CLARA
Voltar pra casa depois de uma noite como essa é como ser atropelada por um caminhão e ainda ter que levantar sozinha. Não que eu saiba como é ser atropelada, mas acho que essa é a melhor comparação que consigo fazer no momento.
Eu saí correndo daquele café sem nem saber para onde estava indo. Tudo que eu queria era fugir. Fugir do Lucas, da Aline, de mim mesma. A única coisa que meu cérebro conseguia processar era o som das palavras dele ecoando na minha cabeça: “Eu conheci alguém… é a Aline.”
A Aline. A minha melhor amiga, a pessoa que eu confiava de olhos fechados, que esteve ao meu lado em todos os momentos importantes da minha vida. E agora, ela estava ao lado do Lucas, do meu namorado. Não, ex-namorado. O que me restava era tentar juntar os cacos de mim mesma e descobrir o que fazer com essa bagunça toda.
Quando finalmente cheguei em casa, Ana estava na sala, assistindo a uma série qualquer. Ela olhou pra mim e, no mesmo instante, soube que algo estava terrivelmente errado.
— Clara, o que aconteceu? — Ela desligou a TV e veio correndo até mim.
Eu desabei no sofá e as palavras simplesmente saíram da minha boca como uma enxurrada.
— Ele me traiu, Ana. Com a Aline. Eles... eles estavam juntos esse tempo todo.
Ela me olhou com uma mistura de choque e raiva. Ana sempre foi do tipo que queria resolver tudo na base do “vai lá e resolve”, mas dessa vez, ela sabia que nada que ela dissesse ia consertar o que tinha acabado de acontecer.
— O que esse idiota fez?! E a Aline, como ela pôde? — Ela estava prestes a sair por aí e dar uma surra nos dois, e sinceramente, eu não estava muito longe de querer o mesmo.
— Não sei. Eu... eu nem consigo pensar direito agora. Sinto que o chão sumiu, sabe?
Ana me puxou para um abraço, e pela primeira vez naquela noite, eu deixei as lágrimas caírem. Não eram apenas lágrimas de dor; eram lágrimas de raiva, de decepção, de todas as emoções que eu estava segurando desde que saí do café.
— Você merece muito mais do que isso, Clara. Eles não valem nada. — Ela sussurrou, tentando me confortar, mas no fundo, nada parecia capaz de apagar o que eu estava sentindo.
Depois de um tempo, me afastei e olhei para Ana. Eu sabia que precisava de um plano. Não poderia simplesmente ficar ali, lamentando pelo que aconteceu. Se tem uma coisa que sempre tentei fazer, foi me manter firme, mesmo quando tudo ao redor parecia estar desmoronando.
— Preciso de uma bebida — falei, me levantando do sofá.
Ana assentiu e seguiu comigo até a cozinha. Ela pegou uma garrafa de vinho da geladeira, e logo estávamos sentadas no chão da sala, com duas taças cheias e uma caixa de chocolates ao lado.
— E agora, o que você vai fazer? — Ana perguntou, depois de um gole de vinho.
— Honestamente? Eu não faço a menor ideia. Eu quero gritar, chorar, quebrar alguma coisa... mas, acima de tudo, eu quero esquecer que eles existem.
Ela riu, mas eu sabia que, por dentro, estava preocupada. Ana sempre foi uma espécie de escudo pra mim. Quando as coisas ficavam difíceis, ela estava lá, pronta para me proteger. E agora, eu precisava encontrar uma maneira de proteger a mim mesma.
— Talvez isso seja um sinal de que você precisa de uma mudança — ela sugeriu, jogando uma almofada para o lado. — Sei lá, um novo emprego, uma viagem... alguma coisa que te tire dessa situação.
— Talvez. Mas por enquanto, acho que vou começar com um banho quente e uma boa noite de sono — respondi, meio rindo, meio chorando.
