Ali voltou do transe e respirou profundo. As mãos começaram a se transformarem, mas pararam, quando escutaram vozes, ainda ao longe, mas suficiente para assustá-la. Ainda não era hora.— Você está bem, Ali.— Sim, minha rainha. Já era a índole dele. Por que me esqueci disso?— Porque você, em algum momento, se apaixonou e se decepcionou.— Preciso meditar, meus poderes estão ficando a cada momento mais fortes.— Que a grande guardiã volte as suas origens.— Obrigada rainha. Primeiro pelo puxão de orelha. Segundo por sempre acreditar em mim.— Sinto que precisamos estar com Magdali. Vamos até ela.As duas deixaram o local e partiram para o quarto de Magdali que meditava.*****A guardiã, sentada em posição de lótus, encostada na parede, tremia e suava. — Magdali — Ali a chamou — Está me ouvindo?— Sim. Sinto uma energia. Alguém está tentando comunicar, mas não tem energia suficiente. É o que parece.— A estrela ainda não está ativa em sua totalidade. O que faremos — perguntou a rainha
O chão tremia com as passadas ritmadas e estrondosas dos soldados do Comandante Maior, que avançavam decididos em direção à batalha final. Cada pisada fazia a terra tremer sob seus pés, ecoando a determinação e a ferocidade que impulsionavam seu avanço. Suas armaduras reluziam à luz do sol, refletindo a violência contida e o desejo de conquista que fervilhava em seus corações. O Comandante, imponente em sua armadura de ganância e ódio, liderava a marcha com uma aura de poder incontestável. Seus olhos faiscavam com a sede de domínio enquanto ele vociferava ordens de comando, ecoando pela paisagem desolada."Matem todos! Jetiah é meu planeta. Ataquem, agora!"Do outro lado, os guardiões aguardavam, segurando a estrela brilhante em suas mãos. Seu resplendor irradiava uma luz intensa, trazendo consigo a promessa de renovação e a esperança de um futuro melhor. Acompanhados pelos tigres, espíritos guias daquele lugar sagrado, os dois jovens escolhidos avançavam em direção à praça da Estrela
— Está chovendo muito, ainda. Parece ser perigoso.— Tomarei cuidado. Fique aqui, não saia, mesmo que eu demore.— Mas, Luthiah— Sarah, eu estou vendo algumas luzes diferentes e escutando sons, irei dar uma olhada.— Não acha que será perigoso? Ainda está chovendo, o chão deve estar muito escorregadio. A água pode estar empossada.— Algo me diz que não. Como disse, tomarei cuidado. E o mais engraçado, vejo uma pequena luz e é como se essa luz me atraísse, a voz que ouço tem um som feminino e entra em minha mente, como uma melodia.— Querendo me trair, com a voz feminina e melodiosa de uma luz?— Jamais, você é única para mim. Mas preciso ver o que se passa.Sarah riu do marido, ele sempre foi aventureiro e sempre quis descobrir novas coisas. A esposa o acompanhou até a entrada da caverna.— Não se demore. Estou preparando algo para comermos e se perceber qualquer perigo, volte correndo para nosso abrigo.— Eu voltarei, e algo me diz, que com grandes descobertas.Luthiah saiu e caminh
— Meus filhos também me seguirão?— Depende dos ensinamentos que lhes forem passados e, lógico, deles mesmos aprenderem.— Quem é você? Só escuto a voz, mas não a vejo.— Sou a Estrela de Thuman, guia do planeta Jetiah.— A escutarei de novo?— Eu estarei com vocês, em todos os lugares, inclusive no centro da praça central, enquanto seguirem o bem. Se o mal os apossar, eu serei apagada desse mundo, permanecerei apenas em fios de luz, nas pessoas que ainda seguirem os caminhos do amor.O vento então se esvaiu, e Luthiah, ajoelhado ao chão, limpou a poeira de seus olhos, ao mesmo tempo, em que via crescer grama cerrada e flores ao seu redor. De repente, uma espada flamejante, prateada brilhou em meio ao verde e quando empunhada pela mão de seu guia, aumentou o brilho em intensidade suprema.Alair estava tão absorto na história que não percebeu que sua princesa já havia dormido. Nem percebeu que já há algum tempo era observado pela esposa, encostada no umbral da porta.— Nossa pequena do
