PRÓLOGO E PREFÁCIO - PARTE 3.

— Meus filhos também me seguirão?

— Depende dos ensinamentos que lhes forem passados e, lógico, deles mesmos aprenderem.

— Quem é você? Só escuto a voz, mas não a vejo.

— Sou a Estrela de Thuman, guia do planeta Jetiah.

— A escutarei de novo?

— Eu estarei com vocês, em todos os lugares, inclusive no centro da praça central, enquanto seguirem o bem. Se o mal os apossar, eu serei apagada desse mundo, permanecerei apenas em fios de luz, nas pessoas que ainda seguirem os caminhos do amor.

O vento então se esvaiu, e Luthiah, ajoelhado ao chão, limpou a poeira de seus olhos, ao mesmo tempo, em que via crescer grama cerrada e flores ao seu redor. De repente, uma espada flamejante, prateada brilhou em meio ao verde e quando empunhada pela mão de seu guia, aumentou o brilho em intensidade suprema.

Alair estava tão absorto na história que não percebeu que sua princesa já havia dormido. Nem percebeu que já há algum tempo era observado pela esposa, encostada no umbral da porta.

— Nossa pequena dormiu, Alair?

— Graças! Não sei de onde vem tanta ansiedade por uma simples história de uma estrela.

— Deixe-me pensar... dos pais dela, poderia ser? Amanhã começarei a contar a minha história para ela. Depois vamos revezando com outras histórias. O que acha?

— Obrigado. Estou exausto.

Deixaram o quarto abraçados. Afinal, o primeiro casal real após o retorno de Jetiah precisavam cumprir outras funções antes de dormir. Além de saberem que teriam um longo dia para enfrentar uma pequenina de seis anos. Ela aguardava ansiosamente para saber a história dos guardiões que trouxeram a Estrela ao seu lugar de origem.

— Como você começará a sua história. — Perguntou o marido.

— Hum, acho que sempre com um “Era uma vez…

*******

No quarto, Alair e Sarati, trocaram de roupa, para que, como reis e guardiões, fossem até a praça central. Trajando túnicas brancas, com fitas douradas, chegaram para fazerem o ritual da luz.  Os guardiões da estrela os aguardavam, inclusive a mãe de Sarati, Ali, Padiah, Magdali e outros que se juntaram a estrela, no seu grande triunfo, sete anos antes. De mãos dadas, ao redor do obelisco, agradeceram, e a Estrela de Thuman, brilhou em intensidade máxima, para contar a sua grande história de ressurgimento.

*******

Olhar o céu de Jetiah, em uma noite repleta de estrelas, trazia um cenário mágico. Essa beleza, tão rara, espantava a solidão do deserto sem vida em que aquela família vivia. Sarati gostava de ver as estrelas, do lado de fora, principalmente em dia sem lua, em que o espetáculo maior, eram apenas elas. Desde pequena, ainda no colo de sua mãe, ela apontava seu dedo indicador para o alto, sorrindo, mostrava os pontinhos brilhantes que cobriam o céu da pequena propriedade em que havia nascido.

Depois que aprendeu a caminhar, mesmo ainda com passinhos curtos, após o jantar, a menina sempre puxava o vestido de sua mãe ou a roupa de seu pai, que não tinha muita paciência em levá-la para admirar os luminares, com um pedido implícito de que a levassem lá para fora, para ela se deliciar com o encantamento mágico das estrelas que a faziam sorrir. 

Ela mesma, quando já um pouco mais velha, várias vezes, se questionava: — Por que algo tão simples era tão importante? Porque nasci e cresci em uma terra fria, seca, sem água ou qualquer tipo de vida, mas onde o céu consegue me proporcionar esse mágico espetáculo. Por que gosto tanto de estrelas e do brilho que elas emitem?

