Capítulo 07

CLARA

Na semana seguinte, me vi pensando em Henrique mais vezes do que gostaria de admitir. Cada vez que seu nome surgia em uma conversa no escritório, sentia uma pontada de ansiedade misturada com uma excitação que eu não conseguia entender. Era como se meu corpo estivesse reagindo a ele de uma forma que minha mente não conseguia controlar.

Eu sabia que estava andando em território perigoso. Depois de tudo que aconteceu com Lucas, a última coisa que eu precisava era me envolver emocionalmente com alguém, especialmente alguém tão ligado ao meu trabalho. Mas, por mais que tentasse, não conseguia evitar a atração que sentia por Henrique. Era como se algo além de mim estivesse no controle, puxando-me para ele.

Na terça-feira, recebi um e-mail dele, pedindo uma reunião para discutir os próximos passos da campanha. Eu sabia que era uma simples reunião de trabalho, mas a ideia de passar mais tempo com ele me deixou nervosa. Não nervosa de um jeito ruim, mas nervosa de um jeito que fazia meu coração bater mais rápido.

Quando o dia da reunião finalmente chegou, eu me preparei mais do que o normal. Escolhi uma roupa que me fizesse sentir confiante e passei mais tempo do que o habitual na frente do espelho. Enquanto me olhava, não podia deixar de pensar em como Henrique me fazia querer ser a melhor versão de mim mesma.

Cheguei ao escritório de Henrique no horário marcado, e a recepcionista me guiou até sua sala. Eu já tinha estado lá uma vez, durante uma visita anterior com Ricardo, mas agora a situação era diferente. Estava ali sozinha, e isso me deixou ainda mais consciente de cada detalhe.

Quando entrei na sala, Henrique estava em pé, olhando pela janela. Ele se virou assim que me viu e me cumprimentou com um sorriso caloroso.

— Clara, que bom que veio. Como está? — ele perguntou, puxando uma cadeira para mim.

— Estou bem, obrigada. E você? — respondi, tentando soar o mais casual possível, apesar do turbilhão que estava acontecendo dentro de mim.

— Bem, obrigado. Vamos começar? — Ele perguntou, sentando-se na cadeira ao lado da minha, em vez de ficar atrás da mesa.

Isso me pegou de surpresa. Estar tão perto dele, sem a barreira da mesa entre nós, fez com que eu me sentisse mais vulnerável, mas, ao mesmo tempo, mais conectada. Não havia nada de anormal na postura dele, mas a proximidade me deixou ciente de cada detalhe — o tom da sua voz, a maneira como ele olhava para mim, o jeito como seus dedos se moviam levemente ao folhear os papéis sobre a mesa.

A reunião começou como qualquer outra. Discutimos os próximos passos da campanha, as ideias que ele havia tido, e como poderíamos implementá-las. Eu estava focada no trabalho, mas, de vez em quando, meus pensamentos escapavam, e me pegava observando Henrique com outros olhos. A maneira como ele se movia, a confiança que exalava — tudo nele me atraía de uma forma que eu nunca tinha experimentado antes.

Em um momento, enquanto discutíamos uma proposta, nossas mãos se encontraram ao alcançarmos o mesmo papel. Foi um toque breve, quase insignificante, mas o impacto foi imediato. Um arrepio percorreu minha espinha, e eu recuei instintivamente, sentindo o calor subir até meu rosto.

— Desculpe — murmurei, tentando ignorar a intensidade daquele momento.

Henrique sorriu de lado, como se tivesse percebido o que aconteceu, mas optou por não comentar. Em vez disso, ele continuou a discussão, como se nada tivesse acontecido. Mas eu sabia que ele tinha sentido também, e isso só tornava tudo ainda mais complicado.

Terminamos a reunião cerca de uma hora depois, e enquanto eu me preparava para sair, Henrique me chamou.

— Clara, tem algo mais que eu queria dizer — ele começou, parecendo um pouco hesitante, o que era incomum para ele.

— Claro, o que é? — perguntei, tentando esconder minha curiosidade.

Ele respirou fundo, como se estivesse pesando suas palavras.

