— Não sei, não conheci meus pais. - Afirma a jovem sem graça. - Fui abandonada na porta de um convento quando tinha 2 anos, tendo comigo apenas um cobertor com meu nome bordado – Completa como se fosse algo que não a afetasse, mas um leve ar de tristeza em seu olhar não passou despercebido por Artur que a observava atentamente.
— A senhorita tem quantos anos? Quando é seu aniversário? - Uriah pergunta curioso.
— Tenho 27 anos, farei 28 em dezembro e antes que me pergunte, sou médica.
— Médica? - Uriah fala com espanto. - Mulheres não podem ser médicas! – Nesse momento Ísis queria se bater, com as brincadeiras com o general e a descontração da conversa, esqueceu completamente da possibilidade de ter voltado mais de 500 anos no tempo, mulheres não podiam ser médicas nessa época. - Nossa, são bem raras, nunca encontramos com uma, né, Artur. - Ísis não conseguiu disfarçar sua expressão de surpresa, afinal estava pronta para sair correndo caso eles a acusassem de bruxaria.
— Nem me fale, mamãe sempre reclama de ter que se consultar com Dr. Antunes. - Heitor fala pensativo.
— Senhorita Castro poderia nos contar sua história? Talvez nos ajudaria a te levar de volta para sua família. - Artur fala ignorando os demais.
— Minha família? Não acredito que queiram me encontrar novamente, ou não teriam me abandonado.
— Mesmo que não encontremos sua família, talvez a ajude a voltar para casa, não seria isso que desejas? - Heitor reforça.
— Não sei se ajudaria, afinal sei apenas o que me foi falado pelas freiras. Fui abandonada porta do convento, no chão, portando apenas um cobertor de lã com meu nome bordado e uma carta.
— Uma carta?
— Sim, na verdade, descobri sobre essa carta apenas hoje pela manhã. - fala se recordando da visita que recebeu pela manhã no hospital, e retirando o envelope que por algum milagre ainda se encontra no bolso de seu sobretudo.
— O que está escrito?
— Não sei, ainda abri. - responde mostrando o envelope lacrado com cera, lembra que achou curioso a forma que o mesmo estava lacrado, afinal era algo que não se fazia a muitos seculos. - No convento nunca me faltou nada, a irmã Maria me criou com muito carinho e amor, fui bem-educada, então não importa quem são meus pais ou o que está escrito nessa carta. - Finaliza já de pé novamente.
— Não está curiosa? A carta pode explicar o motivo que os levaram a abandoná-la – Uriah pergunta.
— Não, como disse, não tenho interesse em saber quem são meus pais ou, porque me abandonaram.
— A senhorita disse que seu nome estava bordado no cobertor, era somente o nome ou o sobrenome também?
— Sobrenome também. Não estou entendendo todas essas perguntas senhor.
— Peço desculpas se estou sendo inconveniente, é que a filha de um amigo de minha família desapareceu há muitos anos e hoje ela teria sua idade. - Artur justifica.
— Além de que também se chamava Ísis Duarte. - Completa Uriah.
— A Senhorita se incomodaria de ler a carta para nós? - Heitor questiona.
Mesmo achando toda aquela situação inusitada, Ísis não podia negar que estivesse de certa forma estava curiosa sobre a carta, afinal seria muita coincidência toda essa situação acontecer logo após recebê-la, abre a carta e começa a lê-la em voz alta:
“Prezada Ísis,
Vossa Alteza já deve estar crescida após todos esses anos, pedi para irmã Maria lhe entregar essa carta somente quando ela não fosse mais capaz de lhe proteger. Vossa Alteza não me conhece, me chamo Carol, logo que a princesa nasceu eu e meu neto Pedro fomos escolhidos por sua mãe para lhe proteger secretamente.
Na época parecia apenas uma superproteção de Vossa Majestade, afinal nunca, ouve qualquer ameaça a vossa vida, porém tudo mudou em sua festa de aniversário de 2 anos.
Pouco antes de iniciar as comemorações, sua ama apareceu no salão em pânico, informando a todos que a princesa havia desaparecido, todos no palácio sairão a sua procura, quando em meio a mata encontrei pistas deixadas por meu neto, ela estava de vigia naquela noite.
Segui aquela trilha com alguns soldados, os poucos em quem confiava, conseguimos interceptar a carruagem dos sequestradores e lhe resgatar, porém, não era seguro retornarmos ao palácio, afinal não sabíamos o que acontecera.
Após informarmos Vossa Majestade que havíamos lhe resgatado, fomos informados que o reino fora traído e que a princesa não estava segura no palácio a descobrirem o que estava acontecendo, nós deveríamos mantê-la segura.