Eram perguntas de uma jovem, que já nascera em um planeta destruído, sujo, feio e sem vida, mas uma jovem que também só conheceu aquele pequeno pedaço de chão, e mais alguns quilômetros a frente, quando foi a uma festa tradicional. Os animais, em sua maioria, já haviam sido extintos. Não existia acesso aos pequenos povoados, a não ser quando seus pais iam vender suas pequenas produções ou quando havia alguma celebração típica. Como Sarati era apenas uma criança, não imaginaria que, aos oito anos, em uma noite escura, sem estrelas, veria a mais bela de todas.  A estrela que mudaria a sua vida e a do seu lar para melhor.

A casa da família era feita de barro e foi construída pelo próprio pai. Era pequena, com apenas uma sala, cozinha e três quartos. Ao todo, cinco pessoas viviam no casebre. O chefe da casa se chamava Ané, tinha 38 anos, pele morena clara, cabelos negros curtos e anelados em cachos. Ele trabalhava na agricultura de subsistência e na pequena criação de cabras também, que fornecia o leite para alimentá-los. A produção leiteira era vendida para outro povoado que ficava a uns 5 km de distância de onde moravam.

A mãe, Ali, era para Sarati a mais bela das mulheres. Tinha face angular, estatura mediana, 30 anos, cabelos negros lisos. Ela possuía um sorriso que, mesmo nas maiores adversidades, era incapaz de sair de seu lindo rosto, pelo menos era o que Sarati via. Ela havia se casado com Ané aos 21 anos, por amor. Sobre como eles se conheceram, Sarati só foi saber da verdadeira história anos mais tarde, quando foi surpreendida por revelações inimagináveis. Ali exercia a função de fabricação de tecidos, que também eram vendidos a cada três meses na Cidade Murada.

Em toda grande história, tem de aparecer a avó materna. A matriarca também vivia com a família de Sarati, em outra casa, na mesma propriedade. Era considerada a médica do local. O ofício de fiandeira havia passado para sua filha, e na fazenda, dedicava-se à segunda coisa de que mais gostava: descobrir plantas e as curas que elas poderiam fazer. Os avós paternos, que não poderiam faltar, principalmente nesta história, em hipótese alguma, residiam longe, escondidos, e se chamavam Liviá e Anatid. O contato com eles era bem escasso. Somente em ocasiões especiais, ou alguma festa cultural, eles se reuniam para celebrar a família. Eram reservados, principalmente a avó que sempre estava doente e preferia se enclausurar na escuridão do quarto.

O quinto habitante da propriedade de Sarati era seu irmão, que herdou o segundo nome do avô paterno. Ele se chamava Jacob. Era o caçula, alto, magro, mais moreno do que Ané, cabelos crespos, mistura da mãe com o pai. A criança-prodígio da família era a própria Sarati, quatro anos mais velha que seu irmão. A menina completava a família. Ela tinha lindos cabelos pretos, pele bem branca e estatura mediana, com os olhos mais bonitos que alguém poderia ter visto em Jetiah, grandes e da cor do céu em noite sem estrelas.

Sarati foi ensinada no dom da escrita. Era apaixonada por histórias. Ali sempre lhe contava fatos do mundo, mas apenas os mais recentes, que remetia a tomada do poder dos reis, por um tirano. O passado dos guardiões e a história da Estrela de Thuman, no entanto, veio à tona de forma abrupta e a conduziu a aventuras espetaculares. A jovem protagonista descobriu que tinha a missão de salvar o planeta Jetiah do mal, já adulta e se descobriu em um novo mundo.Sarati imaginou que o planeta Jetiah sempre fora daquele jeito: desértico, com poucas plantas e animais. Por isso, aquele cenário era algo normal e cotidiano para todos os que nasceram, depois que a grande estrela se apagou e desapareceu. Acontece que a vida pode dar voltas, e, antes que essas voltas acontecerem, ela pode tomar rumos muito, muito ruins. Logo, essa história jamais poderia ficar apenas nas páginas da memória de Sarati. Foi assim que, após adulta e de toda a aventura que viveu, ela resolveu contar a sua vida para o povo de Jetiah, em forma de um lindo manuscrito.

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