CLARA
Na manhã seguinte, acordei com o som irritante do alarme. E, por um momento, quase voltei a dormir. Mas então me lembrei da reunião importante que Ricardo mencionou ontem. Era como se meu cérebro estivesse dividindo minha vida em duas partes: a bagunça emocional que era meu coração e a tentativa desesperada de manter minha carreira intacta.
Levantei da cama e fui direto para o banho, deixando a água quente escorrer pelo meu corpo, tentando lavar toda a tensão acumulada. Vesti a melhor roupa que encontrei no armário, algo que me fazia sentir confiante, mesmo que só por fora. Por dentro, eu ainda estava quebrada.
Quando cheguei ao escritório, o clima estava um pouco diferente. Ricardo parecia mais animado que o normal, e isso não era algo fácil de acontecer. Ele era conhecido por ser exigente, então, quando estava de bom humor, algo grande estava para acontecer.
— Clara, preciso de você na sala de reuniões em cinco minutos. Vamos discutir a apresentação com o cliente — disse ele, passando rapidamente pela minha mesa.
Cinco minutos. Isso significava que eu não tinha tempo para me preparar mentalmente. Peguei meu caderno e uma caneta e fui para a sala de reuniões, onde já havia uma mesa cheia de materiais de apresentação.
Quando entrei, Ricardo estava ajustando o projetor e organizando algumas folhas. Ele me olhou com um aceno de cabeça e continuou focado na sua tarefa. Eu me sentei e comecei a folhear os documentos, tentando me familiarizar com o que estava prestes a apresentar.
Foi então que a porta se abriu novamente, e um homem entrou na sala. Meu coração quase parou. Ele tinha uma presença que não podia ser ignorada. Alto, com ombros largos e um terno perfeitamente ajustado, ele parecia estar completamente no controle de qualquer situação. Seu cabelo, ligeiramente grisalho nas têmporas, só aumentava o charme. Quando nossos olhos se encontraram, senti um frio na barriga que não experimentava há muito tempo.
— Henrique, que bom que chegou! — Ricardo disse, sorrindo. — Esta é Clara, nossa gerente de contas. Clara, este é Henrique Vasconcelos.
Henrique Vasconcelos. O nome ressoou na minha mente enquanto ele estendia a mão para me cumprimentar. Havia algo nele que me deixava nervosa, mas não no mau sentido. Era como se toda a minha atenção tivesse sido automaticamente sugada para ele.
— Prazer em conhecê-la, Clara — ele disse, com uma voz profunda e segura, que me fez perder o foco por um segundo.
— O prazer é meu — respondi, tentando manter a compostura enquanto apertava a mão dele.
Quando nossos dedos se tocaram, senti um leve choque, como se a simples conexão física tivesse desencadeado algo dentro de mim. Era uma reação imediata, quase instintiva, que me pegou de surpresa. Mas tentei disfarçar e voltei minha atenção para os documentos à minha frente, antes que ele percebesse.
Henrique se sentou ao lado de Ricardo, e a reunião começou. Durante a primeira parte da apresentação, Ricardo liderou a discussão, explicando os detalhes da campanha que estávamos planejando para a empresa de Henrique. Eu estava ali para dar suporte, mas a maior parte da conversa estava entre os dois.
No entanto, eu não conseguia tirar meus olhos de Henrique. Ele falava com uma confiança que eu só via em grandes líderes, alguém acostumado a ter as rédeas nas mãos. E, ao mesmo tempo, havia uma gentileza em sua voz, algo que me deixava confortável, mesmo em um ambiente tão formal.
Quando chegou a minha vez de falar, eu estava estranhamente calma. Normalmente, reuniões com clientes importantes me deixavam nervosa, mas havia algo em Henrique que me fazia querer impressioná-lo, não por medo, mas porque, de alguma forma, eu queria que ele me visse como alguém competente. E isso me deu uma confiança inesperada.
— Estamos sugerindo uma abordagem mais emocional para esta campanha, algo que toque os consumidores de maneira pessoal — comecei, explicando a ideia por trás da estratégia que havíamos desenvolvido.
Henrique me olhou atentamente enquanto eu falava, seus olhos fixos nos meus, como se ele realmente se importasse com o que eu estava dizendo. Isso só aumentava meu desejo de entregar o melhor trabalho possível.
