Capítulo 03

CLARA

Voltar pra casa depois de uma noite como essa é como ser atropelada por um caminhão e ainda ter que levantar sozinha. Não que eu saiba como é ser atropelada, mas acho que essa é a melhor comparação que consigo fazer no momento.

Eu saí correndo daquele café sem nem saber para onde estava indo. Tudo que eu queria era fugir. Fugir do Lucas, da Aline, de mim mesma. A única coisa que meu cérebro conseguia processar era o som das palavras dele ecoando na minha cabeça: “Eu conheci alguém… é a Aline.”

A Aline. A minha melhor amiga, a pessoa que eu confiava de olhos fechados, que esteve ao meu lado em todos os momentos importantes da minha vida. E agora, ela estava ao lado do Lucas, do meu namorado. Não, ex-namorado. O que me restava era tentar juntar os cacos de mim mesma e descobrir o que fazer com essa bagunça toda.

Quando finalmente cheguei em casa, Ana estava na sala, assistindo a uma série qualquer. Ela olhou pra mim e, no mesmo instante, soube que algo estava terrivelmente errado.

— Clara, o que aconteceu? — Ela desligou a TV e veio correndo até mim.

Eu desabei no sofá e as palavras simplesmente saíram da minha boca como uma enxurrada.

— Ele me traiu, Ana. Com a Aline. Eles... eles estavam juntos esse tempo todo.

Ela me olhou com uma mistura de choque e raiva. Ana sempre foi do tipo que queria resolver tudo na base do “vai lá e resolve”, mas dessa vez, ela sabia que nada que ela dissesse ia consertar o que tinha acabado de acontecer.

— O que esse idiota fez?! E a Aline, como ela pôde? — Ela estava prestes a sair por aí e dar uma surra nos dois, e sinceramente, eu não estava muito longe de querer o mesmo.

— Não sei. Eu... eu nem consigo pensar direito agora. Sinto que o chão sumiu, sabe?

Ana me puxou para um abraço, e pela primeira vez naquela noite, eu deixei as lágrimas caírem. Não eram apenas lágrimas de dor; eram lágrimas de raiva, de decepção, de todas as emoções que eu estava segurando desde que saí do café.

— Você merece muito mais do que isso, Clara. Eles não valem nada. — Ela sussurrou, tentando me confortar, mas no fundo, nada parecia capaz de apagar o que eu estava sentindo.

Depois de um tempo, me afastei e olhei para Ana. Eu sabia que precisava de um plano. Não poderia simplesmente ficar ali, lamentando pelo que aconteceu. Se tem uma coisa que sempre tentei fazer, foi me manter firme, mesmo quando tudo ao redor parecia estar desmoronando.

— Preciso de uma bebida — falei, me levantando do sofá.

Ana assentiu e seguiu comigo até a cozinha. Ela pegou uma garrafa de vinho da geladeira, e logo estávamos sentadas no chão da sala, com duas taças cheias e uma caixa de chocolates ao lado.

— E agora, o que você vai fazer? — Ana perguntou, depois de um gole de vinho.

— Honestamente? Eu não faço a menor ideia. Eu quero gritar, chorar, quebrar alguma coisa... mas, acima de tudo, eu quero esquecer que eles existem.

Ela riu, mas eu sabia que, por dentro, estava preocupada. Ana sempre foi uma espécie de escudo pra mim. Quando as coisas ficavam difíceis, ela estava lá, pronta para me proteger. E agora, eu precisava encontrar uma maneira de proteger a mim mesma.

— Talvez isso seja um sinal de que você precisa de uma mudança — ela sugeriu, jogando uma almofada para o lado. — Sei lá, um novo emprego, uma viagem... alguma coisa que te tire dessa situação.

— Talvez. Mas por enquanto, acho que vou começar com um banho quente e uma boa noite de sono — respondi, meio rindo, meio chorando.

Depois de mais algumas horas conversando e bebendo, me despedi de Ana e fui para o meu quarto. Fechei a porta e me joguei na cama. O cansaço finalmente estava começando a me dominar, mas mesmo assim, minha mente continuava girando. As cenas do café, as palavras de Lucas, o sorriso de Aline... tudo isso estava preso na minha cabeça como um filme ruim que eu não conseguia parar de assistir.

Peguei o celular, pensando em mandar uma mensagem para Aline, mas o que eu diria? "Oi, como vai? Ah, e obrigada por roubar meu namorado!" Não. Não havia palavras que pudessem expressar o que eu estava sentindo. E, honestamente, eu não queria falar com ela. Não agora, talvez nunca mais.

Em vez disso, deixei o celular de lado e me enrolei nas cobertas, esperando que o sono viesse rápido e me levasse para um lugar onde nada disso existisse. Mas a verdade é que, por mais que eu tentasse, o sono não vinha. Tudo o que restava era a dor e a confusão.

Naquela noite, as horas se arrastaram. Eu rolava de um lado para o outro, tentando afastar os pensamentos que invadiam minha mente, mas eles continuavam lá, implacáveis. Como eu deixei isso acontecer? Como eu não percebi antes?

Finalmente, por volta das três da manhã, o cansaço venceu e eu caí em um sono inquieto, cheio de sonhos confusos e fragmentados. Quando acordei, o sol já estava alto, e a sensação de vazio ainda estava lá, mais forte do que nunca.

Eu sabia que precisava levantar e enfrentar o dia, mas a verdade é que não queria sair da cama. Não queria enfrentar a realidade que me esperava lá fora. Mas, como dizem, a vida continua, quer a gente esteja pronta ou não.

Levantei-me devagar, tentando juntar forças para começar o dia. Passei pela cozinha, onde Ana já estava preparando o café da manhã.

— Bom dia — ela disse, me entregando uma caneca de café.

— Se é que dá pra chamar de bom — murmurei, sentando-me à mesa.

Ana se sentou ao meu lado, e por um momento, ficamos em silêncio. Ela sabia que eu precisava de tempo para processar tudo, e eu apreciava o fato de que ela não estava tentando forçar uma conversa. Às vezes, o silêncio é tudo de que a gente precisa.

Depois do café, voltei para o quarto e decidi que precisava de um plano. Não poderia ficar ali, me afundando na tristeza. Precisava dar um jeito na minha vida, mesmo que isso significasse começar do zero. Peguei um bloco de notas e comecei a escrever.

Evitar Lucas e Aline a todo custo.

Focar no trabalho e tentar não deixar que isso me afete.

Pensar em algo novo para fazer, algo que me faça sentir viva de novo.

Não era o plano mais elaborado do mundo, mas era um começo. E, honestamente, era tudo o que eu conseguia fazer naquele momento.

Passei o resto do dia tentando me distrair. Assisti a séries, fiz uma limpeza no apartamento, qualquer coisa para manter minha mente ocupada. Mas a verdade é que, não importa o que eu fizesse, a dor estava sempre lá, latente, pronta para emergir a qualquer momento.

Foi só no final do dia, quando Ana sugeriu que saíssemos para jantar, que eu percebi que não poderia evitar o mundo para sempre. Mais cedo ou mais tarde, eu teria que encarar as coisas de frente. E eu sabia que, quando isso acontecesse, eu precisaria estar pronta para lidar com as consequências.

Mas, por enquanto, eu estava disposta a fingir que tudo estava bem, mesmo que só por algumas horas. Porque, no final das contas, todo mundo precisa de um tempo para processar as coisas antes de enfrentar a realidade.

E eu sabia que a minha realidade, por mais dolorosa que fosse, ainda tinha que ser vivida.

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