Depois de mais algumas horas conversando e bebendo, me despedi de Ana e fui para o meu quarto. Fechei a porta e me joguei na cama. O cansaço finalmente estava começando a me dominar, mas mesmo assim, minha mente continuava girando. As cenas do café, as palavras de Lucas, o sorriso de Aline... tudo isso estava preso na minha cabeça como um filme ruim que eu não conseguia parar de assistir.
Peguei o celular, pensando em mandar uma mensagem para Aline, mas o que eu diria? "Oi, como vai? Ah, e obrigada por roubar meu namorado!" Não. Não havia palavras que pudessem expressar o que eu estava sentindo. E, honestamente, eu não queria falar com ela. Não agora, talvez nunca mais.
Em vez disso, deixei o celular de lado e me enrolei nas cobertas, esperando que o sono viesse rápido e me levasse para um lugar onde nada disso existisse. Mas a verdade é que, por mais que eu tentasse, o sono não vinha. Tudo o que restava era a dor e a confusão.
Naquela noite, as horas se arrastaram. Eu rolava de um lado para o outro, tentando afastar os pensamentos que invadiam minha mente, mas eles continuavam lá, implacáveis. Como eu deixei isso acontecer? Como eu não percebi antes?
Finalmente, por volta das três da manhã, o cansaço venceu e eu caí em um sono inquieto, cheio de sonhos confusos e fragmentados. Quando acordei, o sol já estava alto, e a sensação de vazio ainda estava lá, mais forte do que nunca.
Eu sabia que precisava levantar e enfrentar o dia, mas a verdade é que não queria sair da cama. Não queria enfrentar a realidade que me esperava lá fora. Mas, como dizem, a vida continua, quer a gente esteja pronta ou não.
Levantei-me devagar, tentando juntar forças para começar o dia. Passei pela cozinha, onde Ana já estava preparando o café da manhã.
— Bom dia — ela disse, me entregando uma caneca de café.
— Se é que dá pra chamar de bom — murmurei, sentando-me à mesa.
Ana se sentou ao meu lado, e por um momento, ficamos em silêncio. Ela sabia que eu precisava de tempo para processar tudo, e eu apreciava o fato de que ela não estava tentando forçar uma conversa. Às vezes, o silêncio é tudo de que a gente precisa.
Depois do café, voltei para o quarto e decidi que precisava de um plano. Não poderia ficar ali, me afundando na tristeza. Precisava dar um jeito na minha vida, mesmo que isso significasse começar do zero. Peguei um bloco de notas e comecei a escrever.
Evitar Lucas e Aline a todo custo.
Focar no trabalho e tentar não deixar que isso me afete.
Pensar em algo novo para fazer, algo que me faça sentir viva de novo.
Não era o plano mais elaborado do mundo, mas era um começo. E, honestamente, era tudo o que eu conseguia fazer naquele momento.
Passei o resto do dia tentando me distrair. Assisti a séries, fiz uma limpeza no apartamento, qualquer coisa para manter minha mente ocupada. Mas a verdade é que, não importa o que eu fizesse, a dor estava sempre lá, latente, pronta para emergir a qualquer momento.
Foi só no final do dia, quando Ana sugeriu que saíssemos para jantar, que eu percebi que não poderia evitar o mundo para sempre. Mais cedo ou mais tarde, eu teria que encarar as coisas de frente. E eu sabia que, quando isso acontecesse, eu precisaria estar pronta para lidar com as consequências.
Mas, por enquanto, eu estava disposta a fingir que tudo estava bem, mesmo que só por algumas horas. Porque, no final das contas, todo mundo precisa de um tempo para processar as coisas antes de enfrentar a realidade.
E eu sabia que a minha realidade, por mais dolorosa que fosse, ainda tinha que ser vivida.