— Acho essa abordagem muito interessante, Clara — ele disse quando terminei de apresentar. — O mercado está saturado de campanhas genéricas, e uma conexão emocional pode realmente diferenciar uma marca. Você pensa em algum exemplo específico para ilustrar essa ideia?
A pergunta dele foi direta, mas sem a intenção de me colocar na berlinda. Ele realmente queria entender o conceito que eu estava propondo.
— Sim, na verdade, pensamos em usar histórias reais de clientes que tiveram suas vidas impactadas pelo produto. Não queremos apenas vender uma ideia, mas mostrar que esse impacto é tangível e significativo. Algo que as pessoas possam ver e dizer: ‘Isso poderia acontecer comigo’ — expliquei, sentindo-me mais segura a cada palavra.
Henrique assentiu, parecendo satisfeito com a resposta. A reunião continuou, mas eu mal conseguia prestar atenção em mais nada. Minha mente estava fixada na presença dele, na maneira como ele olhava para mim e na sensação estranha e excitante que aquilo me provocava.
Quando finalmente terminamos, Ricardo agradeceu a todos e começou a reunir os papéis. Henrique se levantou e olhou para mim novamente, com aquele mesmo olhar penetrante que parecia enxergar além da superfície.
— Clara, você fez um ótimo trabalho hoje. Estou ansioso para ver essa campanha ganhar vida — ele disse, com um sorriso discreto.
— Obrigada, Henrique. Foi um prazer trabalhar com você — respondi, tentando não parecer afetada, mas falhando miseravelmente por dentro.
Enquanto ele saía da sala, senti uma onda de emoções que não conseguia explicar. O que estava acontecendo comigo? Eu não deveria estar pensando em outro homem agora, muito menos no meio de todo o caos que era minha vida. Mas ali estava eu, com pensamentos que iam muito além do profissional.
Quando Henrique finalmente deixou o escritório, voltei à realidade. Ricardo me olhou com um sorriso satisfeito, provavelmente achando que estava orgulhosa da minha performance na reunião.
— Você se saiu muito bem, Clara. O Henrique é um cliente exigente, e pareceu bastante impressionado — ele disse, me dando um tapinha nas costas.
Eu sorri de volta, agradecendo, mas minha mente estava longe dali. Precisava processar o que tinha acabado de acontecer, e, mais importante, precisava entender o porquê de estar tão afetada por um homem que acabei de conhecer.
O resto do dia passou em um borrão. Voltei para minha mesa, mas tudo que eu conseguia pensar era em Henrique. Por mais que tentasse me concentrar no trabalho, minha mente insistia em voltar para aquela sala de reuniões e para o jeito como ele me olhou. Havia algo de diferente nele, algo que eu não conseguia ignorar.
Quando finalmente chegou a hora de ir para casa, senti um alívio imediato. Despedi-me dos colegas e fui direto para o carro, tentando afastar os pensamentos que me perturbavam desde a manhã. Mas a verdade é que eles não iam embora tão facilmente.
Cheguei em casa exausta, mas com a cabeça ainda girando. Ana estava na sala, como sempre, e me deu um olhar curioso assim que entrei.
— Você parece diferente hoje. O que aconteceu? — ela perguntou, franzindo a testa.
— Ah, foi só um dia longo no trabalho, nada demais — menti, tentando disfarçar a confusão que estava dentro de mim.
Mas Ana me conhecia bem demais para aceitar essa resposta. Ela se aproximou, inclinando a cabeça para o lado como se tentasse ler minha mente.
— Tem certeza? Você está parecendo... não sei, mais animada que o normal. É por causa da reunião? Deu tudo certo?
Suspirei, sabendo que não poderia esconder isso dela por muito tempo. Ana sempre teve um talento especial para perceber as coisas.
— Foi uma reunião importante, sim. Conheci um novo cliente... Henrique Vasconcelos. Ele é... diferente.
Ana levantou uma sobrancelha, claramente interessada.
— Diferente como? Bonito? Charmoso? Rico? — Ela perguntou, com um sorriso malicioso.
— Tudo isso — respondi, sem pensar, e então me dei conta de que estava entrando em território perigoso. — Mas é só isso. Um cliente importante, nada mais.
Ana não parecia convencida, mas sabia que eu precisava de espaço para processar tudo aquilo. Então, ela apenas deu de ombros e voltou para o que estava fazendo.