O lugar escuro era cheio d'água, por todos os lados. Um lodo se formava abaixo dos pés de Sarati e parecia que a sugaria para debaixo da terra molhada. Ela tentava correr desesperadamente. Seu vestido longo arrastava-se ao chão, se enroscando nos galhos secos, mesmo em águas barrentas, das plantas mortas. Alguém a seguia, mas ela não conseguia saber quem era. Além disso, ao fim da trilha, não havia saída, apenas um abismo e o nada. Sarati acordou gritando, mais uma vez, suando e respirando ofegante. Ali entrou no quarto às pressas, a puxando para um abraço apertado.— Oh, filha minha, mais um sonho?— Sim, muito ruim. Dessa vez, terminou em um abismo. Tinha algo me seguindo. Só conseguia ver que havia uma luz ao longe. Essa luz parecia estar longe. Eu corria, corria e não conseguia alcançá-la. Quando ela ficou mais forte é que vi que estava a beira de um abismo, não havia saída.— Minha filha, você só tem oito anos para sonhar com tanta percepção assim. Sei que você é muito inteligent
Sarati estava de boca aberta e lágrimas desceram dos olhos. Não percebeu que dera um grito, não de medo, mas de emoção, e que agora todos estavam ao seu lado. Os moradores da casa não sabiam dizer por quanto tempo a estrela ficou no mesmo local; ficaram temerosos quando chegaram bem perto de Sarati e fez com que a garota se arrepiasse e tremesse de medo, não pela estrela, mas por terem a tirado daquele momento.Com um abraço, o pai a arrastou para dentro da casa.— Venha, Sarati!— Quero ver. É linda. Que estrela é essa? Parece que o planeta está girando. Tem cores. Por favor, eu quero ver.— O que você vê, Sarati? — Perguntou a avó, com a voz assustada.— Uma estrela maravilhosa. Ela vai trazer vida e transformar tudo ao nosso redor. Ouço uma voz, a estrela está me dizendo isso. Vocês estão vendo as camadas de dourado e violeta no centro dela?— O que está dizendo, Sarati? Vamos entrar! — Ordenou o pai, que dessa vez a pegou no colo, com mais brusquidão, e a levou dali.— Eu não quer
Em outras paragens, bem mais longe, a caverna, que se transformará em uma verdadeira cidade, estava no fim do seu dia de expediente normal de trabalho e outras atividades. Os trabalhos se revezavam entre os plantios, as colheitas e a extração de areia para feitura de obras artesanais, que eram vendidas em algumas festas, sendo a principal a de Laidé — essas eram as únicas aglomerações em que vários amigos se reencontravam, e podiam relembrar um pouco do que fora um dia, Jetiah.A caverna era distribuída em cômodos, salas, mas existia um refeitório onde todos comiam juntos. Era a maneira de se confraternizarem, depois de um dia de trabalho. A minicidade foi construída após a grande fuga da Cidade Central, e Padiah, o guardião da estrela, o qual foi o seu administrador e idealizador. Era um homem de meia-idade, aparentava uns 50 anos, cabelos castanhos, olhos verdes, estatura mediana. Gostava de andar sempre com um cajado na mão e, ainda que ninguém visse, nunca deixava seu colar de gua
Alair seguiu o ritual ensinado pelo pai, e a pedra que ornava a espada brilhou em sua direção.A Cidade Central vivia mais um dia normal, no dia em que a estrela brilhou no céu do planeta Jetiah. A população, em sua maioria, era composta por drogados espalhados pelo chão, vivendo o seu momento de alucinação, e soldados protegiam o Palácio e o Comandante Maior, que reinava soberanamente no seu trono roubado. Há anos, Carliah usurpou o trono de Anatid, seu primo em segundo grau, após uma luta injusta e sangrenta.Depois de tomar o trono, o golpe final foi destruir o monumento da estrela. Ele, em seu trono dourado, adorava se lembrar daquele dia. Os guardiões fugiram, e seus soldados estavam a caça, mas não seria mais preciso, porque sem a luz da estrela, eles nada seriam. O monumento, dedicado a Estrela de Thuman, ficava localizado na praça central da cidade, local onde todos os guardiões se reuniam para suas tarefas diárias, inclusive de consagração do dia e da noite. Com o domínio de