— Eu sei que estou entrando em território pessoal, mas quero que saiba que estou aqui para o que precisar. Sei que as coisas têm sido difíceis para você ultimamente, e, embora eu respeite seu espaço, quero que saiba que pode contar comigo, seja no trabalho ou fora dele.

Aquelas palavras me pegaram de surpresa. Eu não sabia que ele sabia sobre minha situação com Lucas, mas, ao mesmo tempo, fazia sentido. No mundo dos negócios, as notícias se espalham rápido, e provavelmente não foi difícil para ele juntar as peças.

— Obrigada, Henrique. Isso significa muito para mim — respondi, sentindo uma mistura de gratidão e confusão.

Ele me olhou de uma maneira que fez meu coração disparar novamente. Havia algo nos olhos dele, uma gentileza misturada com uma intensidade que eu não conseguia decifrar.

— Quero que você esteja bem, Clara. E, se precisar de um tempo para si mesma, está tudo bem. Eu entendo.

Senti meus olhos se encherem de lágrimas. Não por tristeza, mas por um misto de emoções que não conseguia controlar. Era como se, pela primeira vez em muito tempo, alguém realmente se importasse comigo, não apenas como profissional, mas como pessoa.

— Obrigada, Henrique. De verdade. — Minha voz saiu baixa, mas ele ouviu.

Ele assentiu, e por um breve momento, ficamos ali, em silêncio, apenas nos olhando. Era como se uma compreensão mútua tivesse se estabelecido entre nós, algo que ia além das palavras.

Finalmente, quebrei o silêncio.

— Acho que devo ir agora. Temos muito trabalho pela frente.

— Claro, não vou te segurar mais. Obrigado por vir, Clara.

Me despedi com um sorriso e saí da sala, sentindo o peso das emoções que acabara de experimentar. Enquanto caminhava pelo corredor, sabia que algo estava mudando dentro de mim, algo que eu não podia mais ignorar.

Voltei para o escritório tentando focar no trabalho, mas a verdade é que tudo o que eu conseguia pensar era em Henrique. Ele era diferente de qualquer pessoa que eu já tinha conhecido, e isso me assustava e atraía ao mesmo tempo. Eu sabia que estava começando a desenvolver sentimentos por ele, e isso era o último problema que eu precisava na minha vida agora.

Mas, por mais que tentasse, não conseguia afastar a ideia de que talvez, apenas talvez, Henrique pudesse ser exatamente o que eu precisava. Alguém que me entendesse, que me visse de verdade, e que, de alguma forma, me fizesse sentir viva novamente.

Naquela noite, quando voltei para casa, Ana percebeu imediatamente que algo estava diferente.

— E aí, como foi o dia? — ela perguntou, com aquele olhar curioso que eu já conhecia.

— Foi... interessante — respondi, sem querer entrar em detalhes, mas sabendo que ela não ia deixar barato.

— Interessante? Clara, você está escondendo alguma coisa. Me conta, o que está acontecendo?

Eu suspirei, sabendo que não conseguiria escapar dessa conversa.

— Tá bom, eu conheci alguém no trabalho. Quer dizer, ele é um cliente, mas... não sei, tem algo diferente nele.

Ana levantou as sobrancelhas, claramente interessada.

— Um cliente, hein? E você está interessada? Porque você parece muito interessada, se quer saber minha opinião.

Eu ri, tentando aliviar a tensão.

— Não sei, Ana. É complicado. Ele é meu cliente, e além disso, não sei se estou pronta para algo assim.

Ela me olhou com um sorriso suave.

— Clara, depois de tudo que você passou, você merece ser feliz. Se esse cara te faz sentir bem, então por que não? Só... vá com calma, tá?

Eu assenti, sabendo que ela estava certa. Mas, ao mesmo tempo, não conseguia ignorar a sensação de que estava prestes a entrar em algo muito maior do que eu podia controlar.

Naquela noite, enquanto me deitava para dormir, meus pensamentos estavam cheios de Henrique. Cada detalhe da nossa reunião, cada palavra, cada olhar, estava gravado na minha mente. E, pela primeira vez em muito tempo, senti que talvez, só talvez, as coisas pudessem dar certo.

Mas sabia que, para isso, precisaria enfrentar meus medos e permitir que algo novo e inesperado entrasse na minha vida.

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