Mas, naquele momento, eu soube que algo havia mudado. Não sabia o que isso significava ainda, mas Henrique tinha deixado uma impressão em mim que não poderia ser ignorada. E, de alguma forma, eu sabia que minha vida estava prestes a ficar ainda mais complicada.
CLARAAquela noite eu mal dormi. Não por causa do que aconteceu com Lucas ou da traição de Aline, mas por causa de Henrique. Eu sabia que era ridículo — mal conhecia o homem! —, mas, mesmo assim, algo nele mexeu comigo de uma forma que eu não conseguia entender.No dia seguinte, acordei com a sensação de que estava prestes a fazer algo importante, mas sem ter a mínima ideia do que era. E isso me deixava ainda mais nervosa. Tomei meu café da manhã em silêncio, enquanto Ana folheava uma revista na mesa ao lado. Ela percebeu meu nervosismo, mas sabiamente não comentou nada.Fui para o trabalho como se estivesse em piloto automático. Tudo parecia fora do lugar, como se o mundo ao meu redor estivesse em câmera lenta, enquanto minha mente corria a mil por hora. Quando cheguei ao escritório, a primeira coisa que fiz foi checar meus e-mails, torcendo para encontrar alguma mensagem importante que me distraísse dos pensamentos sobre Henrique.Para minha surpresa, havia uma mensagem dele na minh
CLARANa semana seguinte, me vi pensando em Henrique mais vezes do que gostaria de admitir. Cada vez que seu nome surgia em uma conversa no escritório, sentia uma pontada de ansiedade misturada com uma excitação que eu não conseguia entender. Era como se meu corpo estivesse reagindo a ele de uma forma que minha mente não conseguia controlar.Eu sabia que estava andando em território perigoso. Depois de tudo que aconteceu com Lucas, a última coisa que eu precisava era me envolver emocionalmente com alguém, especialmente alguém tão ligado ao meu trabalho. Mas, por mais que tentasse, não conseguia evitar a atração que sentia por Henrique. Era como se algo além de mim estivesse no controle, puxando-me para ele.Na terça-feira, recebi um e-mail dele, pedindo uma reunião para discutir os próximos passos da campanha. Eu sabia que era uma simples reunião de trabalho, mas a ideia de passar mais tempo com ele me deixou nervosa. Não nervosa de um jeito ruim, mas nervosa de um jeito que fazia meu
CLARAOs dias seguintes foram uma mistura confusa de trabalho e pensamentos constantes sobre Henrique. Era como se meu cérebro tivesse decidido que ele era o novo foco central da minha vida, e não importava o quanto eu tentasse me distrair, tudo sempre voltava para ele.No escritório, as coisas continuavam normais — ou pelo menos, eu tentava agir como se estivessem. Ninguém sabia sobre o turbilhão de emoções que eu estava sentindo, nem mesmo Ana. Eu sabia que, se contasse a ela, ela iria entender, mas parte de mim ainda queria manter esses sentimentos em segredo, talvez por medo do que eles realmente significavam.Na sexta-feira à tarde, recebi outro e-mail de Henrique. Era uma mensagem curta, convidando-me para um evento de lançamento que sua empresa estava organizando na semana seguinte. Disse que seria uma boa oportunidade para discutirmos mais sobre a campanha e, claro, para eu conhecer algumas pessoas importantes do setor.Ao ler o e-mail, senti um misto de nervosismo e empolgaçã
CLARANo dia seguinte ao evento, acordei com uma sensação estranha de expectativa, como se algo estivesse prestes a acontecer. A noite anterior ainda estava fresca na minha mente, e não conseguia parar de pensar em Henrique e em tudo o que ele disse. Era como se ele tivesse plantado uma semente de esperança dentro de mim, algo que eu não sentia há muito tempo.Mas, ao mesmo tempo, havia uma nuvem de preocupação pairando sobre mim. Eu sabia que estava começando a me apaixonar por Henrique, mas também sabia que havia muitas complicações nesse caminho. A mais óbvia era o fato de que ele era tio de Lucas, o homem que havia destruído meu coração. E, mesmo que eu não tivesse contado a Henrique sobre minha relação com Lucas, sabia que esse segredo não poderia ser mantido para sempre.Passei o dia tentando me concentrar no trabalho, mas minha mente continuava voltando para Henrique. As lembranças da noite anterior se misturavam com os pensamentos do que poderia acontecer a seguir. Eu sabia qu
