meu lado, sua mão apertando suavemente a minha, enquanto observávamos Sofia brincar perto das flores. Ela corria, rindo, seus cachos balançando com o vento leve, completamente alheia ao que acontecia ao redor. Era pura felicidade, a inocência de uma criança que agora só conhecia o amor e a paz. E isso era tudo o que eu sempre quis para ela.— Ela está tão feliz, — murmurei, olhando para Henrique com um sorriso.Ele assentiu, um brilho de orgulho em seus olhos. Henrique era diferente agora. Ele sempre fora forte, mas agora essa força não vinha de suas lutas contra o submundo, e sim do amor que construímos. Ele era o homem que sempre esteve destinado a ser — livre, amoroso, e presente.— E é tudo graças a você, — ele di
CLARASe teve uma coisa que aprendi nos últimos anos, era que a vida nem sempre seguia o roteiro que nós tínhamos escrito em nossas cabeças. E olha que eu me considerava boa em escrever roteiros — mas… isso foi realmente algo que ficou no passado. Afinal… aos 23 anos, minha vida era praticamente perfeita. Eu tinha um emprego decente, amigos incríveis, e um namorado com quem dividi três anos da minha vida. Tudo parecia estar no lugar, mas… ultimamente, eu comecei a sentir que… alguma coisa estava faltando.Sabe aquela sensação de que você está esquecendo alguma coisa importante? Como quando você sai de casa, mas não tem certeza se trancou a porta? Bom… é esse sentimento irritante que fica martelando na minha mente o tempo inteiro, só que eu não faço ideia do que estou esquecendo. E já está começando a me deixar louca!Hoje de manhã, enquanto tomava meu café, essa sensação bateu ainda mais forte — o que quase me tirou completamente da órbita. A cozinha estava quieta, exceto pelo som do
LUCASTrair é uma palavra forte. Eu sei. Mas, às vezes, as coisas saem do controle antes que a gente perceba. Não estou tentando justificar o que fiz, mas, sério, a vida é complicada pra caramba.Quando eu comecei a namorar a Clara, tudo era perfeito. Ela era incrível, ainda é, mas com o tempo, algo mudou. Não sei dizer exatamente o quê. Só sei que a gente foi se afastando aos poucos, e eu comecei a me sentir preso, como se estivesse numa rotina sem saída. As coisas que antes eram legais começaram a parecer... entediantes. Eu sei que isso parece horrível, mas é a verdade. E a verdade, às vezes, dói.Eu nunca quis machucar a Clara. Isso eu digo de coração. Mas aí apareceu a Aline... Cara, a Aline é diferente. Ela me faz sentir vivo de novo, sabe? É como se todo aquele brilho que eu sentia no começo com a Clara tivesse voltado, só que dessa vez com a Aline. Tudo aconteceu de forma tão rápida que eu mal consegui perceber. Quando me dei conta, já estava completamente envolvido. E então pe
CLARAVoltar pra casa depois de uma noite como essa é como ser atropelada por um caminhão e ainda ter que levantar sozinha. Não que eu saiba como é ser atropelada, mas acho que essa é a melhor comparação que consigo fazer no momento.Eu saí correndo daquele café sem nem saber para onde estava indo. Tudo que eu queria era fugir. Fugir do Lucas, da Aline, de mim mesma. A única coisa que meu cérebro conseguia processar era o som das palavras dele ecoando na minha cabeça: “Eu conheci alguém… é a Aline.”A Aline. A minha melhor amiga, a pessoa que eu confiava de olhos fechados, que esteve ao meu lado em todos os momentos importantes da minha vida. E agora, ela estava ao lado do Lucas, do meu namorado. Não, ex-namorado. O que me restava era tentar juntar os cacos de mim mesma e descobrir o que fazer com essa bagunça toda.Quando finalmente cheguei em casa, Ana estava na sala, assistindo a uma série qualquer. Ela olhou pra mim e, no mesmo instante, soube que algo estava terrivelmente errado.
CLARALevantar da cama depois de tudo o que aconteceu parecia um daqueles desafios impossíveis, tipo escalar o Everest sem oxigênio. Eu não sou exatamente uma expert em escaladas, mas se fosse apostar, diria que, emocionalmente, estava bem perto disso. Mesmo assim, o mundo não para, e eu não podia ficar parada também.Ana, sempre ela, estava ali para me dar um empurrãozinho. Literalmente.— Levanta, Clara. Você vai se atrasar, de novo. — Ela disse, puxando as cobertas de cima de mim como se estivesse tentando tirar um Band-Aid de uma ferida aberta.— Eu não quero. — Minha voz saiu abafada pela almofada que eu tinha enfiado na cara, na tentativa de escapar da realidade.— O que você quer é irrelevante agora. O que você precisa é sair dessa cama e começar a viver sua vida.— Ana, minha vida desmoronou, lembra? — retruquei, sem fazer nenhum esforço para me mexer.— Sua vida não desmoronou. Você só perdeu um peso morto, que, por acaso, vinha em forma de namorado infiel. Agora, levanta e v
CLARANa manhã seguinte, acordei com o som irritante do alarme. E, por um momento, quase voltei a dormir. Mas então me lembrei da reunião importante que Ricardo mencionou ontem. Era como se meu cérebro estivesse dividindo minha vida em duas partes: a bagunça emocional que era meu coração e a tentativa desesperada de manter minha carreira intacta.Levantei da cama e fui direto para o banho, deixando a água quente escorrer pelo meu corpo, tentando lavar toda a tensão acumulada. Vesti a melhor roupa que encontrei no armário, algo que me fazia sentir confiante, mesmo que só por fora. Por dentro, eu ainda estava quebrada.Quando cheguei ao escritório, o clima estava um pouco diferente. Ricardo parecia mais animado que o normal, e isso não era algo fácil de acontecer. Ele era conhecido por ser exigente, então, quando estava de bom humor, algo grande estava para acontecer.— Clara, preciso de você na sala de reuniões em cinco minutos. Vamos discutir a apresentação com o cliente — disse ele,
CLARAAquela noite eu mal dormi. Não por causa do que aconteceu com Lucas ou da traição de Aline, mas por causa de Henrique. Eu sabia que era ridículo — mal conhecia o homem! —, mas, mesmo assim, algo nele mexeu comigo de uma forma que eu não conseguia entender.No dia seguinte, acordei com a sensação de que estava prestes a fazer algo importante, mas sem ter a mínima ideia do que era. E isso me deixava ainda mais nervosa. Tomei meu café da manhã em silêncio, enquanto Ana folheava uma revista na mesa ao lado. Ela percebeu meu nervosismo, mas sabiamente não comentou nada.Fui para o trabalho como se estivesse em piloto automático. Tudo parecia fora do lugar, como se o mundo ao meu redor estivesse em câmera lenta, enquanto minha mente corria a mil por hora. Quando cheguei ao escritório, a primeira coisa que fiz foi checar meus e-mails, torcendo para encontrar alguma mensagem importante que me distraísse dos pensamentos sobre Henrique.Para minha surpresa, havia uma mensagem dele na minh