CLARALevantar da cama depois de tudo o que aconteceu parecia um daqueles desafios impossíveis, tipo escalar o Everest sem oxigênio. Eu não sou exatamente uma expert em escaladas, mas se fosse apostar, diria que, emocionalmente, estava bem perto disso. Mesmo assim, o mundo não para, e eu não podia ficar parada também.Ana, sempre ela, estava ali para me dar um empurrãozinho. Literalmente.— Levanta, Clara. Você vai se atrasar, de novo. — Ela disse, puxando as cobertas de cima de mim como se estivesse tentando tirar um Band-Aid de uma ferida aberta.— Eu não quero. — Minha voz saiu abafada pela almofada que eu tinha enfiado na cara, na tentativa de escapar da realidade.— O que você quer é irrelevante agora. O que você precisa é sair dessa cama e começar a viver sua vida.— Ana, minha vida desmoronou, lembra? — retruquei, sem fazer nenhum esforço para me mexer.— Sua vida não desmoronou. Você só perdeu um peso morto, que, por acaso, vinha em forma de namorado infiel. Agora, levanta e v
CLARANa manhã seguinte, acordei com o som irritante do alarme. E, por um momento, quase voltei a dormir. Mas então me lembrei da reunião importante que Ricardo mencionou ontem. Era como se meu cérebro estivesse dividindo minha vida em duas partes: a bagunça emocional que era meu coração e a tentativa desesperada de manter minha carreira intacta.Levantei da cama e fui direto para o banho, deixando a água quente escorrer pelo meu corpo, tentando lavar toda a tensão acumulada. Vesti a melhor roupa que encontrei no armário, algo que me fazia sentir confiante, mesmo que só por fora. Por dentro, eu ainda estava quebrada.Quando cheguei ao escritório, o clima estava um pouco diferente. Ricardo parecia mais animado que o normal, e isso não era algo fácil de acontecer. Ele era conhecido por ser exigente, então, quando estava de bom humor, algo grande estava para acontecer.— Clara, preciso de você na sala de reuniões em cinco minutos. Vamos discutir a apresentação com o cliente — disse ele,
CLARAAquela noite eu mal dormi. Não por causa do que aconteceu com Lucas ou da traição de Aline, mas por causa de Henrique. Eu sabia que era ridículo — mal conhecia o homem! —, mas, mesmo assim, algo nele mexeu comigo de uma forma que eu não conseguia entender.No dia seguinte, acordei com a sensação de que estava prestes a fazer algo importante, mas sem ter a mínima ideia do que era. E isso me deixava ainda mais nervosa. Tomei meu café da manhã em silêncio, enquanto Ana folheava uma revista na mesa ao lado. Ela percebeu meu nervosismo, mas sabiamente não comentou nada.Fui para o trabalho como se estivesse em piloto automático. Tudo parecia fora do lugar, como se o mundo ao meu redor estivesse em câmera lenta, enquanto minha mente corria a mil por hora. Quando cheguei ao escritório, a primeira coisa que fiz foi checar meus e-mails, torcendo para encontrar alguma mensagem importante que me distraísse dos pensamentos sobre Henrique.Para minha surpresa, havia uma mensagem dele na minh
CLARANa semana seguinte, me vi pensando em Henrique mais vezes do que gostaria de admitir. Cada vez que seu nome surgia em uma conversa no escritório, sentia uma pontada de ansiedade misturada com uma excitação que eu não conseguia entender. Era como se meu corpo estivesse reagindo a ele de uma forma que minha mente não conseguia controlar.Eu sabia que estava andando em território perigoso. Depois de tudo que aconteceu com Lucas, a última coisa que eu precisava era me envolver emocionalmente com alguém, especialmente alguém tão ligado ao meu trabalho. Mas, por mais que tentasse, não conseguia evitar a atração que sentia por Henrique. Era como se algo além de mim estivesse no controle, puxando-me para ele.Na terça-feira, recebi um e-mail dele, pedindo uma reunião para discutir os próximos passos da campanha. Eu sabia que era uma simples reunião de trabalho, mas a ideia de passar mais tempo com ele me deixou nervosa. Não nervosa de um jeito ruim, mas nervosa de um jeito que fazia meu