Sabíamos que sozinhos não conseguiríamos proteger Vossa Alteza, precisava de ajuda, então fui a procura da feiticeira Karen Nunes, precisávamos lhe proteger e não mediríamos esforços para tal feito.
A senhora Nunes nos informou que o único lugar seguro para Vossa Alteza seria em uma nova era, longe de tudo e todos, onde não seria reconhecida. Usando de um feitiço, ela lhe enviou comigo para o futuro, mas devido à idade avançada, quase não consegui sobreviver a viagem.
No estado ao qual me encontrava não tinha condições de criá-la, muito menos de lhe proteger, tive que tomar a difícil decisão de deixar Vossa Alteza sob o cuidado de desconhecidos.
A irmã Maria me ofereceu abrigo logo que chegamos, sempre se mostrou uma boa mulher e fiel a Deus, acredito que ela lhe criou bem.
A feiticeira se comprometeu a lhe trazer de volta assim que fosse seguro, sei que essa serva não tem o direito de lhe pedir nada, mas se Vossa Alteza puder pedir que Sua Majestade me perdoe por não cumprir com meu dever.
Cordialmente,
Carol.”
A amizade é o conforto indescritível de nos sentirmos seguros com uma pessoa, sem ser preciso pesar o que se pensa nem medir o que se diz.George EliotAo terminar de ler Ísis, olha para os cavalheiros que a encaravam com um certo ar de surpresa, até mesmo espanto, sem hesitar ela oferece o papel em suas mãos a Artur que estava a sua frente. A letra perfeitamente desenhada, a caligrafia da senhora Carol era conhecida em todos os reinos, assim como sua dona, por estar sempre ao lado da Rainha, ninguém sabia ao certo qual a sua função no palácio, mais uma coisa era certa nada ali acontecia sem que a mesma ficasse sabendo.— A senhora Carol não é vista desde o desaparecimento da princesa. - Artur comenta. - A senhorita disse que essa carta foi deixada com a senhorita no convento?— Sim, foi o que a irmã Maria me falou ao me entregar essa carta.Artur olha para os demais cavalheiros, seria verdade, a senhora Carol teria conseguido proteger a princesa? Heitor encarava Artur atentamente, ass
— Pedro - ao ouvir seu nome pronunciado calmamente por aquele que conhecia por toda sua vida, Pedro sente seus olhos encherem de água, ele teria que aceitar a verdade, sua avó se fora e ele não estava ao seu lado.— Entendo. - Fala finalmente dando um leve e triste sorriso.— Não sei ao certo quando ela faleceu ou se realmente faleceu, a única coisa que sei é que em meio a toda essa loucura foi ela me deixou em um convento com essa carta. - Ísis se sentiu na obrigação de compartilhar com aquele jovem a sua frente o que sabia, ela estende a mão para Heitor que devolve a carta para ela. - Acredito que ela deva fica com você. - finaliza entregando a carta para Pedro, que com uma leve reverência agradece.— Bom, é melhor irmos, logo anoitecerá e acredito que a princesa não esteja preparada para uma noite fria no deserto.— E não seria bom para reputação da princesa pernoitar sozinha em meio ao deserto com 5 cavaleiros. - Fala o homem mascarado.— Antes de irmos, não me recordo de ter se ap
“A alma não tem segredo que o comportamento não revele.”Lao-Tsé— ARTUR – Uriah grita, chamando atenção de todos.— O que foi agora?— Tem certeza que ela pode cavalgar vestida assim?— Sei que minhas roupas não são apropriadas, mas não temos outra opção no momento, ou por ventura o senhor teria um vestido em sua posse para me trocar? - Com uma coragem que jamais imaginara ter, Ísis responde ao Uriah.— Como ousa falar assim com um homem? – Heitor fala, mas apesar de suas palavras pesadas, seu tom era calmo, ele a estava testando, queria saber como ela reagiria e o que responderia e Ísis sabia disso. — Com a autoridade de uma princesa, mais precisamente da princesa das terras onde o Duque se encontra – antes que Ísis tivesse tempo de responder, Uriah responde ao Duque – Me desculpe alteza – se desculpa se curvando, Ísis apenas retribui com uma leve reverência.— Todos prontos, então vamos antes que a noiteça. – Fala o Homem Mascarado. Artur segue a frente do grupo, seguido por Uriah