CLARAOs dias que seguiram ao jantar com Henrique foram uma montanha-russa emocional. Passei horas revivendo cada momento, cada palavra, cada olhar. Por um lado, me sentia incrivelmente feliz, como se finalmente estivesse começando a sair da escuridão que Lucas havia deixado em minha vida. Por outro, a culpa e o medo começaram a se instalar.Eu sabia que Henrique merecia saber a verdade sobre Lucas, mas como eu poderia contar a ele? Como eu poderia explicar que o homem que ele considerava família era o mesmo que havia partido meu coração em mil pedaços? A ideia de perder o que tínhamos, mesmo que ainda estivesse no começo, me aterrorizava. Mas, ao mesmo tempo, sabia que estava construindo algo sobre uma base de mentiras e omissões. E isso me corroía por dentro.No trabalho, tentei me concentrar, mas era difícil quando minha mente estava constantemente dividida. Henrique me enviava mensagens durante o dia, sempre simpáticas e encorajadoras, e cada uma delas fazia meu coração bater mais
CLARAA semana que se seguiu à conversa com Henrique foi uma das mais difíceis da minha vida. Cada dia parecia se arrastar, e a ausência dele era como um vazio que eu não sabia como preencher. Eu sabia que ele precisava de tempo para processar tudo, mas não podia evitar a sensação de que, de alguma forma, eu havia arruinado algo especial.No trabalho, mantive a fachada de profissionalismo, mas por dentro, estava um caos. Henrique não entrou em contato comigo durante toda a semana, e cada dia sem ouvir sua voz ou ver sua mensagem apenas intensificava a incerteza que eu sentia. As coisas entre nós haviam mudado, e eu não sabia se algum dia voltariam a ser as mesmas.Na sexta-feira, ao final do expediente, decidi que precisava sair e espairecer. Ana sugeriu que fôssemos a um novo bar que havia aberto na cidade, e, embora a ideia de sair e socializar não me atraísse muito, sabia que precisava tentar. Qualquer coisa era melhor do que ficar em casa remoendo meus pensamentos.Quando chegamos
CLARAAcordei na manhã seguinte sentindo o calor suave da luz do sol que entrava pelas cortinas. Por um momento, fiquei ali, deitada, permitindo que a realidade da noite anterior se firmasse na minha mente. Tudo o que havia acontecido entre mim e Henrique parecia um sonho, mas o toque dele ainda estava fresco na minha pele, me lembrando de que tudo era real.Virei-me para o lado e o vi ainda dormindo, a expressão tranquila em seu rosto me fez sorrir. Ele parecia tão diferente do homem confiante e controlado que eu conhecia no ambiente de trabalho. Aqui, ele era simplesmente Henrique, o homem com quem eu havia compartilhado uma noite de pura conexão. Não apenas física, mas algo mais profundo, algo que me fez sentir viva de uma forma que eu não sentia há muito tempo.Por um instante, pensei em como as coisas poderiam mudar depois disso. A relação que estávamos construindo era algo que eu sabia que poderia ser maravilhoso, mas também sabia que não seria simples. Havia tantas complicações
CLARANos dias que se seguiram à nossa conversa, senti como se uma nova fase tivesse começado entre mim e Henrique. Havia algo mais leve em nosso relacionamento agora que a verdade estava finalmente exposta. Mesmo assim, sabia que o caminho à nossa frente não seria fácil. Havia muitos sentimentos envolvidos, e o fato de Lucas estar no meio de tudo isso tornava a situação ainda mais complicada.Henrique foi um pilar de apoio durante esse período. Ele me deu o espaço que eu precisava, mas ao mesmo tempo, estava sempre presente, pronto para me ouvir ou simplesmente estar ao meu lado. Era como se a nossa conexão tivesse se tornado mais forte depois daquela conversa, e isso me deu esperança de que poderíamos superar qualquer obstáculo.No trabalho, as coisas continuaram a progredir. Nossa campanha estava ganhando forma, e Ricardo parecia mais satisfeito do que nunca com o nosso desempenho. Mesmo com toda a tensão pessoal, Henrique e eu conseguimos manter o profissionalismo, e isso era uma