CLARAOs dias seguintes foram uma mistura confusa de trabalho e pensamentos constantes sobre Henrique. Era como se meu cérebro tivesse decidido que ele era o novo foco central da minha vida, e não importava o quanto eu tentasse me distrair, tudo sempre voltava para ele.No escritório, as coisas continuavam normais — ou pelo menos, eu tentava agir como se estivessem. Ninguém sabia sobre o turbilhão de emoções que eu estava sentindo, nem mesmo Ana. Eu sabia que, se contasse a ela, ela iria entender, mas parte de mim ainda queria manter esses sentimentos em segredo, talvez por medo do que eles realmente significavam.Na sexta-feira à tarde, recebi outro e-mail de Henrique. Era uma mensagem curta, convidando-me para um evento de lançamento que sua empresa estava organizando na semana seguinte. Disse que seria uma boa oportunidade para discutirmos mais sobre a campanha e, claro, para eu conhecer algumas pessoas importantes do setor.Ao ler o e-mail, senti um misto de nervosismo e empolgaçã
CLARANo dia seguinte ao evento, acordei com uma sensação estranha de expectativa, como se algo estivesse prestes a acontecer. A noite anterior ainda estava fresca na minha mente, e não conseguia parar de pensar em Henrique e em tudo o que ele disse. Era como se ele tivesse plantado uma semente de esperança dentro de mim, algo que eu não sentia há muito tempo.Mas, ao mesmo tempo, havia uma nuvem de preocupação pairando sobre mim. Eu sabia que estava começando a me apaixonar por Henrique, mas também sabia que havia muitas complicações nesse caminho. A mais óbvia era o fato de que ele era tio de Lucas, o homem que havia destruído meu coração. E, mesmo que eu não tivesse contado a Henrique sobre minha relação com Lucas, sabia que esse segredo não poderia ser mantido para sempre.Passei o dia tentando me concentrar no trabalho, mas minha mente continuava voltando para Henrique. As lembranças da noite anterior se misturavam com os pensamentos do que poderia acontecer a seguir. Eu sabia qu
CLARAOs dias que seguiram ao jantar com Henrique foram uma montanha-russa emocional. Passei horas revivendo cada momento, cada palavra, cada olhar. Por um lado, me sentia incrivelmente feliz, como se finalmente estivesse começando a sair da escuridão que Lucas havia deixado em minha vida. Por outro, a culpa e o medo começaram a se instalar.Eu sabia que Henrique merecia saber a verdade sobre Lucas, mas como eu poderia contar a ele? Como eu poderia explicar que o homem que ele considerava família era o mesmo que havia partido meu coração em mil pedaços? A ideia de perder o que tínhamos, mesmo que ainda estivesse no começo, me aterrorizava. Mas, ao mesmo tempo, sabia que estava construindo algo sobre uma base de mentiras e omissões. E isso me corroía por dentro.No trabalho, tentei me concentrar, mas era difícil quando minha mente estava constantemente dividida. Henrique me enviava mensagens durante o dia, sempre simpáticas e encorajadoras, e cada uma delas fazia meu coração bater mais
CLARAA semana que se seguiu à conversa com Henrique foi uma das mais difíceis da minha vida. Cada dia parecia se arrastar, e a ausência dele era como um vazio que eu não sabia como preencher. Eu sabia que ele precisava de tempo para processar tudo, mas não podia evitar a sensação de que, de alguma forma, eu havia arruinado algo especial.No trabalho, mantive a fachada de profissionalismo, mas por dentro, estava um caos. Henrique não entrou em contato comigo durante toda a semana, e cada dia sem ouvir sua voz ou ver sua mensagem apenas intensificava a incerteza que eu sentia. As coisas entre nós haviam mudado, e eu não sabia se algum dia voltariam a ser as mesmas.Na sexta-feira, ao final do expediente, decidi que precisava sair e espairecer. Ana sugeriu que fôssemos a um novo bar que havia aberto na cidade, e, embora a ideia de sair e socializar não me atraísse muito, sabia que precisava tentar. Qualquer coisa era melhor do que ficar em casa remoendo meus pensamentos.Quando chegamos