— General Castro, General Garcia. – Um dos soldados os cumprimenta assim que se aproxima, logo depois se vira para o Duque ao qual faz uma leve reverência, mostrando respeito aristocrata. – Estávamos a espera de vossas excelências, Duque Gonçalves, sua prima já se encontra no castelo. – Fala se dirigindo ao Duque, este apenas acena em concordância. O soldado, que até então não havia direcionado o olhar aqueles que se encontravam mais atrás, finalmente os nota. Sua atenção ficou demasiado tempo sobre a Dama ali presente, afinal apesar de todos os esforços de não permitir que qualquer parte de seu corpo ficasse exposta, um sobretudo era consideravelmente justo, o que demarcava bem suas curvas. Um pigarro chama atenção do soldado, afinal ele encarava constrangedoramente cada curva de Ísis, o que incomodou aos cavaleiros ali. O soldado, assim como os demais, direciona seu olhar para o autor do pigarro, recebendo o olhar ameaçador de Enzo, sua postura muda completamente, podia se dizer qu
— Pedro, não brinca com esse coração velho… não me diga – A Imperatriz fala, observando Ísis atentamente, com um leve sinal de Enzo, Ísis entende que esse é o momento de se apresentar. Delicadamente Ísis solta a mão de Enzo, e lentamente retira o capuz do sobretudo, somente agora revelando seu rosto, sem graça e com receio que seu sobretudo abra, a tornando o personagem principal de uma cena constrangedora, ela se curva perante o casal.— Chamo-me Ísis Duarte, e sinto-me honrada de estar na presença de Vossas majestades. - O cumprimento perfeito surpreendeu não somente quem observava, mas a própria Ísis, que não fazia ideia de onde aprendera. — É você mesmo? Minha princesa voltou para casa… Olha Antony, nosso bebê cresceu… - Anna fala para o marido, se aproxima lentamente da jovem, faz menção de tocá-la, porém, a mesma se afasta, não permitindo o toque. Uma névoa de tristeza passou pelo olhar da Imperatriz, mas logo a postura séria retornou, mas tal lapso não passou despercebido por
— Quem é ela? - questiona encarando a jovem.— Ninguém sabe ao certo. - Pedro responde novamente. - Alguns a chamam de fada, outros de bruxa.— Como assim? Por que ninguém faz nada? Tem uma estranha parada no meio do jardim. - Ísis questiona perplexa.— Não sabemos se ela está realmente aqui. - Enzo falar. - Aparentemente somente nós estamos vendo ela, o que pelo que sei não significa boa coisa.— Não significa boa coisa? Como sabe, se segundo vocês, ninguém sabe quem ela é?— “Era uma bela Dama, os cabelos de cor exótica, uma mistura do mais dourado do ouro com o mel mais puro já extraído das abelhas mais raras, sua pele tão branca como a neve. Suas vestes, uma união da realeza com a simplicidade camponesa, contudo nada é mais marcante que seu olhar penetrante, mas jamais esqueça a presença de tal Dama pode ou não ser um mau presságio.” - Pedro responde - Essa é apenas uma das muitas histórias em torno da Bela Dama misteriosa.Ísis nada comentou com os cavaleiros, mas um dos motivos
De joelhos, com um dos braços imobilizados, e com o joelho de Ísis a forçando para baixo, estava Maria, uma das bruxas mais temidas do reino. Ao notar a expressão de espanto nos rostos dos Generais ali presentes e principalmente do Imperador, um sorriso maléfico é esboçado no rosto da bruxa.— Quem é você e o que fez com a tia imperial? – Pergunta Uriah, o que causou um certo estranhamento por parte de Ísis, afinal nunca imaginou que Uriah poderia ser um membro da família real. Então o corpo da mulher abaixo de Ísis treme com a gargalhada emitida pela Bruxa. — É incrível o seu poder Princesa Duarte, estou infiltrada nesse castelo há quase 15 anos e ninguém notou, mas bastou um olhar seu e meu disfarce foi descoberto, e olha que nem chegaste a conhecer sua mãe, é realmente admirável… - a Bruxa fala ainda com um sorriso maléfico no rosto. Não era possível para Ísis ver o rosto da mulher, mas conseguia identificar maldade em sua voz.— Quem é você e o que fez a imperatriz? - Ísis pergun
— Por isso trouxe Ísis de volta logo que descobri que a Imperatriz Anna fora morta. - afirma Karen encarando todos no salão. - O reino precisa de uma imperatriz, levem-na para a prisão imperial. - Karen ordena aos soldados que ali apenas observava a cena, porém esse são impedidos por Ísis.— Disseste que ela não estava mais ali, - fala apontando para janela onde Enzo se encontra – disseste que ninguém deseja ver tal dama, algo me diz que sabe quem é ela?— Ah! Claro que sei, todos os seres que possuem alguma importância – a bruxa fala com certo orgulho em sua voz. - sabe. — De que dama falam? E quem pode ser mais importante que o Imperador? - Antony, mesmo ainda em choque com a notícia da morte de sua esposa, questiona a bruxa.— Seu nome é Sinis, não se sabe exatamente o que ela é, muito menos a dimensão de seus poderes, apenas que cruzar seu caminho pode ser desastroso. - A bruxa responde calmamente, mas Ísis sentia que essa calma era somente por fora, no fundo, ela parecia em pâni